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Por que Shakespeare? | Stephen Brown | TEDxStMaryCSSchool

  • 0:11 - 0:15
    Craig me disse: "Venha dar
    uma palestra TEDx para meus alunos",
  • 0:15 - 0:16
    e pensei: "Por quê?
  • 0:17 - 0:18
    Sou professor,
  • 0:18 - 0:20
    sou pago para falar 50 minutos,
  • 0:20 - 0:23
    como vou conseguir falar
    só por 15 ou 18 minutos?"
  • 0:23 - 0:25
    Então falei: "Vou tentar.
    O que devo fazer?"
  • 0:25 - 0:28
    Ele disse: "Fale sobre Shakespeare".
    E pensei: "Por que Shakespeare?"
  • 0:28 - 0:30
    Por que Shakespeare?
  • 0:30 - 0:33
    A única resposta que me veio à mente
  • 0:33 - 0:38
    foi plagiar nosso maravilhoso
    primeiro-ministro e dizer: "Bem, é 2016".
  • 0:39 - 0:40
    Esse é um começo.
  • 0:41 - 0:43
    E é o mais fácil,
  • 0:43 - 0:47
    porque há 400 anos e 6 dias,
  • 0:47 - 0:49
    em 23 de abril,
  • 0:49 - 0:50
    Shakespeare morreu.
  • 0:52 - 0:53
    Prince faleceu esta semana.
  • 0:53 - 0:55
    E recebeu ampla cobertura da imprensa.
  • 0:55 - 0:58
    Será que ele ainda terá toda
    essa cobertura daqui a 400 anos?
  • 0:58 - 0:59
    Não sei.
  • 0:59 - 1:01
    A imprensa vai existir daqui a 400 anos?
  • 1:01 - 1:03
    Provavelmente não.
  • 1:03 - 1:06
    Então, por quê?
    Por que, depois de 400 anos?
  • 1:07 - 1:13
    Em 2012, durante as Olimpíadas de Londres,
    muitas coisas empolgantes aconteceram.
  • 1:14 - 1:18
    Uma que provavelmente nos lembramos
    foi o homem relâmpago, certo?
  • 1:18 - 1:20
    Usain Bolt fez de novo.
  • 1:20 - 1:22
    Venceu todos as corridas.
  • 1:23 - 1:26
    Centenas de milhares de pessoas
    testemunharam algo mais.
  • 1:27 - 1:31
    Cada olimpíada combina
    esporte com cultura.
  • 1:31 - 1:34
    E sempre existe uma olimpíada cultural.
  • 1:34 - 1:37
    Em 2012, em Londres,
    Shakespeare foi escolhido.
  • 1:37 - 1:39
    Houve mais de 100 produções
  • 1:39 - 1:44
    entre 23 de abril
    e o final do evento, em novembro.
  • 1:44 - 1:47
    Setenta delas aconteceram
    no Globe Theatre.
  • 1:48 - 1:52
    Elas representavam mais de 40 países,
  • 1:52 - 1:56
    e foram apresentadas
    em 37 línguas diferentes.
  • 1:56 - 1:57
    Por quê?
  • 1:57 - 2:01
    A maioria desses países foram
    colonizados pelos ingleses.
  • 2:01 - 2:05
    Tendo se livrado de todas
    as correntes da colonização,
  • 2:05 - 2:07
    por que mantiveram Shakespeare?
  • 2:08 - 2:12
    E por que quiseram ouvir
    Shakespeare em sua própria língua?
  • 2:12 - 2:14
    E por que, quando essas produções
    vieram a Londres,
  • 2:14 - 2:20
    milhares de pessoas desses países,
    que moram em Londres,
  • 2:20 - 2:23
    foram ouvir Shakespeare
  • 2:23 - 2:26
    em sua língua materna?
  • 2:27 - 2:30
    É sobre isso que quero falar
    com vocês hoje:
  • 2:31 - 2:34
    o poder de ouvir Shakespeare.
  • 2:34 - 2:38
    Por isso não tenho nenhum texto ali.
  • 2:38 - 2:41
    Isso me contradiria.
