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Por que prendemos as pessoas por serem pobres? | Salil Dudani | TEDxStanford

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    Numa tarde de verão de 2013,
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    a polícia de Washington D.C.
    prendeu, interrogou e revistou
  • 0:17 - 0:20
    um homem que parecia suspeito
    e potencialmente perigoso.
  • 0:22 - 0:26
    Não era o que eu estava vestindo
    no dia da prisão, para ser franco,
  • 0:26 - 0:28
    mas tenho uma foto daquele dia.
  • 0:28 - 0:31
    Sei que é assustador, tentem ficar calmos.
  • 0:31 - 0:32
    (Risos)
  • 0:32 - 0:33
    Naquela época,
  • 0:33 - 0:37
    eu fazia estágio no Serviço de Defensoria
    Pública em Washington, D.C.,
  • 0:37 - 0:40
    e estava visitando uma
    delegacia de polícia a trabalho.
  • 0:40 - 0:43
    Na saída, e antes de chegar ao meu carro,
  • 0:43 - 0:45
    duas viaturas apareceram,
    bloquearam minha saída,
  • 0:45 - 0:48
    e um policial me abordou pelas costas.
  • 0:48 - 0:50
    Ele me mandou parar, tirar minha mochila
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    e colocar as mãos na viatura
    que parou próximo a nós.
  • 0:53 - 0:56
    Uns 12 policiais se aproximaram da gente.
  • 0:57 - 0:59
    Todos estavam armados,
    alguns com rifles de assalto.
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    Vasculharam minha mochila,
    me revistaram,
  • 1:02 - 1:06
    tiraram minha foto estirado
    sobre a viatura e deram risada.
  • 1:06 - 1:07
    E enquanto isso acontecia,
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    enquanto estava no carro, tentando
    ignorar o tremor das minhas pernas,
  • 1:11 - 1:13
    tentando pensar de forma clara
    o que deveria fazer,
  • 1:13 - 1:15
    algo me pareceu muito estranho.
  • 1:15 - 1:17
    Quando olho para mim nesta foto,
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    se eu fosse descrever minha aparência,
    acho que diria algo do tipo:
  • 1:21 - 1:26
    "Homem indiano de 19 anos,
    camisa clara, com óculos".
  • 1:26 - 1:29
    Mas eles não incluíram
    nenhum desses detalhes.
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    Pelo rádio, eles me descreviam, dizendo:
    "Homem do Oriente Médio com uma mochila.
  • 1:33 - 1:35
    Homem do Oriente Médio com uma mochila".
  • 1:36 - 1:39
    E essa descrição foi mantida
    nos relatórios dos policiais.
  • 1:39 - 1:44
    Eu nunca pensei que seria descrito
    pelo meu próprio governo nestes termos:
  • 1:44 - 1:45
    "suspeito",
  • 1:46 - 1:47
    "nefasto",
  • 1:49 - 1:50
    "terrorista".
  • 1:50 - 1:52
    E minha detenção continuou assim.
  • 1:52 - 1:56
    Mandaram cães treinados farejarem
    explosivos nos lugares em que estive.
  • 1:56 - 1:59
    Contactaram o governo para ver se eu
    estava em alguma lista de observação.
  • 1:59 - 2:02
    Mandaram alguns detetives
    questionar o porquê,
  • 2:02 - 2:04
    se eu disse que não tinha nada a esconder,
  • 2:04 - 2:06
    de eu negar uma busca no meu carro.
  • 2:06 - 2:08
    Não estavam felizes comigo,
  • 2:08 - 2:11
    mas não havia como saber
    o que fariam em seguida.
  • 2:11 - 2:14
    Em um determinado momento,
    o policial que me revistou
  • 2:14 - 2:18
    andou na lateral da delegacia
    para ver se havia alguma câmera ali,
  • 2:18 - 2:21
    e checar o quanto estava sendo gravado.
  • 2:21 - 2:25
    Quando ele fez isso, me dei conta
    do quanto estava à mercê deles.
