A grande operação de salvamento dos pinguins | Dyan deNapoli | TEDxBoston

Dyan deNapoli conta um conto pessoal fascinante da maior operação de salvamento de animais do mundo, feita por voluntários, que salvaram mais de 40 000 pinguins, depois de um derrame de petróleo ao largo da costa da África do Sul, Recusa a ideia de que todas as aves contaminadas pelo petróleo deviam ser eutanasiadas e prova que cada um de nós pode realmente fazer a diferença.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Desde que me lembro

que sinto uma profunda ligação
com os animais e com o oceano.

Em miúda, o meu ídolo pessoal
era Flipper, o golfinho.

Quando ouvi falar pela primeira vez
de espécies em perigo,

fique muito angustiada
por saber que, todos os dias,

havia animais a desaparecer
para sempre da face da Terra.

Queria fazer qualquer coisa para ajudar,
mas pensava sempre:

"O que é que uma pessoa pode fazer
para fazer a diferença?

Passaram-se 30 anos

mas acabei por encontrar
a resposta a esta pergunta.

Quando estas imagens terríveis
de aves cheias de petróleo

começaram a aparecer
no Golfo do México, no ano passado,

durante o horroroso derrame
de petróleo da BP,

uma bióloga alemã, chamada
Silvia Gaus, terá dito:

"Devíamos eutanasiar
todas as aves contaminadas,

"porque, segundo estudos mostraram,

"menos de 1% sobrevivem
depois de serem libertadas".

Eu não podia discordar mais.

Além disso, creio que
todos os animais poluídos

merecem uma segunda oportunidade.

Quero contar porque é que
tenho esta profunda convicção.

Em 23 de junho de 2000,

o barco Treasure afundou-se ao largo
da costa da Cidade do Cabo,

na África do Sul,

derramando 1300 toneladas de petróleo

que poluíram os habitats
de quase metade da população mundial

dos pinguins africanos.

O barco afundou-se entre
a Ilha Robben, a sul,

e a Ilha Dassen, a norte

— duas das principais ilhas
de procriação dos pinguins.

Exatamente seis anos
e três dias antes,

a 20 de junho de 1994,

um barco chamado Apollo Sea
afundou-se perto da Ilha Dassen,

enchendo de petróleo 10 000 pinguins
e matando metade deles.

Quando o Treasure se afundou em 2000,

foi no auge da melhor estação
de procriação

que os cientistas tinham registado
para o pinguim africano

que, na altura, estavam listados
como uma espécie ameaçada.

Rapidamente, quase 20 000 pinguins

ficaram cobertos por este produto tóxico.

O centro local de salvamento
de aves marinhas, chamado SANCCOB,

lançou imediatamente uma operação
enorme de salvamento,

que em breve, se tornou no maior
salvamento animal jamais realizado.

Nessa altura, eu estava a trabalhar
aqui em Boston,

como aquariofilista
no New England Aquarium.

Fez ontem exatamente 11 anos,

o telefone tocou no escritório.

Aquela chamada mudou
a minha vida para sempre.

Era Estelle van Der Merwe
a ligar da SANCCOB, dizendo:

"Por favor, vem ajudar-nos.

"Temos milhares de pinguins
cheios de petróleo

"e milhares de voluntários de boa vontade
mas sem qualquer experiência.

"Precisamos de especialistas em pinguins
para os treinar e supervisionar".

Assim, dois dias depois,

meti-me num avião para a Cidade do Cabo

com uma equipa
de especialistas de pinguins.

A cena no interior do edifício
era devastadora e surrealista.

Muita gente comparou-a
com uma zona de guerra.

Na semana passada, uma rapariga
de 10 anos, perguntou-me:

"O que é que sentiste quando entraste
pela primeira vez nesse edifício

"e viste tantos pinguins
cheios de petróleo?"

Foi isto o que aconteceu.

Fui transportada instantaneamente
àquele momento.

Os pinguins são aves muito vocais
e muitíssimo barulhentas,

por isso eu estava à espera
de entrar naquele edifício

e encontrar uma cacofonia de grasnidos
e de gritos e de chiados.

Em vez disso,

quando eu transpus a porta
e entrei no edifício,

havia um silêncio assustador.