  • 2:41 - 2:44
    E é por isso que estou feliz
    por termos fechado aquele livro.
  • 2:45 - 2:49
    Quando Shakespeare foi encenado
    pela primeira vez, há mais de 200 anos,
  • 2:49 - 2:51
    quando as pessoas
    descreviam a ida ao teatro,
  • 2:51 - 2:55
    quando escreviam sobre ir a uma peça
    de Shakespeare, ou a qualquer outra,
  • 2:56 - 2:57
    elas escreviam em seus diários,
  • 2:57 - 3:00
    em seus blocos de notas:
  • 3:00 - 3:05
    "Noite passada fui ouvir
    'Sonho de uma Noite de Verão'".
  • 3:06 - 3:11
    "Noite passada fui ouvir 'Hamlet'."
  • 3:11 - 3:16
    Ninguém jamais escreveu, até o século 19,
  • 3:16 - 3:18
    que assistiu a uma peça.
  • 3:19 - 3:21
    Porque uma peça se refere a uma voz,
  • 3:22 - 3:25
    e ninguém entendeu isso melhor
    do que Shakespeare.
  • 3:26 - 3:32
    Estamos lá porque nos consola
    ouvir uma voz humana,
  • 3:33 - 3:39
    porque queremos uma voz que soe
    o som da alegria e da tristeza para nós.
  • 3:40 - 3:44
    Porque o que importa na vida
    é o que nós assimilamos,
  • 3:44 - 3:46
    o que nós captamos,
  • 3:46 - 3:48
    o que nos prende,
  • 3:49 - 3:52
    as coisas que nos aterrorizam,
  • 3:53 - 3:55
    e as que nos alegram.
  • 3:55 - 4:01
    O teatro nos dá isso,
    e Shakespeare, ainda mais.
  • 4:02 - 4:03
    É curioso...
  • 4:04 - 4:06
    não trágico, só curioso,
  • 4:06 - 4:09
    que quando alunos
    me procuram na universidade,
  • 4:09 - 4:13
    a maioria deles diz:
    "Oh, Shakespeare. Não sei.
  • 4:13 - 4:15
    Era sempre muito difícil no ensino médio".
  • 4:15 - 4:18
    Alguns diziam: "Oh, eu amava".
    E eu dizia: "O que você amava sobre ele?"
  • 4:18 - 4:21
    "Ah, os filmes. Há tantos filmes
    ótimos sobre Shakespeare."
  • 4:21 - 4:23
    E tenho que dizer: "Não, não, não.
  • 4:23 - 4:26
    Shakespeare não é
    sobre assistir a um filme".
  • 4:26 - 4:29
    Precisa haver uma pessoa lá,
  • 4:30 - 4:35
    uma pessoa que dê suporte
    à história para nós
  • 4:35 - 4:38
    para que, testemunhando isso,
  • 4:39 - 4:43
    possamos ser compreendidos e compreender
  • 4:43 - 4:47
    as emoções que estão sendo sentidas.
  • 4:47 - 4:50
    Não tenham medo de Shakespeare.
  • 4:50 - 4:51
    Muitos dos meus alunos,
  • 4:51 - 4:55
    e muitos de vocês, um dos motivos
    de pensar: "Certo, vou fazer isso",
  • 4:55 - 4:57
    foi Craig ter dito que haveria
    mais de 900 alunos aqui,
  • 4:57 - 5:00
    e todos estudarão Shakespeare
    em algum momento,
  • 5:00 - 5:01
    torcendo o nariz ou não.
  • 5:01 - 5:03
    Perguntei: "O que eles estudam?"
  • 5:03 - 5:04
    "O usual:
  • 5:04 - 5:07
    'Sonho de um noite de verão', 'Hamlet',
  • 5:07 - 5:10
    'Romeu e Julieta', 'Macbeth'".
  • 5:10 - 5:12
    Pensei: "Ótimo. Chegaremos lá. Veremos.
  • 5:12 - 5:15
    Falaremos sobre alguns desses".
  • 5:15 - 5:20
    Mas muitos, provavelmente, usam
    a série "No Fear Shakespeare",
  • 5:20 - 5:23
    que traduz Shakespeare para o inglês
  • 5:23 - 5:25
    como se ele não fosse em inglês.