  • 2:25 - 2:28
    Acho que estamos acostumados,
    desde a juventude,
  • 2:28 - 2:32
    ao conceito de policiais,
    prisões e algemas,
  • 2:32 - 2:36
    que fica fácil esquecer o quão
    humilhante e coercitivo pode ser
  • 2:36 - 2:38
    tomar à força o corpo de uma outra pessoa.
  • 2:38 - 2:41
    Parece que estou falando isso
    apenas para mostrar
  • 2:41 - 2:43
    o quanto fui maltratado
    por causa da minha raça,
  • 2:43 - 2:46
    e sim, eu acho que nunca
    teria sido detido se fosse branco.
  • 2:46 - 2:49
    Mas, na verdade, tenho
    algo diferente em mente:
  • 2:49 - 2:53
    como teria sido pior se eu fosse pobre.
  • 2:53 - 2:56
    Eles acharam que eu estava
    tentando colocar um explosivo,
  • 2:56 - 2:59
    e investigaram essa possibilidade
    por uma hora e meia,
  • 2:59 - 3:02
    mas não fui algemado,
    e nem levado para uma cela.
  • 3:03 - 3:07
    Se eu fosse de uma comunidade
    negra e pobre de Washington D.C.,
  • 3:07 - 3:09
    e achassem que eu estava
    colocando a vida deles em risco,
  • 3:09 - 3:11
    a coisa terminaria de outro modo.
  • 3:11 - 3:14
    E no nosso sistema, é melhor
    ser alguém com dinheiro,
  • 3:14 - 3:17
    suspeito de tentar explodir uma delegacia,
  • 3:17 - 3:21
    do que ser alguém pobre, suspeito
    de algo muito, mas muito menor.
  • 3:21 - 3:24
    Quero dar um exemplo
    do meu trabalho atual.
  • 3:24 - 3:27
    Trabalho em uma organização
    de direitos civis em D.C.
  • 3:27 - 3:30
    chamada "Igualdade
    de Justiça Perante a Lei".
  • 3:30 - 3:33
    Para começar, farei uma pergunta a vocês.
  • 3:33 - 3:36
    Quantos já levaram
    multa de estacionamento?
  • 3:36 - 3:37
    Levantem a mão.
  • 3:37 - 3:39
    Pois é, eu também.
  • 3:39 - 3:42
    E quando tive que pagar,
    foi ruim e perturbador,
  • 3:42 - 3:44
    mas paguei e segui em frente.
  • 3:44 - 3:47
    Imagino que a maioria de vocês
    pagou suas multas também.
  • 3:47 - 3:51
    Mas o que aconteceria
    se não tivessem dinheiro para pagar
  • 3:52 - 3:55
    e sua família também não,
    o que aconteceria?
  • 3:55 - 3:58
    Bom, pela lei, uma coisa
    não pode acontecer:
  • 3:58 - 4:00
    você não pode ser detido e preso
  • 4:00 - 4:02
    pelo simples fato de não ter
    dinheiro para pagar.
  • 4:02 - 4:04
    Pela lei federal isso é ilegal.
  • 4:04 - 4:08
    Mas é isso que os governos locais estão
    fazendo em todo o país com os pobres.
  • 4:08 - 4:11
    E muitos dos processos
    da "Igualdade de Justiça Perante a Lei"
  • 4:11 - 4:14
    lidam com essa nova forma
    de prisão de devedores.
  • 4:14 - 4:17
    Um dos nossos casos é contra
    a cidade de Ferguson, Missouri.
  • 4:17 - 4:21
    E eu sei que quando digo Ferguson,
    muitos aqui pensam em violência policial.
  • 4:21 - 4:24
    Mas hoje quero falar
    de um aspecto diferente
  • 4:24 - 4:27
    da relação entre a polícia
    e seus cidadãos.
  • 4:27 - 4:31
    Ferguson emitia uma média
    de dois mandados de prisão
  • 4:31 - 4:33
    por habitante, por ano,
  • 4:33 - 4:35
    a maioria por não pagar as cortes.
