Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon
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0:06 - 0:08Fechem os olhos, por favor.
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0:08 - 0:10É rápido, não vou fazer mágica.
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0:11 - 0:13Tá? Fiquem tranquilos.
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0:13 - 0:14Fechem os olhos, por favor.
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0:14 - 0:16É rápido.
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0:17 - 0:18Imaginem
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0:19 - 0:20um anjo.
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0:21 - 0:23Guardem essa imagem.
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0:26 - 0:27Um príncipe,
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0:29 - 0:30uma princesa
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0:32 - 0:33e uma boneca.
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0:35 - 0:38Guardem essas imagens
e agora podem abrir os olhos. -
0:39 - 0:44Eu quero saber se, das imagens
que vocês conseguiram visualizar, -
0:46 - 0:49quantas delas são negras?
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0:51 - 0:53Pois é...
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0:54 - 0:57Eu confesso que, até hoje,
eu faço esse teste -
0:57 - 1:02e ainda não consegui
desconstruir essas imagens -
1:02 - 1:04que a minha mente insiste em reproduzir.
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1:05 - 1:07Como desconstruir isso?
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1:08 - 1:10A pergunta que eu faço
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1:11 - 1:14é se o que você vê quando fecha os olhos
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1:14 - 1:17é o mundo que você quer,
é o mundo que você imagina. -
1:18 - 1:21Eu quero saber se o que você enxerga
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1:21 - 1:22tá bom pra você.
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1:24 - 1:25Tá bom pra você?
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1:27 - 1:28Bom...
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1:30 - 1:35às vezes, eu acho que parece
que tem alguém que domina o que eu penso, -
1:35 - 1:38controla como eu devo me comportar,
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1:38 - 1:40como eu devo me vestir,
que cabelo eu devo usar. -
1:42 - 1:44Parece até uma espécie de maldição
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1:44 - 1:48quando eu me pego,
eu me vejo nessa situação, -
1:48 - 1:54obrigada a usar coisas que, às vezes,
eu não tenho escolha... né? -
1:56 - 1:59Eu tenho uma filha, que hoje tem 17 anos.
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1:59 - 2:01O nome dela é Gabriela.
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2:01 - 2:02Ela é atriz,
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2:03 - 2:05bailarina, violinista
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2:06 - 2:07e cantora.
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2:07 - 2:08Ela está aqui,
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2:09 - 2:13e é uma das criadoras desse projeto
chamado "Tá bom pra você?" -
2:13 - 2:18Acontece que a Gabriela,
quando estava com 13 anos, -
2:18 - 2:19ela...
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2:20 - 2:25leu um livro chamado "Um Defeito de Cor",
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2:25 - 2:29que é um livro de Ana Maria Gonçalves,
uma escritora de quem eu gosto muito. -
2:29 - 2:30É um romance.
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2:31 - 2:34E aí, ela estava fazendo teatro
e aí, um dia, ela parou e falou: -
2:34 - 2:37"Mãe, eu estou fazendo teatro,
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2:37 - 2:40eu quero ser atriz,
eu sou modelo, eu sei cantar, -
2:40 - 2:42mas não eu vejo muito espaço
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2:42 - 2:46na publicidade,
nem no teatro, nem no cinema. -
2:46 - 2:47Às vezes, é uma ou duas.
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2:47 - 2:48Eu quero falar sobre isso.
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2:48 - 2:50Na verdade, ela estava
um pouco revoltada, né? -
2:50 - 2:52Treze anos...
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2:52 - 2:53a coisa é um pouco complicada.
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2:53 - 2:55Eu falei: "Bom, vamos botar isso pra fora.
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2:55 - 3:01Vamos abrir um blog, falar sobre isso
e vamos ver no que dá. -
3:01 - 3:02Vamos propor esse debate".
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3:02 - 3:06Logo depois, essa ideia virou... um canal.
