Os culpados e as vítimas ocultas do derrame do petróleo
-
0:01 - 0:03Este é o oceano que eu conhecia.
-
0:05 - 0:08Descobri isso desde que estive
no Golfo várias vezes. -
0:08 - 0:13Sinto-me traumatizado porque,
sempre que hoje olho para o oceano, -
0:13 - 0:15onde quer que eu esteja,
-
0:15 - 0:19mesmo onde sei que não houve
nenhum derrame de petróleo, -
0:19 - 0:21parece-me ver manchas
-
0:21 - 0:25e sinto-me perseguido por isso.
-
0:27 - 0:29Mas hoje vou falar-vos
-
0:29 - 0:33de muitas coisas que tento
colocar em contexto, -
0:33 - 0:35não só quanto à erupção do petróleo,
-
0:35 - 0:38mas quanto ao que ele significa
e porque é que acontece. -
0:38 - 0:40Primeiro, vou falar um pouco sobre mim.
-
0:40 - 0:43Sou simplesmente um tipo
que gosta de pescar -
0:43 - 0:45desde que era miúdo.
-
0:45 - 0:48Por causa disso, acabei
a estudar as aves marinhas -
0:48 - 0:51que tentam manter-se nos "habitats"
costeiros, de que eu tanto gosto. -
0:52 - 0:56Agora, escrevo livros
sobre a mudança no oceano -
0:56 - 0:59uma mudança que está a ocorrer
muito rapidamente. -
0:59 - 1:05Já vimos neste gráfico hoje,
que vivemos num berlinde sólido -
1:05 - 1:08que tem apenas um pouco de humidade.
-
1:08 - 1:11É como se mergulhássemos
um berlinde dentro de água. -
1:11 - 1:12O mesmo se passa com a atmosfera.
-
1:13 - 1:16Se agarrássemos em toda a atmosfera
e a transformássemos numa bola, -
1:16 - 1:19ficaríamos com aquela pequena esfera
de gás, ali à direita. -
1:19 - 1:24Assim, vivemos na bolha de sabão
mais frágil que podemos imaginar, -
1:24 - 1:29uma bolha de sabão muito sagrada,
mas que é muito facilmente afetada. -
1:29 - 1:33Toda a queima de petróleo, carvão e gás,
de todos os combustíveis fósseis, -
1:33 - 1:36alteraram profundamente a atmosfera.
-
1:36 - 1:39O nível do dióxido de carbono
foi subindo cada vez mais. -
1:39 - 1:41Estamos a aquecer o clima.
-
1:41 - 1:43Assim, o problema no Golfo
-
1:43 - 1:47é apenas uma pequena peça
dum problema muito maior -
1:47 - 1:51que temos com a energia que usamos,
para manter a civilização. -
1:51 - 1:53Para além do aquecimento,
-
1:53 - 1:56temos o problema de os oceanos
estarem a ficar mais ácidos, -
1:56 - 2:01de forma já significativa
e afetando já os animais. -
2:02 - 2:08No laboratório, se colocarmos uma amêijoa
num pH que não seja 8,1 -
2:08 - 2:11— que é o pH normal da água do mar —
mas num pH de 7,5 -
2:11 - 2:14ela dissolve-se em três dias.
-
2:14 - 2:18Se agarrarmos numa larva
de ouriço-do-mar, num pH de 8,1 -
2:18 - 2:22e a colocarmos num pH de 7,7
— uma alteração mínima — -
2:22 - 2:25ela fica deformada e morre.
-
2:25 - 2:28Nalguns locais,
as larvas de ostras comerciais -
2:28 - 2:32já estão a morrer em grande quantidade.
-
2:32 - 2:35Os recifes de coral estão a crescer
mais lentamente, -
2:35 - 2:37nalguns locais,
por causa deste problema. -
2:37 - 2:39Isto é, de facto, muito importante.
-
2:39 - 2:42Vamos dar uma volta
pelo Golfo do México. -
2:43 - 2:46Uma das coisas que me impressiona
quanto às pessoas no Golfo: -
2:46 - 2:48São pessoas muito aquáticas.
