O que os morcegos vampiros vacinados nos podem ensinar sobre pandemias
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0:01 - 0:03A história que vos quero contar hoje,
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0:03 - 0:05para mim, começou em 2006.
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0:06 - 0:09Foi quando eu ouvi falar pela primeira vez
sobre o surto duma doença misteriosa -
0:09 - 0:13que estava a acontecer na selva
amazónica do Peru. -
0:13 - 0:15As pessoas que estavam a ficar doentes
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0:15 - 0:18tinham horríveis sintomas, aterradores.
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0:18 - 0:20Tinham dores de cabeça incríveis,
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0:20 - 0:21não conseguiam comer nem beber.
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0:21 - 0:23Alguns deles até tinham alucinações,
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0:23 - 0:25estavam confusos e agressivos.
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0:25 - 0:27A parte mais trágica,
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0:27 - 0:29era que muitas das vítimas eram crianças.
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0:29 - 0:32E de todos os que adoeciam,
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0:32 - 0:33nenhum sobrevivia.
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0:35 - 0:37Resultou que o que estava a matar
as pessoas era um vírus, -
0:37 - 0:40mas não era o Ébola, não era o Zika,
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0:40 - 0:43nem era um novo vírus
nunca antes visto pela ciência. -
0:44 - 0:47As pessoas estavam a morrer
por causa de um antigo assassino -
0:47 - 0:48que conhecemos há séculos.
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0:48 - 0:50Estavam a morrer de raiva.
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0:51 - 0:54E o que todas elas tinham em comum
era que, enquanto dormiam, -
0:55 - 0:59tinham sido mordidas pelo único mamífero
que se alimenta exclusivamente de sangue: -
0:59 - 1:00o morcego vampiro.
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1:01 - 1:04Este género de epidemias
que saltam de morcegos para pessoas, -
1:04 - 1:07tornaram-se cada vez mais comuns
nas duas últimas décadas. -
1:07 - 1:09Em 2003, foi o SARS.
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1:09 - 1:12Apareceu em mercados chineses de animais
e propagou-se globalmente. -
1:12 - 1:16Esse vírus, como aquele do Peru,
foi finalmente localizado nos morcegos -
1:17 - 1:20que, provavelmente, o tinham hospedado,
desapercebido, durante séculos. -
1:20 - 1:24Então, 10 anos depois, vemos o Ébola
aparecer na África Ocidental, -
1:25 - 1:27e isso surpreendeu quase todos
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1:27 - 1:29porque, de acordo
com a ciência na altura, -
1:29 - 1:32o Ébola não era suposto
aparecer na África Ocidental. -
1:32 - 1:35Isso acabou por causar o maior
e mais difundido surto de Ébola -
1:35 - 1:37na história.
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1:38 - 1:40Então, há aqui uma tendência
perturbadora, não é? -
1:40 - 1:44Os vírus mortais estão a aparecer
em lugares onde não podemos esperá-los. -
1:44 - 1:46Enquanto comunidade global de saúde,
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1:46 - 1:48temos um problema muito grande.
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1:48 - 1:50Estamos sempre a correr
atrás da próxima emergência viral -
1:51 - 1:52num ciclo perpétuo,
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1:52 - 1:56sempre a tentar extinguir epidemias
depois de elas já terem começado. -
1:56 - 1:59Então, com doenças
que aparecem todos os anos, -
1:59 - 2:01agora é mesmo a altura
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2:01 - 2:04de termos de começar a pensar
no que podemos fazer sobre isso. -
2:04 - 2:06Se apenas esperarmos que apareça
o próximo Ébola, -
2:06 - 2:08podemos não ter tanta sorte
da próxima vez. -
2:08 - 2:12Podemos enfrentar um vírus diferente
que seja mais mortal, -
2:12 - 2:14que se espalhe melhor entre as pessoas,
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2:14 - 2:17ou que talvez supere as nossas vacinas,
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2:17 - 2:19deixando-nos indefesos.
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2:20 - 2:23Então, podemos prever pandemias?
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2:23 - 2:25Podemos impedi-las?
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2:25 - 2:27Estas são perguntas difíceis de responder,
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2:28 - 2:30porque as pandemias
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2:30 - 2:32— aquelas que se difundem globalmente,
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2:32 - 2:34aquelas que queremos impedir —
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2:34 - 2:36são acontecimentos muitos raros.
