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Porque é que a especialização precoce nem sempre leva ao sucesso na carreira

  • 0:02 - 0:05
    Vou falar do desenvolvimento
    do potencial humano
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    e vou começar com a história
    do desenvolvimento moderno,
  • 0:08 - 0:10
    talvez de maior impacto.
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    Muitos de vocês talvez já tenham
    ouvido falar da regra das 10 000 horas.
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    Talvez até ajustem a vossa vida
    a essa regra.
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    Basicamente, é a ideia de que,
    para se ser excecional nalguma coisa
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    são precisas 10 000 horas
    de prática concentrada,
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    por isso o melhor é começar
    o mais cedo possível.
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    O exemplo desta história é o Tiger Woods
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    Sabe-se que pai lhe ofereceu um taco
    quando ele tinha sete meses.
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    Aos 10 meses, começou a imitar
    a tacada do pai.
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    Aos dois anos, podem ir ao YouTube
    vê-lo num canal de televisão nacional.
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    Aos 21 anos, é o maior jogador
    de golfe do mundo,
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    a quinta-essência
    da história das 10 000 horas.
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    Outra história que aparece
    em muitos livros "best-sellers"
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    é a das três irmãs Polgar,
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    cujo pai decidiu ensinar-lhes
    a jogar xadrez, de forma técnica,
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    desde muito novinhas.
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    Na realidade, ele queria mostrar
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    que com um êxito precoce
    numa prática concentrada,
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    qualquer criança podia ser
    um génio em qualquer coisa.
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    De facto, duas das filhas
    vieram a ser grão-mestres de xadrez
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    Quando passei a escritor de ciência
    na revista "Sports Illustrater",
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    fiquei curioso
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    Se esta regra das 10 000 horas
    estava certa,
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    devíamos ver que os atletas de elite
    têm um êxito precoce
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    na chamada "prática deliberada",
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    ou seja, um exercício orientado
    para a correção do erro,
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    não andar apenas a brincar.
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    Quando os cientistas
    estudam os atletas de elite,
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    verificam que eles gastam
    mais tempo na prática deliberada
  • 1:23 - 1:24
    — o que não é grande surpresa.
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    Quando acompanham o percurso
    de desenvolvimento dos atletas,
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    o padrão é este:
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    os futuros atletas de elite
    gastam menos tempo de início
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    na prática deliberada
    do seu desporto final.
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    Normalmente têm o que os cientistas
    chamam "período de amostragem"
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    em que experimentam
    diversas atividades físicas,
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    adquirem capacidades gerais e variadas,
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    ficam a conhecer
    os seus interesses e capacidades
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    e adiam a especialização por mais tempo
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    do que os que atingem
    um nível estável mais cedo.
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    Então, quando vi isso, pensei:
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    "Céus, isto não encaixa
    na regra das 10 000 horas, pois não?"
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    Comecei, então, a analisar outras áreas
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    que associamos à especialização
    obrigatoriamente precoce,
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    como a música.
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    O padrão é frequentemente semelhante.
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    Este é um estudo,
    de uma escola de música mundial,
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    e quero salientar
    que os músicos excecionais
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    só começaram a gastar mais tempo
    do que os músicos medianos
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    na prática deliberada,
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    no terceiro instrumento.
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    Também eles, normalmente,
    têm um período de amostragem,
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    mesmo os músicos
    notavelmente precoces
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    como o Yo-Yo Ma.
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    Ele teve um período de experiência,
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    só que ultrapassou-o mais depressa
    que a maioria dos músicos.
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    Contudo, este estudo
    é quase totalmente ignorado.
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    Tem muito mais impacto
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    a primeira página do livro
    "Battle Hym of the Tiger Mother",
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    onde a autora recorda
    quando entregou o violino à sua filha.
  • 2:35 - 2:37
    Ninguém se lembra
    da parte mais à frente no livro
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    em que a filha se vira para a mãe e diz:
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    "Tu é que escolheste,
    não fui eu!" e desiste.