-
2:48 - 2:50Sabem gerir a água,
-
2:50 - 2:53sabem gerir um furacão que vem e vai.
-
2:53 - 2:55Quando o nível da água baixa,
sabem o que fazer. -
2:55 - 3:00Mas, quando qualquer outra coisa falha
e o "habitat" aquático se altera -
3:00 - 3:02não têm muitas opções.
-
3:02 - 3:05Estas comunidades inteiras
não têm muitas opções. -
3:06 - 3:08Não têm outras coisas que fazer.
-
3:08 - 3:12Não podem ir trabalhar
na indústria dos hotéis locais -
3:12 - 3:15porque não há nenhum
nas suas comunidades. -
3:17 - 3:21Se formos ao Golfo e olharmos
à nossa volta, vemos muito petróleo. -
3:21 - 3:23Vemos muito petróleo no oceano.
-
3:23 - 3:25Vemos muito petróleo na linha costeira.
-
3:25 - 3:29Se formos ao local da erupção,
é uma coisa inacreditável. -
3:29 - 3:32Parece que despejámos
o cárter de óleo do nosso carro -
3:32 - 3:35e o despejámos no oceano.
-
3:35 - 3:37Uma das coisas mais incríveis
-
3:37 - 3:41é que não há ninguém a tentar recolhê-lo
-
3:41 - 3:44no local onde é mais denso.
-
3:44 - 3:49Há partes do oceano que parecem
ter sofrido um apocalipse. -
3:51 - 3:55Passeamos ao longo da costa
e encontramos petróleo por todo o lado. -
3:55 - 3:57É um verdadeiro caos.
-
3:57 - 3:59Se formos a locais
onde ele está a aparecer, -
3:59 - 4:01como na parte leste do Golfo,
no Alabama, -
4:01 - 4:03ainda há pessoas a usar a praia
-
4:03 - 4:05enquanto há pessoas a limpar a praia.
-
4:05 - 4:08Têm uma forma muito estranha
de limpar a praia. -
4:08 - 4:11Não têm permissão de pôr
mais de 5 kg de areia -
4:11 - 4:13num saco de plástico de 200 litros.
-
4:13 - 4:15Têm milhares e milhares
de sacos de plástico. -
4:15 - 4:17Não sei o que vão fazer
com aquilo tudo. -
4:17 - 4:20Entretanto, ainda há pessoas
que usam a praia. -
4:20 - 4:22Não veem o sinal que diz:
"Não entrem na água". -
4:22 - 4:24As crianças estão dentro de água,
-
4:24 - 4:26têm alcatrão na roupa e nas sandálias
-
4:26 - 4:28— fica tudo sujo.
-
4:28 - 4:31Se formos onde houve petróleo,
o caos ainda é maior. -
4:32 - 4:34Já não há ali praticamente ninguém,
-
4:34 - 4:37só algumas pessoas
que tentam usar a praia. -
4:38 - 4:40Vemos pessoas que estão
profundamente chocadas. -
4:40 - 4:42São pessoas de trabalho.
-
4:42 - 4:45Tudo o que conhecem na vida
é levantarem-se de manhã -
4:45 - 4:47e, logo que o motor pega,
vão trabalhar. -
4:47 - 4:51Sempre julgaram que podiam
confiar na garantia -
4:51 - 4:55que a natureza lhes dava
através do ecossistema do Golfo. -
4:55 - 4:58Estão a descobrir
que o mundo delas desabou. -
4:58 - 5:03Vemos, literalmente, sinais desse choque,
-
5:05 - 5:07sinais da sua indignação,
-
5:08 - 5:10[A BP matou o nosso Golfo,
a nossa forma de viver! -
5:11 - 5:13sinais da sua fúria
-
5:13 - 5:14[Não podemos pescar nem nadar
-
5:14 - 5:17[Como vamos alimentar
os nossos filhos?] -
5:17 - 5:20e sinais do seu sofrimento.
-
5:21 - 5:24Estas são as coisas que podemos ver.