Era evidente

que as aves estavam tensas,
doentes e traumatizadas.

A outra coisa que era surpreendente

era o enorme número de voluntários.

Mais de 1000 pessoas por dia
chegavam ao centro de salvamento.

Possivelmente, durante o decurso
deste salvamento,

chegaram à Cidade do Cabo

mais de 12 500 voluntários
de todo o mundo,

para ajudar a salvar estas aves.

O espantoso é que nenhum deles
tinha de estar ali,

mas estavam.

Para nós que ali estávamos
numa condição de profissionais,

esta extraordinária resposta
voluntária a esta crise animal

foi profundamente emocionante
e inspiradora.

No dia seguinte à nossa chegada,

dois de nós, do aquário,
fomos encarregados da sala dois.

A sala dois tinha mais
de 4000 pinguins contaminados.

Agora, reparem,

três dias antes, tínhamos 60 pinguins
ao nosso cuidado,

por isso, estávamos
realmente sobrecarregados

e um pouco aterrorizados
— pelo menos, eu estava.

Pessoalmente, eu não sabia

se seria capaz de gerir
uma tarefa tão monstruosa.

Coletivamente,

não sabíamos
se conseguiríamos aguentar.

Porque todos sabíamos
que, apenas seis anos antes,

os pinguins contaminados
e salvos tinham sido metade

e só metade deles tinha sobrevivido.

Por isso, seria humanamente possível
salvar tantos pinguins contaminados?

Não sabíamos.

Mas o que nos dava esperança,

eram aqueles voluntários
extremamente dedicados e corajosos,

três dos quais vemos aqui
a alimentar os pinguins à força.

Reparem que estão a usar
luvas muito grossas.

É preciso saber que os pinguins africanos

têm bicos afiados como navalhas.

Em pouco tempo,

o nosso corpo estava coberto,
da cabeça aos pés,

com feias feridas infligidas
pelos pinguins aterrorizados.

No dia em que chegámos,
começou uma nova crise.

A mancha de petróleo estava
a dirigir-se para a Ilha Dassen,

e os salvadores estavam desesperados,

porque sabiam que,
se o petróleo lá chegasse,

seria impossível salvar
mais aves atingidas pelo petróleo.

Não havia boas soluções.

Mas, finalmente, um dos investigadores
lançou uma ideia maluca e disse:

"Ok, porque é que não tentamos
apanhar as aves

"que correm maior risco
de serem contaminadas?"

— apanharam 20 000 —

"e os enviamos para Port Elizabeth,
a 800 km de distância

"em camiões abertos

"e os libertamos ali, em águas limpas

"e os deixamos nadar para casa?"

(Risos)

Três desses pinguins
— Peter, Pamela e Percy —

levavam transmissores

e os investigadores fizeram figas

e esperaram que,
quando eles voltassem para casa,

o petróleo já estaria limpo
das suas ilhas.

Felizmente, já estava
no dia em que eles chegaram.

Tinha sido uma jogada arriscada
mas compensou.

Agora já sabem que podem usar
esta estratégia

em futuros derrames de petróleo.

Nos salvamentos da vida animal,
tal como na vida,

aprendemos com cada experiência anterior,

e aprendemos tanto com os êxitos
como com os fracassos.

A coisa principal que eu aprendi.

durante o salvamento
do Apollo Sea em 1994,

foi que a maioria dos pinguins
tinha morrido devido ao uso inconsciente

de caixas e camiões de transporte
com ventilação deficiente,

porque não estavam preparados

para lidar com tantos pinguins
contaminados, ao mesmo tempo.

Por isso, nesses seis anos
entre os dois derrames de petróleo

tinham construído milhares
de caixas bem ventiladas.

Em resultado, durante
o salvamento do Treasure,

só morreram 160 pinguins
durante o transporte,

num universo de 5000.

Só isto já foi uma grande vitória.

Também aprendemos,
durante o salvamento do Apollo,

a treinar os pinguins a agarrarem
no peixe com as asas,

usando estas caixas de treino.

Usámos esta técnica novamente
durante o salvamento do Treasure.

Mas notámos uma coisa interessante
durante o processo de treino.

