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Porque é que a ciência realmente inovadora exige um salto em direção ao desconhecido

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    Durante o meu doutoramento
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    fiquei desesperadamente bloqueado.
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    Cada direcção de investigação que experimentava
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    levava-me a um beco sem saída.
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    Parecia que os meus pressupostos básicos
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    tinham deixado de funcionar.
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    Sentia-me como um piloto
    no meio do nevoeiro
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    e perdi todo o meu sentido de orientação.
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    Dexei de me barbear,
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    não conseguia levantar-me
    da cama de manhã.
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    Sentia-me indigno
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    de atravessar os portões da universidade,
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    porque não era como Einstein ou Newton
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    ou qualquer outro cientista
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    que eu tivesse estudado,
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    porque, na ciência, aprendemos apenas sobre os resultados
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    mas não sobre o processo.
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    E por isso, obviamente,eu não podia ser um cientista.
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    Mas tive bastante apoio
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    e consegui seguir em frente.
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    Descobri uma coisa nova sobre a Natureza.
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    Há um maravilhoso sentimento de calma,
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    quando se é a única pessoa no mundo
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    que conhece uma nova lei da Natureza.
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    Comecei o meu segundo projeto
    de doutoramento,
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    e voltou a acontecer o mesmo.
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    Senti-me bloqueado
    mas consegui seguir em frente.
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    E comecei a pensar:
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    "Talvez haja aqui um padrão".
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    Perguntei a outros estudantes
    e eles disseram:
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    "Sim, isso também acontece connosco,
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    "mas nunca ninguém nos falou sobre isso."
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    Todos nós estudamos ciência
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    como uma série de passos lógicos
    entre perguntas e respostas,
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    mas fazer investigação não é nada disso.
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    Ao mesmo tempo,
    eu também andava a estudar
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    a arte da improvisação.
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    Assim, era físico durante o dia,
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    e à noite ria, pulava, cantava
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    e tocava viola.
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    O teatro de improvisação,
    tal como a ciência,
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    caminha para o desconhecido,
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    porque é preciso fazer uma cena no palco
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    sem diretor, sem guião,
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    sem ter uma ideia do que se vai representar
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    ou do que é que os outros vão fazer.
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    Mas, ao contrário da ciência,
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    no teatro de improvisação,
    dizem-nos logo no primeiro dia
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    o que vai acontecer connosco
    quando estivermos no palco.
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    Vamos falhar miseravelmente.
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    Vamos ficar bloqueados.
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    Temos que praticar mantendo-nos criativos
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    no sítio onde estamos bloqueados.
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    Por exemplo, tínhamos um exercício
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    em que formávamos um círculo.
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    Cada pessoa tinha que fazer
    a pior dança de sapateado do mundo
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    e todos os outros aplaudiam
    e felicitavam-nos,
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    apoiando-nos em cena.
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    Quando me tornei professor
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    e tive que guiar os meus alunos
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    nos seus projetos de investigação,
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    dei-me conta novamente:
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    "Não sei o que fazer".
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    Estudei física, biologia, química
    durante milhares de horas
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    mas nem uma hora, nem um conceito
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    sobre como ser mentor, como guiar alguém
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    para avançar em conjunto
    para o desconhecido ,
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    sobre motivação.
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    Virei-me para
    o teatro de improvisação
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    e disse aos meus alunos,
    logo no primeiro dia,
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    o que acontece
    quando iniciamos a investigação
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    e o que isso tem a ver
    com o nosso esquema mental
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    sobre como deve ser uma investigação.
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    Porque, sempre que as pessoas
    fazem qualquer coisa,
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    — por exemplo, se eu quiser tocar
    neste quadro negro —
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    primeiro, o cérebro constrói um esquema,
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    uma previsão do que os músculos vão fazer
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    antes de eu começar a mexer a minha mão.
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    Se eu ficar bloqueado,
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    se o meu esquema
    não corresponder à realidade,
  • 2:51 - 2:53
    isso provoca uma tensão extra
    e uma dissonância cognitiva.
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    Por isso é melhor que os esquemas
    correspondam à realidade.
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    Mas se acreditarmos na forma
    como a ciência é ensinada
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    e se acreditarmos nos manuais,
  • 3:01 - 3:05
    teremos possibilidade de seguir
    este esquema de investigação:
  • 3:07 - 3:10
    "A" é a pergunta,
  • 3:11 - 3:13
    "B" é a resposta.
