A verdadeira história de Rosa Parks, e por que precisamos lutar contra mitos sobre a história da raça negra
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0:02 - 0:07Sou o pai orgulhoso de dois filhos lindos,
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0:07 - 0:12Elijah, de 15, e Octavia, de 12.
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0:12 - 0:16Quando Elijah estava no quarto ano,
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0:16 - 0:20um dia chegou todo entusiasmado da escola
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0:20 - 0:25me contando o que havia aprendido
sobre história afro-americana na aula. -
0:26 - 0:30Sou professor de estudos culturais
e afro-americanos, -
0:30 - 0:34então, como podem imaginar,
isso é assunto sério lá em casa. -
0:35 - 0:38Fiquei muito orgulhoso
por meu filho estar animado -
0:38 - 0:40com o que havia aprendido
naquele dia na escola. -
0:40 - 0:42Logo perguntei: "O que você aprendeu?"
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0:42 - 0:46Ele disse: "Aprendi sobre Rosa Parks".
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0:46 - 0:49Eu disse: "Certo, mas o que
aprendeu sobre ela?" -
0:49 - 0:55Ele disse: "Aprendi que Rosa Parks
era uma senhora negra velha e frágil, -
0:55 - 0:56nos anos 1950,
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0:56 - 0:59em Montgomery, Alabama.
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0:59 - 1:01E se sentou no ônibus,
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1:01 - 1:03seus pés cansados,
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1:03 - 1:08e quando o motorista pediu
que cedesse seu lugar para um branco, -
1:08 - 1:11ela se recusou,
pois estava com pés cansados, -
1:11 - 1:12tinha sido um dia longo,
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1:12 - 1:16e estava cansada da opressão,
e ela não cedeu. -
1:16 - 1:17E marchou com Martin Luther King,
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1:17 - 1:20e acreditava na não violência".
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1:20 - 1:23Acho que ele deve ter
olhado para meu rosto -
1:23 - 1:28e percebido que eu não estava
nem um pouco impressionado -
1:28 - 1:29com sua...
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1:31 - 1:32aula de história,
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1:32 - 1:37então parou e perguntou:
"Pai, o que houve? Entendi algo errado?" -
1:37 - 1:39Eu disse: "Filho, você
não entendeu nada errado, -
1:39 - 1:42mas acho que sua professora
errou muitas coisas". -
1:42 - 1:43(Risos)
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1:43 - 1:44Ele perguntou: "Como assim?"
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1:44 - 1:49Eu disse: "Rosa Parks não estava cansada,
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1:49 - 1:51não era velha,
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1:51 - 1:54e certamente não tinha pés cansados".
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1:54 - 1:56Ele perguntou: "O quê?"
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1:56 - 1:59E eu disse: "Rosa Parks
tinha apenas 42 anos". -
2:00 - 2:02Ficaram chocados, não? Nunca ouviram isso.
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2:02 - 2:05Ela tinha apenas 42 anos,
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2:05 - 2:08havia trabalhado naquele dia
por apenas seis horas, -
2:08 - 2:12era costureira, e seus pés estavam ótimos.
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2:12 - 2:13(Risos)
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2:13 - 2:19A única coisa de que estava cansada
era a desigualdade, a opressão". -
2:20 - 2:27Meu filho disse: "Estou confuso,
por que minha professora diria isso?" -
2:27 - 2:31Ele adorava essa professora
e ela era muito boa. -
2:31 - 2:36Era uma jovem branca, de 20 e poucos anos,
muito inteligente e ainda o estimulava, -
2:36 - 2:38por isso eu também gostava dela.
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2:38 - 2:40Mas ele estava confuso
com o que havia aprendido. -
2:41 - 2:44Ele disse: "Pai, me conte mais
sobre Rosa Parks". -
2:44 - 2:46Eu disse: "Filho, vou fazer até melhor".
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2:47 - 2:48Ele disse: "O quê?"
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2:48 - 2:52Eu disse: "Vou comprar a autobiografia
dela e deixar que você a leia sozinho. -
2:52 - 2:55(Risos)
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2:56 - 2:58Então como podem imaginar,
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2:58 - 3:03Elijah não ficou muito animado
com esse novo e longo dever de casa -
3:03 - 3:07que seu pai acabara de lhe passar,
mas levou numa boa. -
3:07 - 3:14Voltou depois de ler tudo,
animado com o que havia aprendido. -
3:14 - 3:19Ele disse: "Pai, além de Rosa Parks
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3:19 - 3:22não ser inicialmente
adepta da não violência, -
3:22 - 3:27seu avô, que praticamente a havia criado,
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3:27 - 3:29e que era claro o suficiente
para se passar por branco, -
3:29 - 3:33costumava andar pela cidade
com uma arma no coldre, -
3:33 - 3:38e as pessoas sabiam que se mexessem
com os filhos ou netos dele, -
3:38 - 3:43virariam peneira".