Os primeiros pinguins a fazer a transição
para este modo de comer

eram os que tinham um anel
metálico na asa,

os do derrame do Apollo Sea
de seis anos antes.

Portanto, os pinguins também aprendem
com experiências anteriores.

Todos os pinguins tinham
de ser limpos, meticulosamente,

do petróleo que tinham no corpo.

Eram precisas duas pessoas,
pelo menos durante uma hora,

só para limpar um pinguim.

Quando limpamos um pinguim,

primeiro temos de o aspergir
com um desengordurante.

Isso leva-me à minha história preferida
do salvamento do Treasure.

Um ano antes deste derrame de petróleo,

um estudante de 17 anos
tinha inventado um desengordurante

que estava a ser usado na SANCCOB
com grande êxito,

por isso, começaram a usá-lo
durante o salvamento do Treasure.

Mas a certa altura, ele esgotou-se.

Em pânico, Estelle da SANCCOB
ligou para o estudante e disse-lhe:

"Por favor, tens de fabricar mais!"

Ele correu para o laboratório

e fabricou o suficiente
para limpar o resto dos pinguins.

Penso que é a coisa mais fixe

que um adolescente
tenha inventado um produto

que ajudou a salvar a vida
de milhares de animais.

O que aconteceu àqueles
20 000 pinguins contaminados?

Silvia Gaus teria razão?

Devíamos ter eutanasiado
todas as aves contaminadas

porque a maioria iria morrer
de qualquer modo?

Ela não podia estar mais enganada.

Depois de meio milhão de horas
de trabalho voluntário extenuante,

mais de 90% dos pinguins contaminados

foram devolvidos ao seu
habitat, sãos e salvos.

Sabemos pelos estudos subsequentes

que viveram tanto tempo

como os pinguins
que não foram contaminados

e reproduziram-se
quase com o mesmo êxito.

Além disso,

cerca de 3000 pintos de pinguins
foram salvos e criados à mão.

Mais uma vez, sabemos
pelos estudos de acompanhamento

que sobreviveram mais pintos criados à mão
do que os criados pelos pais

e que chegaram a adultos
e à idade de reprodução.

Baseando-se nisso, a SANCCOB
tem um projeto de proteção aos pintos

e todos os anos, salvam e criam
pintos abandonados

e têm uma impressionante
taxa de 80% de êxito.

Isto é extremamente importante,

porque, há um ano,

o pinguim africano foi declarado
em perigo de extinção

e podia extinguir-se
em menos de 10 anos,

se não fizéssemos nada
para os protegermos.

O que é que aprendemos

com esta experiência
intensa e inesquecível?

Pessoalmente, aprendi que sou capaz
de gerir muito mais coisas

do que alguma vez julguei possível.

Aprendi que uma pessoa
pode fazer uma enorme diferença.

Olhem para aquele rapaz de 17 anos.

Quando nos juntamos
e trabalhamos como um só,

podemos conseguir coisas extraordinárias.

Fazer parte de uma coisa
muito maior do que nós mesmos

é a experiência mais gratificante
que podemos ter.

Gostava de vos deixar
com um pensamento final

e um desafio, se assim quiserem.

A minha missão,
enquanto a Dama dos Pinguins,

é despertar a consciência

e arranjar financiamento
para proteger os pinguins.

Mas porque é que vocês
se hão de preocupar com os pinguins?

Devem preocupar-se porque
eles são uma espécie indicadora.

Ou seja, se os pinguins estão a morrer
é sinal de que os oceanos estão a morrer.

Em última análise, seremos afetados

porque, como diz Sylvia Earle:

"Os oceanos são o nosso sistema
de sustentação da vida".

As duas maiores ameaças
aos pinguins, atualmente,

são a pesca excessiva
e o aquecimento global.

Há duas coisas

que cada um de nós pode
fazer qualquer coisa.

Se cada um de nós fizer a sua parte,

todos em conjunto
podem fazer uma diferença

e podemos ajudar a impedir
que os pinguins sejam extintos.

Os seres humanos sempre foram
a maior ameaça para os pinguins

mas agora somos a sua única esperança.

Obrigada.

(Aplausos)