-
5:25 - 5:29Mas também há muitas coisas
que não vemos, debaixo de água. -
5:30 - 5:32O que se está a passar debaixo de água?
-
5:33 - 5:36Há pessoas que dizem
que há manchas de petróleo. -
5:36 - 5:38Há pessoas que dizem
que não há manchas de petróleo. -
5:39 - 5:41O congressista Markey pergunta:
-
5:41 - 5:44"Vai ser preciso andar de submarino
-
5:44 - 5:47"para ver se há ou não
manchas de petróleo?" -
5:47 - 5:49Mas eu não podia
dar uma volta de submarino, -
5:49 - 5:53principalmente na altura
em que soube que vinha aqui hoje, -
5:53 - 5:56por isso tive de fazer
uma pequena experiência -
5:56 - 5:59para ver se havia petróleo
no Golfo do México. -
5:59 - 6:01Este é o Golfo do México,
-
6:01 - 6:04um local transbordante de peixes.
-
6:04 - 6:07Criei um pequeno derrame de petróleo
no Golfo do México. -
6:08 - 6:11E aprendi, ou melhor,
confirmei a hipótese -
6:11 - 6:13de que o petróleo e a água
não se misturam... -
6:14 - 6:17enquanto não juntarmos
um dispersante. -
6:18 - 6:20Depois,
-
6:21 - 6:23começam a misturar-se.
-
6:24 - 6:28Juntamos um pouco de energia
do vento e das ondas -
6:28 - 6:31e obtemos um grande caos,
-
6:31 - 6:34um problema que é impossível limpar,
-
6:34 - 6:37que não podemos tocar,
que não podemos extrair -
6:37 - 6:39e, mais importante ainda,
-
6:39 - 6:42que não podemos ver.
-
6:42 - 6:45Acho que estão a escondê-lo de propósito.
-
6:45 - 6:48Isto é uma catástrofe tão grande,
é um caos tão grande -
6:48 - 6:52que há muita coisa que é revelada
à margem dos "media" principais. -
6:52 - 6:53Mas, como muita gente disse,
-
6:53 - 6:57tem havido uma enorme tentativa
de esconder o que se passa. -
6:57 - 6:59Pessoalmente, penso que os dispersantes
-
6:59 - 7:04são uma estratégia
para esconder o corpo do delito, -
7:04 - 7:07porque pusemos o criminoso
a tomar conta do local do crime. -
7:08 - 7:09Mas podemos vê-lo.
-
7:09 - 7:13Vemos onde o petróleo
se concentrou à superfície -
7:13 - 7:16e é aí que é atacado,
-
7:16 - 7:19porque, na minha opinião,
não querem que se veja. -
7:20 - 7:21Ok.
-
7:21 - 7:24Ouviram dizer que as bactérias
comem petróleo? -
7:24 - 7:26As tartarugas marinhas também comem.
-
7:26 - 7:27Quando o petróleo se decompõe,
-
7:27 - 7:31demora muito tempo
até chegar às bactérias. -
7:31 - 7:34As tartarugas comem-no.
Agarra-se às brânquias dos peixes. -
7:34 - 7:37Estes sujeitos têm de nadar no meio dele.
-
7:37 - 7:41Hoje ouvi a história mais incrível
quando vinha para aqui, de comboio. -
7:42 - 7:44Um escritor, chamado Ted Williams
ligou-me -
7:45 - 7:47e fez-me perguntas sobre
o que é que eu vi, -
7:48 - 7:51porque está a escrever um artigo
para a revista Audubon. -
7:51 - 7:54Disse que tinha estado no Golfo
um pouco antes, uma semana antes. -
7:55 - 7:58Um tipo que tinha sido
guia de pesca desportiva -
7:58 - 8:01tinha-lhe mostrado o que se passava.
-
8:01 - 8:06Todas as marcações do ano
daquele guia tinham sido canceladas. -
8:06 - 8:08Não tem nenhumas marcações.
-
8:08 - 8:11Toda a gente quis a devolução
do depósito, toda a gente está a fugir. -
8:11 - 8:13Isto é a história de milhares de pessoas.