  • 4:36 - 4:40
    Quando eu penso o que sentiria
    se, toda a vez que saísse de casa,
  • 4:40 - 4:43
    um policial quisesse checar
    a placa do meu carro,
  • 4:43 - 4:45
    ver um mandado por falta de pagamento,
  • 4:45 - 4:47
    revistar o meu corpo,
    como fizeram em D.C.,
  • 4:47 - 4:51
    e me levar para a cadeia,
    eu me sentiria um pouco doente.
  • 4:51 - 4:55
    Conheci muitas pessoas de Ferguson
    que tiveram essa experiência,
  • 4:55 - 4:57
    e ouvi algumas das suas histórias.
  • 4:57 - 5:01
    Na cadeia de Ferguson, em cada cela
    há um beliche e uma privada,
  • 5:01 - 5:03
    mas eles amontoam
    quatro pessoas em cada cela.
  • 5:03 - 5:06
    Ficam duas pessoas
    no beliche e duas no chão,
  • 5:06 - 5:11
    uma delas sem ter onde ficar a não ser
    ao lado da privada que nunca foi limpa.
  • 5:11 - 5:13
    Na verdade, a própria cela
    nunca foi limpa,
  • 5:13 - 5:16
    o chão e a parede estavam
    cheios de sangue e muco.
  • 5:17 - 5:21
    Sem água para beber, exceto a que saía
    de uma torneira conectada à privada.
  • 5:21 - 5:24
    A água era suja, com gosto ruim,
    e nunca havia comida suficiente,
  • 5:24 - 5:26
    não havia banhos;
  • 5:26 - 5:28
    mulheres menstruavam
    sem qualquer tipo de higiene,
  • 5:28 - 5:30
    e não havia cuidado médico.
  • 5:30 - 5:32
    Quando perguntei a uma mulher
    sobre cuidados médicos,
  • 5:32 - 5:35
    ela riu e disse: "Ah, não, não.
  • 5:35 - 5:38
    A única atenção que recebemos
    dos guardas é sexual".
  • 5:39 - 5:41
    Então, eles levam os devedores
    para esse lugar e dizem:
  • 5:41 - 5:45
    "Não deixaremos você sair
    até que pague o que deve".
  • 5:45 - 5:50
    E se você pudesse ligar para
    um familiar que levasse o dinheiro,
  • 5:50 - 5:51
    aí talvez você seria solto.
  • 5:51 - 5:53
    Se fosse dinheiro suficiente, seria solto.
  • 5:53 - 5:57
    Mas se não fosse, você ficaria lá
    por dias ou semanas,
  • 5:57 - 5:59
    e todo dia os guardas passariam nas celas
  • 5:59 - 6:03
    e negociariam com os devedores
    o preço da libertação naquele dia.
  • 6:03 - 6:07
    Você ficaria ali até a cadeia ficar lotada
  • 6:07 - 6:09
    e decidirem colocar mais uma pessoa lá.
  • 6:09 - 6:11
    E eles pensariam:
  • 6:11 - 6:15
    "É improvável que essa pessoa consiga
    o dinheiro, mas essa outra, talvez, sim".
  • 6:15 - 6:18
    Você sai, ela entra,
    e a máquina segue funcionando.
  • 6:19 - 6:22
    Eu conheci um homem que, nove anos atrás,
  • 6:22 - 6:25
    foi preso por pedir esmola
    em um Walgreens.
  • 6:25 - 6:29
    Ele não pôde bancar as taxas
    e multas daquele caso.
  • 6:29 - 6:32
    Quando era jovem, ele sobreviveu
    a um incêndio na sua casa
  • 6:32 - 6:35
    pulando pela janela do terceiro andar.
  • 6:35 - 6:39
    Mas a queda deixou sequelas no seu cérebro
    e por todo seu corpo, incluindo sua perna.
  • 6:39 - 6:43
    Ele não pode trabalhar, e depende
    do seguro social para sobreviver.
  • 6:43 - 6:45
    Quando o conheci em seu apartamento,
  • 6:45 - 6:48
    ele não possuía nada de valor,
    nem comida na geladeira;
  • 6:48 - 6:49
    ele vivia sempre com fome.
