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Title:
Por que as estatísticas são tão fascinantes: os números falam de nós mesmos | Alan Smith | TEDxExeter
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Description:
Quão bem você conhece o lugar onde vive? Alan nos mostra que os dados podem confundir nossas expectativas. Durante a palestra, ele desfaz o mito de que existem dois tipos de pessoas: aqueles que sabem "fazer contas" e aqueles que não sabem.
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No TEDxExeter 2016, os oradores abraçaram a ideia de movimento, que para debater as questões mais difíceis para a humanidade, é necessário ter primeiro uma visão, um sonho e então agir.
Produção de Vídeo Chromatrope (http://chromatrope.co.uk/)
Diretor de Produção Andy Robertson (http://www.youtube.com/familygamertv)
Alan Smith é editor de Visualização de Dados para o Financial Times. Ele trabalha com equipes gráficas, interativas e estatísticas para dar nova vida à maneira como os dados são apresentados, on-line ou impressos. Alan juntou-se recentemente ao FT, deixando o Escritório Nacional de Estatística no qual era Diretor de Conteúdo Digital e criou o Centro de Visualização de Dados.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, usando o formato de conferência TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
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Speaker:
Alan Smith
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Em 2003,
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o governo do Reino Unido
realizou uma pesquisa.
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O objetivo era medir
o nível de aptidão numérica
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da população.
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Ficaram chocados ao descobrir
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que para cada 100 adultos
em idade ativa no país,
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47 deles sequer possuíam
uma base de aptidão numérica.
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Entendemos como nível básico,
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o mínimo requerido
para se concluir o ensino médio.
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É a habilidade de lidar com frações,
porcentagens e números decimais.
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Este número despertou uma grande
preocupação nas autoridades do país.
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Políticas foram revistas,
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investimentos foram feitos,
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e então a mesma pesquisa
foi realizada em 2011.
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Podem adivinhar o que aconteceu
com aquele número?
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Subiu para 49.
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Quando mostrei esse número
no Financial Times,
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um dos leitores soltou uma piada:
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"Este número é chocante
para apenas 51% da população".
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Mas eu fico com a reação
de um aluno ao qual também
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mostrei esta informação durante uma aula.
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Ele levantou a mão e disse:
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"Como sabemos que a pessoa
que informou esse número
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não está também entre os 49%?"
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Fica claro que há um problema
de falta de aptidão numérica,
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pois essas aptidões
são importantes para a vida,
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e muitas das mudanças que queremos
introduzir neste século,
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envolve nos tornarmos
mais familiarizados com números.
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Não se trata de um problema
apenas na Inglaterra.
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Este ano, a OCDE apresentou
alguns números relativos
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à aptidão numérica entre os jovens.
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Na liderança, os EUA,
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quase 40% dos jovens americanos
têm baixo nível de aptidão numérica.
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A Inglaterra vem logo atrás,
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há, porém, sete países da OCDE
abaixo da linha dos 20%.
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Temos um problema.
As coisas não têm que ser desse jeito.
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Olhem para o finalzinho deste gráfico,
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podemos ver a Holanda e a Coreia
abaixo da linha dos 10%.
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Definitivamente, há um problema
aqui e queremos abordá-lo.
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Mesmo com esses estudos tão úteis,
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acredito que ainda corremos
o risco de enquadrar,
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inadvertidamente, as pessoas
em uma de duas categorias.
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Existem dois tipos de pessoas:
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as familiarizadas com os números,
que sabem fazer contas,
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e as que não sabem.
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O que estou tentando dizer aqui,
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é que acredito que isso
é uma falsa dicotomia.
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Não é uma coisa ou outra.
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Acredito que não precisamos ter um nível
superelevado de aptidão numérica
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para que sejamos inspirados pelos números.
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Este é o ponto de partida
da nossa jornada.
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E, para mim, uma das maneiras
de começá-la é observando a estatística.
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Sou o primeiro a reconhecer
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que a estatística tem
algum problema de imagem.
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Esta é a parte da matemática
que nem mesmo os matemáticos gostam
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porque, enquanto, em geral, a matemática
está ligada à precisão e à certeza,
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a estatística é, praticamente,
o oposto disso.
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Na verdade, posso dizer que demorei
a me converter ao mundo da estatística.
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Se vocês perguntassem
aos meus professores da graduação
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em quais matérias eu não teria um nível
de excelência após a universidade,
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eles lhes diriam:
estatística e programação,
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e mesmo assim, estou aqui para
mostrar alguns gráficos estatísticos
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que eu mesmo programei.
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O que me inspirou a mudar?
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O que me fez pensar que estatística
era, na verdade, uma coisa interessante?
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Porque ela trata de nós.
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Olhemos para a etimologia
da palavra estatística:
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é a ciência que lida com dados
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relativos à região ou à comunidade
em que vivemos.
