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Os culpados e as vítimas ocultas do derrame do petróleo

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    Este é o oceano que eu conhecia.
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    Descobri isso desde que estive
    no Golfo várias vezes.
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    Sinto-me traumatizado porque,
    sempre que hoje olho para o oceano,
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    onde quer que eu esteja,
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    mesmo onde sei que não houve
    nenhum derrame de petróleo,
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    parece-me ver manchas
  • 0:21 - 0:25
    e sinto-me perseguido por isso.
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    Mas hoje vou falar-vos
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    de muitas coisas que tento
    colocar em contexto,
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    não só quanto à erupção do petróleo,
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    mas quanto ao que ele significa
    e porque é que acontece.
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    Primeiro, vou falar um pouco sobre mim.
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    Sou simplesmente um tipo
    que gosta de pescar
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    desde que era miúdo.
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    Por causa disso, acabei
    a estudar as aves marinhas
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    que tentam manter-se nos "habitats"
    costeiros, de que eu tanto gosto.
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    Agora, escrevo livros
    sobre a mudança no oceano
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    uma mudança que está a ocorrer
    muito rapidamente.
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    Já vimos neste gráfico hoje,
    que vivemos num berlinde sólido
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    que tem apenas um pouco de humidade.
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    É como se mergulhássemos
    um berlinde dentro de água.
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    O mesmo se passa com a atmosfera.
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    Se agarrássemos em toda a atmosfera
    e a transformássemos numa bola,
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    ficaríamos com aquela pequena esfera
    de gás, ali à direita.
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    Assim, vivemos na bolha de sabão
    mais frágil que podemos imaginar,
  • 1:24 - 1:29
    uma bolha de sabão muito sagrada,
    mas que é muito facilmente afetada.
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    Toda a queima de petróleo, carvão e gás,
    de todos os combustíveis fósseis,
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    alteraram profundamente a atmosfera.
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    O nível do dióxido de carbono
    foi subindo cada vez mais.
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    Estamos a aquecer o clima.
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    Assim, o problema no Golfo
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    é apenas uma pequena peça
    dum problema muito maior
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    que temos com a energia que usamos,
    para manter a civilização.
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    Para além do aquecimento,
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    temos o problema de os oceanos
    estarem a ficar mais ácidos,
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    de forma já significativa
    e afetando já os animais.
  • 2:02 - 2:08
    No laboratório, se colocarmos uma amêijoa
    num pH que não seja 8,1
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    — que é o pH normal da água do mar —
    mas num pH de 7,5
  • 2:11 - 2:14
    ela dissolve-se em três dias.
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    Se agarrarmos numa larva
    de ouriço-do-mar, num pH de 8,1
  • 2:18 - 2:22
    e a colocarmos num pH de 7,7
    — uma alteração mínima —
  • 2:22 - 2:25
    ela fica deformada e morre.
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    Nalguns locais,
    as larvas de ostras comerciais
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    já estão a morrer em grande quantidade.
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    Os recifes de coral estão a crescer
    mais lentamente,
  • 2:35 - 2:37
    nalguns locais,
    por causa deste problema.
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    Isto é, de facto, muito importante.
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    Vamos dar uma volta
    pelo Golfo do México.
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    Uma das coisas que me impressiona
    quanto às pessoas no Golfo:
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    São pessoas muito aquáticas.
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    Sabem gerir a água,
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    sabem gerir um furacão que vem e vai.
  • 2:53 - 2:55
    Quando o nível da água baixa,
    sabem o que fazer.
  • 2:55 - 3:00
    Mas, quando qualquer outra coisa falha
    e o "habitat" aquático se altera
  • 3:00 - 3:02
    não têm muitas opções.
  • 3:02 - 3:05
    Estas comunidades inteiras
    não têm muitas opções.
  • 3:06 - 3:08
    Não têm outras coisas que fazer.
  • 3:08 - 3:12
    Não podem ir trabalhar
    na indústria dos hotéis locais
  • 3:12 - 3:15
    porque não há nenhum
    nas suas comunidades.
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    Se formos ao Golfo e olharmos
    à nossa volta, vemos muito petróleo.
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    Vemos muito petróleo no oceano.
  • 3:23 - 3:25
    Vemos muito petróleo na linha costeira.
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    Se formos ao local da erupção,
    é uma coisa inacreditável.