  • 6:49 - 6:53
    A única coisa de valor é
    um pequeno pedaço de papelão
  • 6:53 - 6:55
    em que escreveu o nome dos seus filhos.
  • 6:55 - 6:58
    Ele valorizava muito isso
    e ficou feliz em mostrá-lo.
  • 6:58 - 7:01
    Mas não pode pagar as multas,
    pois não tem nada a oferecer.
  • 7:01 - 7:04
    Nos últimos 9 anos, foi preso 13 vezes,
  • 7:04 - 7:09
    e ficou encarcerado um total
    de 130 dias por ter pedido esmola.
  • 7:09 - 7:12
    Uma das prisões durou 45 dias.
  • 7:12 - 7:17
    Imaginem ficar de agora
    até um dia qualquer de junho
  • 7:17 - 7:20
    no lugar que descrevi anteriormente.
  • 7:21 - 7:25
    Ele me contou sobre todas as tentativas
    de suicídio que viu na prisão de Ferguson:
  • 7:25 - 7:29
    um homem achou um jeito de se enforcar
    longe do alcance dos outros detentos.
  • 7:30 - 7:32
    Tudo que eles podiam fazer
    era gritar sem parar,
  • 7:32 - 7:36
    para tentar chamar a atenção dos guardas
    para que viessem e o tirassem de lá.
  • 7:36 - 7:40
    Demorou mais de cinco minutos
    para eles responderem,
  • 7:40 - 7:42
    e quando vieram,
    o homem estava inconsciente.
  • 7:42 - 7:46
    Chamaram os paramédicos, e quando
    eles chegaram na cela disseram:
  • 7:46 - 7:47
    "Ele vai ficar bem",
  • 7:47 - 7:49
    e o deixaram ali no chão.
  • 7:49 - 7:52
    Ouvi muitas histórias como essa,
    e não deveria me surpreender,
  • 7:52 - 7:56
    porque o suicídio lidera as causas
    de mortes nas nossas cadeias.
  • 7:56 - 8:00
    Isso está ligado à falta de cuidado
    da saúde mental nas cadeias.
  • 8:00 - 8:04
    Conheci uma mãe solteira,
    com três filhos, ganhando US$ 7 a hora.
  • 8:04 - 8:07
    Ela depende de vale alimentação
    para alimentar seus filhos.
  • 8:07 - 8:08
    Uma década atrás,
  • 8:08 - 8:12
    ela teve algumas multas de trânsito
    e uma acusação leve de roubo;
  • 8:12 - 8:15
    ela não pode pagar as multas
    e taxas por esses casos.
  • 8:15 - 8:19
    Desde então, ela foi presa dez vezes,
  • 8:19 - 8:21
    mas é esquizofrênica
    e tem transtorno bipolar,
  • 8:21 - 8:23
    e precisa ser medicada todo dia.
  • 8:23 - 8:26
    Ela não tem acesso aos medicamentos
    na prisão de Ferguson
  • 8:26 - 8:28
    porque ninguém tem, na verdade.
  • 8:28 - 8:32
    Ela me disse como era passar
    duas semanas em uma jaula,
  • 8:33 - 8:36
    tendo alucinações com pessoas,
    sombras e ouvindo vozes,
  • 8:36 - 8:39
    implorando pelo medicamento
    que faria tudo aquilo acabar,
  • 8:39 - 8:40
    e sendo ignorada.
  • 8:41 - 8:43
    E isso não é algo incomum:
  • 8:43 - 8:48
    30% das mulheres presas têm
    distúrbios mentais sérios assim como ela,
  • 8:48 - 8:52
    mas apenas uma em cada seis recebe algum
    tipo de cuidado enquanto estão na cadeia.