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    Depois de ver este padrão surpreendente
    no desporto e na música,
  • 2:45 - 2:48
    comecei a analisar outras áreas
    que ainda afetam mais as pessoas,
  • 2:48 - 2:49
    como o ensino.
  • 2:49 - 2:50
    Uma experiência natural
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    encontrada nos sistemas de ensino
    de Inglaterra e da Escócia.
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    mostrou sistemas muito parecidos,
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    mas, em Inglaterra, os alunos tinham
    de se especializar por volta dos 15 anos
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    e escolher um curso específico
    de estudos, para isso,
  • 3:02 - 3:05
    enquanto na Escócia continuavam
    a experimentar coisas até à universidade,
  • 3:05 - 3:06
    se quisessem.
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    E perguntava: Quem leva a melhor:
    os que se especializam cedo ou tarde?
  • 3:10 - 3:13
    Observou que os que escolheram
    mais cedo, destacam-se no rendimento
  • 3:13 - 3:15
    porque têm mais capacidades
    numa área específica.
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    Os que escolheram mais tarde
    procuram coisas diferentes
  • 3:18 - 3:20
    e, quando escolhem, adaptam-se melhor
  • 3:20 - 3:22
    ou têm "qualidade de correspondência".
  • 3:22 - 3:25
    Por isso, as taxas de crescimento
    são mais rápidas.
  • 3:25 - 3:28
    Mas. passados seis anos, desaparece
    essa diferença de rendimento
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    Entretanto, os que escolheram mais cedo,
    abandonam a carreira em número mais alto
  • 3:32 - 3:34
    porque, como tiveram
    de escolher muito cedo.
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    fizeram más escolhas com maior frequência.
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    Assim, os especialistas tardios
    perdem a curto prazo,
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    mas ganham a longo prazo.
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    Se pensássemos na escolha
    da carreira como um namoro,
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    talvez não pressionássemos as pessoas
    para assentarem tão depressa.
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    Vendo este padrão outra vez,
    fiquei interessado em explorar
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    o desenvolvimento de pessoas
    cujo trabalho admiro há anos,
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    como o Duke Ellington, que rejeitou
    aulas de música em criança
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    para se dedicar ao basebol,
    à pintura e ao desenho.
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    Maryam Mirzakhani não se interessava
    pela matemática, em jovem
  • 4:00 - 4:01
    — sonhava ser escritora —
  • 4:01 - 4:04
    e acabou por ser a primeira
    e até agora a única mulher
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    a ganhar a medalha Fields,
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    o mais prestigiado prémio da matemática.
  • 4:07 - 4:10
    Vincent Van Gogh
    teve cinco carreiras diferentes,
  • 4:10 - 4:11
    que achava serem a sua real vocação,
  • 4:11 - 4:14
    antes de se desvanecerem
    de forma espetacular
  • 4:14 - 4:18
    e, quase aos 30 anos, encontrou um livro
    chamado "O Guia do ABC do Desenho".
  • 4:18 - 4:20
    Resultou bem.
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    Claude Shannon, engenheiro de
    eletricidade na universidade de Michigan,
  • 4:23 - 4:26
    fez um curso de filosofia
    apenas para cumprir um requisito.
  • 4:26 - 4:29
    Nele, ficou a conhecer um sistema
    de lógica com quase um século.
  • 4:29 - 4:33
    em que as afirmações verdadeiras e falsas
    eram codificadas com uns e zeros
  • 4:33 - 4:35
    e resolvidas como problemas de matemática.
  • 4:35 - 4:37
    Isso levou ao desenvolvimento
    do código binário,
  • 4:37 - 4:40
    que está na base de
    todos os computadores digitais atuais.
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    Por fim, Frances Hesselbein,
    o meu modelo de inspiração
  • 4:43 - 4:44
    — aqui sou eu com ela.