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2:36 - 2:39E para nós, como espécie,
isso é positivo, -
2:39 - 2:41é por isso que estamos todos aqui.
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2:41 - 2:46Mas do ponto de vista científico,
há um pequeno problema. -
2:47 - 2:49Isso porque, se algo
só acontece uma ou duas vezes, -
2:49 - 2:52não é suficiente para encontrar padrões,
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2:52 - 2:55padrões que nos poderiam dizer quando
ou onde a próxima pandemia pode atacar. -
2:56 - 2:58Então, o que vamos fazer?
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2:58 - 3:03Bem, acho que uma das soluções
que talvez tenhamos é estudar alguns vírus -
3:03 - 3:06que rotineiramente saltam de animais
selvagens para as pessoas, -
3:06 - 3:09ou para os nossos animais de estimação,
ou para o nosso gado, -
3:10 - 3:12mesmo que não sejam os mesmos vírus
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3:12 - 3:14que pensamos que vão causar pandemias.
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3:14 - 3:17Se pudermos usar
esses vírus mortais quotidianos -
3:17 - 3:19para tentar descobrir alguns dos padrões,
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3:19 - 3:22do que gera aquele salto inicial
e crucial duma espécie para outra, -
3:22 - 3:25e, eventualmente, como poderemos pará-lo,
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3:25 - 3:27vamos acabar mais bem preparados
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3:27 - 3:30para os vírus que saltam
entre espécies, mais raramente, -
3:30 - 3:32mas que constituem
uma maior ameaça de pandemias. -
3:33 - 3:35A raiva, por terrível que seja,
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3:35 - 3:39acaba por ser um vírus bastante
benigno, neste caso. -
3:41 - 3:44A raiva é um vírus assustador, letal.
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3:44 - 3:45Tem 100% de fatalidade.
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3:45 - 3:49Se formos infetados com raiva
e não recebermos tratamento precoce, -
3:49 - 3:51não há nada que se possa fazer.
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3:51 - 3:52Não há cura.
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3:52 - 3:54Vamos morrer.
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3:55 - 3:58Mas a raiva não é só
um problema do passado. -
3:59 - 4:04Ainda hoje, a raiva mata
50 a 60 mil pessoas por ano. -
4:05 - 4:07Ponham esse número em perspetiva.
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4:07 - 4:10Imaginem todo o surto do Ébola
na África Ocidental -
4:10 - 4:12— cerca de dois anos e meio.
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4:12 - 4:14Condensem todas as pessoas
que morreram nesse surto -
4:14 - 4:16em apenas um ano.
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4:16 - 4:17Isso é muito mau.
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4:17 - 4:19Mas depois, multipliquem-no por quatro.
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4:19 - 4:22Isso é o que acontece
com a raiva todos os anos. -
4:24 - 4:28Então, o que diferencia a raiva
dum vírus como o Ébola -
4:28 - 4:31é que, quando as pessoas contraem raiva,
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4:31 - 4:33não contagiam outras pessoas.
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4:33 - 4:37Isto significa que, quando
uma pessoa apanha raiva, -
4:37 - 4:39é porque foi mordida
por um animal raivoso, -
4:39 - 4:42que, geralmente, é um cão ou um morcego.
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4:42 - 4:45Mas também significa
que esses saltos entre espécies -
4:45 - 4:47— tão importantes para entender,
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4:47 - 4:49mas tão raros para a maioria dos vírus —
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4:49 - 4:52acontecem aos milhares, na raiva.
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4:53 - 4:56Então, de certa forma, a raiva
é quase como a mosca-da-fruta -
4:56 - 4:59ou o rato de laboratório dos vírus fatais.
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4:59 - 5:03É um vírus que podemos usar
e estudar para encontrar padrões -
5:03 - 5:05e testar novas soluções.
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5:06 - 5:09Quando ouvi pela primeira vez
falar deste surto de raiva -
5:09 - 5:10na Amazónia peruana,
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5:10 - 5:13impressionou-me como algo
potencialmente potente -
5:13 - 5:16porque era um vírus que estava a saltar
de morcegos para outros animais -
5:16 - 5:19com frequência suficiente
para podermos prevê-lo... -
5:19 - 5:21ou mesmo impedi-lo.