  • 8:52 - 8:56
    E assim, ouvi todas essas histórias
    sobre essa masmorra grotesca
  • 8:56 - 8:58
    que Ferguson operava
    para os seus devedores,
  • 8:58 - 9:03
    e quando chegou a hora de ver aquilo
    e visitar a prisão de Ferguson,
  • 9:03 - 9:05
    eu não sabia o que esperava ver,
  • 9:05 - 9:07
    mas, certamente, não era isso.
  • 9:07 - 9:09
    É um prédio comum do governo.
  • 9:09 - 9:12
    Poderia ser os correios ou uma escola.
  • 9:12 - 9:15
    E lembrei que esse
    esquema ilegal de extorsão
  • 9:15 - 9:17
    não funcionava em algum lugar nas sombras,
  • 9:17 - 9:20
    mas estava escancarado
    pelos nossos funcionários públicos.
  • 9:20 - 9:22
    Isso é questão de política pública.
  • 9:22 - 9:25
    E isso me lembra de que a pobreza
    das cadeias em geral,
  • 9:25 - 9:27
    mesmo fora do contexto dos devedores,
  • 9:27 - 9:30
    tem um papel muito claro e central
    no nosso sistema de justiça.
  • 9:30 - 9:33
    O que tenho em mente
    é nossa política de fianças.
  • 9:33 - 9:35
    Seja em prisão preventiva
    ou liberdade provisória,
  • 9:35 - 9:39
    aguardar o julgamento não diz respeito
    ao quanto você é perigoso
  • 9:39 - 9:41
    ou que tenha chance de fugir,
  • 9:41 - 9:43
    mas se pode bancar a sua fiança.
  • 9:43 - 9:47
    Bill Cosby, cuja fiança estava
    fixada em US$ 1 milhão,
  • 9:47 - 9:50
    faz um cheque e não passa
    nem um segundo na cela.
  • 9:50 - 9:52
    Mas Sandra Bland, que morreu na prisão,
  • 9:52 - 9:56
    estava lá apenas porque sua família
    não conseguiu arrumar US$ 500.
  • 9:56 - 9:59
    Na verdade, há meio milhão
    de "Sandra Blands" pelo país,
  • 9:59 - 10:02
    que estão, neste momento, na cadeia,
  • 10:02 - 10:04
    só porque não podem pagar a fiança.
  • 10:04 - 10:07
    Dizem que as nossas cadeias
    são um lugar para criminosos,
  • 10:07 - 10:09
    mas, estatisticamente, isso não acontece:
  • 10:09 - 10:14
    três de cada cinco pessoas
    estão em prisão preventiva;
  • 10:14 - 10:16
    não foram condenadas por nenhum crime,
  • 10:16 - 10:18
    nem se declaram culpadas dos delitos.
  • 10:19 - 10:20
    Aqui em São Francisco,
  • 10:20 - 10:24
    85% dos presos nas cadeias
  • 10:24 - 10:26
    estão em prisão preventiva.
  • 10:26 - 10:29
    São Francisco gasta algo
    em torno de US$ 80 milhões,
  • 10:29 - 10:30
    todo ano,
  • 10:30 - 10:32
    para financiar a prisão preventiva.
  • 10:34 - 10:38
    Muitos dos que estão presos,
    e não conseguem pagar a fiança,
  • 10:38 - 10:41
    respondem por acusações tão pequenas
  • 10:41 - 10:44
    que o tempo que esperam por um julgamento
  • 10:44 - 10:47
    é maior do que a sentença
    que eles receberiam, se condenados,
  • 10:47 - 10:51
    ou seja, sem dúvida seriam libertados
    mais rápido se assumissem a culpa.
  • 10:51 - 10:52
    Fica a questão:
  • 10:52 - 10:55
    devo ficar nesse lugar horrível,
  • 10:55 - 10:57
    longe da minha família,
  • 10:57 - 11:00
    quase certo de ter perdido meu emprego,
  • 11:00 - 11:02
    e depois brigo na justiça?
  • 11:02 - 11:05
    Ou assumo a culpa daquilo
    que o promotor me acusa e saio?
  • 11:05 - 11:07
    Estão detidos preventivamente,
    não são criminosos.