-
8:13 - 8:18Mas ele disse a Ted que,
no último dia em que tinha saído, -
8:19 - 8:22apareceu, de repente, junto do barco,
um golfinho roaz, -
8:23 - 8:27que estava a espirrar petróleo
pelo espiráculo. -
8:28 - 8:33Afastou-se dele, porque era
a última viagem de pesca -
8:34 - 8:36e sabia que os golfinhos
assustam os peixes. -
8:36 - 8:40Afastou-se dele,
deu uma volta minutos depois -
8:40 - 8:42e lá estava ele de novo
ao lado do barco. -
8:42 - 8:46Disse que, em 30 anos de pesca,
nunca tinha visto um golfinho fazer isso. -
8:46 - 8:48Sentiu que...
-
8:48 - 8:49(Suspiro)
-
8:49 - 8:53sentiu que o golfinho
estava a pedir ajuda. -
8:53 - 8:54Desculpem.
-
8:56 - 9:00No derrame do Exxon Valdez,
-
9:00 - 9:04cerca de 30% das baleias assassinas
morreram nos primeiros meses. -
9:05 - 9:07O número delas nunca mais recuperou.
-
9:07 - 9:11Portanto, a taxa de recuperação
vai ser variável. -
9:11 - 9:14Para algumas coisas, vai demorar mais.
-
9:15 - 9:18E para outras coisas, segundo penso,
pode acontecer um pouco mais depressa. -
9:18 - 9:21Outra coisa que acho importante no Golfo
-
9:21 - 9:25é que há muitos animais
que se concentram no Golfo -
9:25 - 9:27em determinadas épocas do ano.
-
9:28 - 9:30O Golfo é uma importante área de água,
-
9:30 - 9:36mais importante que um volume semelhante
de água no Oceano Atlântico aberto. -
9:36 - 9:38Estes atuns nadam por todo o oceano.
-
9:38 - 9:41Entram na corrente do Golfo,
e seguem até à Europa. -
9:41 - 9:43Quando chega a época da desova,
entram lá dentro. -
9:43 - 9:45Vemos estes dois atuns etiquetados
-
9:45 - 9:47na zona da desova,
-
9:47 - 9:50logo à direita da área da mancha.
-
9:50 - 9:52Provavelmente, vai haver, pelo menos,
-
9:52 - 9:55uma estação catastrófica
de desova, este ano. -
9:55 - 9:59Espero que os animais adultos
evitem essa água poluída. -
9:59 - 10:03Normalmente, não gostam
de entrar numa água muito turva. -
10:03 - 10:07Mas são animais atléticos,
de alto desempenho. -
10:07 - 10:10Não sei o que este material
poderá causar às brânquias. -
10:10 - 10:12Não sei se afetará os adultos.
-
10:12 - 10:15Se não, certamente afetará
os ovos e as larvas. -
10:15 - 10:16Acredito nisso.
-
10:17 - 10:20Mas, se olharmos para este gráfico,
que vai descendo cada vez mais, -
10:20 - 10:22é isto que temos feito a esta espécie
-
10:22 - 10:25através da pesca excessiva
durante muitas décadas. -
10:25 - 10:30Embora o derrame, a fuga, a erupção
do petróleo seja uma catástrofe, -
10:30 - 10:32penso que é importante não esquecer
-
10:32 - 10:37que temos feito muito para afetar
o que há no oceano, já há muito tempo. -
10:37 - 10:40Não estamos a lidar com uma coisa
que estivesse em bom estado. -
10:40 - 10:43Estamos a lidar com uma coisa
que já sofria muitas pressões -
10:43 - 10:45e tinha muitos problemas.
-
10:45 - 10:48Se olharmos para as aves,
elas são abundantes no Golfo, -
10:48 - 10:51concentram-se no Golfo
em certas épocas do ano, -
10:51 - 10:53e depois vão-se embora.
-
10:53 - 10:56Povoam áreas muito maiores.