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Ela trata de nós mesmos como um grupo
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e não como indivíduos.
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E, como animais sociais,
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penso que compartilhamos o fascínio
pela maneira em que nós, como indivíduos,
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nos relacionamos com nossos grupos,
com nossos colegas.
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Neste sentido, a estatística
tem sua maior força
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quando ela nos surpreende.
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Algumas pesquisas formidáveis
vem sendo realizadas
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nos últimos anos, pela Ipsos MORI.
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Eles fizeram coisas bem interessantes.
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Realizaram uma pesquisa
com mais de mil adultos no Reino Unido
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que perguntava, para cada 100 pessoas
na Inglaterra e no País de Gales,
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quantas eram muçulmanas?
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A resposta normal para esta pergunta,
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que deveria ser uma parte
representativa da população...
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foi 24.
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Isso é o que as pessoas pensavam.
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Os britânicos pensam que 24 em cada
100 pessoas no país são muçulmanas.
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No entanto, os números oficiais
revelam algo em torno de cinco.
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Há uma grande discrepância
entre o que nós pensamos, nossa percepção,
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e a realidade mostrada pelas estatísticas.
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E isso é interessante.
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Qual poderia ser a causa
desse erro de percepção?
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Fiquei empolgado com esse estudo.
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Comecei a anotar perguntas
de outras palestras e fazer referências.
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Fiz a minha apresentação na St. Paul,
escola para meninas, em Hammersmith
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e havia uma plateia
bem parecida com essa,
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exceto que era composta apenas
por garotas do ensino médio.
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Então, eu disse: "Garotas,
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quantas adolescentes vocês acham
que ficam grávidas a cada ano,
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segundo a opinião dos britânicos?"
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Elas ficaram indignadas quando eu disse
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que o britânico médio acha
que 15 em cada 100 adolescentes
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engravidam a cada ano.
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Elas tinham o direito de ficarem bravas
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porque precisaríamos
de cerca de 200 pontos aqui,
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para que eu pudesse colorir apenas um,
segundo o que os números oficiais dizem.
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Assim como a falta de aptidão numérica,
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este também não é um problema
exclusivamente nosso.
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A Ipsos MORI expandiu a pesquisa
recentemente para o mundo todo.
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Eles perguntaram aos sauditas:
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para cada 100 pessoas em seu país,
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quantas entre elas estão
acima do peso ou obesas?
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E, na média, a reposta dos sauditas
foi um pouco mais de um quarto.
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É o que eles pensavam:
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que um quarto dos adultos
estão acima do peso ou obesos.
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Os número oficiais mostram que a resposta
está próxima de três quartos.
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Novamente, uma variação grande.
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Adoro esta aqui: perguntaram
no Japão aos japoneses,
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quantos em cada 100 japoneses
vivem em áreas rurais?
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Ficou um pouco acima dos 50%.
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Disseram que 56 em cada 100 japoneses
vivem em áreas rurais.
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O número oficial é sete.
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São variações extraordinárias
e surpreendentes para alguns,
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mas não para aqueles
que leram, por exemplo,
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o trabalho de Daniel Kahneman,
ganhador do Nobel em Economia.
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Ele e seu parceiro, Amos Tversky, passaram
anos pesquisando este tipo de discrepância
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entre o que as pessoas
percebem e a realidade,
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o fato de que a intuição estatística
das pessoas é, na realidade, muito pobre.
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Existem muitas razões para isso.
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Experiências individuais certamente
influenciam nossas percepções,
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mas, também, coisas como a mídia
que mostra muito mais as exceções
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do que o normal.
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Kahneman tinha uma maneira
especial de se referir a isso, dizendo:
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"Podemos ficar cegos para o óbvio,
então não entendemos os números,
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mas podemos ficar cegos
para nossa própria cegueira",
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e isto tem uma enorme repercussão
na tomada de decisões.
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No escritório de estatística
enquanto tudo isso acontecia,
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achei tudo muito interessante.
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Claramente, isto é um problema global,
mas talvez a geografia seja o problema.
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Estas questões eram exatamente sobre
saber se você conhece bem o seu país.
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Neste caso, você conhece bem
64 milhões de pessoas?
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Parece que não tão bem;
não consigo fazer isso.
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Então, tive uma ideia: pensar
sobre esse mesmo tipo de abordagem,
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mas com um sentido bem mais local.
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Isto é local?
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Se nós reestruturamos as perguntas para:
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"Você conhece bem a sua área local?",
suas respostas seriam mais precisas?
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Então, elaborei um teste:
"Você conhece bem a sua área?"
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É um aplicativo web simples.
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Você digita um código postal
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e ele fará perguntas baseadas em dados
de censos realizados em sua área local.
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Eu sabia exatamente
o que queria quando o projetei.
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Queria torná-lo disponível para
a maior quantidade de pessoas possível,
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não apenas os 49% que sabem fazer contas.
