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Adam Kucharski sobre o que deve, e o que não deve, nos preocupar em relação ao coronavírus

  • 0:04 - 0:07
    Olá, sou Chris Anderson.
    Bem-vindo ao The TED Interview.
  • 0:07 - 0:11
    Estamos preparando a sessão quatro
    com convidados extraordinários,
  • 0:11 - 0:14
    mas não quero esperar por ela
    para o episódio de hoje
  • 0:14 - 0:17
    porque estamos em meio a uma pandemia
  • 0:17 - 0:21
    e tenho um convidado com quem
    realmente quero conversar agora.
  • 0:22 - 0:24
    Adam Kucharski,
  • 0:24 - 0:26
    um pesquisador de doenças contagiosas
  • 0:26 - 0:29
    que se concentra na modelagem
    matemática de pandemias.
  • 0:30 - 0:34
    É professor associado da London School
    of Hygiene and Tropical Medicine
  • 0:34 - 0:36
    e TED Fellow.
  • 0:36 - 0:37
    (Música)
  • 0:37 - 0:40
    (TED Talk) Adam Kucharski:
    Quais comportamentos
  • 0:40 - 0:42
    são realmente importantes em uma epidemia?
  • 0:42 - 0:45
    Conversas, contato físico?
  • 0:45 - 0:49
    Que tipo de dados deveríamos
    coletar antes de um surto,
  • 0:49 - 0:52
    se queremos prever
    como a infecção pode se espalhar?
  • 0:52 - 0:56
    Para descobrir isso, nossa equipe
    constrói um modelo matemático.
  • 0:56 - 1:00
    Chris Anderson: Quando se trata
    de ter uma opinião sobre essa pandemia,
  • 1:00 - 1:02
    conhecida tecnicamente como COVID-19
  • 1:02 - 1:05
    e informalmente como coronavírus,
  • 1:05 - 1:08
    acho o pensamento dele incrivelmente útil.
  • 1:08 - 1:10
    E estou empolgado
    por mergulhar nisso com você.
  • 1:10 - 1:13
    Peço atenção especial
    dos meus amigos do Twitter
  • 1:13 - 1:15
    que sugeriram várias perguntas.
  • 1:15 - 1:18
    Sei que esse tópico
    está na mente de todos.
  • 1:18 - 1:22
    Espero que este episódio nos dê
    uma visão mais detalhada
  • 1:22 - 1:26
    para pensarmos sobre como essa pandemia
    se desenrolou até agora,
  • 1:26 - 1:28
    o que ainda pode vir
  • 1:28 - 1:30
    e o que podemos fazer
    a respeito, coletivamente.
  • 1:31 - 1:32
    Vamos lá.
  • 1:32 - 1:34
    (Música)
  • 1:38 - 1:40
    Adam, bem-vindo ao The TED Interview.
  • 1:40 - 1:41
    Adam Kucharski: Obrigado.
  • 1:42 - 1:45
    CA: Vamos começar com o básico.
  • 1:45 - 1:48
    A reação de muitas pessoas céticas,
  • 1:48 - 1:51
    nas últimas semanas com certeza,
    talvez menos, agora,
  • 1:51 - 1:57
    tem sido: "Ah, não é tudo isso,
    temos relativamente poucos casos,
  • 1:57 - 1:59
    comparado com a gripe,
    com qualquer outra coisa.
  • 1:59 - 2:01
    Temos problemas bem maiores no mundo.
  • 2:01 - 2:04
    Por que tanto alvoroço quanto a isso?"
  • 2:05 - 2:08
    E a resposta para isso
    se resume a cálculos.
  • 2:08 - 2:14
    Falamos basicamente sobre cálculos
    de crescimento exponencial, certo?
  • 2:14 - 2:16
    AK: Exato.
  • 2:16 - 2:20
    Usamos um número para termos uma ideia
    da facilidade com que o vírus se espalha
  • 2:20 - 2:22
    e o nível de transmissão
    com que estamos lidando.
  • 2:23 - 2:26
    É o chamado "número de reprodução"
    que, conceitualmente, é:
  • 2:26 - 2:29
    quantas pessoas são infectadas,
    em média, para cada caso.
  • 2:30 - 2:33
    Isso nos dá uma ideia
    de como a infecção cresce,
  • 2:33 - 2:34
    como vai ser esse crescimento.