-
10:57 - 11:02Por exemplo, a maioria das aves
nesta foto são aves migratórias. -
11:02 - 11:04Estavam todas no Golfo, em maio,
-
11:04 - 11:07quando o petróleo começou
a chegar à costa em certos locais. -
11:07 - 11:11Em baixo, à esquerda,
temos rolas-do-mar e maçaricos-brancos. -
11:11 - 11:13Procriam no Alto-Ártico
-
11:13 - 11:16e passam o inverno
no sul da América do Sul. -
11:16 - 11:20Mas concentram-se no Golfo
e depois espalham-se por todo o Ártico. -
11:20 - 11:24Vi no Golfo aves
que procriam na Groenlândia. -
11:25 - 11:28Portanto, isto é um problema
do hemisfério. -
11:28 - 11:33Os efeitos económicos, pelo menos,
serão a nível nacional. -
11:33 - 11:37Os efeitos biológicos
são certamente, a nível do hemisfério. -
11:39 - 11:44Penso que este é um dos exemplos
mais extraordinários -
11:44 - 11:47da pior falta de preparação
em que posso pensar. -
11:47 - 11:51Até quando os japoneses
bombardearam Pearl Harbor, -
11:51 - 11:52ripostámos.
-
11:52 - 11:56E agora parecemos incapazes
de saber o que fazer. -
11:56 - 12:00Não havia preparação nenhuma
-
12:00 - 12:03como vemos pelo que andam a fazer.
-
12:03 - 12:07O que andam a fazer é sobretudo
barreiras flutuantes e dispersantes. -
12:07 - 12:10As barreiras flutuantes
não são adequadas em mar alto. -
12:10 - 12:15Nem sequer tentam cercar o petróleo
nos sítios em que está mais concentrado. -
12:15 - 12:17Mantêm-se junto à costa
— reparem naqueles dois barcos. -
12:17 - 12:20O da direita chama-se Fishing Fool.
-
12:20 - 12:22Acho que é um nome ótimo
-
12:22 - 12:25para barcos que acham
que vão fazer qualquer coisa -
12:25 - 12:28que tenha impacto nisto, arrastando
uma barreira flutuante entre eles -
12:28 - 12:32quando há, literalmente, centenas
de milhares de quilómetros quadrados -
12:32 - 12:34neste momento no Golfo,
com petróleo à superfície. -
12:34 - 12:38Os dispersantes fazem com que o petróleo
vá diretamente para as barreiras. -
12:38 - 12:41As barreiras só têm 30 cm de diâmetro.
-
12:42 - 12:45Portanto, é uma perfeita loucura.
-
12:45 - 12:47Aqui estão a usar barcos camaroeiros.
-
12:47 - 12:51Há centenas de barcos camaroeiros
para rebocar barreiras em vez de redes. -
12:51 - 12:52Aqui estão a trabalhar.
-
12:52 - 12:54Vemos facilmente
-
12:54 - 12:58que toda a água com petróleo
vai para a parte detrás da barreira. -
12:58 - 13:00A única coisa que fazem é agitá-la.
-
13:00 - 13:02É perfeitamente ridículo.
-
13:03 - 13:05Em toda a linha costeira
onde há barreiras -
13:05 - 13:08— centenas e centenas
de quilómetros da linha costeira — -
13:08 - 13:10em toda a linha costeira
onde há barreiras, -
13:10 - 13:12há uma linha costeira adjacente
que não tem barreiras. -
13:12 - 13:17Há toda a probabilidade de o petróleo
e a água suja se infiltrarem por detrás. -
13:17 - 13:21Aquela foto em baixo é uma colónia
de aves onde puseram barreiras. -
13:21 - 13:25Todos tentam proteger
as colónias das aves. -
13:27 - 13:31Enquanto ornitólogo, posso dizer
que as aves voam... -
13:31 - 13:33(Risos)
-
13:36 - 13:41e que as barreiras numa colónia de aves
não servem para nada. -
13:41 - 13:45Estas aves sobrevivem
mergulhando na água. -
13:46 - 13:51Penso que o que deviam fazer,
se é que deviam fazer alguma coisa, -
13:51 - 13:54— elas estão com tanta dificuldade
em proteger os ninhos — -
13:55 - 13:57se destruíssem todos os ninhos,
-
13:57 - 14:00algumas dessas aves
ir-se-iam embora, -
14:00 - 14:02e isso seria o melhor para elas,
este ano. -
14:02 - 14:05Enquanto que limpá-las...