  • 5:25 - 5:29
    E os guias de estudo
    ganharam milhões de dólares
  • 5:29 - 5:33
    às custas de "No Fear Shakespeare",
    "Shakespeare sem Medo",
  • 5:34 - 5:36
    quando não deveríamos ter medo dele.
  • 5:37 - 5:39
    E Shakespeare nunca ganhou
    um centavo em sua vida
  • 5:39 - 5:41
    pela impressão de suas peças.
  • 5:41 - 5:44
    Ele não poderia ter se importado menos.
  • 5:44 - 5:48
    Quando o "Primeiro Fólio" foi publicado,
    sete anos após sua morte,
  • 5:48 - 5:55
    o foi porque os sócios de sua companhia
    queriam fazer um memorial.
  • 5:55 - 5:57
    Ele nunca se importou com isso.
  • 5:57 - 5:59
    Havia centenas de edições
    de seus trabalhos;
  • 5:59 - 6:01
    ele nunca ganhou um centavo com elas.
  • 6:01 - 6:03
    Porque não era sobre ler.
  • 6:03 - 6:06
    E é nisso que quero focar agora.
  • 6:06 - 6:10
    Quero pegar algumas cenas,
    falar sobre elas,
  • 6:11 - 6:13
    e tentar dar a vocês uma ideia
  • 6:13 - 6:19
    do que pode ser compreendido
    quando você assiste e escuta.
  • 6:19 - 6:22
    E o que vou dizer agora,
  • 6:22 - 6:27
    e talvez repetir no final, porque
    não faço ideia de aonde estou indo,
  • 6:27 - 6:31
    isso depende do que escutamos
    quando ouvimos esses textos, é:
  • 6:32 - 6:34
    não procurem por significado.
  • 6:35 - 6:37
    Não existe nenhum.
  • 6:37 - 6:40
    Não procurem por uma tese.
  • 6:40 - 6:42
    Não cacem temas.
  • 6:42 - 6:44
    Não analisem metáforas.
  • 6:44 - 6:48
    Não se preocupem com o tema
    do relatório que vocês vão escrever.
  • 6:48 - 6:50
    Apenas escutem.
  • 6:51 - 6:53
    E estejam abertos ao escutar.
  • 6:55 - 6:57
    E reajam ao que sentirem.
  • 6:58 - 7:01
    Porque o que assimilamos
  • 7:01 - 7:04
    é muito mais importante
    do que aquilo que compreendemos.
  • 7:04 - 7:06
    E em "Sonho de uma Noite de Verão",
  • 7:06 - 7:09
    um dos excepcionais personagens
    de Shakespeare, Duque Teseu,
  • 7:09 - 7:11
    diz exatamente isso no final da peça.
  • 7:11 - 7:14
    Ele diz: "Uma das coisas mais
    interessantes sobre a vida é isto:
  • 7:14 - 7:18
    toda vez que assimilamos um efeito,
  • 7:19 - 7:22
    queremos compreender a causa".
  • 7:22 - 7:24
    E isso é um problema,
  • 7:24 - 7:26
    sobretudo com o teatro
  • 7:26 - 7:28
    e sempre com a vida.
  • 7:28 - 7:32
    Alguma coisa nos acontece,
    e queremos saber o porquê.
  • 7:34 - 7:36
    Bem, não importa a causa.
  • 7:36 - 7:40
    Quem sabe qual é a causa
    primordial de qualquer coisa?
  • 7:40 - 7:43
    Foi Deus quem criou,
  • 7:43 - 7:44
    ou o Big Bang?
  • 7:45 - 7:47
    Eles estão além
    da minha compreensão, certo?
  • 7:49 - 7:51
    Mas, no momento da vida,
  • 7:52 - 7:55
    assimilo constantemente
  • 7:55 - 7:57
    o que é estar vivo.
  • 7:57 - 7:59
    E procurar o significado disso,
  • 7:59 - 8:06
    em vez de simplesmente nadar
    no luxo da minha própria alma e coração,
  • 8:06 - 8:11
    parece um tremendo desperdício
    da alegria de viver.