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    Parece que despejámos
    o cárter de óleo do nosso carro
  • 3:32 - 3:35
    e o despejámos no oceano.
  • 3:35 - 3:37
    Uma das coisas mais incríveis
  • 3:37 - 3:41
    é que não há ninguém a tentar recolhê-lo
  • 3:41 - 3:44
    no local onde é mais denso.
  • 3:44 - 3:49
    Há partes do oceano que parecem
    ter sofrido um apocalipse.
  • 3:51 - 3:55
    Passeamos ao longo da costa
    e encontramos petróleo por todo o lado.
  • 3:55 - 3:57
    É um verdadeiro caos.
  • 3:57 - 3:59
    Se formos a locais
    onde ele está a aparecer,
  • 3:59 - 4:01
    como na parte leste do Golfo,
    no Alabama,
  • 4:01 - 4:03
    ainda há pessoas a usar a praia
  • 4:03 - 4:05
    enquanto há pessoas a limpar a praia.
  • 4:05 - 4:08
    Têm uma forma muito estranha
    de limpar a praia.
  • 4:08 - 4:11
    Não têm permissão de pôr
    mais de 5 kg de areia
  • 4:11 - 4:13
    num saco de plástico de 200 litros.
  • 4:13 - 4:15
    Têm milhares e milhares
    de sacos de plástico.
  • 4:15 - 4:17
    Não sei o que vão fazer
    com aquilo tudo.
  • 4:17 - 4:20
    Entretanto, ainda há pessoas
    que usam a praia.
  • 4:20 - 4:22
    Não veem o sinal que diz:
    "Não entrem na água".
  • 4:22 - 4:24
    As crianças estão dentro de água,
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    têm alcatrão na roupa e nas sandálias
  • 4:26 - 4:28
    — fica tudo sujo.
  • 4:28 - 4:31
    Se formos onde houve petróleo,
    o caos ainda é maior.
  • 4:32 - 4:34
    Já não há ali praticamente ninguém,
  • 4:34 - 4:37
    só algumas pessoas
    que tentam usar a praia.
  • 4:38 - 4:40
    Vemos pessoas que estão
    profundamente chocadas.
  • 4:40 - 4:42
    São pessoas de trabalho.
  • 4:42 - 4:45
    Tudo o que conhecem na vida
    é levantarem-se de manhã
  • 4:45 - 4:47
    e, logo que o motor pega,
    vão trabalhar.
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    Sempre julgaram que podiam
    confiar na garantia
  • 4:51 - 4:55
    que a natureza lhes dava
    através do ecossistema do Golfo.
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    Estão a descobrir
    que o mundo delas desabou.
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    Vemos, literalmente, sinais desse choque,
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    sinais da sua indignação,
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    [A BP matou o nosso Golfo,
    a nossa forma de viver!
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    sinais da sua fúria
  • 5:13 - 5:14
    [Não podemos pescar nem nadar
  • 5:14 - 5:17
    [Como vamos alimentar
    os nossos filhos?]
  • 5:17 - 5:20
    e sinais do seu sofrimento.
  • 5:21 - 5:24
    Estas são as coisas que podemos ver.
  • 5:25 - 5:29
    Mas também há muitas coisas
    que não vemos, debaixo de água.
  • 5:30 - 5:32
    O que se está a passar debaixo de água?
  • 5:33 - 5:36
    Há pessoas que dizem
    que há manchas de petróleo.
  • 5:36 - 5:38
    Há pessoas que dizem
    que não há manchas de petróleo.
  • 5:39 - 5:41
    O congressista Markey pergunta:
  • 5:41 - 5:44
    "Vai ser preciso andar de submarino
  • 5:44 - 5:47
    "para ver se há ou não
    manchas de petróleo?"
  • 5:47 - 5:49
    Mas eu não podia
    dar uma volta de submarino,
  • 5:49 - 5:53
    principalmente na altura
    em que soube que vinha aqui hoje,
  • 5:53 - 5:56
    por isso tive de fazer
    uma pequena experiência
  • 5:56 - 5:59
    para ver se havia petróleo
    no Golfo do México.
  • 5:59 - 6:01
    Este é o Golfo do México,
  • 6:01 - 6:04
    um local transbordante de peixes.
  • 6:04 - 6:07
    Criei um pequeno derrame de petróleo
    no Golfo do México.
  • 6:08 - 6:11
    E aprendi, ou melhor,
    confirmei a hipótese
  • 6:11 - 6:13
    de que o petróleo e a água
    não se misturam...