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Queria engajar todos.
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Para criar o projeto do teste,
fui inspirado pelos isótopos,
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de Otto Neurath, dos anos 20 e 30.
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Tratam-se de métodos
de representação numérica
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que usam símbolos que se repetem.
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Os números ainda estão lá,
mas ficam em segundo plano.
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É uma excelente maneira
de representar quantidades
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sem recorrer a termos como
porcentagens, frações ou proporções.
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Bem... aqui está o teste.
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O leiaute dele é: os símbolos
que se repetem ficam à esquerda,
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e um mapa à direita mostra a área
para a qual as perguntas são feitas.
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São sete perguntas.
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Para cada pergunta, há uma possível
resposta que varia de 0 a 100,
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e no final do teste,
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você obtém uma pontuação geral,
também entre 0 e 100.
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Como estamos no TEDxExeter,
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achei legal observarmos rapidamente
as primeiras perguntas
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para esta região, Exeter.
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A primeira pergunta é:
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para cada 100 pessoas,
quantas têm menos de 16 anos?
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Bem, não conheço Exeter muito bem,
então chutei a resposta.
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No entanto, isso nos dá uma
ideia de como o teste funciona:
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você arrasta o cursor
para colorir seus símbolos,
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e depois clica em "enviar" para responder,
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e nós realçamos a diferença
entre sua resposta e a realidade.
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E vocês podem ver que meu chute
foi terrível: apenas cinco.
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Do que se trata a próxima pergunta?
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Da média de idade de uma população.
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Metade da população
está abaixo desta idade
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e, consequentemente, metade está acima.
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Eu chutei 35, o que pra mim
parece ser a meia-idade.
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Na verdade, Exeter tem
uma população muito jovem.
¶
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Eu subestimei o impacto
da universidade nesta área.
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As questões ficam mais difíceis
à medida que você avança.
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Esta aqui é a respeito da casa própria.
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Em cada 100 domicílios,
quantos foram adquiridos
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por meio de hipotecas ou empréstimos?
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Fui bem cauteloso ao responder
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porque não queria errar
por mais de 50 pontos.
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Este tipo de pergunta fica mais difícil.
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Quando estamos em um local ou comunidade,
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podemos simplesmente olhar
em volta e colher algumas pistas
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que nos dizem se a população
é jovem ou velha.
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No entanto, algo como ter a casa
própria é muito mais difícil de notar.
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Então nos voltamos para
nossa própria heurística,
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nossos preconceitos acerca da quantidade
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de pessoas que achamos
possuir a casa própria.
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A verdade é que quando publicamos o teste,
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os dados dos censos nos quais
nos baseamos já tinham alguns anos.
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Tínhamos algumas aplicações on-line
que recebiam os códigos postais
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dos quais obtivemos
as estatísticas por anos.
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De certa forma,
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tudo era um pouco antigo
ou não necessariamente novo.
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No entanto, eu estava interessado
em ver o resultado que poderíamos obter
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ao "gamificar" os dados
da maneira como fizemos,
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usando animação
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e jogando com o fato de que as pessoas
têm seus próprios preconceitos.
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E acontece que o resultado foi...
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muito melhor do que eu esperava.
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A minha ambição de longa data
era derrubar um site de estastística
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em razão da grande quantidade acessos.
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Esta URL contém as palavras
"estatística", "gov" e "RU",
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que são três das palavras menos
populares entre as pessoas no URL.
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E o mais incrível é que o site caiu
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às 21h45,
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o que significa que as pessoas
se interessaram por esses dados
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por livre e espontânea vontade
durante seu tempo livre.
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Fiquei muito interessado em ver
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que cerca de 250 mil pessoas
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fizeram o teste nas 48 horas
que se seguiram ao seu lançamento.
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Isso gerou uma intensa discussão
on-line, nas redes sociais,
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acerca principalmente de como
as pessoas estavam se divertindo
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com os erros em suas próprias concepções.
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De certa forma, eu não poderia
esperar algo melhor que isso.
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Também gostei quando as pessoas
começaram a enviar isso aos políticos.
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"Você conhece bem a área
que você diz representar?"
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voltando aos dois tipos de pessoas,
achei que seria interessante ver
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como as pessoas que se dão bem
com os números se sairiam no teste.
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O estatístico nacional da Inglaterra
e do País de Gales, John Pullinger,
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cuja pontuação esperada seria bem alta,
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atingiu apenas 44% para sua própria área.
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que admitiu ter tomado
uma taça de vinho antes do teste.
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Trinta e seis.
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Ainda pior.
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Isto simplesmente mostra que os números
podem inspirar e surpreender a todos nós.
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Dizemos com frequência que a estatística
é a ciência da incerteza.
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Despeço-me com o seguinte pensamento:
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a estatística é uma ciência
que trata de nós mesmos.
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E é por isso que devemos
ser fascinados pelos números.
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