  • 4:44 - 4:47
    Ela teve o primeiro trabalho
    profissional aos 54 anos
  • 4:47 - 4:51
    e acabou em CEO da Girls Scouts,
    que salvou.
  • 4:51 - 4:52
    Triplicou os sócios minoritários,
  • 4:53 - 4:55
    e adicionou 130 000 voluntários.
  • 4:55 - 4:59
    Este é um dos certificados profissionais
    que resultaram da gestão dela:
  • 4:59 - 5:02
    é um código binário para raparigas
    que estudam informática.
  • 5:02 - 5:04
    Atualmente, Frances gere
    um instituto de liderança
  • 5:04 - 5:06
    onde trabalha,
    todos os dias, em Manhanttan.
  • 5:06 - 5:09
    Só tem 104 anos,
    quem sabe o que vem a seguir?
  • 5:09 - 5:11
    (Risos)
  • 5:11 - 5:13
    Já ouviram histórias
    de progressão como esta?
  • 5:13 - 5:16
    Nunca nos falaram da investigação
    que descobriu que os cientistas
  • 5:16 - 5:18
    premiados com o Nobel
    têm 22 vezes mais hipóteses
  • 5:18 - 5:21
    do que os cientistas típicos
    de ter um "hobby".
  • 5:21 - 5:22
    Nunca ouvimos falar nisso.
  • 5:22 - 5:25
    Mesmo quando os artistas
    ou a obra são muito famosos,
  • 5:25 - 5:28
    não ouvimos falar destas
    histórias de desenvolvimento.
  • 5:28 - 5:30
    Este é um atleta que tenho acompanhado.
  • 5:30 - 5:33
    Aqui quando tinha seis anos,
    com o "kit" de râguebi da Escócia.
  • 5:33 - 5:35
    Experimentou ténis, esqui, luta livre.
  • 5:35 - 5:37
    A mãe dele era treinadora de ténis
    mas recusou-se a treiná-lo
  • 5:38 - 5:40
    porque ele não batia
    as bolas normalmente.
  • 5:40 - 5:42
    Jogou basquetebol,
    pingue-pongue, fez natação
  • 5:42 - 5:44
    para ele jogar com rapazes mais velhos,
  • 5:44 - 5:47
    ele recusava, porque ele
    só queria falar de luta livre,
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    depois do treino, com os amigos.
  • 5:49 - 5:51
    E continuou a experimentar
    mais desportos:
  • 5:51 - 5:54
    andebol, voleibol, futebol,
    badminton, "skate"...
  • 5:54 - 5:57
    Então, quem é este amador?
  • 5:57 - 5:58
    É o Roger Federer.
  • 5:59 - 6:02
    Em adulto, tão famoso como Tiger Woods,
  • 6:02 - 6:05
    contudo, mesmo os entusiastas do ténis
  • 6:05 - 6:07
    raramente conhecem
    a história da sua evolução.
  • 6:07 - 6:09
    Porquê, apesar de isto ser a norma?
  • 6:09 - 6:13
    Penso que, em parte, é porque
    a história do Tiger é muito notável,
  • 6:13 - 6:15
    mas também porque parece
    que esta narrativa organizada
  • 6:15 - 6:20
    pode ser extrapolada para qualquer coisa
    em que queremos ser bons na nossa vida.
  • 6:20 - 6:22
    Mas, acho que isso é um problema,
  • 6:22 - 6:25
    porque acontece que, em muitos aspetos,
    o golfe é um modelo horrível
  • 6:25 - 6:27
    de quase tudo o que
    as pessoas querem aprender.
  • 6:27 - 6:28
    (Risos)
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    O golfe é o epíteto daquilo
    a que o psicólogo Robin Hogarth chama
  • 6:31 - 6:34
    "ambiente de aprendizagem amável".
  • 6:34 - 6:37
    Nos ambientes de aprendizagem amáveis,
    os objetivos são claros,
  • 6:37 - 6:38
    as regras são claras e nunca mudam.