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5:21 - 5:24Então, no primeiro ano
de estudante graduado -
5:24 - 5:27com uma vaga lembrança
das aulas de espanhol do secundário, -
5:27 - 5:29apanhei um avião e fui para o Peru,
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5:29 - 5:31à procura de morcegos vampiros.
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5:32 - 5:35Os primeiros dois anos
deste projeto foram muitos duros. -
5:36 - 5:40Eu não tinha falta de projetos ambiciosos
para livrar a América Latina da raiva, -
5:40 - 5:42mas ao mesmo tempo,
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5:42 - 5:46parecia haver uma quantidade infinita
de deslizamentos de terras, pneus furados, -
5:46 - 5:49falhas de eletricidade,
parasitas no estômago, que me impediam. -
5:49 - 5:51Mas isso, de certo modo,
fazia parte do curso, -
5:52 - 5:53do trabalho na América do Sul.
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5:53 - 5:56Para mim, fazia parte da aventura.
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5:56 - 5:59Mas o que me fez continuar
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5:59 - 6:01era o conhecimento
de que, pela primeira vez, -
6:01 - 6:04o trabalho que eu estava a fazer
podia ter um grande impacto -
6:04 - 6:05nas vidas das pessoas a curto prazo.
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6:05 - 6:07E isto mais me impressionou
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6:07 - 6:09quando fomos para a Amazónia
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6:09 - 6:12e tentámos apanhar morcegos vampiros.
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6:12 - 6:15Tudo o que tínhamos de fazer era
aparecer numa aldeia e perguntar: -
6:15 - 6:18"Quem tem sido mordido
por um morcego ultimamente?" -
6:18 - 6:20As pessoas levantavam a mão
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6:20 - 6:22porque, nessas comunidades,
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6:22 - 6:25ser mordido por um morcego
é uma ocorrência quotidiana, -
6:25 - 6:26acontece todos os dias.
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6:27 - 6:30Então, tudo o que tínhamos de fazer
era ir à casa certa, -
6:30 - 6:31abrir uma rede,
-
6:31 - 6:32aparecer à noite,
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6:32 - 6:35e esperar até os morcegos
entrarem a voar -
6:35 - 6:37e alimentarem-se de sangue humano.
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6:37 - 6:41Para mim, ver uma criança
com uma mordidela na cabeça -
6:41 - 6:43ou sangue nos lençóis,
-
6:43 - 6:45era mais que motivação suficiente
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6:45 - 6:48para ultrapassar qualquer
dor de cabeça logística ou física -
6:48 - 6:50que eu sentisse nesse dia.
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6:51 - 6:53Mas, como estávamos
a trabalhar a noite toda, -
6:53 - 6:56tinha muito tempo para pensar em como
podia resolver este problema -
6:57 - 7:00e reparei que havia
duas perguntas importantes. -
7:00 - 7:03A primeira era que sabíamos que as
pessoas estavam sempre a ser mordidas, -
7:04 - 7:06mas os surtos de raiva
não estavam sempre a acontecer -
7:06 - 7:09— de dois em dois anos,
talvez até em cada década, -
7:09 - 7:10ocorria um surto de raiva.
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7:10 - 7:14E se pudéssemos prever
quando e onde ia ser o próximo surto? -
7:14 - 7:16Essa podia ser uma oportunidade real,
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7:16 - 7:18de podermos vacinar
as pessoas antes de tempo, -
7:18 - 7:20antes de alguém começar a morrer.
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7:20 - 7:22Mas o reverso da medalha
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7:23 - 7:26é que a vacina é só um "penso adesivo".
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7:26 - 7:28É uma estratégia de controlo de danos.
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7:28 - 7:31Com certeza é salva-vidas,
é importante e temos de fazê-lo, -
7:31 - 7:33mas, vendo bem as coisas,
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7:33 - 7:35por mais vacas, por mais pessoas
que vacinássemos, -
7:35 - 7:39havia sempre a mesma quantidade
de raiva nos morcegos. -
7:39 - 7:42O risco real de ser mordido
não tinha mudado em nada. -
7:42 - 7:44Então, a minha segunda pergunta era esta:
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7:44 - 7:47Podíamos de alguma maneira
eliminar o vírus na sua origem? -
7:47 - 7:50Se conseguíssemos reduzir
a quantidade de raiva nos morcegos, -
7:50 - 7:52isso seria uma grande mudança.