  • 2:34 - 2:39
    Para o coronavírus,
    vemos isso em diversos países,
  • 2:39 - 2:42
    cada pessoa transmite, em média,
    para duas ou três outras.
  • 2:43 - 2:44
    CA: Em relação ao número de reprodução,
  • 2:44 - 2:48
    a primeira coisa é entender
    que qualquer valor acima de um
  • 2:48 - 2:51
    significa que o surto vai aumentar.
  • 2:51 - 2:55
    Qualquer valor abaixo de um
    quer dizer que vai diminuir.
  • 2:56 - 2:57
    AK: Exato, se for acima de um,
  • 2:57 - 3:00
    cada grupo de pessoas infectadas
  • 3:00 - 3:02
    gera mais infecções do que havia antes.
  • 3:02 - 3:04
    E veremos o efeito exponencial:
  • 3:04 - 3:08
    se for dois, a cada ciclo
    dobraremos o número de infectados
  • 3:08 - 3:12
    e, se for menor do que um,
    na média, vai diminuir.
  • 3:13 - 3:14
    CA: Com um valor igual a dois ou maior,
  • 3:14 - 3:18
    acho que todos conhecem a famosa história
  • 3:18 - 3:20
    do tabuleiro de xadrez
    e os grãos de arroz:
  • 3:20 - 3:24
    se dobrarmos o número de grãos
    em cada casa do tabuleiro,
  • 3:24 - 3:28
    nas primeiras 10 ou 15 casas
    não acontece muita coisa,
  • 3:28 - 3:30
    mas, na 64º casa,
  • 3:30 - 3:35
    teremos toneladas de arroz
    para cada pessoa no planeta.
  • 3:35 - 3:38
    O crescimento exponencial é algo incrível.
  • 3:38 - 3:42
    E na verdade não devemos prestar atenção
    aos números baixos que temos agora,
  • 3:42 - 3:45
    mas sim aos modelos do que está por vir.
  • 3:46 - 3:47
    AK: Exato.
  • 3:47 - 3:49
    Obviamente, se continuarmos
    com o crescimento exponencial,
  • 3:49 - 3:53
    podemos chegar a números
    incrivelmente grandes.
  • 3:53 - 3:55
    Mas, mesmo observando as projeções
    para daqui a um mês,
  • 3:55 - 3:59
    se o número de reprodução for três,
    cada pessoa infecta três outras, na média,
  • 3:59 - 4:03
    a diferença entre esse ciclos
    de infecção é de cerca de cinco dias.
  • 4:03 - 4:05
    Então imagine que surja um caso agora,
  • 4:05 - 4:09
    em um mês temos seis
    desses ciclos de cinco dias.
  • 4:09 - 4:11
    Ao final do mês,
  • 4:11 - 4:13
    essa pessoa pode ter gerado
  • 4:13 - 4:16
    cerca de 729 casos.
  • 4:16 - 4:17
    Então, mesmo em um mês,
  • 4:17 - 4:21
    a escala de transmissão pode disparar,
    se não for controlada.
  • 4:22 - 4:26
    CA: E isso parece acontecer na maioria
    dos números que analisamos agora,
  • 4:26 - 4:31
    quando o vírus está
    nos estágios iniciais em um país.
  • 4:31 - 4:36
    Você mostrou um modelo
    através do qual podemos entender
  • 4:36 - 4:38
    mais claramente esse número de reprodução,
  • 4:38 - 4:42
    e me parece que essa é a essência
    da forma como pensamos sobre o vírus,
  • 4:42 - 4:46
    como reagimos a ele
    e o quanto devemos temê-lo.
  • 4:46 - 4:48
    No seu raciocínio,
  • 4:48 - 4:51
    você o separou em quatro componentes,
  • 4:51 - 4:54
    que chamou de DOTS:
  • 4:54 - 4:57
    Duração, Oportunidades,
  • 4:57 - 4:59
    probabilidade de Transmissão
  • 4:59 - 5:00
    e Suscetibilidade.
  • 5:00 - 5:04
    Seria realmente útil
    explicar cada um deles,
  • 5:04 - 5:07
    porque há uma equação bem simples
  • 5:07 - 5:12
    que vincula esses quatro componentes
    ao número de reprodução.
  • 5:12 - 5:13
    Fale sobre eles.