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3:43 - 3:44(Risos)
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3:44 - 3:48Era bom ninguém arrumar confusão com ele.
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3:48 - 3:54Ele disse: "Também fiquei sabendo que ela
se casou com um homem em Raymond, -
3:54 - 3:57que era muito parecido com o avô dela.
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3:58 - 4:05Ele era um ativista dos direitos civis
e organizava eventos, -
4:07 - 4:10que muitas vezes aconteciam
na casa de Rosa Parks. -
4:10 - 4:15Ela comentou que numa dessas vezes
havia muitas armas sobre a mesa, -
4:15 - 4:18pois, caso alguém chegasse
arrombando a porta, -
4:18 - 4:20eles estariam preparados
para se defender de qualquer coisa. -
4:20 - 4:23Rosa Parks disse que havia
tantas armas na mesa, -
4:23 - 4:27que ela até se esqueceu
de servir comida e café. -
4:27 - 4:29Essa era a verdadeira Rosa Parks.
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4:29 - 4:34E na verdade, naquele dia
em que estava sentada no ônibus -
4:34 - 4:40esperando os policiais chegarem,
sem saber o que aconteceria, -
4:40 - 4:43ela não pensava em Martin Luther King,
que ela mal conhecia, -
4:43 - 4:46nem no movimento não violência ou Gandhi.
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4:46 - 4:48Ela estava pensando em seu avô:
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4:48 - 4:52um sujeito durão e armado até aos dentes.
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4:52 - 4:56Era nele que ela estava pensando.
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4:56 - 5:03Meu filho estava fascinado por Rosa Parks,
e eu, orgulhoso de ver seu entusiamo. -
5:03 - 5:05Mas ainda havia uma questão:
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5:05 - 5:10eu ainda tinha que ir à escola dele
para resolver o problema com a professora, -
5:10 - 5:15pois não queria que ela continuasse
falando bobagem para eles. -
5:16 - 5:17Fiquei angustiado com isso,
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5:17 - 5:21principalmente porque sei,
como afro-americano, -
5:21 - 5:25que quando falamos de racismo
com pessoas brancas, -
5:25 - 5:27geralmente haverá uma discussão.
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5:27 - 5:33A socióloga branca Robin DiAngelo
chama isso de "fragilidade branca". -
5:33 - 5:35Ela ainda afirma
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5:35 - 5:41que por serem tão pouco confrontados
por causa do privilégio branco, -
5:41 - 5:46a mais insignificante contestação
geralmente lhes faz chorar, -
5:46 - 5:48ficar com raiva ou correr.
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5:48 - 5:49(Risos)
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5:49 - 5:52Eu já vivenciei tudo isso.
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5:52 - 5:58Então quando estava contemplando
confrontar a professora de meu filho, -
5:58 - 6:02não estava muito animado,
mas sabia que era um mal necessário -
6:02 - 6:06de um pai negro
tentando criar filhos atualizados. -
6:06 - 6:08Chamei Elijah e disse:
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6:08 - 6:13"Vou marcar uma reunião
com sua professora e talvez com o diretor -
6:13 - 6:15para tentar corrigir isso.
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6:15 - 6:17O que acha?"
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6:17 - 6:21Ele disse: "Pai, tenho uma ideia melhor".
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6:21 - 6:23Eu perguntei: "É? Qual é sua ideia?"
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6:23 - 6:28Ele disse: "Temos um trabalho
que é uma apresentação em público. -
6:28 - 6:30Por que não o aproveito
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6:30 - 6:35para desmistificar e falar
dos mitos sobre Rosa Parks?" -
6:35 - 6:38Respondi: "É uma boa ideia mesmo".
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6:38 - 6:40(Risos)
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6:40 - 6:46Elijah então vai para a escola,
faz sua apresentação e volta para casa. -
6:46 - 6:49Eu já conseguia perceber
que algo positivo havia acontecido. -
6:49 - 6:51Perguntei: "Então filho, como foi?"