  • 6:14 - 6:17
    enquanto não juntarmos
    um dispersante.
  • 6:18 - 6:20
    Depois,
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    começam a misturar-se.
  • 6:24 - 6:28
    Juntamos um pouco de energia
    do vento e das ondas
  • 6:28 - 6:31
    e obtemos um grande caos,
  • 6:31 - 6:34
    um problema que é impossível limpar,
  • 6:34 - 6:37
    que não podemos tocar,
    que não podemos extrair
  • 6:37 - 6:39
    e, mais importante ainda,
  • 6:39 - 6:42
    que não podemos ver.
  • 6:42 - 6:45
    Acho que estão a escondê-lo de propósito.
  • 6:45 - 6:48
    Isto é uma catástrofe tão grande,
    é um caos tão grande
  • 6:48 - 6:52
    que há muita coisa que é revelada
    à margem dos "media" principais.
  • 6:52 - 6:53
    Mas, como muita gente disse,
  • 6:53 - 6:57
    tem havido uma enorme tentativa
    de esconder o que se passa.
  • 6:57 - 6:59
    Pessoalmente, penso que os dispersantes
  • 6:59 - 7:04
    são uma estratégia
    para esconder o corpo do delito,
  • 7:04 - 7:07
    porque pusemos o criminoso
    a tomar conta do local do crime.
  • 7:08 - 7:09
    Mas podemos vê-lo.
  • 7:09 - 7:13
    Vemos onde o petróleo
    se concentrou à superfície
  • 7:13 - 7:16
    e é aí que é atacado,
  • 7:16 - 7:19
    porque, na minha opinião,
    não querem que se veja.
  • 7:20 - 7:21
    Ok.
  • 7:21 - 7:24
    Ouviram dizer que as bactérias
    comem petróleo?
  • 7:24 - 7:26
    As tartarugas marinhas também comem.
  • 7:26 - 7:27
    Quando o petróleo se decompõe,
  • 7:27 - 7:31
    demora muito tempo
    até chegar às bactérias.
  • 7:31 - 7:34
    As tartarugas comem-no.
    Agarra-se às brânquias dos peixes.
  • 7:34 - 7:37
    Estes sujeitos têm de nadar no meio dele.
  • 7:37 - 7:41
    Hoje ouvi a história mais incrível
    quando vinha para aqui, de comboio.
  • 7:42 - 7:44
    Um escritor, chamado Ted Williams
    ligou-me
  • 7:45 - 7:47
    e fez-me perguntas sobre
    o que é que eu vi,
  • 7:48 - 7:51
    porque está a escrever um artigo
    para a revista Audubon.
  • 7:51 - 7:54
    Disse que tinha estado no Golfo
    um pouco antes, uma semana antes.
  • 7:55 - 7:58
    Um tipo que tinha sido
    guia de pesca desportiva
  • 7:58 - 8:01
    tinha-lhe mostrado o que se passava.
  • 8:01 - 8:06
    Todas as marcações do ano
    daquele guia tinham sido canceladas.
  • 8:06 - 8:08
    Não tem nenhumas marcações.
  • 8:08 - 8:11
    Toda a gente quis a devolução
    do depósito, toda a gente está a fugir.
  • 8:11 - 8:13
    Isto é a história de milhares de pessoas.
  • 8:13 - 8:18
    Mas ele disse a Ted que,
    no último dia em que tinha saído,
  • 8:19 - 8:22
    apareceu, de repente, junto do barco,
    um golfinho roaz,
  • 8:23 - 8:27
    que estava a espirrar petróleo
    pelo espiráculo.
  • 8:28 - 8:33
    Afastou-se dele, porque era
    a última viagem de pesca
  • 8:34 - 8:36
    e sabia que os golfinhos
    assustam os peixes.
  • 8:36 - 8:40
    Afastou-se dele,
    deu uma volta minutos depois
  • 8:40 - 8:42
    e lá estava ele de novo
    ao lado do barco.
  • 8:42 - 8:46
    Disse que, em 30 anos de pesca,
    nunca tinha visto um golfinho fazer isso.
  • 8:46 - 8:48
    Sentiu que...
  • 8:48 - 8:49
    (Suspiro)
  • 8:49 - 8:53
    sentiu que o golfinho
    estava a pedir ajuda.