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    A investigação é um caminho direto.
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    O problema é que,
    se uma experiência não resulta,
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    ou se um estudante fica deprimido,
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    isso é encarado como um erro crasso
  • 3:28 - 3:30
    o que provoca uma tensão tremenda.
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    É por isso que eu ensino aos meus alunos
  • 3:32 - 3:35
    um esquema mais realista
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    — isto é um exemplo de quando as coisas
  • 3:41 - 3:44
    não correspondem ao nosso esquema —
  • 3:46 - 3:48
    (Risos)
  • 3:50 - 3:53
    (Aplausos)
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    Ensino aos meus alunos
    um esquema diferente.
  • 4:05 - 4:08
    Se "A" é a pergunta,
  • 4:08 - 4:10
    "B" é a resposta.
  • 4:11 - 4:13
    (Risos)
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    — mantenhamo-nos criativos na nuvem
    e continuemos —
  • 4:17 - 4:20
    As experiências não resultam,
    não resultam,
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    as experiências não resultam,
    não resultam,
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    até que chegamos a um lugar
    ligado a emoções negativas
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    em que parece que
    os nossos pressupostos básicos
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    deixaram de fazer sentido,
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    como se alguém puxasse
    o tapete debaixo dos nossos pés.
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    Chamo a esse lugar a "nuvem".
  • 4:42 - 4:43
    [Nuvem]
  • 4:48 - 4:51
    Podemos perder-nos na nuvem
    durante um dia,
  • 4:51 - 4:54
    uma semana, um mês,
    um ano, uma carreira inteira.
  • 4:55 - 4:57
    Mas, às vezes, se tivermos sorte
  • 4:57 - 4:59
    e tivermos apoio suficiente,
  • 4:59 - 5:01
    ao observar os materiais que temos à mão
  • 5:01 - 5:04
    ou a meditar talvez sobre a forma da nuvem,
  • 5:04 - 5:07
    conseguimos ver uma nova resposta:
  • 5:08 - 5:10
    "C", e decidimos ir atrás dela.
  • 5:11 - 5:14
    As experiências não resultam,
    não resultam,
  • 5:14 - 5:15
    mas chegamos lá.
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    Aí, contamos tudo isso a toda a gente
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    publicando um artigo em que se lê:
    "A" --> "C",
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    o que é uma ótima forma de comunicar,
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    desde que não esqueçamos o caminho
  • 5:24 - 5:26
    que nos levou até lá.
  • 5:26 - 5:29
    Ora bem, esta nuvem
    é uma parte inerente da investigação,
  • 5:29 - 5:30
    uma parte inerente do nosso ofício,
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    porque a nuvem fica de guarda na fronteira.
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    Fica de guarda na fronteira
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    entre o conhecido
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    e o desconhecido.
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    Porque, para descobrir algo
    realmente novo,
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    pelo menos um dos nossos pressupostos
    básicos tem que mudar.
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    Isto significa que, na ciência,
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    fazemos uma coisa muito heróica.
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    Todos os dias, tentamos chegar à fronteira
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    entre o conhecido e o desconhecido
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    e encarar a nuvem.
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    Agora, notem que eu pus "B"
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    do lado do conhecido,
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    porque já o conhecíamos desde o início,
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    mas "C" é sempre mais interessante
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    e mais importante do que "B".
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    Então, "B" é essencial para progredirmos
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    mas "C" é muito mais profundo.
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    É essa a maravilha da investigação.
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    Só por aprender esta palavra, "a nuvem",
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    o meu grupo de investigação
    sofreu uma grande transformação.
  • 6:32 - 6:34
    Os estudantes vêm ter comigo e dizem:
  • 6:34 - 6:35
    "Uri, estou na nuvem"
  • 6:35 - 6:38
    e eu respondo:
    "Ótimo! devem estar a sentir-se péssimos!"
  • 6:39 - 6:41
    (Risos)
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    Mas eu sinto-me, digamos, feliz,
  • 6:43 - 6:45
    porque podemos estar
    mais perto da fronteira
  • 6:45 - 6:46
    entre o conhecido e o desconhecido.
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    Temos a possibilidade de descobrir
    algo verdadeiramente novo,
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    pois a forma como a nossa mente funciona,
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    é saber que a nuvem é normal, é essencial,
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    e, na verdade, maravilhoso.
  • 7:00 - 7:03
    Podemos aderir
    à Sociedade de Apreço da Nuvem.