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6:51 - 6:53Ele disse: "Mais tarde naquele dia
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6:53 - 7:00a professora me pediu desculpas
por ter nos dado informação errada". -
7:01 - 7:04Outra coisa milagrosa
aconteceu no dia seguinte: -
7:04 - 7:08ela deu uma outra aula sobre Rosa Parks,
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7:08 - 7:12completando o que havia deixado de fora
e corrigindo o que estava errado. -
7:12 - 7:17E fiquei superorgulhoso do meu filho!
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7:18 - 7:21Mas depois pensei nisso
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7:22 - 7:25e fiquei com muita raiva.
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7:26 - 7:28Por quê?
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7:29 - 7:32Porque meu filho de apenas nove anos
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7:32 - 7:37teve que educar a professora
sobre a própria história -
7:37 - 7:38e sobre a humanidade dele.
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7:38 - 7:41Ele tem nove anos!
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7:41 - 7:46Deveria estar pensando em basquete,
em futebol ou no filme que acabou de sair, -
7:46 - 7:53não em ter que assumir a responsabilidade
de educar sua professora -
7:54 - 7:58e seus colegas sobre sua própria história.
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7:58 - 8:04Esse foi o fardo que eu, meus pais
e as gerações anteriores carregaram, -
8:04 - 8:09e agora estava vendo meu filho
carregando-o também. -
8:10 - 8:13Foi por isso que Rosa Parks
escreveu sua autobiografia. -
8:14 - 8:17Porque, durante a vida dela...
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8:17 - 8:22Se puderem se imaginar
fazendo algo incrível, -
8:22 - 8:26você está viva e passou a vida inteira
lutando pelos direitos civis, -
8:26 - 8:31e depois ouve alguém contando
uma história sobre você ao mundo -
8:31 - 8:36que você era uma velha, de pés cansados,
e que foi apenas uma ativista casual, -
8:36 - 8:40quando, na verdade, já era ativista
há mais de 20 anos naquela época, -
8:40 - 8:43E não conta que o boicote
havia sido planejado durante meses, -
8:43 - 8:48e que você não havia sido a primeira,
segunda ou até terceira mulher -
8:48 - 8:50a ser presa por fazer isso.
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8:52 - 8:56Você se torna uma ativista casual
enquanto ainda está viva. -
8:56 - 8:59Ela escreveu essa autobiografia
para esclarecer todas essas coisas, -
8:59 - 9:02pois ela queria lembrar as pessoas
-
9:03 - 9:07como eram as coisas
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9:08 - 9:10nos anos de 1950
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9:11 - 9:16tentando ser negra nos EUA
e lutar por seus direitos. -
9:16 - 9:21Durante pouco mais de um ano,
tempo que o boicote durou, -
9:21 - 9:24houve mais de quatro
atentados a igrejas. -
9:24 - 9:27A casa de Martin Luther King
foi bombardeada duas vezes. -
9:27 - 9:31A casa de outros líderes de direitos civis
foram bombardeadas em Birmingham. -
9:32 - 9:37O marido de Rosa Parks dormia
com uma espingarda ao lado da cama, -
9:37 - 9:39pois recebiam constantes ameaças de morte.
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9:39 - 9:44Até a mãe dela, que morava com eles,
às vezes ficava horas ao telefone -
9:44 - 9:49só para que ninguém conseguisse ligar
com novas ameaças. -
9:50 - 9:55Havia tanta tensão, pressão e terrorismo,
-
9:55 - 9:57que Rosa Parks e seu marido
perderam o emprego -
9:57 - 10:04não conseguiam mais trabalho,
por fim, tiveram que se mudar do sul. -
10:06 - 10:09Esta é a realidade dos direitos civis
-
10:09 - 10:13que Rosa Parks queria ter certeza
que as pessoas entendessem. -
10:14 - 10:20Aí vocês perguntam: "David,
e o que isso tem a ver comigo? -
10:20 - 10:23Sou uma pessoa do bem,
nunca possui escravos -
10:23 - 10:27e não estou tentando calar a história".
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10:28 - 10:30Vou dizer o que tem a ver,
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10:30 - 10:36contando-lhes a história
de um professor branco -
10:36 - 10:41que tive na pós-graduação,
e ele era simplesmente genial. -
10:41 - 10:43Vou chamá-lo de Fred.
-
10:43 - 10:46Ele estava escrevendo uma história
-
10:46 - 10:52sobre algo ocorrido na Carolina do Norte
durante o movimento dos direitos civis: -
10:52 - 10:57um branco atirou em um negro,
a sangue frio e em espaço aberto, -
10:57 - 10:59e nunca foi condenado.