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3:07 - 3:08Falei: "Vamos reproduzir,
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3:08 - 3:09já que não tem
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3:10 - 3:14comerciais com a nossa cara,
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3:14 - 3:17que representem a gente,
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3:17 - 3:21vamos reproduzir pra ver
se a gente consegue provocar um pouco -
3:21 - 3:23e fazer com que as pessoas reflitam,
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3:23 - 3:26principalmente a publicidade
reflita sobre isso. -
3:27 - 3:31A primeira ideia que eu tive foi falar
-
3:31 - 3:33do padrão margarina.
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3:33 - 3:34[Margarina Black Light]
-
3:34 - 3:40Vocês já devem ter visto que os comerciais
de margarina são sempre a mesma coisa: -
3:40 - 3:43casais héteros, arianos,
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3:44 - 3:48homens que respeitam
a moral e os bons costumes, -
3:48 - 3:51com suas esposas submissas,
recatadas e do lar. -
3:51 - 3:54Desculpa, eu precisava falar isso, tá?
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3:54 - 3:55(Risos)
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3:55 - 3:56(Vivas)
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3:56 - 3:58(Aplausos)
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4:02 - 4:04Vocês já repararam
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4:04 - 4:07que, nesses comerciais
de margarina e outros tantos, -
4:07 - 4:09as mulheres estão sempre felicíssimas
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4:09 - 4:13por estarem servindo
todo mundo numa alegria? -
4:13 - 4:16Eu não sei que mulher
acorda desse jeito, mas, enfim... -
4:17 - 4:22Então, nós criamos o primeiro comercial
-
4:22 - 4:25protagonizado por uma família negra.
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4:26 - 4:33No canal "Tá bom pra você?",
está disponível a margarina Black Light. -
4:33 - 4:38Ainda não está nos supermercados,
mas nós continuamos aguardando, tá? -
4:39 - 4:43Então, pela primeira vez
na história, no Brasil... -
4:44 - 4:47pelo menos, eu nunca vi um comercial
de margarina com uma família negra... -
4:47 - 4:52nós temos no "Tá bom pra você?",
e ali está a minha família. -
4:52 - 4:56Essa ideia partiu da Gabriela,
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4:56 - 4:59nos questionamentos dela,
e falando comigo, -
4:59 - 5:01mas, logo depois,
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5:01 - 5:05a minha família toda resolveu participar,
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5:05 - 5:06porque eu pressionei, né?
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5:06 - 5:08Não tinha escolha.
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5:08 - 5:12E aí, eu tinha em casa
um ator, que é meu marido, -
5:12 - 5:14que colabora muito com esse projeto,
-
5:14 - 5:19e meu filho, que não é à toa,
mas resolveu colaborar, mesmo contrariado. -
5:19 - 5:20(Risos)
-
5:21 - 5:26Eu queria falar que esse padrão
é muito perigoso, -
5:27 - 5:30porque ele causa sérios problemas
-
5:30 - 5:34às pessoas que não conseguem
estar dentro desse padrão. -
5:35 - 5:40Problemas e até transtornos psicológicos,
como é o caso de Juliete. -
5:40 - 5:41[Alisandro]
-
5:41 - 5:47A Juliete é essa menina que é atormentada
por esse monstro chamado Alisandro. -
5:47 - 5:49Alisandro carrega um pote.
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5:49 - 5:50Eu vou contar direitinho...
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5:51 - 5:57Acontece que Juliete é uma blogueira
muito famosa, feminista, negra, -
5:57 - 5:59e tem o cabelo assim, parecido com o meu,
-
5:59 - 6:02e que se vê muito, muito pressionada
-
6:02 - 6:05quando ela tem que enfrentar
sua primeira entrevista de emprego. -
6:05 - 6:07Aí, ela fica naquele tormento
-
6:07 - 6:10e ela começa a acompanhar
o que acontece na sociedade. -
6:10 - 6:13Vocês devem ter visto
o que acontece com mulheres negras, -
6:13 - 6:16que agora ocupam cargos
-
6:16 - 6:19que antes eram ocupados
só por mulheres brancas, -
6:20 - 6:22atrizes, cantoras, né?
-
6:23 - 6:26Ataques racistas
-
6:26 - 6:28sempre acontecem com essas mulheres.
