A verdadeira história de Rosa Parks — e porque é que temos de confrontar mitos sobre a história dos negros
-
0:02 - 0:07Sou o pai orgulhoso de dois belos filhos
-
0:07 - 0:12Elijah, de 15 anos, e Octavia, de 12.
-
0:12 - 0:16Quando Elijah estava no 4.º ano,
-
0:16 - 0:17veio ter comigo,
-
0:17 - 0:20chegou da escola, muito entusiasmado
-
0:20 - 0:25com o que tinha aprendido nesse dia
sobre história africana-americana. -
0:26 - 0:30Eu sou professor de estudos
africano-americanos e culturais -
0:30 - 0:32e por isso, como podem imaginar,
-
0:32 - 0:35a cultura africana-americana
é um assunto sério em minha casa. -
0:35 - 0:37Assim, fiquei orgulhoso por o meu filho
estar entusiasmado -
0:37 - 0:40com o que tinha aprendido
naquele dia, na escola. -
0:40 - 0:42E disse: "O que é que aprendeste?"
-
0:42 - 0:46Ele disse: "Aprendi sobre Rosa Parks."
-
0:46 - 0:49E eu: "Ok, o que é que aprendeste
sobre Rosa Parks?" -
0:49 - 0:54E ele: "Aprendi que Rosa Parks
foi uma mulher negra, frágil e idosa, -
0:55 - 0:56"nos anos 50,
-
0:56 - 0:59"em Montgomery, no Alabama.
-
0:59 - 1:01"Sentou-se no autocarro,
-
1:01 - 1:03"sentia os pés doridos
-
1:03 - 1:08"e, quando o motorista lhe disse
para dar o lugar a um patrão branco, -
1:08 - 1:11"ela recusou-se porque
sentia os pés doridos. -
1:11 - 1:12"Tinha sido um dia cansativo
-
1:12 - 1:14"e ela estava farta da opressão
-
1:14 - 1:16"e não cedeu o seu lugar.
-
1:16 - 1:18"Desfilou com Martin Luther King
-
1:18 - 1:20"e acreditava na não violência".
-
1:20 - 1:23Penso que ele deve ter olhado
para a minha cara -
1:23 - 1:28e viu que eu não estava
muito impressionado -
1:28 - 1:30por aquela...
-
1:31 - 1:32lição de história.
-
1:32 - 1:37E perguntou: "Pai, o que é que foi?
Disse alguma coisa errada?" -
1:37 - 1:39E eu: "Filho, não disseste nada errado,
-
1:39 - 1:42"mas penso que a tua professora
disse muitas coisas erradas". -
1:42 - 1:43(Risos)
-
1:43 - 1:45E ele: "O que é que queres dizer?"
-
1:45 - 1:48E eu: "Rosa Parks não estava cansada.
-
1:49 - 1:51"Não era idosa.
-
1:51 - 1:54"E certamente não tinha os pés doridos."
-
1:54 - 1:56E ele: "O quê?"
E eu: "Sim! -
1:56 - 1:59"Rosa Parks só tinha 42 anos".
-
2:00 - 2:03Ficaram chocados, não é?
Nunca ouviram dizer isto. -
2:03 - 2:05"Rosa Parks só tinha 42 anos,
-
2:05 - 2:09"só tinha trabalhado seis horas
naquele dia, era costureira -
2:09 - 2:12"e os pés estavam ótimos."
-
2:12 - 2:13(Risos)
-
2:13 - 2:16"A única coisa de que estava farta
-
2:16 - 2:18"era estar farta da injustiça.
-
2:18 - 2:20"Estava farta da opressão."
-
2:20 - 2:22O meu filho disse:
-
2:22 - 2:25"Bom, porque é que a professora
me contou essas coisas? -
2:25 - 2:27"Não percebo."
-
2:27 - 2:31Porque ele adorava a professora,
ela era uma boa professora, -
2:31 - 2:34uma jovem branca de 20 e poucos anos,
-
2:34 - 2:37muito esperta, puxava por ele,
e eu também gostava dela. -
2:38 - 2:41Mas ele não percebia:
"Porque é que ela contou assim?" -
2:41 - 2:44E disse: "Pai, conta-me mais
sobre Rosa Parks." -
2:44 - 2:47E eu disse: "Filho, vou fazer
uma coisa melhor." -
2:47 - 2:48E ele: "O que é?"
-
2:48 - 2:50E eu: "Vou comprar a autobiografia dela
-
2:50 - 2:52"e vais ser tu a lê-la."