  • 8:11 - 8:15
    Então, vamos olhar para Shakespeare,
    talvez só para uma cena.
  • 8:15 - 8:18
    A tela aqui diz que só tenho
    nove minutos e meio.
  • 8:18 - 8:20
    Vamos ver o que consigo.
    Temos tempo pra uma.
  • 8:20 - 8:23
    Deixo vocês escolherem.
    Tenho algumas em mente.
  • 8:23 - 8:25
    Vamos escolher entre duas
    das mais famosas.
  • 8:25 - 8:29
    Se ainda não as conhecem,
    vão conhecê-las durante o ensino médio.
  • 8:29 - 8:31
    "Romeu e Julieta", "Hamlet".
  • 8:31 - 8:33
    Qual vocês preferem?
  • 8:33 - 8:38
    Plateia: Hamlet. Romeu e Julieta. Hamlet.
  • 8:38 - 8:43
    Stephen Brown: Acho que "Romeu e Julieta".
  • 8:43 - 8:47
    Certo? Errado? Craig?
  • 8:47 - 8:50
    Se eu pudesse... Ah, tenho
    menos de nove minutos agora.
  • 8:50 - 8:54
    Se eu conseguir falar como o Bolt,
  • 8:54 - 8:57
    se conseguirmos passar essa cena,
    talvez possamos fazer um pouco de Hamlet,
  • 8:57 - 8:59
    talvez finalizar com Hamlet.
  • 8:59 - 9:04
    Vamos para a cena de "Romeu e Julieta"
    em que conhecemos Julieta,
  • 9:04 - 9:06
    porque nos diz algo sobre Shakespeare.
  • 9:06 - 9:09
    Sabem em que Shakespeare era ótimo?
    Ele era ótimo com as mulheres.
  • 9:09 - 9:12
    Ele era ótimo em escutá-las
    e nos fazer escutá-las.
  • 9:12 - 9:14
    E tem uma razão para isso,
    porque, durante a vida dele,
  • 9:15 - 9:17
    nenhuma mulher jamais esteve no palco.
  • 9:17 - 9:22
    Nenhuma mulher havia
    atuado num palco inglês até...
  • 9:22 - 9:24
    1665.
  • 9:25 - 9:27
    Então os homens sempre fizeram
    o papel das mulheres.
  • 9:27 - 9:29
    E não apenas meninos.
  • 9:29 - 9:33
    Havia homens que passavam
    toda a carreira fazendo papéis femininos.
  • 9:33 - 9:36
    Nesta cena, conhecemos Julieta.
  • 9:36 - 9:41
    Temos Julieta, a ama e a senhora Capuleto.
  • 9:41 - 9:44
    As três mulheres principais da peça.
  • 9:44 - 9:47
    Não conhecemos Julieta ainda.
  • 9:47 - 9:48
    É o ato um, cena três.
  • 9:50 - 9:52
    A ama está sentada,
  • 9:53 - 9:56
    a senhora Capuleto, que já conhecemos,
  • 9:56 - 9:58
    entra e fala:
  • 9:58 - 10:00
    "Onde está minha filha?"
  • 10:00 - 10:04
    Conhecemos a senhora Capuleto
    no ato um, cena um,
  • 10:04 - 10:07
    quando os homens estavam brigando,
    causando toda aquela confusão:
  • 10:07 - 10:10
    os Montéquios e os Capuletos
    lutando uns com os outros,
  • 10:10 - 10:12
    homens sacando suas espadas,
  • 10:12 - 10:14
    todos demonstrando sua masculinidade.
  • 10:14 - 10:18
    Terrivelmente engraçado.
  • 10:18 - 10:22
    E a senhora Capuleto sabe disso
    e zomba do seu esposo.
  • 10:23 - 10:26
    Ela diz a ele: "Por que se importar
    em mostrar sua espada, velho homem?
  • 10:28 - 10:29
    Não tem por quê".
  • 10:31 - 10:33
    Ela é uma mulher forte.
  • 10:34 - 10:38
    Então ela entra e diz:
    "Onde está minha filha?"