-
6:28 - 6:32A Juliete começa a ver isso
e ficar um pouco pancada, desesperada, -
6:32 - 6:36e começa a ter alucinações
e a ter delírios com Alisandro, -
6:36 - 6:42que aparece com um pote enorme de alisante
e outros instrumentos de tortura -
6:42 - 6:46que as pessoas que têm o cabelo como o meu
não estão a fim de usar. -
6:46 - 6:51Então, esse cara aparece no pesadelo
de Juliete, na escola, no computador. -
6:51 - 6:54O negócio fica sério,
e ela vai parar no hospício. -
6:54 - 6:56Isso é sério.
-
6:57 - 6:58É sério.
-
6:58 - 7:02O outro comercial com o qual
eu quis provocar esse debate -
7:02 - 7:08foi sobre uma coisa muito simples,
que acontece com qualquer mulher, -
7:08 - 7:10que é a menstruação.
-
7:11 - 7:15Só que não tem comercial
de absorvente com mulher negra. -
7:17 - 7:21Eu vi Lélia Gonzalez, uma importante
ativista negra, falando isso. -
7:22 - 7:24Eu acho que essa entrevista
já tem uns 25 anos. -
7:24 - 7:28Ela falou: "Nunca vi um comercial
de absorventes com mulher negra". -
7:28 - 7:33Então, nós criamos
o absorvente Black Livre, -
7:33 - 7:34[Black Livre]
-
7:34 - 7:37disponível também no "Tá bom pra você?".
-
7:37 - 7:39Em breve, nos mercados.
-
7:39 - 7:41A gente continua também aguardando.
-
7:44 - 7:49E aí, eu queria falar de outros produtos
que a gente consome, né? -
7:49 - 7:52Vale lembrar que nós, negros,
-
7:52 - 7:57somos 57% da população
do Brasil, segundo o IBGE. -
8:00 - 8:06Consumimos mais de R$ 1,5 trilhão por ano.
-
8:07 - 8:10Mas, na indústria
da publicidade e do audiovisual, -
8:10 - 8:14somos apenas 4%... né?
-
8:14 - 8:17E nós consumimos esses produtos.
-
8:17 - 8:18[Cereal Black]
-
8:18 - 8:21Aqui está o Cereal Black,
que também está no "Tá bom pra você?" -
8:22 - 8:25Fizemos também um comercial
de pasta de dente. -
8:25 - 8:29Creme dental Total Protection Black.
-
8:30 - 8:33Porque, por incrível que pareça,
a gente escova os dentes, né? -
8:33 - 8:34(Risos)
-
8:34 - 8:37E o pior de tudo:
a gente compra esses produtos. -
8:37 - 8:41Vamos pensar, como eu falei,
vamos imaginar. -
8:41 - 8:43Nós somos mais da metade da população.
-
8:43 - 8:46Imagina se a gente
para de comprar esses produtos. -
8:46 - 8:48O que aconteceria?
-
8:48 - 8:49(Vivas)
-
8:50 - 8:51(Aplausos)
-
8:51 - 8:52Hã?
-
8:55 - 9:01Agora eu quero falar da minha irmã,
-
9:02 - 9:09Beatriz Nascimento, que, infelizmente,
nos deixou há uns 17 anos, -
9:10 - 9:12mas eu guardei todos os ensinamentos dela.
-
9:12 - 9:16A minha irmã, quando era nova...
eu nasci no subúrbio do Rio de Janeiro... -
9:16 - 9:22ela fez questão de me levar
a lugares frequentados pela elite carioca. -
9:22 - 9:24Ela me levava a esses lugares,
olhava pra mim e falava: -
9:24 - 9:26"Olha, eu estou te trazendo aqui
-
9:26 - 9:31que é pra você aprender que ninguém,
ninguém tem o direito de dizer -
9:32 - 9:34que você não pode entrar nesses lugares".