  • 8:53 - 8:54
    Desculpem.
  • 8:56 - 9:00
    No derrame do Exxon Valdez,
  • 9:00 - 9:04
    cerca de 30% das baleias assassinas
    morreram nos primeiros meses.
  • 9:05 - 9:07
    O número delas nunca mais recuperou.
  • 9:07 - 9:11
    Portanto, a taxa de recuperação
    vai ser variável.
  • 9:11 - 9:14
    Para algumas coisas, vai demorar mais.
  • 9:15 - 9:18
    E para outras coisas, segundo penso,
    pode acontecer um pouco mais depressa.
  • 9:18 - 9:21
    Outra coisa que acho importante no Golfo
  • 9:21 - 9:25
    é que há muitos animais
    que se concentram no Golfo
  • 9:25 - 9:27
    em determinadas épocas do ano.
  • 9:28 - 9:30
    O Golfo é uma importante área de água,
  • 9:30 - 9:36
    mais importante que um volume semelhante
    de água no Oceano Atlântico aberto.
  • 9:36 - 9:38
    Estes atuns nadam por todo o oceano.
  • 9:38 - 9:41
    Entram na corrente do Golfo,
    e seguem até à Europa.
  • 9:41 - 9:43
    Quando chega a época da desova,
    entram lá dentro.
  • 9:43 - 9:45
    Vemos estes dois atuns etiquetados
  • 9:45 - 9:47
    na zona da desova,
  • 9:47 - 9:50
    logo à direita da área da mancha.
  • 9:50 - 9:52
    Provavelmente, vai haver, pelo menos,
  • 9:52 - 9:55
    uma estação catastrófica
    de desova, este ano.
  • 9:55 - 9:59
    Espero que os animais adultos
    evitem essa água poluída.
  • 9:59 - 10:03
    Normalmente, não gostam
    de entrar numa água muito turva.
  • 10:03 - 10:07
    Mas são animais atléticos,
    de alto desempenho.
  • 10:07 - 10:10
    Não sei o que este material
    poderá causar às brânquias.
  • 10:10 - 10:12
    Não sei se afetará os adultos.
  • 10:12 - 10:15
    Se não, certamente afetará
    os ovos e as larvas.
  • 10:15 - 10:16
    Acredito nisso.
  • 10:17 - 10:20
    Mas, se olharmos para este gráfico,
    que vai descendo cada vez mais,
  • 10:20 - 10:22
    é isto que temos feito a esta espécie
  • 10:22 - 10:25
    através da pesca excessiva
    durante muitas décadas.
  • 10:25 - 10:30
    Embora o derrame, a fuga, a erupção
    do petróleo seja uma catástrofe,
  • 10:30 - 10:32
    penso que é importante não esquecer
  • 10:32 - 10:37
    que temos feito muito para afetar
    o que há no oceano, já há muito tempo.
  • 10:37 - 10:40
    Não estamos a lidar com uma coisa
    que estivesse em bom estado.
  • 10:40 - 10:43
    Estamos a lidar com uma coisa
    que já sofria muitas pressões
  • 10:43 - 10:45
    e tinha muitos problemas.
  • 10:45 - 10:48
    Se olharmos para as aves,
    elas são abundantes no Golfo,
  • 10:48 - 10:51
    concentram-se no Golfo
    em certas épocas do ano,
  • 10:51 - 10:53
    e depois vão-se embora.
  • 10:53 - 10:56
    Povoam áreas muito maiores.
  • 10:57 - 11:02
    Por exemplo, a maioria das aves
    nesta foto são aves migratórias.
  • 11:02 - 11:04
    Estavam todas no Golfo, em maio,
  • 11:04 - 11:07
    quando o petróleo começou
    a chegar à costa em certos locais.
  • 11:07 - 11:11
    Em baixo, à esquerda,
    temos rolas-do-mar e maçaricos-brancos.
  • 11:11 - 11:13
    Procriam no Alto-Ártico
  • 11:13 - 11:16
    e passam o inverno
    no sul da América do Sul.
  • 11:16 - 11:20
    Mas concentram-se no Golfo
    e depois espalham-se por todo o Ártico.
  • 11:20 - 11:24
    Vi no Golfo aves
    que procriam na Groenlândia.
  • 11:25 - 11:28
    Portanto, isto é um problema
    do hemisfério.
  • 11:28 - 11:33
    Os efeitos económicos, pelo menos,
    serão a nível nacional.
