"Yoga" e meditação nas prisões portuguesas | Inez Aires | TEDxPorto

Praticar "Yoga" é uma ferramenta poderosa para restaurar a relação dos prisioneiros com o seu corpo e recuperar a conexão entre a mente, o corpo e o espírito. Desta forma, ajuda ao desenvolvimento completo do indivíduo, a fim de aumentar a autoconsciência e, consequentemente, a empatia pelos outros.
A intenção é estabelecer um programa nacional que envolva um grupo de professores de "Yoga" e meditação, para garantir aulas semanais nas prisões portuguesas, a fim de ajudar a reintegração social, transformação física e cerebral.

Inez Aires nasceu no Porto, formou-se em Engenharia Ambiental (MSC) e é PADI Rescue Diver. O seu percurso nas artes físicas começou aos 4 anos, no "ballet" clássico, equitação e ginástica desportiva.
Encontrou o Ioga em 1999, como resposta aos inúmeros desportos que praticava e à intensidade intelectual exigida pelo curso superior. Estudou "Ashtanga", "Hatha Yoga" tradicional e transformacional. Sempre curiosa, envolveu-se em cursos de "Tai Chi", "Qi Gong" e Dança Contemporânea. Aprendeu, praticou e ensinou em Portugal e diversos outros países.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Qual é a primeira coisa
que vos vem à cabeça

quando pensam numa prisão,

numa cadeia

ou num estabelecimento prisional?

E qual é a primeira coisa
que vem à vossa cabeça,

quando pensam num mosteiro
ou num convento?

A imagem que estão a ver
lá em cima no ecrã,

é de um desenho utópico.

Em 2013, enquanto engenheira do ambiente,

fiz parte da conceção de um edifício,

que tratava da reabilitação
de uma plataforma petrolífera antiga,

ao largo de São Francisco, na Califórnia.

A ideia e a forma como nós reestruturámos
este projeto, assentava na poética

de ver a prisão como um lugar
de transformação cerebral.

Esta cadeia era no meio do mar,
por isso não precisava de paredes.

O próprio oceano
criava o isolamento suficiente

que uma pessoa precisava de ter
para pensar na sua vida,

para aumentar a consciência,
consoante os atos que cometera.

Mas aquilo era uma utopia.

Um projeto que foi premiado,
mas não foi para a frente

e a realidade é esta.

Há uns anos tive a oportunidade

de visitar duas prisões nas Américas.

Do vosso lado esquerdo podem ver a penal
de Garcia Moreno, em Quito no Equador.

E do lado direito, Tepic, México, Nayarit.

Fui visitar a prisão de Tepic

porque dois amigos tinham sido
injustamente encarcerados.

Lembro-me quando cheguei à prisão,

e olhei para aquele espaço enorme,

os presos a andarem por lá
e todo o tempo que eles tinham.

Lembro-me de falar com os meus amigos,

e inspirá-los, levei-lhes livros
para que pudessem praticar "yoga",

praticar meditação e aproveitar
o inúmero tempo que tinham,

o tempo em que esperavam
o seu julgamento.

Durante 18 anos o "yoga"
tem sido parte da minha vida.

O "yoga" é uma filosofia que integra

as três grandes divisões
do que é ser um ser humano:

a nossa mente, o nosso corpo
e o nosso espírito.

O "yoga" trabalha como uma filosofia
que abrange a parte mental.

Trabalha como exercício físico

e como a ciência que vai ao lado físico,
ao nosso corpo.

E também é uma arte,

e ajuda-nos a ver melhor as qualidades
e as essências do nosso espírito.

Então, a ideia para a qual
nós fomos premiados,

trata de criar um programa
a nível nacional,

uma plataforma que possa reunir
todos os professores de "yoga"

que estejam interessados,
e que se sintam inspirados

a ensinar dentro de um
estabelecimento prisional.

Professores de "yoga"
e meditação certificados,

que tenham experiência
e possam vir a trazer

os benefícios destas técnicas aos
estabelecimentos prisionais portugueses.

Assim, distribuímos os professores
em calendários com rotatividade,

para que possam ir semanalmente
e se possa criar um programa

que vá ajudar à reinserção social,

à transformação física
e à sua transformação mental, cerebral.

É um facto que a maior parte
dos prisioneiros e reclusos

sofrem de algum tipo de trauma,

que foi causado na sua infância
ou na sua adolescência,

ou até na idade adulta.

E muitas vezes são estes traumas
que não foram processados

que levam a cometer atos criminosos,

ou que, pelo menos,
são contra a lei do país onde estão.

Então, queremos ensinar o "yoga"
como uma ferramenta,

que vai ajudar os prisioneiros,

a terem uma relação
com o seu próprio corpo

e melhorar essa relação.

Restabelecer a ligação entre o corpo,
a mente e o espírito,

de forma que possam também
gerir melhor as suas emoções.

Assim, podemos olhar para o indivíduo
como algo completo, algo holístico.

Desta forma, ao aumentar
esta sensibilidade,

temos a capacidade de olhar
para os outros de outra forma,

ganhar mais empatia para com os outros,

aumentar a nossa compaixão e reduzir,
no limite, o ciclo de violência.

E, também a reinserção nos vícios,
como é lógico.

Então, o "yoga" dá-nos técnicas
que podemos usar no tapete

e podemos usar fora dele.

Podemos usar dentro da aula,
podemos usar fora da aula

e podemos integrar em todos
os pontos da nossa vida.

A ideia é essa e aí é que vem
o valor transformacional do "yoga".

Durante a aula, só vamos ouvir e praticar
o que o professor nos está a sugerir.

Mas é na nossa vida quotidiana
que vamos realmente ver

que estas ferramentas
nos vão ajudar a lidar

com as nossas emoções,
com os nossos "stresses"

e com a forma como vemos a vida.

Os benefícios são inúmeros,
suponho que tenham alguma ideia.

O "yoga" ajuda a aliviar o "stress",
ajuda a aumentar a atenção,

o foco, a concentração.

Dá-nos força, dá-nos saúde física.

Quando nos sentimos melhores
e mais fortes com o nosso corpo

também nos vamos sentir mais fortes com
a nossa autoestima, com a nossa mente.

O nosso pensamento torna-se mais claro
e mais coisas por aí além.

Então, existem muitos casos de estudo
e de sucesso a nível internacional.

Eu estive a estudar projetos nos EUA
que ocorrem em vários Estados,

na China, em França, em vários países
da comunidade europeia.

E os resultados são fantásticos.

Por isso, a ideia era
trazer o "yoga" e a meditação,

como uma prática para ajudar
à reinserção social,

para dar uma nova perspetiva de vida
a estas pessoas

que têm de estar
no seu "retiro obrigatório"

e ajudá-los a ver que podem mudar,

podem-se transformar e podem
criar da sua vida uma coisa muito melhor.

A meditação ajuda-nos a ver
as coisas como elas são

e o "yoga" é sem dúvida,
um caminho para a liberdade,

quando nos conseguimos ver
como um ser completo.

Obrigada.

(Aplausos)