-
2:53 - 2:55(Risos)
-
2:56 - 2:58Como podem imaginar,
-
2:58 - 3:03Elijah não ficou muito entusiasmado
com mais este trabalho de casa, -
3:03 - 3:07que o pai lhe tinha atribuído,
mas aceitou o desafio. -
3:07 - 3:11Depois de o ter lido,
foi ter comigo de novo. -
3:11 - 3:15Estava entusiasmado
com o que tinha aprendido. -
3:15 - 3:22Disse: "Pai, a Rosa Parks
inicialmente era contra a violência, -
3:22 - 3:27"mas o avô da Rosa Parks
que praticamente a criou, -
3:27 - 3:29"e que era tão claro
que passava por branco, -
3:29 - 3:33"costumava andar pela cidade
com a arma no coldre, -
3:33 - 3:36"e as pessoas sabiam que quem se metesse
-
3:36 - 3:39com os filhos ou os netos de Mr. Parks,
-
3:39 - 3:43"apanhava com um balázio no traseiro."
-
3:43 - 3:44(Risos)
-
3:44 - 3:45Certo?
-
3:45 - 3:48Não era pessoa para brincadeiras.
-
3:48 - 3:50E ele disse: "Também aprendi
-
3:50 - 3:54"que Rosa Parks casou
com um homem em Raymond -
3:54 - 3:57"que era muito parecido com o avô dela."
-
3:58 - 3:59Organizava
-
3:59 - 4:02— era um ativista dos direitos civis —
-
4:02 - 4:05organizava reuniões
-
4:05 - 4:10e, por vezes, as reuniões
eram em casa de Rosa Parks. -
4:10 - 4:12Uma vez, Rosa Parks reparou
-
4:12 - 4:15que havia muitas armas em cima da mesa,
-
4:15 - 4:18porque eles estavam preparados
no caso de alguém bater à porta -
4:18 - 4:21e eles estavam preparados
para o que desse e viesse. -
4:21 - 4:23E Rosa Parks disse: "Havia tantas armas
em cima da mesa -
4:23 - 4:27"que até me esqueci de oferecer
café ou qualquer coisa para comer." -
4:27 - 4:29Rosa Parks era assim.
-
4:30 - 4:34Com efeito, Rosa Parks, quando
ia naquele autocarro, naquele dia, -
4:34 - 4:37à espera que chegassem
os agentes da polícia, -
4:37 - 4:40sem saber o que lhe ia acontecer,
-
4:40 - 4:42não estava a pensar
em Martin Luther King, -
4:42 - 4:44que ela mal conhecia.
-
4:44 - 4:46Não estava a pensar
na não violência ou em Gandhi. -
4:46 - 4:48Estava a pensar no avô,
-
4:48 - 4:52um avô com uma arma,
não se metam comigo. -
4:52 - 4:56Era nisso que Rosa Parks estava a pensar.
-
4:56 - 4:59O meu filho ficou apaixonado
pela Rosa Parks, -
5:00 - 5:03e eu fiquei orgulhoso
por ele sentir esse entusiasmo. -
5:03 - 5:05Mas eu ainda tinha um problema,
-
5:05 - 5:08porque tinha de ir à escola dele
-
5:08 - 5:10e tratar dessa questão com a professora,
-
5:10 - 5:13porque não queria que ela continuasse
a ensinar os miúdos -
5:13 - 5:16aquela história falsa.
-
5:16 - 5:18Estava a custar-me fazer isso,
-
5:18 - 5:21porque compreendo, enquanto
africano-americano, -
5:21 - 5:23que, sempre que falamos
de racismo com os brancos, -
5:23 - 5:25ou de qualquer coisa sensível nessa área,
-
5:25 - 5:27isso acaba por ser um problema.
-
5:27 - 5:33É aquilo a que a socióloga branca
Robin DiAngelo chama "fragilidade branca." -
5:33 - 5:35Ela afirma que,
-
5:35 - 5:39como os brancos têm pouca experiência
de serem confrontados -
5:39 - 5:41com os seus privilégios de brancos,
-
5:41 - 5:44como, sempre que lhes apresentamos
o problema, por mais pequeno que seja, -
5:44 - 5:46eles normalmente gritam,
-
5:46 - 5:47ficam irritados,
-
5:47 - 5:48ou fogem.
-
5:48 - 5:49(Risos)
-
5:49 - 5:52Já enfrentei estas situações todas.