-
14:06 - 14:08Não estou a dizer que borrifem
-
14:08 - 14:10as pessoas que estão a limpar as aves.
-
14:10 - 14:14É muito importante que
exprimamos a nossa compaixão. -
14:14 - 14:18Penso que o mais importante
que as pessoas têm é a empatia. -
14:18 - 14:22É muito importante arranjar
estas imagens e mostrá-las. -
14:22 - 14:25Mas para onde vão estas aves
depois de libertadas? -
14:25 - 14:28É como retirar uma pessoa
de um edifício em chamas, -
14:28 - 14:29tratá-la por inalação de fumo
-
14:29 - 14:33e depois mandá-la de volta para o edifício
porque o petróleo continua a jorrar. -
14:34 - 14:37Recuso-me a aceitar que isto
é um acidente, -
14:38 - 14:41penso que é fruto
duma enorme negligência. -
14:41 - 14:45(Aplausos)
-
14:46 - 14:49Não só da BP.
-
14:49 - 14:55A BP funcionou descuidada
e irresponsavelmente, porque pôde. -
14:55 - 14:57Permitiram que assim fosse,
-
14:57 - 15:02por causa da total ausência
de fiscalização do governo -
15:02 - 15:06que, supostamente,
devia proteger-nos. -
15:08 - 15:10Acontece
-
15:10 - 15:13— vemos este aviso em todos
os navios comerciais dos EUA — -
15:13 - 15:16se despejarmos uns quantos
litros de petróleo, -
15:16 - 15:18ficaremos metidos em maus lençóis.
-
15:18 - 15:22Temos de pensar para quem
são feitas as leis -
15:22 - 15:25e quem está acima das leis.
-
15:25 - 15:28Há coisas que podemos fazer, no futuro.
-
15:28 - 15:31Podíamos ter o tipo de equipamento
de que precisamos. -
15:31 - 15:34Não seria preciso muito
para prever -
15:34 - 15:36que, depois de fazer 30 000 furos
-
15:36 - 15:39no fundo do mar do Golfo do México
à procura de petróleo, -
15:39 - 15:42o petróleo podia começar a jorrar
por um deles. -
15:42 - 15:45E teríamos uma ideia do que fazer.
-
15:45 - 15:47É certamente uma das coisas
que precisamos fazer. -
15:47 - 15:51Mas penso que temos de perceber
onde começou esta fuga. -
15:52 - 15:57Começou pela destruição da ideia
de que o governo está ali -
15:57 - 15:59porque é o nosso governo,
-
15:59 - 16:02comprometido em proteger
o maior interesse público. -
16:03 - 16:05[Causas de base: Dinheiro e Ideologia]
-
16:06 - 16:10Por isso, penso que a erupção
do petróleo, a salvação da banca, -
16:11 - 16:14a crise das hipotecas
e essas coisas todas -
16:14 - 16:17são sintomas das mesmas causas.
-
16:18 - 16:21Parece que ainda percebemos
que, pelo menos, -
16:21 - 16:25precisamos que a polícia nos proteja
de algumas pessoas más. -
16:26 - 16:29Mesmo que essa polícia
possa ser irritante, por vezes -
16:29 - 16:30— dando-nos multas e coisas dessas —
-
16:31 - 16:33ninguém diz que devíamos
prescindir dela. -
16:33 - 16:36Mas em tudo o resto
do governo, neste momento, -
16:36 - 16:38e durante os últimos 30 anos,
-
16:38 - 16:41tem havido uma cultura
de desregulamentação -
16:41 - 16:46que é causada diretamente
pelas pessoas que nos deviam proteger, -
16:47 - 16:50que compram o governo,
nas nossas costas. -
16:51 - 16:53(Aplausos)
-
17:00 - 17:03Isto tem sido um problema
já há muito tempo. -
17:03 - 17:09Vemos que houve empresas
ilegais na fundação dos EUA -
17:09 - 17:11e até Thomas Jefferson se queixou
-
17:11 - 17:17de que elas já punham em causa
as leis do nosso país. -
17:18 - 17:21Ok, pessoas que alegam ser conservadoras,
-
17:22 - 17:26se realmente quisessem
ser conservadoras e patrióticas, -
17:27 - 17:30mandariam essas empresas para o diabo.