  • 6:38 - 6:41
    Quando fazemos uma coisa,
    recebemos um "feedback" rápido e exato.
  • 6:42 - 6:44
    O trabalho do próximo ano
    será como no ano passado.
  • 6:44 - 6:46
    O xadrez também é um ambiente igual.
  • 6:46 - 6:48
    A vantagem do grão-mestre
  • 6:48 - 6:50
    baseia-se em conhecer
    os padrões recorrentes,
  • 6:50 - 6:52
    o que é também a razão
    de ser tão fácil de automatizar.
  • 6:52 - 6:55
    Por outro lado, há os "ambientes
    de aprendizagem traiçoeiros",
  • 6:55 - 6:58
    em que os objetivos podem não ser claros,
  • 6:58 - 6:59
    as regras podem mudar.
  • 6:59 - 7:02
    Podemos ter ou não "feedback"
    quando fazemos alguma coisa.
  • 7:02 - 7:05
    Pode ser tardio, pode não ser exato,
  • 7:04 - 7:07
    e o trabalho do próximo ano,
    pode não se parecer com o ano passado.
  • 7:07 - 7:11
    Portanto, qual destes mundos
    se parece cada vez mais com o nosso?
  • 7:11 - 7:13
    De facto, a nossa necessidade
    de pensar de forma adaptável
  • 7:13 - 7:15
    e de seguir as partes interligadas
  • 7:15 - 7:17
    mudou profundamente a nossa perceção.
  • 7:17 - 7:20
    Quando olhamos para este diagrama,
  • 7:20 - 7:22
    o círculo central da direita,
    pode parecer-nos maior
  • 7:22 - 7:24
    porque o nosso cérebro é traído
  • 7:24 - 7:26
    pela relação das partes no todo,
  • 7:26 - 7:29
    enquanto alguém que não foi
    exposto ao trabalho moderno
  • 7:29 - 7:32
    com as suas exigências
    de pensamento conceptual adaptável,
  • 7:32 - 7:35
    verá, e bem, que os círculos
    do centro têm o mesmo tamanho.
  • 7:35 - 7:38
    Portanto, cá estamos no mundo
    de trabalho traiçoeiro,
  • 7:38 - 7:42
    e aí, por vezes, a hiperespecialização
    pode virar-se contra nós.
  • 7:42 - 7:44
    Por exemplo, uma investigação
    numa dúzia de países,
  • 7:44 - 7:46
    que comparou as pessoas
    com a escolaridade dos pais,
  • 7:46 - 7:48
    as suas notas dos testes,
  • 7:48 - 7:50
    os seus anos de escolaridade,
  • 7:50 - 7:53
    a diferença era que alguns
    tiveram um ensino centrado na carreira,
  • 7:53 - 7:55
    e outros tiveram um ensino mais alargado.
  • 7:55 - 7:57
    Os que tiveram um ensino
    centrado na carreira,
  • 7:57 - 8:00
    têm possibilidade de ser
    contratados imediatamente
  • 8:00 - 8:02
    e mais probabilidades
    de ganhar logo mais
  • 8:02 - 8:04
    mas adaptam-se menos
    ao mundo de trabalho em mudança
  • 8:04 - 8:07
    e mantêm-se menos tempo
    no mercado de trabalho.
  • 8:07 - 8:10
    Ganham a curto prazo
    e perdem a longo prazo.
  • 8:10 - 8:13
    Ou consideremos um famoso
    estudo de 20 anos
  • 8:13 - 8:16
    sobre especialistas que fizeram
    previsões económicas e geopolíticas.
  • 8:16 - 8:20
    Os piores analistas
    foram os peritos mais especializados
  • 8:20 - 8:24
    aqueles que tinham passado toda a carreira
    a estudar um ou dois problemas
  • 8:24 - 8:27
    e viam o mundo inteiro
    através de uma lente ou modelo mental.