-
5:52 - 5:58Assim, quando estava a pensar
em confrontar a professora, -
5:58 - 6:00não me sentia nada feliz,
-
6:00 - 6:02mas achava que era um mal necessário
-
6:02 - 6:06para um pai negro que tenta educar
filhos negros conscientes. -
6:06 - 6:08Assim, chamei Elijah e disse:
-
6:08 - 6:13"Elijah, vou marcar uma reunião
com a tua professora -
6:13 - 6:14"e tentar corrigir isto.
-
6:14 - 6:15"E talvez com o diretor.
-
6:15 - 6:17"O que é que pensas?"
-
6:17 - 6:18Elijah disse:
-
6:18 - 6:20"Pai, tenho uma ideia melhor".
-
6:21 - 6:23E eu: "A sério? Que ideia é essa?"
-
6:23 - 6:27E ele: "Vamos fazer
uma apresentação em público. -
6:28 - 6:31"Porque é que eu não aproveito
essa ocasião de falar em público, -
6:31 - 6:34"para desmascarar os mitos
sobre Rosa Parks?" -
6:35 - 6:36E eu, claro:
-
6:37 - 6:39"Bom, é uma boa ideia".
-
6:40 - 6:43Elijah vai para a escola,
-
6:43 - 6:45faz a apresentação,
-
6:45 - 6:46volta para casa
-
6:46 - 6:49e eu percebi que a coisa
tinha corrido bem. -
6:49 - 6:51Disse: "Então, filho,
o que é que aconteceu?" -
6:51 - 6:53E ele: "No final do dia,
-
6:53 - 6:56"a professora chamou-me de parte
-
6:56 - 7:00"e pediu-me desculpa por ter dado
aquelas informações deturpadas". -
7:01 - 7:04Então, aconteceu uma coisa
milagrosa no dia seguinte. -
7:04 - 7:08Ela deu uma lição nova
sobre Rosa Parks, -
7:08 - 7:10preenchendo as lacunas que tinham ficado
-
7:10 - 7:13e corrigindo os erros que ela tinha feito.
-
7:13 - 7:17Fiquei muito orgulhoso do meu filho.
-
7:18 - 7:21Mas depois, pensando naquilo,
-
7:22 - 7:23fiquei zangado,
-
7:24 - 7:26muito zangado mesmo.
-
7:26 - 7:29Porquê? Porque é que eu fiquei zangado?
-
7:29 - 7:34Porque o meu filho de nove anos
teve de educar a professora -
7:34 - 7:35sobre a história dele.
-
7:36 - 7:39Teve de educar a professora
sobre a sua humanidade. -
7:39 - 7:41Ele só tem nove anos.
-
7:41 - 7:44Devia estar a pensar
no basquetebol ou no futebol, -
7:44 - 7:46ou no último filme.
-
7:47 - 7:51Não devia estar a pensar
em assumir a responsabilidade -
7:51 - 7:53de educar a professora,
-
7:53 - 7:55os seus colegas,
-
7:56 - 7:59a si mesmo, sobre a sua história.
-
7:59 - 8:00Era um peso que eu transportava.
-
8:00 - 8:02Era um peso que os meus pais
-
8:02 - 8:05e gerações antes deles
tinham transportado. -
8:05 - 8:09Agora eu estava a ver o meu filho
também a transportar esse peso. -
8:10 - 8:14Foi por isso que Rosa Parks
escreveu a sua autobiografia. -
8:14 - 8:16Porque, durante a vida dela
-
8:16 - 8:18como imaginam,
-
8:18 - 8:22fazemos esta coisa espantosa.
-
8:22 - 8:26Estamos vivos e falamos
do ativismo pelos direitos civis -
8:26 - 8:28e surge uma história
-
8:28 - 8:31em que alguém diz ao mundo
-
8:31 - 8:34que éramos velhos
e tínhamos os pés doridos -
8:34 - 8:36e fomos apenas ativistas por acaso
-
8:36 - 8:40e não um ativista durante 20 anos,
-
8:40 - 8:44nem que o boicote tivesse sido
planeado durante meses, -
8:44 - 8:48nem que nem sequer fomos a primeira,
a segunda ou mesmo a terceira mulher -
8:48 - 8:50a sermos presos por fazer isso.
-
8:51 - 8:56Tornamo-nos ativistas por acaso,
mesmo durante a vida dela. -
8:56 - 9:00Por isso, ela escreveu a autobiografia,
para corrigir o registo, -
9:00 - 9:02porque ela queria
que as pessoas recordassem -
9:03 - 9:06como era aquilo,
-
9:06 - 9:08como eram as coisas
-
9:08 - 9:11nos anos 50,
-
9:11 - 9:14tentando ser negros nos EUA
-
9:14 - 9:16e lutando pelos nossos direitos.