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7:53 - 7:56Estávamos a falar de passar
duma estratégia de controlo de danos -
7:56 - 7:58para uma estratégia baseada na prevenção.
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7:59 - 8:01Então, como começar a fazer isso?
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8:01 - 8:03A primeira coisa
que precisávamos de entender -
8:03 - 8:06era como este vírus funciona
nos seus hospedeiros naturais -
8:06 - 8:07— nos morcegos.
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8:07 - 8:10Isso não é uma tarefa fácil
para todas as doenças infecciosas, -
8:10 - 8:13especialmente numa espécie
solitária como os morcegos, -
8:14 - 8:16mas tínhamos de começar por algum lado.
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8:16 - 8:20Então, a maneira como começámos
foi olhar para alguns dados históricos. -
8:20 - 8:23Quando e onde estes surtos
tinham acontecidos no passado? -
8:23 - 8:26Ficou claro que a raiva era um vírus
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8:26 - 8:28que tinha de estar em movimento.
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8:28 - 8:29Não podia ficar parado.
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8:29 - 8:32O vírus podia circular na área
durante um ano, talvez dois, -
8:32 - 8:36mas, se não encontrasse um novo grupo
de morcegos para infetar noutro lugar, -
8:36 - 8:38era muito provável que se extinguisse.
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8:38 - 8:43Assim, resolvemos uma parte essencial
do desafio de transmissão da raiva. -
8:44 - 8:47Sabíamos que estávamos a lidar
com um vírus em movimento, -
8:47 - 8:49mas ainda não podíamos dizer para onde ia.
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8:49 - 8:53Essencialmente, o que eu queria era mais
uma previsão à moda do Google Maps: -
8:54 - 8:56"Qual é o destino do vírus?
-
8:56 - 8:58"Qual é o caminho que vai
levar para lá chegar? -
8:58 - 9:00"Quão rápido se moverá?"
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9:01 - 9:05Para isso, virei-me
para os genomas da raiva. -
9:05 - 9:09A raiva, como muitos outros vírus,
tem um genoma minúsculo, -
9:09 - 9:12mas que evolui muito, muito rapidamente.
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9:12 - 9:16Tão rapidamente que, no momento
em que o vírus muda de um sítio para outro -
9:16 - 9:19terá sofrido algumas novas mutações.
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9:19 - 9:22Assim, tudo o que temos de fazer
é ligar os pontos -
9:22 - 9:24através duma árvore evolutiva,
-
9:24 - 9:26que nos vai dizer onde o vírus
esteve no passado -
9:26 - 9:29e como se propagou por toda a paisagem.
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9:29 - 9:32Assim, saí para recolher cérebros de vaca,
-
9:32 - 9:35porque é aí onde se apanha
o vírus da raiva. -
9:36 - 9:40Pela sequência do genoma que tínhamos
dos vírus nesses cérebros de vaca, -
9:40 - 9:41consegui descobrir
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9:41 - 9:45que é um vírus que se espalha
num raio de 15 a 30 km cada ano. -
9:45 - 9:49Ok, isso significa que agora temos
o limite da velocidade do vírus, -
9:49 - 9:53mas ainda falta o outro elemento chave:
para onde vai em primeiro lugar. -
9:54 - 9:58Para isso, precisava de pensar
um pouco mais como um morcego, -
9:59 - 10:01porque a raiva é um vírus,
não se desloca sozinho, -
10:01 - 10:04tem de ser transportado
pelos morcegos seus hospedeiros. -
10:05 - 10:08Eu tinha de pensar na distância
a que voavam e quantas vezes voavam. -
10:09 - 10:11A minha imaginação
não chegou para lá chegar -
10:11 - 10:15nem os pequenos localizadores digitais
que tentámos pôr nos morcegos. -
10:15 - 10:17Não conseguimos obter
a informação de que precisávamos. -
10:17 - 10:20Virámo-nos para os padrões
de acasalamento dos morcegos. -
10:20 - 10:23Observámos certas partes
do genoma do morcego, -
10:23 - 10:26que nos diziam que alguns grupos
de morcegos acasalavam um com o outro -
10:26 - 10:28e outros eram mais isolados.
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10:28 - 10:32O vírus estava a seguir o rasto
traçado pelos genomas do morcego. -
10:33 - 10:36No entanto, um desses rastos destacou-se
por ser um pouco surpreendente, -
10:36 - 10:38difícil de acreditar.