  • 8:27 - 8:28
    Alguns deles até pioraram
  • 8:28 - 8:30
    à medida que acumulavam
    experiência e referências.
  • 8:31 - 8:35
    Os melhores analistas eram as pessoas
    brilhantes com interesses variados
  • 8:36 - 8:38
    Mas nalgumas áreas, como a medicina,
  • 8:38 - 8:41
    a especialização crescente
    tem sido inevitável e benéfica,
  • 8:41 - 8:42
    não há dúvida.
  • 8:42 - 8:45
    Contudo, tem sido uma faca de dois gumes.
  • 8:45 - 8:48
    Há anos, a cirurgia mais corrente
    para tratar as dores no joelho
  • 8:48 - 8:50
    foi testada num ensaio
    controlado por placebo.
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    Uns doentes tiveram uma "cirurgia falsa".
  • 8:52 - 8:54
    Os cirurgiões faziam uma incisão,
  • 8:54 - 8:57
    fingiam fazer alguma coisa
    e suturavam o doente.
  • 8:57 - 8:59
    Isso funcionou muito bem.
  • 8:59 - 9:01
    Mas os cirurgiões especialistas
    no procedimento
  • 9:01 - 9:04
    continuam a fazer isto aos milhões.
  • 9:04 - 9:08
    Se a hiperespecialização nem sempre é
    a solução num mundo cruel, então o que é?
  • 9:08 - 9:10
    Pode ser difícil falar disto,
  • 9:10 - 9:12
    porque nem sempre tem este aspeto.
  • 9:12 - 9:14
    Às vezes é como ziguezaguear
    e deambular
  • 9:14 - 9:16
    ou manter uma visão mais alargada.
  • 9:16 - 9:18
    Pode parecer que se fica para trás.
  • 9:18 - 9:20
    Mas vou falar do que podem
    ser alguns truques.
  • 9:20 - 9:24
    A investigação sobre inovação tecnológica,
    mostra, de forma crescente,
  • 9:24 - 9:27
    que a maioria das patentes com impacto
    não são da autoria de indivíduos
  • 9:27 - 9:30
    que aprofundam cada vez mais
    uma área da tecnologia
  • 9:30 - 9:32
    como classificado pelo instituto
    de patentes dos EUA,
  • 9:32 - 9:35
    mas sobretudo por equipas
    que incluem indivíduos
  • 9:35 - 9:38
    que trabalharam num grande número
    de diferentes classes de tecnologia
  • 9:38 - 9:40
    e muitas vezes juntam coisas
    de diferentes áreas.
  • 9:40 - 9:44
    Alguém cujo trabalho admiro,
    e que trabalhou na vanguarda disto,
  • 9:44 - 9:46
    é um japonês chamado Gunpei Yokoi.
  • 9:46 - 9:48
    Yokoi teve má nota no exame
    de eletrónica, na escola,
  • 9:48 - 9:52
    por isso teve de aceitar um trabalho
    inferior, na manutenção de máquinas,
  • 9:52 - 9:54
    numa empresa de jogos
    de cartas em Quioto.
  • 9:54 - 9:57
    Percebeu que não estava preparado
    para trabalhar em tecnologia de ponta,
  • 9:57 - 9:59
    mas havia tanta informação de fácil acesso
  • 9:59 - 10:02
    que talvez pudesse combinar as coisas
    que já eram conhecidas
  • 10:02 - 10:06
    de uma forma que os especialistas
    estavam demasiado limitados para ver.
  • 10:06 - 10:09
    Juntou a tecnologia muito conhecida
    da indústria de calculadoras
  • 10:09 - 10:12
    com a tecnologia conhecida
    da indústria de cartões de crédito
  • 10:12 - 10:14
    e fez jogos portáteis que foram um êxito.
  • 10:14 - 10:17
    E transformou a empresa
    de jogos de cartas,
  • 10:17 - 10:20
    que fora fundada numa montra
    de madeira do século XIX,
  • 10:20 - 10:22
    numa operadora de brinquedos e jogos.