  • 10:39 - 10:43
    E a ama diz: "Oh, juro pela minha cabeça
    de ama nestes 12 anos,
  • 10:43 - 10:47
    chamei, ela não veio.
  • 10:47 - 10:49
    Juro pela minha virgindade aos 12.
  • 10:49 - 10:51
    Eu a chamei. Não sei onde ela está".
  • 10:51 - 10:53
    Então ela se levanta e diz: "Julieta!"
  • 10:53 - 10:56
    Não, não, não quero isso.
    Não quero nada escrito ali.
  • 10:56 - 10:58
    Alguém pode desligar? É possível?
  • 10:59 - 11:01
    Como desligamos aquelas telas? Ótimo.
  • 11:03 - 11:06
    E ela começa a chamá-la:
  • 11:06 - 11:12
    "Joaninha. Minha querida. Onde você está?"
  • 11:12 - 11:16
    Na maioria das produções, Julieta
    está na sacada ou não está no palco,
  • 11:16 - 11:19
    porque o texto diz: "Julieta entra".
  • 11:19 - 11:24
    Nos impressos originais, sempre diz:
    "Entra", quando um personagem fala.
  • 11:24 - 11:27
    Ela já está lá.
  • 11:27 - 11:30
    O que a ama está fazendo,
    se você prestar atenção,
  • 11:30 - 11:32
    é o que você faz quando brinca
    com uma criança.
  • 11:33 - 11:34
    Vocês já devem ter feito isso,
  • 11:34 - 11:37
    ou uma tia, um tio ou seus pais
    já fizeram isso com você.
  • 11:38 - 11:41
    "Joey, Joey, onde você está, Joey?
  • 11:41 - 11:43
    Meu Deus, Joey, quando você vai aparecer?
  • 11:43 - 11:46
    O que vou fazer com você, Joey?"
  • 11:46 - 11:49
    E onde está o Joey esse tempo todo?
  • 11:49 - 11:53
    Bem ali. Bem atrás de você,
    e você finge que não pode vê-lo.
  • 11:53 - 11:55
    É ali que Julieta está,
  • 11:55 - 11:58
    se realmente escutarmos
    o que a ama está fazendo.
  • 11:58 - 12:02
    "Joaninha. Minha querida. Onde você está?"
  • 12:03 - 12:06
    E a senhora Capuleto
    está de pé, assistindo.
  • 12:07 - 12:08
    E, finalmente, Julieta diz:
  • 12:08 - 12:11
    "Estou aqui. Quem está me procurando?",
  • 12:11 - 12:13
    brincando com a ama.
  • 12:13 - 12:15
    A ama diz: "Sua mãe".
  • 12:18 - 12:21
    E a senhora Capuleto diz à ama:
  • 12:21 - 12:24
    "Você pode nos dar um minuto?
    Preciso dizer uma coisa para minha filha".
  • 12:24 - 12:26
    E a ama começa a se retirar,
  • 12:28 - 12:32
    e a senhora Capuleto diz:
    "Não, volte. Por favor, volte".
  • 12:35 - 12:38
    E o que ela precisa dizer a Julieta é:
  • 12:38 - 12:41
    "Seu pai decidiu que você deve se casar,
  • 12:42 - 12:47
    e você vai conhecer seu noivo esta noite".
  • 12:47 - 12:51
    O que é crucial nessa cena,
    se você está ouvindo e assistindo,
  • 12:51 - 12:54
    é o que a senhora Capuleto está fazendo.
  • 12:54 - 12:55
    Porque sempre, em Shakespeare,
  • 12:55 - 12:59
    nas cenas mais importantes,
    quando ele quer que escutemos,
  • 12:59 - 13:02
    tem um ouvinte no palco,
  • 13:02 - 13:04
    e aqui está a senhora Capuleto,
  • 13:04 - 13:09
    ouvindo enquanto sua filha
    brinca com a ama,
  • 13:09 - 13:13
    e então, quando a ama conta
    uma história longa,
  • 13:13 - 13:16
    uma história engraçada
  • 13:16 - 13:18
    sobre a infância de Julieta,
  • 13:18 - 13:20
    e a mãe de Julieta escuta,
  • 13:23 - 13:26
    sabendo que está prestes
    a dizer para a filha
  • 13:27 - 13:29
    que sua infância acabou.