-
9:35 - 9:40Então, isso eu aprendi direitinho
e agora eu quero mostrar pra vocês -
9:40 - 9:45o que acontece quando crianças e jovens
se sentem representados. -
9:46 - 9:48Essas imagens que eu vou mostrar agora
-
9:48 - 9:53são fotos de crianças
que foram fotografadas por seus pais -
9:53 - 9:55quando se sentiram representadas.
-
9:55 - 9:58Eu acho que não preciso nem comentar nada.
-
9:58 - 9:59Lá tem um menino.
-
9:59 - 10:01Esta foto é de um garoto
dos Estados Unidos. -
10:01 - 10:04A mãe fotografou
quando viu a reação do filho -
10:04 - 10:08quando se identificou com a criança
que vinha no pacote de fraldas, -
10:08 - 10:09a criança com a boneca.
-
10:09 - 10:11Eu acho que não preciso comentar,
-
10:11 - 10:14mas eu queria comentar
-
10:14 - 10:18esta última foto desse menino,
que hoje tem 20 anos. -
10:18 - 10:20É um estudante de biomedicina.
-
10:20 - 10:22Ele é um menino negro.
-
10:23 - 10:27Quando eu morei na Venezuela,
trabalhava no ramo de esportes. -
10:28 - 10:32Meu filho uma vez chegou em casa
chorando pra caramba. -
10:32 - 10:33Não conseguia falar.
-
10:33 - 10:34Foi pro banheiro.
-
10:34 - 10:35Não conseguia falar comigo.
-
10:35 - 10:37Eu, tentando falar com ele, perguntei:
-
10:37 - 10:38"O que foi?"
-
10:38 - 10:41Ele falou: "Mãe, eu entrei na escola,
-
10:41 - 10:46e todas as crianças riram e perguntaram
se alguém tinha me esquecido no forno". -
10:47 - 10:48(Suspiro)
-
10:48 - 10:51Isso é ainda muito complicado pra mim.
-
10:52 - 10:53Então...
-
10:56 - 10:57Então, eu falei: "O que eu faço?"
-
10:58 - 11:00Ele tinha uns 13, 14 anos.
-
11:00 - 11:03Eu falei: "Como é que eu falo
que a sociedade está doente, -
11:03 - 11:06que ele não tem problema?"
-
11:06 - 11:11Peguei uma letra de uma música
chamada "Nego Drama", -
11:11 - 11:12de Mano Brown.
-
11:12 - 11:13(Vivas)
-
11:13 - 11:14(Aplausos)
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11:14 - 11:16Eu falei:
-
11:16 - 11:19"Ouve essa música
uma, duas, três vezes, sozinho. -
11:20 - 11:24Depois, se você quiser, a gente conversa,
bate um papo, vê o que você achou disso, -
11:24 - 11:26e vamos conversar,
vamos resolver essa história". -
11:26 - 11:28Ele pegou, adorou.
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11:28 - 11:32Depois desse dia, a gente passou a ouvir
-
11:32 - 11:35o CD dos Racionais, pelo menos
umas dez vezes por dia, -
11:36 - 11:40e o Matheus, que é esse menino
que faz biomedicina, -
11:40 - 11:42é meu filho.
-
11:42 - 11:43(Vivas)
-
11:43 - 11:46E aí, quando eu voltei pro Brasil,
-
11:46 - 11:50eu fiz questão de fotografar
a primeira reação dele -
11:50 - 11:55quando ele viu o ídolo dele,
o Mano Brown, no palco. -
11:55 - 11:59E aí, estava muito cheio; eu procurando;
queria tirar uma foto; não via ninguém. -
11:59 - 12:01Daqui a pouco, eu vi Eliane Dias passar,
-
12:01 - 12:04aquela deusa maravilhosa,
que estava aqui agora. -
12:04 - 12:07Eu agarrei o braço dela, falei:
"Por favor, meu filho precisa conhecer..." -
12:07 - 12:09eu não conhecia Eliane na época...
-
12:09 - 12:11"Meu filho precisa conhecer o Mano Brown."
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12:11 - 12:13Ela falou: "Não, tá", entendeu a situação.
-
12:13 - 12:16Falou: "Nossa, eu preciso
levar esse menino". -
12:16 - 12:19Ali, depois, ele com seu ídolo.
