Cindy Sherman: Personagens | ART21 ''Exclusivo''

Episódio 139: Cindy Sherman revela como é que vestir-se em personagem começou como um tipo de performance e evoluiu até às suas primeiras séries fotográficas como ''Bus Riders'' (1976), ''Untitled Film Stills'' (1977-1980), e as sem título ''Rear Screen Projections'' (1980).

Nestes auto-reflexos de fotografias e filmes, Cindy Sherman inventa uma miríade de disfarces, metamorfoseando-se de estrela de Hollywood para palhaço, para matrona da sociedade. Muitas vezes com o mais simples dos significados - uma câmara, uma peruca, maquilhagem, uma roupa - Sherman veste-se como personagens ambíguas, mas memoráveis, que sugerem vidas complexas vividas fora do quadro. As investigações de Sherman têm uma relação convincente com imagens públicas, desde o kitsch (stills de filmes e centerfolds) até à história da arte (Mestres Antigos e Surrealismo), e à tecnologia de tela-verde e os mais recentes avanços na fotografia digital.

Saiba mais sobre Cindy Sherman em:
http://www.art21.org/artists/cindy-sherman

CRÉDITOS | Produtor: Ian Forster, Wesley Miller & Nick Ravich. Entrevistadora: Susan Sollins. Câmara: Joel Shapiro. Som: Roger Phenix. Editor: Joaquin Perez. Cortesia das Obras de Arte: Cindy Sherman. Video: © 2011, Art21, Inc. Todos os direitos reservados.

Cindy Sherman: Personagens

Sabias que eles têm unhas falsas
para os pés? [RISOS]

Eu ainda não as experimentei,
mas mal posso esperar para o fazer.

Não é uma loucura? [RISOS]

Estou a pensar em usá-las só

para uma festa, só como piada, sabes?
Elas são tão... [RISOS]

Quero dizer, exceto estas,
não são tão óbvias.

Talvez estas sejam mais óbvias
porque têm bolinhas

e só parecem tipo,
''Quem é que usaria bolinhas nos pés?''

O meu trabalho não é fantasiar
sobre personagens ou situações.

Eu acho que algumas pessoas
têm pensado que as personagens que faço...

tipo, como se eu tivesse sempre fantasiado
sobre ser uma mulher fatal ou assim.

Sabes, como se nos meus stills de filmes.

Eu não penso nisso
como sendo literal para mim.

Quando eu estou a fazer as personagens,
eu não sinto mesmo que é uma espécie de...

alguma coisa que cresce da minha fantasia,
dos meus sonhos.

Na Faculdade, quando eu fazia isso,

E iria, sabes, tornar-me
uma personagem e pensava,

''Bem, aqui estou como Lucille Ball.
O que é que eu faço agora?''

Então, isso tornou-se como um hábito
e um pouco mais como performance.

E eu comecei a fazê-lo
e a ir a festas, às vezes.

Eu lembro-me uma vez, arranjar-me
em personagem e queria ir a uma abertura,

e sentia que alguma coisa estava a faltar

e depois meti uma almofada
por baixo do vestido e fui de grávida.

E quando me mudei para Nova Iorque, fi-lo
algumas vezes mas deixou de ser o mesmo,

Eu acho que por causa da cidade eu sentia
que precisava da minha própria,

sabes, armadura de rua ou alguma coisa
para lidar com o exterior

e as pessoas na rua
e as pessoas doidas

e as pessoas mesmo doidas que se pareciam
com algumas das minhas personagens

e eu acho que não queria
ser confundida com elas.

A vantagem de ser eu mesma
é que eu posso brincar à volta disso.

Quando eu experimentei com outras
pessoas, como modelos

modelos pagos, ou amigos, ou família

Eu sinto-me como se...

não saiba o que lhes dizer

porque eu não sei mesmo
o que é que eu procuro até ver,

por isso tenho tendência
a apressa-los durante todo o processo.

E depois eu refaço o trabalho comigo
e é fatigante, por isso...

Quero dizer, mesmo que eu ame fazê-lo
é muito mais trabalho, sabes, porque

Eu fico frustrada por tentar captar
alguma coisa que eu nem consigo articular

porque nem eu realmente sei
o que é que estou à procura até encontrar.