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    Isso desentoxica o sentimento de que
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    algo está muito errado comigo.
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    E como mentor, eu sei o que fazer,
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    é intensificar o meu apoio aos estudantes,
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    porque a investigação em psicologia
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    mostra que, se sentirmos medo e desespero,
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    o nosso espírito fecha-se
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    em formas de pensar
    muito seguras e conservadoras.
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    Se desejamos explorar
    os caminhos arriscados
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    necessários para sair da nuvem,
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    precisamos de outras emoções
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    — solidariedade, apoio, esperança —
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    que vêm da nossa ligação a outra pessoa.
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    Tal como no teatro de improvisação,
  • 7:32 - 7:35
    na ciência, é melhor andarmos juntos
    na direção do desconhecido.
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    Portanto, ao ter conhecimento da nuvem,
  • 7:39 - 7:42
    também aprendemos
    com o teatro de improvisação
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    um modo muito eficaz de ter conversas
  • 7:44 - 7:46
    dentro da nuvem.
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    Baseia-se no princípio central
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    do teatro de improvisação.
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    Aqui o teatro de improvisação
  • 7:51 - 7:53
    veio novamente em minha ajuda.
  • 7:53 - 7:54
    Chama-se dizer: "Sim, e..."
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    às deixas feitas por outros atores.
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    Ou seja, aceitar as deixas
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    e construir a partir delas,
    dizendo: "Sim, e...".
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    Por exemplo, se um ator diz:
  • 8:11 - 8:13
    "Isto é uma piscina",
  • 8:13 - 8:13
    e outro ator diz:
  • 8:13 - 8:15
    "Não, é apenas um palco",
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    a improvisação acaba, morre
  • 8:18 - 8:20
    e todos se sentem frustados.
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    Chama-se a isso "bloqueio".
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    Se não nos preocuparmos com a comunicação,
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    as conversas científicas
    podem ter muitos bloqueios.
  • 8:27 - 8:29
    Dizer "Sim, e..." é assim:
  • 8:29 - 8:32
    "Isto é uma piscina ."
    "Sim, vamos saltar lá para dentro".
  • 8:32 - 8:34
    "Olhem, uma baleia!
    Vamos agarrar-nos à cauda dela.
  • 8:34 - 8:36
    "Está a levar-nos até à lua!"
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    Então, ao dizer "Sim, e...",
    ultrapassamos o nosso crítico interior.
  • 8:40 - 8:41
    Todos temos um crítico interior,
  • 8:41 - 8:43
    um guardião do que dizemos,
  • 8:43 - 8:45
    para os outros não pensarem
    que somos obtusos
  • 8:45 - 8:47
    loucos ou pouco originais.
  • 8:47 - 8:49
    A ciência tem muito medo
    de parecer pouco original.
  • 8:49 - 8:51
    Ao dizermos "Sim, e...",
    ao ultrapassarmos o critico
  • 8:51 - 8:53
    e ao libertar as vozes
    ocultas da criatividade,
  • 8:53 - 8:55
    que nem sabíamos que tínhamos,
  • 8:55 - 8:57
    elas geralmente trazem a resposta
  • 8:57 - 8:59
    sobre a nuvem.
  • 9:00 - 9:02
    Saber que a nuvem existe
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    e que existe dizer "Sim, e..."
  • 9:03 - 9:06
    tornou o meu laboratório muito criativo.
  • 9:06 - 9:09
    Os estudantes começaram a brincar
    com as ideias uns dos outros.
  • 9:09 - 9:11
    Fizemos descobertas surpreendentes
  • 9:11 - 9:13
    no "interface" entre a física e a biologia.
  • 9:13 - 9:16
    Por exemplo, há um ano
    que estávamos bloqueados
  • 9:16 - 9:19
    tentando entender
    a intrincada rede bioquímica
  • 9:19 - 9:21
    dentro das nossas células, e dissemos:
  • 9:21 - 9:23
    "Estamos mergulhados na nuvem".
  • 9:23 - 9:25
    Tivemos uma conversa divertida.
  • 9:25 - 9:27
    O meu aluno Shai Shen Orr disse:
  • 9:27 - 9:29
    "Vamos desenhar esta rede num papel".
  • 9:29 - 9:31
    Eu, em vez de dizer:
  • 9:31 - 9:34
    "Já fizemos isso imensas vezes
  • 9:34 - 9:34
    e não resulta,"
  • 9:34 - 9:39
    disse: "Sim, e...vamos usar
    um papel bem grande".