  • 11:33 - 11:37
    Os efeitos biológicos
    são certamente, a nível do hemisfério.
  • 11:39 - 11:44
    Penso que este é um dos exemplos
    mais extraordinários
  • 11:44 - 11:47
    da pior falta de preparação
    em que posso pensar.
  • 11:47 - 11:51
    Até quando os japoneses
    bombardearam Pearl Harbor,
  • 11:51 - 11:52
    ripostámos.
  • 11:52 - 11:56
    E agora parecemos incapazes
    de saber o que fazer.
  • 11:56 - 12:00
    Não havia preparação nenhuma
  • 12:00 - 12:03
    como vemos pelo que andam a fazer.
  • 12:03 - 12:07
    O que andam a fazer é sobretudo
    barreiras flutuantes e dispersantes.
  • 12:07 - 12:10
    As barreiras flutuantes
    não são adequadas em mar alto.
  • 12:10 - 12:15
    Nem sequer tentam cercar o petróleo
    nos sítios em que está mais concentrado.
  • 12:15 - 12:17
    Mantêm-se junto à costa
    — reparem naqueles dois barcos.
  • 12:17 - 12:20
    O da direita chama-se Fishing Fool.
  • 12:20 - 12:22
    Acho que é um nome ótimo
  • 12:22 - 12:25
    para barcos que acham
    que vão fazer qualquer coisa
  • 12:25 - 12:28
    que tenha impacto nisto, arrastando
    uma barreira flutuante entre eles
  • 12:28 - 12:32
    quando há, literalmente, centenas
    de milhares de quilómetros quadrados
  • 12:32 - 12:34
    neste momento no Golfo,
    com petróleo à superfície.
  • 12:34 - 12:38
    Os dispersantes fazem com que o petróleo
    vá diretamente para as barreiras.
  • 12:38 - 12:41
    As barreiras só têm 30 cm de diâmetro.
  • 12:42 - 12:45
    Portanto, é uma perfeita loucura.
  • 12:45 - 12:47
    Aqui estão a usar barcos camaroeiros.
  • 12:47 - 12:51
    Há centenas de barcos camaroeiros
    para rebocar barreiras em vez de redes.
  • 12:51 - 12:52
    Aqui estão a trabalhar.
  • 12:52 - 12:54
    Vemos facilmente
  • 12:54 - 12:58
    que toda a água com petróleo
    vai para a parte detrás da barreira.
  • 12:58 - 13:00
    A única coisa que fazem é agitá-la.
  • 13:00 - 13:02
    É perfeitamente ridículo.
  • 13:03 - 13:05
    Em toda a linha costeira
    onde há barreiras
  • 13:05 - 13:08
    — centenas e centenas
    de quilómetros da linha costeira —
  • 13:08 - 13:10
    em toda a linha costeira
    onde há barreiras,
  • 13:10 - 13:12
    há uma linha costeira adjacente
    que não tem barreiras.
  • 13:12 - 13:17
    Há toda a probabilidade de o petróleo
    e a água suja se infiltrarem por detrás.
  • 13:17 - 13:21
    Aquela foto em baixo é uma colónia
    de aves onde puseram barreiras.
  • 13:21 - 13:25
    Todos tentam proteger
    as colónias das aves.
  • 13:27 - 13:31
    Enquanto ornitólogo, posso dizer
    que as aves voam...
  • 13:31 - 13:33
    (Risos)
  • 13:36 - 13:41
    e que as barreiras numa colónia de aves
    não servem para nada.
  • 13:41 - 13:45
    Estas aves sobrevivem
    mergulhando na água.
  • 13:46 - 13:51
    Penso que o que deviam fazer,
    se é que deviam fazer alguma coisa,
  • 13:51 - 13:54
    — elas estão com tanta dificuldade
    em proteger os ninhos —
  • 13:55 - 13:57
    se destruíssem todos os ninhos,
  • 13:57 - 14:00
    algumas dessas aves
    ir-se-iam embora,
  • 14:00 - 14:02
    e isso seria o melhor para elas,
    este ano.
  • 14:02 - 14:05
    Enquanto que limpá-las...
  • 14:06 - 14:08
    Não estou a dizer que borrifem
  • 14:08 - 14:10
    as pessoas que estão a limpar as aves.
  • 14:10 - 14:14
    É muito importante que
    exprimamos a nossa compaixão.