  • 5:13 - 5:15
    Duração, o que isso significa?
  • 5:15 - 5:18
    AK: Duração é o tempo pelo qual
    uma pessoa pode infectar outras.
  • 5:19 - 5:20
    Intuitivamente,
  • 5:20 - 5:24
    se uma pessoa pode infectar outra
    por um período maior,
  • 5:24 - 5:26
    vamos dizer, duas vezes mais que outra,
  • 5:26 - 5:30
    ela espalha a infecção
    pelo dobro do tempo.
  • 5:31 - 5:36
    CA: E qual é a estimativa
    de duração desse vírus
  • 5:36 - 5:40
    comparado com a gripe ou outros patógenos?
  • 5:40 - 5:44
    AK: Depende um pouco do que acontece
    enquanto uma pessoa pode infectar outras.
  • 5:44 - 5:47
    Se ela for isolada rapidamente,
    esse tempo diminui,
  • 5:47 - 5:51
    mas consideramos que ela infecta
    outras por cerca de uma semana,
  • 5:51 - 5:54
    antes de ser isolada no hospital.
  • 5:55 - 5:59
    CA: E ela pode nem apresentar sintomas
  • 5:59 - 6:01
    durante a semana inteira, certo?
  • 6:01 - 6:05
    Uma pessoa é infectada,
    há um período de incubação.
  • 6:06 - 6:09
    Durante esse período,
  • 6:09 - 6:11
    ela passa a infectar outras,
  • 6:11 - 6:15
    e pode haver um período posterior
    em que ela apresenta sintomas,
  • 6:15 - 6:18
    e não está claro como essas datas
    se encaixam, certo?
  • 6:18 - 6:21
    AK: Não, estamos buscando mais informação.
  • 6:21 - 6:25
    Um dos sinais que vemos nos dados,
  • 6:25 - 6:28
    que sugere que ocorre transmissão precoce,
  • 6:28 - 6:32
    é o intervalo que há
    entre uma infecção e outra.
  • 6:32 - 6:35
    Isso parece ser cerca de cinco dias.
  • 6:35 - 6:38
    O período de incubação,
    o tempo para os sintomas aparecerem,
  • 6:38 - 6:39
    também é de cinco dias.
  • 6:40 - 6:45
    Se a maioria das pessoas infecta as outras
    quando está assintomática,
  • 6:45 - 6:49
    temos o período de incubação mais o tempo
    em que elas infectam outras pessoas.
  • 6:49 - 6:51
    O fato de esses valores
    parecerem similares
  • 6:51 - 6:54
    sugere que algumas pessoas transmitem
  • 6:54 - 6:58
    muito no início ou possivelmente
    antes de apresentarem sintomas claros.
  • 6:58 - 7:02
    CA: Isso quase significa que, na média,
  • 7:02 - 7:04
    as pessoas infectam outras
  • 7:04 - 7:07
    tanto antes quanto depois
    de apresentarem sintomas.
  • 7:07 - 7:08
    AK: Possivelmente.
  • 7:08 - 7:10
    Obviamente são dados iniciais,
  • 7:10 - 7:13
    mas há boas evidências
    de que um número considerável de pessoas,
  • 7:13 - 7:16
    antes de apresentarem sintomas claros
  • 7:16 - 7:20
    ou quando ainda não apresentam
    febre e tosse, mas se sentem mal,
  • 7:20 - 7:23
    espalham vírus durante esse período.
  • 7:24 - 7:28
    CA: Isso é bem diferente
    da gripe, por exemplo?
  • 7:29 - 7:31
    AK: Na verdade, nesse aspecto,
    é similar à gripe.
  • 7:32 - 7:36
    Uma das razões para a gripe pandêmica
    ser tão difícil de controlar e tão temida
  • 7:36 - 7:41
    é porque muitas transmissões ocorrem
    antes de a pessoa estar seriamente doente.
  • 7:41 - 7:44
    Ou seja, quando identificamos um caso,
  • 7:44 - 7:47
    essa pessoa provavelmente
    já infectou inúmeras outras.
  • 7:47 - 7:49
    CA: Esse é o truque deste vírus,
  • 7:49 - 7:54
    e explica por que é tão difícil
    fazer algo a respeito.
  • 7:54 - 7:56
    O vírus está adiante de nós o tempo todo,
  • 7:56 - 7:59
    e não podemos simplesmente prestar atenção
  • 7:59 - 8:01
    em como alguém se sente
    ou o que está fazendo.