  • 9:39 - 9:40
    Aí Ron Milo disse:
  • 9:40 - 9:43
    "Vamos usar o papel gigante de arquiteto
  • 9:43 - 9:44
    e eu sei onde imprimi-lo".
  • 9:44 - 9:47
    Imprimimos a rede e olhámos para ela.
  • 9:47 - 9:49
    Foi então que fizemos
    a nossa descoberta mais importante.
  • 9:50 - 9:52
    Aquela rede complicada é feita
  • 9:52 - 9:55
    por meia-dúzia de padrões simples,
    de interação repetitiva
  • 9:55 - 9:58
    como motivos num vitral.
  • 9:58 - 10:00
    Chamámos-lhes "motivos de rede".
  • 10:00 - 10:02
    São circuitos elementares
  • 10:02 - 10:03
    que nos ajudam a entender
  • 10:03 - 10:06
    a lógica da forma como
    as células tomam decisões
  • 10:06 - 10:09
    em todos os organismos,
    incluindo o nosso corpo.
  • 10:09 - 10:11
    Logo depois disso,
  • 10:11 - 10:13
    comecei a ser convidado
    para fazer palestras
  • 10:13 - 10:16
    para milhares de cientistas
    em todo o mundo.
  • 10:16 - 10:18
    Mas o conhecimento sobre a nuvem
  • 10:18 - 10:19
    e sobre dizer "Sim, e..."
  • 10:19 - 10:20
    continuou apenas dentro do meu laboratório
  • 10:20 - 10:22
    porque, em ciência,
    não se fala sobre o processo,
  • 10:22 - 10:25
    nada de subjetivo ou emocional.
  • 10:25 - 10:27
    Falamos apenas dos resultados.
  • 10:27 - 10:29
    Portanto não ia falar nisso
    nas conferências,
  • 10:29 - 10:31
    era impensável.
  • 10:31 - 10:33
    Vi cientistas noutros grupos, bloqueados,
  • 10:33 - 10:35
    sem terem sequer uma palavra
  • 10:35 - 10:36
    para descrever o que estavam a ver.
  • 10:36 - 10:38
    Como estavam a pensar
  • 10:38 - 10:39
    encerrados em caminhos muito seguros,
  • 10:39 - 10:41
    não atingiam todo o seu potencial
  • 10:41 - 10:43
    e sentiam-se péssimos.
  • 10:43 - 10:45
    Eu pensei, é isso mesmo.
  • 10:45 - 10:46
    Tentei tornar o meu laboratório
    o mais criativo possível.
  • 10:46 - 10:48
    Se todos fizerem a mesma coisa,
  • 10:48 - 10:50
    a ciência acabará por tornar-se
  • 10:50 - 10:52
    cada vez melhor.
  • 10:53 - 10:55
    Esse ponto de vista acabou por consolidar-se
  • 10:55 - 10:58
    quando, por acaso, assisti
    à palestra de Evelyn Fox Keller,
  • 10:58 - 11:00
    sobre as suas experiências
    como mulher cientista.
  • 11:01 - 11:02
    Ela perguntou:
  • 11:02 - 11:05
    "Porque é que não falamos sobre os aspectos
  • 11:05 - 11:07
    "subjetivos e emocionais de fazer ciência?
  • 11:07 - 11:10
    "Não acontece por acaso.
    É uma questão de valores.
  • 11:11 - 11:13
    "Sabem, a ciência procura um conhecimento
  • 11:13 - 11:15
    "que é objetivo e racional.
  • 11:15 - 11:17
    "Essa é a beleza da ciência.
  • 11:17 - 11:19
    "Mas também temos um mito cultural
  • 11:19 - 11:20
    "de que o processo científico,
  • 11:20 - 11:23
    "o que fazemos diariamente
    para obter esse conhecimento,
  • 11:23 - 11:25
    "também é apenas objetivo e racional,
  • 11:25 - 11:27
    "como Mr. Spock.
  • 11:27 - 11:30
    "Quando rotulamos qualquer coisa
    de objetivo e racional,
  • 11:30 - 11:32
    "automaticamente, o outro lado,
  • 11:32 - 11:34
    "o subjetivo e o emocional
  • 11:34 - 11:36
    "são rotulados de não-ciência
  • 11:36 - 11:38
    "ou de anti-ciência
    ou de ameaças à ciência.