  • 13:31 - 13:33
    O que ela está sentindo enquanto ouve?
  • 13:34 - 13:36
    O que qualquer pai sente?
  • 13:39 - 13:42
    Naquele momento,
    muito comum em comerciais de TV,
  • 13:42 - 13:47
    quando você entrega as chaves do carro
    a seu filho pela primeira vez?
  • 13:47 - 13:53
    Ou quando você o deixa
    na casa do estudante, na faculdade?
  • 13:54 - 13:57
    Ou quando o oficial
    de justiça vem buscá-lo?
  • 13:57 - 13:58
    (Risos)
  • 13:58 - 14:01
    Não importa quando, você se dá conta:
  • 14:03 - 14:06
    "O que aconteceu com minha criança?"
  • 14:07 - 14:09
    Como perdi isso?
  • 14:09 - 14:10
    Se você está escutando,
  • 14:11 - 14:14
    é isso que está acontecendo nessa cena.
  • 14:14 - 14:16
    Muitas produções perdem isso,
  • 14:16 - 14:18
    porque as pessoas estão lendo
  • 14:18 - 14:20
    e ignoram a senhora Capuleto.
  • 14:20 - 14:24
    Algo extraordinário acontece
    enquanto a ama está falando.
  • 14:24 - 14:27
    Estamos tentando descobrir
    quantos anos Julieta tem,
  • 14:27 - 14:30
    e sua mãe diz: "Hum, sabe,
    não acho que ela já tenha 14 anos".
  • 14:30 - 14:33
    E a ama diz: "Não, faltam duas semanas.
  • 14:33 - 14:35
    Lembro por causa da minha Susana,
  • 14:35 - 14:38
    minha filha e ela nasceram na mesma época.
  • 14:38 - 14:42
    Minha Susana, que Deus tirou de mim
  • 14:43 - 14:45
    porque ela era boa demais para mim".
  • 14:45 - 14:50
    A filha da ama morreu quando criança,
  • 14:50 - 14:52
    e Julieta sobreviveu.
  • 14:53 - 14:56
    A ama diz isso, olhando para Julieta,
  • 14:56 - 15:00
    e a senhora Capuleto
    está olhando para Julieta,
  • 15:00 - 15:02
    e duas filhas estão mortas.
  • 15:03 - 15:05
    E se não estamos escutando,
    perdemos isso.
  • 15:06 - 15:08
    A ama nos diz:
  • 15:08 - 15:12
    "Minha Susana morreu há quase 14 anos".
  • 15:12 - 15:14
    E a senhora Capuleto está pensando:
  • 15:14 - 15:20
    "Perderei minha filha em duas semanas,
  • 15:21 - 15:23
    quando ela se casar com Paris,
  • 15:23 - 15:26
    e partir para viver com ele.
  • 15:27 - 15:33
    E a filha que me lembro brincando,
    desaparece, se vai".
  • 15:34 - 15:37
    Essa é a coisa mais importante
    quando escutamos.
  • 15:37 - 15:38
    Tenho dois minutos.
  • 15:38 - 15:42
    Vou dizer rapidamente algo
    sobre "Hamlet", para concluir.
  • 15:42 - 15:45
    No final de "Hamlet",
  • 15:45 - 15:48
    quando estiver acontecendo
    a luta de espadas e o envenenamento,
  • 15:48 - 15:50
    várias pessoas estiverem mortas no palco,
  • 15:50 - 15:52
    cenas espetaculares,
  • 15:52 - 15:54
    coisa de homem, certo?
  • 15:55 - 15:58
    Tem um "momento feminino",
    nessa hora, que é poderoso,
  • 15:58 - 15:59
    e que diz respeito às mães.
  • 16:00 - 16:04
    Gertrude não diz nada além de três falas.
  • 16:04 - 16:07
    A primeira delas é:
  • 16:07 - 16:11
    "Hamlet, me deixe limpar sua testa.
  • 16:11 - 16:16
    Pegue meu lenço e limpe sua testa.