  • 14:14 - 14:18
    Penso que o mais importante
    que as pessoas têm é a empatia.
  • 14:18 - 14:22
    É muito importante arranjar
    estas imagens e mostrá-las.
  • 14:22 - 14:25
    Mas para onde vão estas aves
    depois de libertadas?
  • 14:25 - 14:28
    É como retirar uma pessoa
    de um edifício em chamas,
  • 14:28 - 14:29
    tratá-la por inalação de fumo
  • 14:29 - 14:33
    e depois mandá-la de volta para o edifício
    porque o petróleo continua a jorrar.
  • 14:34 - 14:37
    Recuso-me a aceitar que isto
    é um acidente,
  • 14:38 - 14:41
    penso que é fruto
    duma enorme negligência.
  • 14:41 - 14:45
    (Aplausos)
  • 14:46 - 14:49
    Não só da BP.
  • 14:49 - 14:55
    A BP funcionou descuidada
    e irresponsavelmente, porque pôde.
  • 14:55 - 14:57
    Permitiram que assim fosse,
  • 14:57 - 15:02
    por causa da total ausência
    de fiscalização do governo
  • 15:02 - 15:06
    que, supostamente,
    devia proteger-nos.
  • 15:08 - 15:10
    Acontece
  • 15:10 - 15:13
    — vemos este aviso em todos
    os navios comerciais dos EUA —
  • 15:13 - 15:16
    se despejarmos uns quantos
    litros de petróleo,
  • 15:16 - 15:18
    ficaremos metidos em maus lençóis.
  • 15:18 - 15:22
    Temos de pensar para quem
    são feitas as leis
  • 15:22 - 15:25
    e quem está acima das leis.
  • 15:25 - 15:28
    Há coisas que podemos fazer, no futuro.
  • 15:28 - 15:31
    Podíamos ter o tipo de equipamento
    de que precisamos.
  • 15:31 - 15:34
    Não seria preciso muito
    para prever
  • 15:34 - 15:36
    que, depois de fazer 30 000 furos
  • 15:36 - 15:39
    no fundo do mar do Golfo do México
    à procura de petróleo,
  • 15:39 - 15:42
    o petróleo podia começar a jorrar
    por um deles.
  • 15:42 - 15:45
    E teríamos uma ideia do que fazer.
  • 15:45 - 15:47
    É certamente uma das coisas
    que precisamos fazer.
  • 15:47 - 15:51
    Mas penso que temos de perceber
    onde começou esta fuga.
  • 15:52 - 15:57
    Começou pela destruição da ideia
    de que o governo está ali
  • 15:57 - 15:59
    porque é o nosso governo,
  • 15:59 - 16:02
    comprometido em proteger
    o maior interesse público.
  • 16:03 - 16:05
    [Causas de base: Dinheiro e Ideologia]
  • 16:06 - 16:10
    Por isso, penso que a erupção
    do petróleo, a salvação da banca,
  • 16:11 - 16:14
    a crise das hipotecas
    e essas coisas todas
  • 16:14 - 16:17
    são sintomas das mesmas causas.
  • 16:18 - 16:21
    Parece que ainda percebemos
    que, pelo menos,
  • 16:21 - 16:25
    precisamos que a polícia nos proteja
    de algumas pessoas más.
  • 16:26 - 16:29
    Mesmo que essa polícia
    possa ser irritante, por vezes
  • 16:29 - 16:30
    — dando-nos multas e coisas dessas —
  • 16:31 - 16:33
    ninguém diz que devíamos
    prescindir dela.
  • 16:33 - 16:36
    Mas em tudo o resto
    do governo, neste momento,
  • 16:36 - 16:38
    e durante os últimos 30 anos,
  • 16:38 - 16:41
    tem havido uma cultura
    de desregulamentação
  • 16:41 - 16:46
    que é causada diretamente
    pelas pessoas que nos deviam proteger,
  • 16:47 - 16:50
    que compram o governo,
    nas nossas costas.
  • 16:51 - 16:53
    (Aplausos)
  • 17:00 - 17:03
    Isto tem sido um problema
    já há muito tempo.
  • 17:03 - 17:09
    Vemos que houve empresas
    ilegais na fundação dos EUA
  • 17:09 - 17:11
    e até Thomas Jefferson se queixou
  • 17:11 - 17:17
    de que elas já punham em causa
    as leis do nosso país.