  • 11:38 - 11:40
    "Não falamos sobre isso".
  • 11:40 - 11:42
    Quando eu ouvi isto,
  • 11:42 - 11:43
    que a ciência tem uma cultura,
  • 11:43 - 11:46
    tudo se encaixou no lugar certo.
  • 11:46 - 11:47
    Porque, se a ciência tem uma cultura,
  • 11:47 - 11:48
    a cultura pode ser mudada
  • 11:48 - 11:50
    e eu posso ser um agente da mudança
  • 11:50 - 11:52
    trabalhando para mudar
    a cultura da ciência onde puder.
  • 11:52 - 11:55
    Na palestra seguinte que fiz
    numa conferência,
  • 11:55 - 11:57
    falei sobre a minha ciência
  • 11:57 - 11:58
    e falei sobre a importância
  • 11:58 - 12:01
    dos aspectos subjetivos
    e emocionais de fazer ciência
  • 12:01 - 12:02
    e de como devemos falar deles.
  • 12:02 - 12:03
    Olhei para a audiência.
  • 12:03 - 12:05
    Estavam frios.
  • 12:05 - 12:07
    (Risos)
  • 12:07 - 12:09
    Não podiam perceber o que eu dizia
  • 12:09 - 12:10
    no contexto de uma apresentação
  • 12:10 - 12:12
    de 10 diapositivos em PowerPoint.
  • 12:12 - 12:14
    Tentei várias vezes,
    conferência após conferência,
  • 12:14 - 12:17
    mas não consegui fazer-me entender.
  • 12:17 - 12:19
    Eu estava dentro da nuvem.
  • 12:20 - 12:23
    Acabei por conseguir sair da nuvem
  • 12:23 - 12:26
    usando a improvisação e a música.
  • 12:26 - 12:28
    A partir daí, a cada conferência que vou,
  • 12:28 - 12:30
    faço uma palestra sobre a ciência
  • 12:30 - 12:32
    e faço uma segunda palestra, especial,
  • 12:32 - 12:34
    chamada "Amor e medo no laboratório".
  • 12:34 - 12:36
    Começo cantando uma canção
  • 12:36 - 12:39
    sobre o maior medo dos cientistas,
  • 12:39 - 12:41
    que é trabalharmos arduamente,
  • 12:41 - 12:43
    descobrirmos uma coisa nova,
  • 12:43 - 12:46
    e alguém publicar isso antes de nós.
  • 12:47 - 12:49
    Chamamos-lhe ser "scooped"
    [ultrapassado].
  • 12:49 - 12:53
    Sentir-se "scooped" é terrível.
  • 12:53 - 12:55
    Deixa-nos com medo de conversar
    uns com os outros,
  • 12:55 - 12:56
    o que não é nada divertido,
  • 12:56 - 12:59
    porque viemos para a ciência
    para partilhar ideias,
  • 12:59 - 13:00
    para aprender uns com os outros.
  • 13:00 - 13:03
    Então eu canto uma canção de "blues"...
  • 13:06 - 13:10
    (Aplausos)
  • 13:11 - 13:13
    que se chama "Novamente scooped".
  • 13:13 - 13:14
    (Risos)
  • 13:14 - 13:18
    Peço para a audiência cantar comigo e digo:
  • 13:18 - 13:21
    "A vossa parte é "Scoop, Scoop".
  • 13:21 - 13:23
    Soa assim: "Scoop, Scoop!"
  • 13:23 - 13:24
    Soa assim.
  • 13:24 - 13:26
    ♪ Fui "scooped" novamente. ♪
  • 13:26 - 13:28
    ♪ "Scoop! Scoop!" ♪
  • 13:28 - 13:29
    E cantamos:
  • 13:29 - 13:32
    ♪ Fui "scooped" novamente. ♪
  • 13:32 - 13:33
    ♪ "Scoop! Scoop! "♪
  • 13:33 - 13:35
    ♪ Fui "scooped" novamente. ♪
  • 13:35 - 13:36
    ♪ "Scoop! Scoop!" ♪
  • 13:36 - 13:38
    ♪ Fui "scooped" novamente ♪
  • 13:38 - 13:39
    ♪ "Scoop! Scoop!" ♪
  • 13:39 - 13:41
    ♪ Fui "scooped" novamente ♪
  • 13:41 - 13:43
    ♪ "Scoop! Scoop!" ♪
  • 13:43 - 13:46
    ♪ Oh mamã, não sentes a minha dor? ♪
  • 13:46 - 13:50
    ♪ Que o Céu me ajude,
    fui "scooped" novamente ♪
  • 13:51 - 13:54
    (Aplausos)
  • 13:58 - 13:59
    Obrigado.