-
17:30 - 17:33É isso que significa ser conservador.
-
17:35 - 17:39O que precisamos fazer
é reconquistar a ideia -
17:39 - 17:42de que o nosso governo
tem que salvaguardas os nossos interesses -
17:42 - 17:46e reconquistar um sentimento de unidade
e de causa comum no nosso país -
17:46 - 17:48que já se perdeu.
-
17:49 - 17:51Penso que há sinais de esperança.
-
17:51 - 17:53Parece que estamos a acordar.
-
17:53 - 17:55A Lei Glass-Steagall
-
17:55 - 17:59— que nos protegia do tipo de coisas
que provocaram a recessão, -
18:00 - 18:03e do colapso da banca e de tudo
o que exigiu as operações de salvamento — -
18:03 - 18:08que entrou em vigor em 1933,
foi sistematicamente destruída. -
18:08 - 18:12Agora há um sentimento
de voltar a pôr essa lei em vigor -
18:12 - 18:16mas os "lobbystas" já estão
a tentar enfraquecer as regulamentações -
18:16 - 18:19depois de a legislação ter sido aprovada.
-
18:19 - 18:21Isto é uma luta permanente.
-
18:21 - 18:23Estamos num momento histórico.
-
18:23 - 18:27Ou vamos para uma catástrofe
absolutamente irreparável -
18:27 - 18:29como esta fuga de petróleo no Golfo,
-
18:29 - 18:31ou aproveitamos o momento
de que precisamos para sair disto, -
18:32 - 18:33como muita gente já compreendeu.
-
18:33 - 18:35Há aqui um tema comum
-
18:35 - 18:37quanto à necessidade
de aproveitar este momento. -
18:37 - 18:42Já passámos por isto antes, com outras
formas de perfuração "offshore". -
18:42 - 18:44Os primeiros poços "offshore"
chamaram-se "baleias". -
18:44 - 18:47As primeiras perfurações "offshore"
chamaram-se "arpões". -
18:47 - 18:50Nessa época, esvaziámos
o oceano das baleias. -
18:51 - 18:53Estaremos encurralados nisto?
-
18:53 - 18:56Desde o tempo em que vivíamos em grutas,
sempre que precisávamos de energia, -
18:56 - 19:00queimávamos qualquer coisa no fogo,
é o que continuamos a fazer. -
19:00 - 19:04Continuamos a queimar qualquer coisa
no fogo, sempre que precisamos de energia. -
19:05 - 19:08As pessoas dizem
que não podemos ter energia limpa -
19:08 - 19:11porque é demasiado cara.
-
19:11 - 19:13Quem diz que é demasiado cara?
-
19:13 - 19:15As pessoas que nos vendem
combustíveis fósseis. -
19:15 - 19:18Já passámos pelo mesmo com a energia.
-
19:18 - 19:22As pessoas diziam que a economia
não suportava uma mudança -
19:22 - 19:25porque a energia mais barata
era a escravatura. -
19:26 - 19:28A energia é sempre uma questão moral.
-
19:28 - 19:31É um problema que é moral,
neste momento também. -
19:31 - 19:33É uma questão de certo e errado.
-
19:33 - 19:34Muito obrigado.
-
19:34 - 19:36(Aplausos)
- Title:
- Os culpados e as vítimas ocultas do derrame do petróleo
- Speaker:
- Carl Safina
- Description:
-
O derrame de petróleo no Golfo do México desafia a nossa compreensão mas, pelo menos, sabemos uma coisa: é mau. Carl Safina arranha a superfície dos factos neste exame escaldante, defendendo que as consequências se estenderão muito para além do Golfo — e muitas das alegadas soluções só pioram a situação.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:35
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