-
9:17 - 9:20Durante o ano, um pouco mais de um ano,
que o boicote durou, -
9:21 - 9:24houve mais de quatro bombas
em igrejas. -
9:24 - 9:27A casa de Martin Luther King
foi bombardeada duas vezes. -
9:27 - 9:30As casas de outros líderes
dos direitos civis -
9:30 - 9:32foram atacadas à bomba em Birmingham.
-
9:32 - 9:37O marido de Rosa Parks
dormia à noite com uma caçadeira, -
9:37 - 9:39porque estavam sempre a receber
ameaças de morte. -
9:39 - 9:42A mãe de Rosa Parks vivia com eles,
-
9:42 - 9:45e, por vezes, ficava a falar
ao telefone, durante horas, -
9:45 - 9:47para ninguém poder ligar-lhe
com ameaças de morte, -
9:47 - 9:50porque era uma coisa
constante e persistente. -
9:50 - 9:52Na verdade, havia tanta tensão,
-
9:52 - 9:55havia tanta pressão,
havia tanto terrorismo, -
9:55 - 9:57que Rosa Parks e o marido
perderam os empregos, -
9:58 - 10:00e ficaram desempregados
-
10:00 - 10:04e acabaram por ter de se mudarem
e afastarem-se do Sul. -
10:06 - 10:09Esta é uma realidade dos direitos civis
-
10:09 - 10:13que Rosa Parks quis garantir
que as pessoas compreendessem. -
10:14 - 10:20Vocês dirão: "David, mas o que é
que isso tem a ver comigo? -
10:20 - 10:22"Eu sou uma pessoa bem intencionada,
-
10:22 - 10:23"não tenho escravos,
-
10:23 - 10:25"não tento branquear a História.
-
10:25 - 10:27"Sou uma pessoa boa."
-
10:28 - 10:31Eu digo-vos o que é
que isto tem a ver convosco -
10:31 - 10:33e vou dizer-vos isso,
contando uma história -
10:33 - 10:36sobre um professor meu,
um professor branco, -
10:37 - 10:41quando eu estava na faculdade
e que era um indivíduo brilhante. -
10:41 - 10:42Vou chamar-lhe Fred.
-
10:43 - 10:47Fred estava a escrever a história
do movimento dos direitos civis, -
10:47 - 10:50estava a escrever especificamente
sobre uma situação -
10:50 - 10:52que vivera na Carolina do Norte
-
10:52 - 10:55quando um homem branco atirou
sobre um negro, -
10:55 - 10:57a sangue frio, à vista de todos
-
10:57 - 10:58e nunca foi condenado.
-
10:59 - 11:01Escreveu um livro ótimo
-
11:01 - 11:04e reuniu alguns professores amigos
-
11:04 - 11:09e pediu-me para ler um esboço dele
antes da aprovação final. -
11:09 - 11:11Eu fiquei lisonjeado
com aquele pedido, -
11:11 - 11:13eu era um mero estudante universitário.
-
11:13 - 11:16Senti-me um pouco "Ok".
-
11:16 - 11:19Estou no meio de intelectuais
-
11:19 - 11:24e leio o esboço do livro.
-
11:24 - 11:26Havia um momento no livro
-
11:26 - 11:28que me chocou
por ser profundamente problemático -
11:28 - 11:30e, por isso, disse:
-
11:30 - 11:33"Fred," quando estávamos reunidos
a falar sobre o esboço, -
11:33 - 11:37"Fred, tenho problemas com esta passagem
-
11:37 - 11:40"em que falas da tua criada, no livro".
-
11:41 - 11:48Pude ver que Fred ficou
um pouco "tenso", como dizemos. -
11:48 - 11:51Ele disse: "O que é que queres dizer?
É uma boa história. -
11:51 - 11:53"Aconteceu tal como eu digo".
-
11:54 - 11:57E eu: "Hum... posso dar-te outra visão?"
-
11:57 - 11:59Qual era essa história?
-
11:59 - 12:00Passava-se em 1968.
-
12:01 - 12:04Martin Luther King acabava
de ser assassinado. -
12:04 - 12:08A criada dele, "doméstica"
— vou chamar-lhe Mabel — -
12:09 - 12:10estava na cozinha.
-
12:11 - 12:13Fred tinha oito anos.
-
12:13 - 12:15Fred entra na cozinha.