  • 13:59 - 14:01
    Obrigado por fazerem o coro.
  • 14:01 - 14:03
    Toda a gente começa a rir,
    começa a respirar,
  • 14:03 - 14:05
    percebe que tem outros cientistas à volta
  • 14:05 - 14:06
    que têm os mesmo problemas.
  • 14:06 - 14:09
    Começamos a falar sobre
    os aspectos emotivos e subjetivos
  • 14:09 - 14:10
    do processo de investigação.
  • 14:10 - 14:12
    Sente-se que foi afastado um grande tabu.
  • 14:12 - 14:15
    Finalmente, podemos falar disso
    numa conferência científica.
  • 14:15 - 14:17
    Os cientistas começaram
    a formar grupos de iguais
  • 14:17 - 14:19
    que se encontram com frequência
  • 14:19 - 14:21
    criando um espaço para falar
    das coisas emocionais e subjetivas
  • 14:21 - 14:23
    que acontecem quando são mentores,
  • 14:23 - 14:25
    quando caminham rumo ao desconhecido.
  • 14:25 - 14:27
    Até iniciaram cursos
    sobre o processo de fazer ciência,
  • 14:27 - 14:30
    sobre caminhar juntos
    rumo ao desconhecido, e outras coisas.
  • 14:30 - 14:33
    Então, a minha visão é que,
  • 14:33 - 14:35
    tal como todos os cientistas
    conhecem a palavra "átomo"
  • 14:35 - 14:37
    e que a matéria é feita de átomos,
  • 14:37 - 14:39
    todos os cientistas deviam
    conhecer as palavras
  • 14:39 - 14:41
    como "a nuvem" e dizer "Sim, e...",
  • 14:41 - 14:44
    A ciência tornar-se-ia muito mais criativa,
  • 14:44 - 14:48
    faríamos muito mais descobertas inesperadas
  • 14:48 - 14:49
    para benefício de todos nós.
  • 14:49 - 14:52
    Conseguiríamos divertir-nos muito mais.
  • 14:52 - 14:54
    O que eu peço que recordem desta palestra
  • 14:54 - 14:58
    é que, da próxima vez
    que enfrentarem um problema
  • 14:58 - 14:59
    que não conseguem resolver,
  • 14:59 - 15:01
    no trabalho ou na vossa vida,
  • 15:01 - 15:04
    existe uma palavra para isso:
  • 15:04 - 15:05
    a "nuvem".
  • 15:05 - 15:06
    E podem atravessar a nuvem
  • 15:06 - 15:08
    não sozinhos, mas juntamente com alguém
  • 15:08 - 15:10
    que seja a vossa fonte de apoio
  • 15:10 - 15:12
    que diga "Sim, e..." às vossas ideias,
  • 15:12 - 15:14
    que vos ajude a dizer
    "Sim, e..." às vossas ideias,
  • 15:14 - 15:16
    para aumentar a possibilidade de,
  • 15:16 - 15:17
    através dos farrapos da nuvem,
  • 15:17 - 15:19
    encontrarem momentos de calma
  • 15:19 - 15:21
    em que vislumbrarão pela primeira vez
  • 15:21 - 15:24
    a vossa descoberta inesperada,
  • 15:24 - 15:26
    o vosso "C".
  • 15:27 - 15:28
    Obrigado.
  • 15:28 - 15:33
    (Aplausos)
Title:
Porque é que a ciência realmente inovadora exige um salto em direção ao desconhecido
Speaker:
Uri Alon
Description:

Enquanto estudava para o seu doutoramento em Física, Uri Alon sentiu-se um falhado porque todos os caminhos da sua investigação o levavam a becos sem saída. Mas, com a ajuda do teatro de improvisação, acabou por perceber que podia haver alegria em se sentir perdido. Uma chamada de atenção para que os cientistas deixem de pensar nas suas investigações como uma linha direta entre pergunta e resposta, mas como uma coisa mais criativa. É uma mensagem que irá ecoar, independentemente da nossa área.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:52
  • Tradução de Ana em português do Brasil.
    Enviei carta a Ana explicando a forma de aceder a tarefas para português do Brasil (26/07)

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