  • 17:18 - 17:21
    Ok, pessoas que alegam ser conservadoras,
  • 17:22 - 17:26
    se realmente quisessem
    ser conservadoras e patrióticas,
  • 17:27 - 17:30
    mandariam essas empresas para o diabo.
  • 17:30 - 17:33
    É isso que significa ser conservador.
  • 17:35 - 17:39
    O que precisamos fazer
    é reconquistar a ideia
  • 17:39 - 17:42
    de que o nosso governo
    tem que salvaguardas os nossos interesses
  • 17:42 - 17:46
    e reconquistar um sentimento de unidade
    e de causa comum no nosso país
  • 17:46 - 17:48
    que já se perdeu.
  • 17:49 - 17:51
    Penso que há sinais de esperança.
  • 17:51 - 17:53
    Parece que estamos a acordar.
  • 17:53 - 17:55
    A Lei Glass-Steagall
  • 17:55 - 17:59
    — que nos protegia do tipo de coisas
    que provocaram a recessão,
  • 18:00 - 18:03
    e do colapso da banca e de tudo
    o que exigiu as operações de salvamento —
  • 18:03 - 18:08
    que entrou em vigor em 1933,
    foi sistematicamente destruída.
  • 18:08 - 18:12
    Agora há um sentimento
    de voltar a pôr essa lei em vigor
  • 18:12 - 18:16
    mas os "lobbystas" já estão
    a tentar enfraquecer as regulamentações
  • 18:16 - 18:19
    depois de a legislação ter sido aprovada.
  • 18:19 - 18:21
    Isto é uma luta permanente.
  • 18:21 - 18:23
    Estamos num momento histórico.
  • 18:23 - 18:27
    Ou vamos para uma catástrofe
    absolutamente irreparável
  • 18:27 - 18:29
    como esta fuga de petróleo no Golfo,
  • 18:29 - 18:31
    ou aproveitamos o momento
    de que precisamos para sair disto,
  • 18:32 - 18:33
    como muita gente já compreendeu.
  • 18:33 - 18:35
    Há aqui um tema comum
  • 18:35 - 18:37
    quanto à necessidade
    de aproveitar este momento.
  • 18:37 - 18:42
    Já passámos por isto antes, com outras
    formas de perfuração "offshore".
  • 18:42 - 18:44
    Os primeiros poços "offshore"
    chamaram-se "baleias".
  • 18:44 - 18:47
    As primeiras perfurações "offshore"
    chamaram-se "arpões".
  • 18:47 - 18:50
    Nessa época, esvaziámos
    o oceano das baleias.
  • 18:51 - 18:53
    Estaremos encurralados nisto?
  • 18:53 - 18:56
    Desde o tempo em que vivíamos em grutas,
    sempre que precisávamos de energia,
  • 18:56 - 19:00
    queimávamos qualquer coisa no fogo,
    é o que continuamos a fazer.
  • 19:00 - 19:04
    Continuamos a queimar qualquer coisa
    no fogo, sempre que precisamos de energia.
  • 19:05 - 19:08
    As pessoas dizem
    que não podemos ter energia limpa
  • 19:08 - 19:11
    porque é demasiado cara.
  • 19:11 - 19:13
    Quem diz que é demasiado cara?
  • 19:13 - 19:15
    As pessoas que nos vendem
    combustíveis fósseis.
  • 19:15 - 19:18
    Já passámos pelo mesmo com a energia.
  • 19:18 - 19:22
    As pessoas diziam que a economia
    não suportava uma mudança
  • 19:22 - 19:25
    porque a energia mais barata
    era a escravatura.
  • 19:26 - 19:28
    A energia é sempre uma questão moral.
  • 19:28 - 19:31
    É um problema que é moral,
    neste momento também.
  • 19:31 - 19:33
    É uma questão de certo e errado.
  • 19:33 - 19:34
    Muito obrigado.
  • 19:34 - 19:36
    (Aplausos)
Title:
Os culpados e as vítimas ocultas do derrame do petróleo
Speaker:
Carl Safina
Description:

O derrame de petróleo no Golfo do México desafia a nossa compreensão mas, pelo menos, sabemos uma coisa: é mau. Carl Safina arranha a superfície dos factos neste exame escaldante, defendendo que as consequências se estenderão muito para além do Golfo — e muitas das alegadas soluções só pioram a situação.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:35

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