-
12:15 - 12:21Mabel, que ele sempre tinha visto
sorridente, prestativa e feliz, -
12:21 - 12:23está debruçada sobre o lava-loiças,
-
12:23 - 12:25e está a chorar,
-
12:26 - 12:28está a soluçar,
-
12:28 - 12:30inconsolável.
-
12:31 - 12:35Fred chega-se ao pé dela e diz:
"Mabel, o que é que se passa?" -
12:36 - 12:38Mabel vira-se e diz:
-
12:38 - 12:43"Mataram-no! Mataram o nosso líder!
Mataram Martin Luther King! -
12:43 - 12:46"Está morto! São monstros!"
-
12:47 - 12:49E o pequeno Fred diz:
-
12:49 - 12:52"Vai ficar tudo bem, Mabel.
Vai ficar tudo bem". -
12:52 - 12:55Ela olha para ele e diz:
"Não, não vai ficar tudo bem. -
12:55 - 12:57"Não ouviste o que eu disse?
-
12:57 - 13:00"Mataram Martin Luther King!"
-
13:01 - 13:03E Fred,
-
13:03 - 13:05filho de um pregador,
-
13:06 - 13:08olha para Mabel e diz:
-
13:08 - 13:14"Mas, Mabel, Jesus não morreu
na cruz pelos nossos pecados? -
13:14 - 13:16"Não valeu a pena?
-
13:16 - 13:19"Talvez isto também valha a pena.
-
13:19 - 13:24"Talvez a morte de Martin Luther King
dê um bom resultado." -
13:24 - 13:26Tal como Fred conta a história,
-
13:26 - 13:30ele diz que Mabel tapou
a boca com a mão, -
13:31 - 13:34aproximou-se e abraçou Fred
-
13:35 - 13:38e depois foi ao frigorífico,
-
13:38 - 13:40tirou umas Pepsis,
-
13:40 - 13:41deu-lhe umas Pepsis
-
13:42 - 13:45e mandou-o brincar com os irmãos.
-
13:45 - 13:47E ele disse:
-
13:47 - 13:52"Isto é uma prova de que,
mesmo na época dolorosa da luta racista -
13:52 - 13:55"duas pessoas podiam ultrapassar
as linhas raciais -
13:55 - 13:58"e encontrar uma convergência humana
-
13:58 - 14:00"através do amor e do afeto."
-
14:00 - 14:04E eu disse: "Fred, isto é uma treta."
-
14:04 - 14:06(Risos)
-
14:07 - 14:08(Aplausos)
-
14:08 - 14:11Fred respondeu:
-
14:11 - 14:15"Não percebo, David. A história é essa."
-
14:15 - 14:17Eu disse: "Vou fazer-te uma pergunta.
-
14:20 - 14:24"Tu estavas na Carolina do Norte, em 1968.
-
14:24 - 14:27"Se Mabel estivesse na comunidade
dela — tu tinhas oito anos — -
14:27 - 14:30"como é que as crianças
africanas-americanas de oito anos -
14:30 - 14:31"lhe chamariam?
-
14:31 - 14:34"Achas que a tratariam
pelo primeiro nome? -
14:34 - 14:36"Não. Tratá-la-iam por Miss Mabel,
-
14:36 - 14:38"ou por Miss Johnson
ou chamar-lhe-iam Tia Johnson. -
14:39 - 14:41"Nunca ousariam tratá-la
pelo primeiro nome, -
14:41 - 14:44"porque isso teria sido
uma enorme falta de respeito. -
14:44 - 14:46"Mas tu tratava-la pelo primeiro nome
-
14:46 - 14:48"todos os dias em que ela trabalhava
-
14:48 - 14:50"e nunca pensaste nisso.
-
14:50 - 14:53"Vou fazer-te outra pergunta:
Mabel era casada? -
14:53 - 14:55"Tinha filhos?
-
14:55 - 14:57"Que igreja frequentava?
-
14:57 - 14:59"Qual era a sua sobremesa preferida?"
-
15:01 - 15:05Fred não pôde responder
a nenhuma destas perguntas. -
15:05 - 15:09Eu disse: "Fred, esta história
não é sobre Mabel. -
15:09 - 15:11"Esta história é sobre ti.
-
15:11 - 15:14"Esta história faz-te sentir bem,
-
15:14 - 15:16"mas não é uma história sobre a Mabel.