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12:19 - 12:21Bom, o que eu quero dizer
-
12:21 - 12:24é que a representatividade
é importante, sim, -
12:25 - 12:30importantíssima pra sociedade
e muito boa pros negócios, -
12:30 - 12:34já que metade dessa população
consome todos os produtos. -
12:34 - 12:36É bom que a gente está em São Paulo
pra poder falar disso. -
12:38 - 12:41Nós não queremos ser iguais a ninguém.
-
12:41 - 12:42Não é isso.
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12:44 - 12:48O que faz interessante,
o que é mais interessante no mundo -
12:48 - 12:50é a diferença.
-
12:50 - 12:55Não queremos ser iguais a ninguém,
mas merecemos direitos iguais -
12:55 - 12:59e vamos lutar por eles, certo?
-
13:00 - 13:03Eu acho que é muito simples.
-
13:03 - 13:09Não precisamos da simpatia de pessoas
contagiadas pelo comercial de margarina, -
13:09 - 13:11que acha o máximo dizer:
-
13:11 - 13:13"Não, eu não sou racista.
O meu melhor amigo é um negão". -
13:13 - 13:15Não, não é por aí.
-
13:15 - 13:19É simples: é só entender
que, se tem uma cadeira pra você, -
13:19 - 13:22tem que ter uma pra mim também, né?
-
13:22 - 13:23É isso.
-
13:23 - 13:24(Aplausos)
-
13:25 - 13:26Obrigada.
-
13:27 - 13:30Nós estamos falando de uma nação.
-
13:30 - 13:32Nós somos a nação brasileira.
-
13:33 - 13:34Aqui não é um clube de amigos,
-
13:34 - 13:37onde entra teu irmão,
teu tio, teu primo... -
13:37 - 13:38Não!
-
13:38 - 13:40Nós todos somos a humanidade.
-
13:40 - 13:45Devemos respeitar a humanidade
e os direitos do ser humano, não é mesmo? -
13:47 - 13:50Eu acho a diversidade mais interessante
-
13:50 - 13:52do que um mundo cheio de bonecas,
-
13:52 - 13:57anjos, príncipes, princesas,
deuses, rainhas e reis, todos iguais. -
13:58 - 13:59Não!
-
13:59 - 14:04Eu quero poder, de repente,
da próxima vez, poder fechar os olhos... -
14:05 - 14:10e sugiro que vocês façam isso também,
amanhã ou depois, hoje, mais tarde... -
14:11 - 14:14e tentem imaginar, perceber
que a sua mente está livre -
14:14 - 14:17pra ter os sonhos que vocês quiserem,
-
14:17 - 14:19as imagens que quiserem,
-
14:19 - 14:22construir os filmes que vocês quiserem
-
14:22 - 14:26e, com isso, desconstruir nossas mentes,
que estão colonizadas. -
14:26 - 14:29Pra isso, a gente
precisa de novas histórias. -
14:32 - 14:33E, por último,
-
14:34 - 14:36como eu costumo dizer:
-
14:40 - 14:41"O bom mesmo
-
14:41 - 14:45é quando eu posso aprender com você
-
14:46 - 14:49o que você ainda não sabe sobre mim".
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14:49 - 14:51Tá bom pra você?
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14:51 - 14:52Obrigada.
-
14:52 - 14:53(Aplausos)
- Title:
- Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon
- Description:
-
Kenia conta sobre a experiência com o canal "Tá bom pra você?", que trata de questões raciais de forma leve e com um humor inteligente.
Kenia é atriz e empresária, engajada artisticamente e preocupada com o social. Em 2013, fundou, junto com a filha Gabriela Dias, o canal do YouTube e a série "Tá bom pra você?", que conta com a colaboração do marido, o ator Érico Brás, e do filho Mateus Dias.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 14:58
Custodio Marcelino approved Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Custodio Marcelino edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon | ||
Maurício Kakuei Tanaka edited Portuguese, Brazilian subtitles for Tá bom pra você? | Kenia Maria | TEDxSãoPauloSalon |