  • 10:22 - 10:24
    Devem ter ouvido falar dela:
    chama-se Nintendo.
  • 10:24 - 10:26
    A filosofia criativa de Yokoi
  • 10:26 - 10:29
    traduziu-se em "pensamento lateral
    com uma tecnologia ultrapassada",
  • 10:29 - 10:32
    dando nova utilização a uma
    tecnologia conhecida.
  • 10:32 - 10:35
    E a sua obra prima foi isto:
    o "Game Boy".
  • 10:35 - 10:37
    Uma piada tecnológica
    em todos os sentidos.
  • 10:37 - 10:41
    Apareceu ao mesmo tempo que
    o concorrente a cores da Saga e da Atari,
  • 10:41 - 10:43
    mas bateu-os aos pontos,
  • 10:43 - 10:45
    porque Yokoi sabia que
    os que os clientes queriam
  • 10:45 - 10:47
    não era a cor.
  • 10:47 - 10:51
    Era a durabilidade e a portabilidade,
    o preço baixo, a duração da bateria.
  • 10:51 - 10:52
    a variedade de jogos.
  • 10:52 - 10:55
    Este é o meu que encontrei
    na arrecadação dos meus pais.
  • 10:55 - 10:56
    (Risos)
  • 10:56 - 10:57
    Já teve melhores dias.
  • 10:57 - 10:59
    Mas a luz vermelha está acesa.
  • 10:59 - 11:01
    Liguei-o, joguei um pouco de Tetris,
  • 11:01 - 11:03
    coisa que achei impressionante
  • 11:03 - 11:06
    porque as pilhas tinham expirado
    em 2007 e 2013.
  • 11:06 - 11:07
    (Risos)
  • 11:07 - 11:11
    Portanto esta vantagem ainda é válida
    em campos mais subjetivos.
  • 11:11 - 11:14
    Num estudo fascinante sobre o que guia
    alguns autores de banda desenhada
  • 11:14 - 11:18
    para aumentarem a probabilidade
    de criar séries de grande sucesso,
  • 11:18 - 11:19
    uns investigadores descobriram
  • 11:19 - 11:22
    que não tinham sido os anos
    de experiência na área
  • 11:22 - 11:25
    nem os recursos do editor
  • 11:25 - 11:28
    nem o número de séries já criadas.
  • 11:28 - 11:32
    Tinha sido o número de géneros diferentes
    em que um autor já tinha trabalhado.
  • 11:32 - 11:33
    E curiosamente,
  • 11:33 - 11:37
    um indivíduo polivalente
    não podia ser totalmente substituído
  • 11:37 - 11:39
    por uma equipa de especialistas.
  • 11:39 - 11:42
    Provavelmente não fazemos tantas
    pessoas destas como podíamos fazer
  • 11:42 - 11:45
    porque, no início,
    elas pareciam ficar para trás
  • 11:45 - 11:49
    e nós não incentivamos nada que não
    se pareça com um êxito precoce
  • 11:49 - 11:50
    ou especialização.
  • 11:50 - 11:53
    Estou a pensar na boa intenção
    de um êxito precoce,
  • 11:53 - 11:55
    por vezes, de forma contraproducente,
  • 11:55 - 11:57
    até prejudicamos a forma
    como aprendemos coisas novas,
  • 11:57 - 11:59
    a um nível essencial.
  • 11:59 - 12:02
    Num estudo do ano passado,
    turmas do sétimo ano nos EUA
  • 12:02 - 12:06
    foram aleatoriamente distribuídas
    por diferentes métodos de aprendizagem.
  • 12:06 - 12:08
    Alguns tiveram
    a chamada "prática em blocos".
  • 12:08 - 12:10
    É como ter um problema tipo A,
  • 12:10 - 12:12
    AAAAA, BBBBB, e por aí fora.