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10:38 - 10:42Era um rasto que parecia atravessar
diretamente os Andes peruanos, -
10:42 - 10:44passando da Amazónia
para a costa do Pacífico. -
10:44 - 10:47Isto era bastante difícil de acreditar,
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10:47 - 10:49como já disse,
-
10:49 - 10:52porque os Andes são muito altos,
cerca de 6700 metros, -
10:52 - 10:55e isso é demasiado alto
para um vampiro voar. -
10:56 - 10:57No entanto...
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10:57 - 11:00quando olhámos mais atentamente,
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11:00 - 11:02vimos, na parte norte do Peru,
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11:02 - 11:05uma rede de vales
que não eram muito altos -
11:05 - 11:08para os morcegos de ambos os lados
acasalarem uns com os outros. -
11:08 - 11:10Olhámos ainda mais atentamente
-
11:10 - 11:13— e claro, havia raiva
a espalhar-se por aqueles vales, -
11:13 - 11:15cerca de 15 quilómetros por ano,
-
11:15 - 11:18exatamente como os nossos
modelos evolucionários tinham previsto. -
11:19 - 11:20O que eu não vos disse
-
11:20 - 11:22é que isto é uma coisa muito importante
-
11:22 - 11:26porque a raiva nunca tinha sido vista
nos declives ocidentais dos Andes, -
11:26 - 11:29nem nas costas do Pacífico
da América do Sul. -
11:29 - 11:33Estávamos a assistir, em tempo real,
a uma primeira invasão histórica -
11:33 - 11:35numa parte bastante grande
da América do Sul, -
11:36 - 11:37o que motivou a pergunta-chave:
-
11:37 - 11:40"O que vamos fazer quanto a isso?"
-
11:40 - 11:43A coisa mais óbvia a curto prazo,
que podíamos fazer, era dizer às pessoas: -
11:43 - 11:46"Vocês têm de se vacinar,
vacinem os vossos animais; -
11:46 - 11:47"a raiva está a chegar".
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11:48 - 11:49Mas a mais longo prazo,
-
11:49 - 11:52podia ser ainda mais poderoso
se pudéssemos usar esta nova informação -
11:52 - 11:55para impedir que o vírus lá chegasse.
-
11:56 - 11:59Claro que não podemos dizer
aos morcegos: "Hoje não voem", -
11:59 - 12:03mas talvez pudéssemos impedir que o vírus
fosse de boleia com os morcegos. -
12:04 - 12:07Isso leva-nos à lição principal
que tínhamos aprendido -
12:07 - 12:10através dos programas
de gestão da raiva, por todo o mundo, -
12:10 - 12:15quer se trate de cães, de raposas,
de doninhas, de guaxinins, -
12:15 - 12:17na América do Norte, em África, na Europa.
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12:18 - 12:22É que vacinar a origem animal
é a única coisa que detém a raiva. -
12:22 - 12:26Então, podemos vacinar os morcegos?
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12:27 - 12:29Ouvimos falar, constantemente,
de vacinar cães e gatos, -
12:29 - 12:32mas não ouvimos falar assim tanto
de vacinar morcegos. -
12:33 - 12:35Pode parecer uma pergunta louca,
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12:35 - 12:40mas a boa notícia é que já temos
vacinas antirrábicas comestíveis -
12:40 - 12:42especialmente concebidas para morcegos.
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12:42 - 12:44E o que é ainda melhor
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12:44 - 12:48é que essas vacinas podem
espalhar-se de morcego para morcego. -
12:48 - 12:51Basta colocá-las num deles
-
12:51 - 12:53e deixar que o hábito de
se seduzirem uns aos outros -
12:53 - 12:55faça o resto do trabalho.
-
12:55 - 12:57Isso quer dizer que, no mínimo,
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12:58 - 13:01não temos de estar lá fora a vacinar
milhares de morcegos, um por um, -
13:01 - 13:02com seringas minúsculas.
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13:02 - 13:04(Risos)
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13:04 - 13:07Mas lá porque temos essa ferramenta
não significa que sabemos usá-la. -
13:07 - 13:10Agora temos uma lista
enorme de perguntas. -
13:10 - 13:12Quantos morcegos temos de vacinar?
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13:12 - 13:14Em que época do ano temos de vacinar?
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13:14 - 13:17Quantas vezes por ano temos de vacinar?