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10:59 - 11:04O livro era muito bom,
então ele reuniu alguns amigos professores -
11:04 - 11:09e me pediu para ler um rascunho
antes da enviar a versão final. -
11:09 - 11:11Fiquei lisonjeado por ele ter me chamado
-
11:11 - 11:16pois na época era apenas um estudante,
mas aceitei mesmo assim. -
11:16 - 11:19Me sentei com os intelectuais,
-
11:19 - 11:24e ali estava eu, lendo o rascunho do livro
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11:24 - 11:29e vi uma parte problemática, e eu disse,
-
11:29 - 11:34enquanto estávamos sentados
falando sobre esse rascunho: -
11:34 - 11:40"Fred, tenho um problema sério
com a parte em que fala de sua empregada". -
11:41 - 11:47Reparei que ele ficou
um pouco surpreso e disse: -
11:48 - 11:53"Como assim? É uma ótima história,
aconteceu exatamente assim". -
11:54 - 11:57Eu disse: "Posso lhe mostrar
outro ponto de vista?" -
11:57 - 11:58A história era assim:
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11:58 - 12:03era 1968 e Martin Luther King
acabara de ser assassinado. -
12:04 - 12:08A empregada dele, vou chamá-la de Mabel,
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12:09 - 12:11estava na cozinha.
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12:11 - 12:14O pequeno Fred, de 8 anos,
entra na cozinha -
12:15 - 12:21e vê sua empregada, que era
sempre sorridente e prestativa, -
12:21 - 12:25chorando sobre na pia,
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12:26 - 12:27aos prantos.
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12:28 - 12:30Ela estava inconsolável.
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12:31 - 12:36Ele vai até ela e pergunta:
"Mabel, o que houve?" -
12:36 - 12:42Ela se vira e responde: "Eles o mataram!
Mataram nosso líder, Martin Luther King. -
12:42 - 12:44Ele está morto!
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12:45 - 12:47São uns monstros!"
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12:47 - 12:51Fred diz: "Ficará tudo bem, Mabel".
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12:52 - 12:57Ela olha para ele e responde:
"Não ficará não. Não ouviu o que disse? -
12:57 - 13:00Mataram Martin Luther King!"
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13:01 - 13:03E Fred,
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13:03 - 13:05filho de um pastor,
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13:06 - 13:08olha para Mabel e diz:
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13:08 - 13:15"Jesus morreu na cruz por nossos pecados
e não foi aquilo uma causa justa? -
13:15 - 13:21Talvez a morte de Martin Luther King
-
13:21 - 13:24terá sido por uma causa justa também".
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13:24 - 13:30E conforme Fred conta na história,
ele disse que Mabel cobriu a boca, -
13:31 - 13:34se abaixou e deu um abraço no Fred,
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13:35 - 13:39abriu a geladeira pegou
duas garrafas de Pepsi, -
13:40 - 13:41entregou as garrafas para ele,
-
13:41 - 13:44e em seguida o despachou
para ir brincar com seus irmãos. -
13:45 - 13:46E ele disse:
-
13:47 - 13:52"Isso prova que até na época
mais dura da luta racial, -
13:52 - 13:56duas pessoas de raças diferentes
-
13:56 - 14:00conseguem conviver com amor e carinho".
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14:00 - 14:04Eu disse: "Fred, isso é
uma grande asneira". -
14:04 - 14:06(Risos)
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14:07 - 14:08(Aplausos)
-
14:09 - 14:15Ele disse: "Não entendi, David.
Essa é a história". -
14:15 - 14:17Eu disse: "Fred, me responda uma coisa.
-
14:20 - 14:24Você acha que nessa época,
na Carolina do Norte em 1968, -
14:24 - 14:27se Mabel tivesse ido à comunidade dela,
você tinha oito anos de idade, -
14:27 - 14:30como acha que as crianças afro-americanas
de oito anos a chamariam? -
14:30 - 14:33Pelo primeiro nome dela?"
-
14:33 - 14:38Não, eles a chamariam de "Srta. Mabel",
"Srta. Johnson" ou "tia Johnson. -
14:38 - 14:41Jamais teriam ousado
chamá-la pelo primeiro nome, -
14:41 - 14:44pois isso seria um desrespeito total.
-
14:44 - 14:47Mas ainda assim, todos os dias
você a chamava pelo seu primeiro nome -
14:47 - 14:49e nunca pensou nisso".
-
14:50 - 14:53Eu disse: "Mais uma pergunta:
Mabel era casada? -
14:53 - 14:56Tinha filhos? Que igreja frequentava?
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14:56 - 15:00Qual era a sobremesa preferida dela?"