  • 12:13 - 12:14
    O progresso é rápido,
  • 12:14 - 12:16
    as crianças estão contentes,
    tudo é ótimo.
  • 12:17 - 12:20
    Outras turmas receberam
    a chamada "prática intercalada".
  • 12:20 - 12:24
    É como se pegássemos em todos
    os tipos de problemas e os misturássemos
  • 12:24 - 12:26
    e os tirássemos aleatoriamente.
  • 12:26 - 12:28
    O progresso é mais lento,
    as crianças ficam mais frustradas.
  • 12:29 - 12:31
    Mas, em vez de aprenderem
    como executar os procedimentos,
  • 12:31 - 12:34
    elas aprendem a ligar uma
    estratégia a um tipo de problema.
  • 12:35 - 12:37
    E chegada a hora de fazer um teste,
  • 12:37 - 12:40
    o grupo intercalado ultrapassou
    o grupo de prática em bloco.
  • 12:40 - 12:42
    Com uma grande diferença.
  • 12:42 - 12:45
    Achei muitos destes estudos
    profundamente contraintuitivos,
  • 12:45 - 12:47
    a ideia de que uma vantagem inicial
  • 12:47 - 12:50
    seja na escolha duma carreira,
    de uma disciplina de estudo,
  • 12:50 - 12:51
    seja na aprendizagem de coisas novas,
  • 12:51 - 12:54
    pode prejudicar
    o desenvolvimento a longo prazo.
  • 12:54 - 12:57
    Naturalmente, acho que há
    tantas formas de ter sucesso
  • 12:57 - 12:58
    quantas as pessoas.
  • 12:58 - 13:02
    Mas acho que tendemos a incentivar
    e encorajar o caminho de Tiger,
  • 13:02 - 13:04
    quando cada vez mais,
    num mundo traiçoeiro,
  • 13:04 - 13:07
    precisamos de pessoas que façam
    também o percurso de Roger.
  • 13:07 - 13:09
    Ou, tal como disse
    o ilustre físico e matemático,
  • 13:09 - 13:13
    e escritor maravilhoso, Freeman Dyson
  • 13:13 - 13:15
    — Dyson faleceu ontem,
  • 13:15 - 13:18
    por isso espero estar aqui
    a homenagear as palavras dele —
  • 13:18 - 13:23
    ele disse: um ecossistema saudável
    precisa de pássaros e sapos.
  • 13:23 - 13:25
    Os sapos estão lá em baixo na lama,
  • 13:25 - 13:27
    e veem todos os pequenos pormenores.
  • 13:27 - 13:29
    Os pássaros voam no alto,
    não veem esses pormenores
  • 13:29 - 13:31
    mas integram o conhecimento dos sapos.
  • 13:31 - 13:33
    Nós precisamos de ambos.
  • 13:33 - 13:34
    O problema, afirmava Dyson,
  • 13:34 - 13:37
    é que estamos a dizer a todos
    que sejam sapos.
  • 13:37 - 13:40
    E, eu acho que, num mundo traiçoeiro,
  • 13:40 - 13:42
    isso é cada vez mais limitativo.
  • 13:42 - 13:43
    Muito obrigado.
  • 13:43 - 13:46
    (Aplausos)
Title:
Porque é que a especialização precoce nem sempre leva ao sucesso na carreira
Speaker:
David Epstein
Description:

Um êxito precoce nem sempre nos ajuda a progredir. Com exemplos do desporto, da tecnologia e da economia, o jornalista David Epstein explica como é que a especialização demasiado cedo, numa competência específica, pode prejudicar a nossa evolução a longo prazo — e explica os benefícios de um "período de amostragem" em que experimentamos coisas novas e nos concentramos em criar uma diversidade de aptidões. Saibam como esta mentalidade mais abrangente, embora contraintuitiva (e um calendário mais indulgente) pode levar a uma vida mais realizada, pessoal e profissionalmente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:00

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