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13:18 - 13:20Todas elas são perguntas fundamentais
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13:20 - 13:23para lançar qualquer tipo
de campanha de vacinação, -
13:23 - 13:26mas são perguntas que não
podemos responder no laboratório. -
13:26 - 13:29Em vez disso, estamos a adotar
uma abordagem um pouco mais colorida. -
13:29 - 13:33Estamos a usar morcegos selvagens
reais, mas vacinas falsas. -
13:34 - 13:37Usamos géis comestíveis que fazem
brilhar o pelo do morcego -
13:37 - 13:40e pós de UV que se espalham entre
os morcegos, quando chocam um no outro, -
13:40 - 13:43deixando-nos estudar até que ponto
uma vacina real se pode espalhar -
13:43 - 13:46nestas colónias selvagens de morcegos.
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13:46 - 13:48Ainda estamos
na fase inicial deste trabalho, -
13:48 - 13:51mas os resultados até agora
são incrivelmente encorajadores. -
13:51 - 13:54Estão a sugerir que, usando
as vacinas que já temos, -
13:54 - 13:58podemos reduzir drasticamente
a dimensão dos surtos de raiva. -
13:59 - 14:01E isso é importante porque,
como se lembram -
14:01 - 14:04a raiva é um vírus
que tem de estar em movimento. -
14:04 - 14:07Assim, cada vez que reduzimos
a dimensão de um surto, -
14:07 - 14:09estamos também a reduzir a probabilidade
-
14:09 - 14:12de o vírus conseguir chegar
à colónia seguinte. -
14:12 - 14:14Estamos a quebrar um elo
na cadeia de transmissão. -
14:14 - 14:16E cada vez que fazemos isso
-
14:16 - 14:19estamos a pôr o vírus
um passo mais perto da extinção. -
14:20 - 14:24A ideia, para mim, de um mundo
no futuro não muito distante -
14:24 - 14:27onde podemos realmente falar
de erradicar totalmente a raiva, -
14:27 - 14:29é incrivelmente encorajadora e animadora.
-
14:30 - 14:32Então, vou voltar à pergunta inicial:
-
14:32 - 14:34Podemos evitar pandemias?
-
14:35 - 14:38Não há soluções milagrosas
para este problema, -
14:38 - 14:42mas as minhas experiências com a raiva
deram-me bastante otimismo quanto a isso. -
14:42 - 14:44Acho que não estamos
muito longe de um futuro -
14:44 - 14:48em que teremos a genómica
para prever surtos -
14:48 - 14:50e vamos ter novas
tecnologias inteligentes, -
14:50 - 14:53como vacinas comestíveis
que se espalham por si, -
14:53 - 14:56que podem eliminar esses vírus na origem
-
14:56 - 14:58antes de terem hipótese
de saltar para as pessoas. -
14:59 - 15:01Quando se trata de combater pandemias,
-
15:01 - 15:04o Santo Graal é conseguir
dar um passo em frente. -
15:04 - 15:05E se me perguntarem,
-
15:05 - 15:07acho que uma das maneiras para fazer isso
-
15:07 - 15:10é usar alguns dos problemas
que já temos hoje, -
15:10 - 15:11como a raiva
-
15:11 - 15:14— mais ou menos como um astronauta
pode usar um simulador de voo, -
15:14 - 15:16tentando descobrir o que
funciona ou não — -
15:16 - 15:18e criar um conjunto de ferramentas
-
15:18 - 15:21para, quando houver muita coisa em jogo,
não voarmos às cegas. -
15:21 - 15:22Obrigado.
-
15:22 - 15:26(Aplausos)
- Title:
- O que os morcegos vampiros vacinados nos podem ensinar sobre pandemias
- Speaker:
- Daniel Streicker
- Description:
-
Podemos prever o próximo grande surto duma doença, detendo um vírus como o Ébola antes de ele atacar? Nesta palestra sobre investigação científica de primeira linha, o ecologista Daniel Streicker leva-nos à selva amazónica no Peru onde segue o movimento dos morcegos vampiros a fim de prever e impedir surtos de raiva. Estudando estes padrões da doença, Streicker mostra como podemos aprender a evitar a próxima pandemia na origem.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 15:39
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for What vaccinating vampire bats can teach us about pandemics | ||
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Angelica Racca edited Portuguese subtitles for What vaccinating vampire bats can teach us about pandemics | ||
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