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15:01 - 15:05Fred não conseguiu responder
nenhuma dessas perguntas. -
15:05 - 15:10Eu disse: "Fred, essa história
não é sobre Mabel, mas sim sobre você. -
15:11 - 15:16Ela te fez sentir bem,
mas não tem nada a ver com Mabel. -
15:16 - 15:19O que deve ter mesmo acontecido foi isso:
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15:19 - 15:22Mabel estava chorando,
coisa que não costumava fazer, -
15:22 - 15:24então já estava baixando a guarda.
-
15:24 - 15:30Logo em seguida você entrou na cozinha
e a pegou num momento de fraqueza. -
15:30 - 15:34E por se considerar um dos filhos dela,
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15:34 - 15:38você não lembrou que na verdade
era filho do patrão dela. -
15:39 - 15:41E ela se viu gritando com você,
-
15:41 - 15:43percebeu o que estava fazendo e pensou:
-
15:43 - 15:47"Se eu gritar com ele
e ele contar para os pais dele, -
15:47 - 15:50posso perder meu emprego".
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15:51 - 15:53Ela então se acalmou, te consolou,
-
15:53 - 15:57enquanto era ela mesma
que deveria ser consolada, -
15:58 - 15:59e te mandou ir brincar,
-
15:59 - 16:03para que pudesse terminar
as tarefas da manhã em paz. -
16:04 - 16:06Fred ficou surpreso.
-
16:06 - 16:10E percebeu que na verdade
tinha interpretado mal aquele momento. -
16:10 - 16:14E foi exatamente isso
que fizeram com Rosa Parks. -
16:14 - 16:19Pois é muito mais fácil digerir
uma vovó com os pés cansados, -
16:19 - 16:22que deixa de se levantar,
não porque quer lutar pela desigualdade, -
16:22 - 16:25e sim porque está
com os pés e as costas cansadas -
16:25 - 16:27porque trabalhou o dia inteiro.
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16:27 - 16:30Vovozinhas não colocam medo em ninguém.
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16:30 - 16:32Mas negras jovens e radicais
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16:32 - 16:34que não levam desaforo para casa
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16:34 - 16:36são assustadores pra caramba,
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16:36 - 16:40pois enfrentam o poder
e estão dispostas a morrer por isso; -
16:40 - 16:42esse não é o tipo de gente
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16:42 - 16:46que nos faz sentir confortáveis.
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16:47 - 16:48Aí você diz:
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16:49 - 16:51"O que você quer que eu faça, David?
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16:51 - 16:54Não sei o que fazer".
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16:55 - 16:58O que diria para você é:
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16:58 - 17:00"Houve um tempo em que,
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17:00 - 17:02se você fosse judeu,
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17:02 - 17:04italiano,
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17:04 - 17:05ou irlandês,
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17:05 - 17:07você não era considerado branco,
aqui neste país. -
17:07 - 17:12Levou um tempo para que irlandeses, judeus
e italianos fossem considerados brancos. -
17:14 - 17:16Houve um tempo em que você era "diferente"
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17:16 - 17:19quando era a pessoa de fora.
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17:22 - 17:23Toni Morrison disse:
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17:23 - 17:27"Se tenho que me ajoelhar
para que você se pareça mais alto, -
17:27 - 17:28você tem um sério problema".
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17:28 - 17:32Ela disse: "Os Estados Unidos da América
branco têm um problema muito sério". -
17:33 - 17:38Honestamente, não sei se os laços raciais
melhorarão nos Estados Unidos, -
17:38 - 17:40mas sei que se eles melhorarem,
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17:40 - 17:44temos que enfrentar esses desafios.
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17:45 - 17:47O futuro dos meus filhos depende disso.
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17:47 - 17:49O futuro dos meus netos depende disso.
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17:50 - 17:52E, se você sabe disso ou não,
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17:52 - 17:56o futuro dos seus filhos e dos seus netos
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17:56 - 17:58também depende disso.
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17:58 - 17:59Obrigado.
-
17:59 - 18:01(Aplausos)
- Title:
- A verdadeira história de Rosa Parks, e por que precisamos lutar contra mitos sobre a história da raça negra
- Speaker:
- David Ikard
- Description:
-
A história dos negros ensinada nas escolas norte-americanas costuma ser diluída, repleta de imprecisões e destacada de seu contexto original e de suas figuras históricas ricas e importantes. Com o conhecimento real sobre a história de Rosa Parks, o professor David Ikard mostra como tornar as realidades da raça mais aceitáveis e digeríveis prejudica a todos nós, e enfatiza o poder e a importância da precisão histórica.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
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