    Você parece tão cansado".
  • 16:16 - 16:19
    No começo da peça, ela tenta
    tocá-lo e ele não permite.
  • 16:19 - 16:21
    Ele nunca deixa que ela o toque.
  • 16:21 - 16:24
    Ele a afasta, porque está bravo
    por ela se casar com seu tio.
  • 16:24 - 16:28
    Shakespeare lhe dá a segunda fala:
  • 16:28 - 16:30
    "Deixe-me limpar sua testa".
  • 16:31 - 16:35
    E ela pega seu lenço
    e limpa o suor da testa do filho,
  • 16:35 - 16:40
    do mesmo jeito que sua mãe, mesmo
    quando você tem 62 anos, como eu,
  • 16:40 - 16:44
    num dia frio, ajusta seu casaco
  • 16:44 - 16:50
    ou liga para você na universidade e diz:
    "Está nevando? Coloque as luvas".
  • 16:52 - 16:57
    Na vida, quando você não escuta,
    você perde as pequenas coisas.
  • 16:57 - 17:01
    Em literatura, escutar é fundamental para
    entender essas pequenas coisas também.
  • 17:02 - 17:05
    É por isso que Shakespeare importa.
  • 17:05 - 17:08
    Não porque você deveria lê-lo,
  • 17:08 - 17:11
    mas porque devemos escutá-lo.
  • 17:12 - 17:16
    No começo de Hamlet,
    tem um homem sozinho no palco,
  • 17:16 - 17:17
    Francisco,
  • 17:17 - 17:20
    esperando para ser liberado por Bernardo.
  • 17:20 - 17:24
    Ele pode ficar lá sozinho
    pelo tempo que o diretor quiser,
  • 17:24 - 17:25
    sem dizer nada.
  • 17:25 - 17:30
    Bernardo chega e diz:
    "Quem está aí?", porque está escuro.
  • 17:30 - 17:33
    E Francisco diz: "Nay.
  • 17:34 - 17:39
    Me diga, se revele", ele diz.
  • 17:39 - 17:41
    "Mostre-se para mim."
  • 17:41 - 17:42
    E digo para você:
  • 17:42 - 17:47
    abra-se quando ler Shakespeare.
  • 17:47 - 17:49
    Feche o livro,
  • 17:49 - 17:51
    abra-se,
  • 17:51 - 17:53
    assimile,
  • 17:53 - 17:56
    e você não precisará
    se preocupar com o significado.
  • 17:56 - 17:57
    Abra-se,
  • 17:57 - 17:59
    escute
  • 17:59 - 18:03
    e permita que a vida
    e a literatura te toquem.
  • 18:04 - 18:05
    Obrigado.
  • 18:05 - 18:06
    (Aplausos)
Title:
Por que Shakespeare? | Stephen Brown | TEDxStMaryCSSchool
Description:

No quadrigentésimo aniversário da morte de William Shakespeare, ainda existe relutância entre muitos alunos do Ensino Médio em aceitar Shakespeare como um autor que fala com eles e com seus dilemas. Em parte, isso se dá devido à falsa ideia de que a linguagem de Shakespeare é historicamente remota, muito difícil e até inacessível. Mas Shakespeare não é difícil, se entendemos seu trabalho como ele pretendeu que o fizéssemos: como teatro, e não como uma narrativa. Se escutarmos Shakespeare, em vez de lê-lo, se prestarmos atenção nos cenários humanos que ele apresenta, em vez de procurar por significados, teorias e tópicos de redações, se reconhecermos o corriqueiro em vez de perseguir o remoto, então Shakespeare é contemporâneo em 2016, como era em 1616.

Stephen Brown é membro honorário da Sociedade de Ensino e Aprendizagem para Educação Avançada 3M desde 1997. Ele é membro da Sociedade de Antiquários da Escócia e é professor visitante no Centro de História do Livro e do Instituto de Estudos Avançados de Humanidades na Universidade de Edimburgo. Em 2013, era membro do Ormiston Roy Estudos Escoceses na Universidade da Carolina do Sul. Ele possui várias publicações na área de cultura impressa e literatura.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:16

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