-
15:16 - 15:18"A realidade é que, provavelmente,
-
15:18 - 15:20"quando Mabel estava a chorar
-
15:20 - 15:22"o que era uma coisa
que ela não costumava fazer, -
15:23 - 15:24"baixou a guarda.
-
15:25 - 15:26"Tu entraste na cozinha
-
15:26 - 15:30"e apanhaste-a num momento de fraqueza
em que ela tinha baixado a guarda. -
15:30 - 15:34"Como pensavas que eras
como um dos filhos dela, -
15:34 - 15:38"não percebias que, de facto,
eras filho do patrão dela. -
15:39 - 15:41"Ela começou a gritar contigo.
-
15:41 - 15:44"Depois, recompôs-se e pensou:
-
15:44 - 15:47" 'Se grito com ele e ele vai
contar ao pai ou à mãe, -
15:47 - 15:50"posso ser despedida.'
-
15:51 - 15:55"Por isso, recompôs-se e acabou
— apesar de precisar de consolo — -
15:55 - 15:58"acabou por te consolar
-
15:58 - 16:00"e a mandar-te ir brincar,
-
16:00 - 16:04"para poder acabar de chorar em paz".
-
16:04 - 16:06Fred ficou estupefacto.
-
16:06 - 16:10Percebeu que tinha interpretado
mal aquele momento. -
16:10 - 16:14Foi isto que foi feito a Rosa Parks.
-
16:14 - 16:19Porque é muito mais fácil
digerir uma avozinha de pés doridos -
16:19 - 16:22que não cede o lugar, não porque
queira lutar contra a injustiça -
16:23 - 16:25mas porque tem os pés doridos
e dores nas costas -
16:25 - 16:27e esteve a trabalhar o dia inteiro.
-
16:27 - 16:30Sabem, as avós não são assustadoras.
-
16:30 - 16:32Mas as mulheres negras, radicais,
-
16:32 - 16:34que não se sujeitam a ninguém,
-
16:34 - 16:36essas sim, são muito assustadoras.
-
16:36 - 16:38As que aspiram a ter poder
-
16:38 - 16:40e estão dispostas a morrer por isso
-
16:40 - 16:42— não são o tipo de pessoas
-
16:42 - 16:46com que nos sintamos à vontade.
-
16:47 - 16:49E agora vocês perguntam:
-
16:49 - 16:51"David, o que é que queres que eu faça?
-
16:51 - 16:55"Não sei o que fazer".
-
16:55 - 16:57Vou dizer-vos uma coisa.
-
16:58 - 17:00Houve uma época
-
17:00 - 17:02em que quem era judeu não era branco,
-
17:02 - 17:04quem era italiano não era branco,
-
17:04 - 17:06quem era irlandês não era branco,
-
17:06 - 17:07neste país.
-
17:07 - 17:12Demorou bastante até os irlandeses,
os judeus e os italianos serem brancos. -
17:13 - 17:14Verdade?
-
17:14 - 17:16Houve um tempo em que eram "os outros,"
-
17:16 - 17:20quando eram as pessoas do exterior.
-
17:22 - 17:23Toni Morrison disse:
-
17:23 - 17:27"Se, para vocês serem altos,
eu tiver de me ajoelhar, -
17:27 - 17:28"vocês têm um problema grave."
-
17:28 - 17:32Ela disse: "A América branca
tem um problema muito grave". -
17:33 - 17:34Para ser sincero, não sei
-
17:34 - 17:38se as relações racistas
vão melhorar nos EUA. -
17:38 - 17:40Mas sei que, se melhorarem,
-
17:40 - 17:44temos de assumir estes problemas.
-
17:45 - 17:47O futuro dos meus filhos depende disso.
-
17:47 - 17:49O futuro dos filhos dos meus filhos
depende disso. -
17:50 - 17:52E quer vocês saibam, quer não,
-
17:52 - 17:56o futuro dos vossos filhos
e dos filhos dos vossos filhos -
17:56 - 17:57também depende disso.
-
17:58 - 17:59Obrigado.
-
17:59 - 18:01(Aplausos)
- Title:
- A verdadeira história de Rosa Parks — e porque é que temos de confrontar mitos sobre a história dos negros
- Speaker:
- David Ikard
- Description:
-
A história dos negros ensinada nas escolas dos EUA é branqueada com frequência, cheia de incorreções e despida do seu contexto e das figuras históricas ricas e completas. Armado com a verdadeira história de Rosa Parks, o professor David Ikard esclarece como tornando as realidades racistas mais benignas e digeríveis nos prejudica a todos — e sublinha o poder e a importância do rigor histórico.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:13