  • 11:07 - 11:10
    Mas assim que fizerem o acordo,
    chamaremos de criminosos,
  • 11:10 - 11:13
    mas alguém com dinheiro não,
  • 11:13 - 11:15
    porque ele pagaria a fiança e sairia.
  • 11:17 - 11:19
    Nesse momento, devem estar pensando:
  • 11:19 - 11:22
    "O que esse cara está fazendo
    na seção de inspiração?"
  • 11:22 - 11:23
    (Risos)
  • 11:23 - 11:26
    "Isso é muito deprimente.
    Quero meu dinheiro de volta!"
  • 11:26 - 11:27
    (Risos)
  • 11:28 - 11:30
    Mas, na verdade,
  • 11:30 - 11:34
    falar sobre prisão é muito menos
    deprimente do que outros assuntos,
  • 11:34 - 11:37
    porque se não falamos sobre essas questões
  • 11:37 - 11:39
    e, juntos, mudarmos o jeito
    com que pensamos as prisões,
  • 11:39 - 11:43
    no final da vida teremos prisões cheias
    de gente pobre que não deveria estar lá.
  • 11:43 - 11:45
    Isso me deprime muito.
  • 11:45 - 11:48
    Mas me anima pensar que essas histórias
  • 11:48 - 11:51
    nos fazem pensar na prisão de outra forma.
  • 11:51 - 11:54
    Não em termos de políticas estéreis,
    como "encarceramento em massa",
  • 11:54 - 11:56
    ou "sentenciar infratores não violentos",
  • 11:56 - 11:58
    mas em termos humanos.
  • 11:58 - 12:02
    Quando colocamos um ser humano
    numa cela por dias, semanas, meses,
  • 12:02 - 12:04
    ou mesmo anos,
  • 12:04 - 12:06
    o que estamos fazemos
    com a mente e o corpo dele?
  • 12:06 - 12:09
    Por quais motivos estamos
    dispostos a fazer isso?
  • 12:09 - 12:12
    E se começarmos com algumas
    centenas de pessoas nessa sala,
  • 12:12 - 12:15
    podemos pensar sobre prisões
    através desse viés diferente,
  • 12:15 - 12:19
    e podemos desfazer a padronização
    de que falei anteriormente.
  • 12:19 - 12:22
    Se passei algo hoje a vocês,
    espero que seja a reflexão
  • 12:22 - 12:24
    de que se queremos que algo
    mude no seu cerne,
  • 12:24 - 12:28
    não só reformar nossas políticas
    de fiança, multas e taxas,
  • 12:28 - 12:31
    mas garantir que qualquer
    mudança nessas políticas,
  • 12:31 - 12:33
    não puna o pobre e marginalizado
    de uma outra forma.
  • 12:33 - 12:35
    Se quisermos esse tipo de mudança,
  • 12:35 - 12:38
    é preciso que mudemos
    nossa forma de pensar.
  • 12:38 - 12:39
    Obrigado.
  • 12:39 - 12:42
    (Aplausos)
Title:
Por que prendemos as pessoas por serem pobres? | Salil Dudani | TEDxStanford
Description:

Prisões de devedores são comuns e presentes em todo o país graças aos governos locais, que prendem pessoas pobres que não conseguem pagar suas multas e taxas da corte. Enquanto isso, meio milhão de americanos são presos apenas porque não conseguem pagar a fiança. Salil Dudani conta histórias de indivíduos que foram presos por serem devedores em Ferguson, Missouri, nos desafiando a pensar diferente sobre o sistema prisional.

Salil Dudani é um investigador da Igualdade de Justiça Perante a Lei, uma organização de direitos civis que apura desigualdades no sistema prisional. Antes do seu trabalho atual, apoiado pela Companhia de Serviços Públicos John Gardner, Dudani experimentou o sistema legal de duas formas: como defensor público pelo Serviço de Defensoria Pública de Washington, D.C., e como demandante de uma ação judicial por motivos raciais, depois de ser detido pela polícia por suspeita de "atividade terrorista".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:44

Portuguese, Brazilian subtitles

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