  • 8:01 - 8:03
    A propósito, como isso acontece?
  • 8:03 - 8:05
    Como uma pessoa infecta outra
  • 8:05 - 8:08
    antes mesmo de apresentar sintomas?
  • 8:08 - 8:12
    Normalmente pensamos
    que uma pessoa espirra,
  • 8:12 - 8:14
    gotículas se espalham pelo ar,
    outra pessoa as inala,
  • 8:14 - 8:16
    e a infecção acontece.
  • 8:16 - 8:21
    O que realmente acontece para infectar
    antes de apresentar sintomas?
  • 8:22 - 8:24
    AK: O nível de transmissão desse vírus
  • 8:24 - 8:27
    não é o mesmo, por exemplo, do sarampo,
  • 8:27 - 8:29
    em que alguém espirra,
    muitos vírus são expelidos,
  • 8:29 - 8:32
    e muitas pessoas suscetíveis
    podem ser expostas a eles.
  • 8:32 - 8:37
    Logo no início, mesmo que os sintomas
    sejam bem leves, talvez um pouco de tosse,
  • 8:37 - 8:40
    é suficiente para expelir alguns vírus,
  • 8:40 - 8:44
    e parte do nosso trabalho
    foi tentar analisar reuniões íntimas,
  • 8:44 - 8:48
    refeições em que as pessoas estão
    muito próximas, como em uma cabana,
  • 8:48 - 8:51
    e, mesmo nessas situações,
    alguém pode estar levemente doente,
  • 8:51 - 8:54
    mas espalhar vírus suficiente
    e, de alguma forma, expor os outros;
  • 8:54 - 8:56
    ainda não sabemos exatamente como,
  • 8:56 - 8:59
    mas isso é suficiente
    para causar infecção.
  • 8:59 - 9:03
    CA: Mas se alguém está levemente doente,
    ainda não apresenta sintomas?
  • 9:03 - 9:08
    Não há evidências de que, mesmo antes
    de saberem que estão doentes,
  • 9:08 - 9:10
    algo esteja acontecendo?
  • 9:10 - 9:14
    Um artigo alemão publicado esta semana
  • 9:14 - 9:18
    sugere que, mesmo bem no início,
  • 9:18 - 9:21
    se passarmos um cotonete
    no fundo da garganta de alguém,
  • 9:21 - 9:26
    centenas de milhares desses vírus
    já estão se reproduzindo lá.
  • 9:26 - 9:30
    É possível alguém estar
    respirando normalmente
  • 9:30 - 9:33
    e transmitindo alguns vírus pelo ar,
  • 9:33 - 9:35
    sem nem saber,
  • 9:35 - 9:39
    que vão infectar as pessoas diretamente
    ou se instalar em superfícies?
  • 9:39 - 9:42
    AK: Estamos tentando definir
    o quanto isso [inaudível].
  • 9:42 - 9:45
    Como você disse, há evidências
    de que pessoas sem sintomas
  • 9:45 - 9:48
    podem estar com o vírus na garganta.
  • 9:48 - 9:51
    Então, com certeza, ele pode ser exalado,
  • 9:51 - 9:54
    mas será que esse é um evento muito raro
    para que a transmissão real ocorra
  • 9:54 - 9:59
    ou vemos mais infecções
    ocorrerem dessa forma?
  • 9:59 - 10:02
    São dados muito iniciais,
    essa é uma peça do quebra-cabeça,
  • 10:02 - 10:05
    mas estamos tentando descobrir
    como se encaixa com o que sabemos
  • 10:05 - 10:08
    sobre outros tipos de transmissão.
  • 10:08 - 10:14
    CA: Certo, então duração é
    a duração do período de transmissão.
  • 10:14 - 10:18
    Achamos que é de cinco a seis dias, certo?
  • 10:18 - 10:19
    AK: Possivelmente uma semana,
  • 10:19 - 10:23
    depende do que acontece às pessoas
    que estão no período infeccioso.
  • 10:23 - 10:26
    CA: E há pessoas com teste positivo
  • 10:26 - 10:29
    muito depois de serem infectadas.
  • 10:29 - 10:33
    Pode ser verdade, mas provavelmente
    não infectavam tanto, na época.
  • 10:33 - 10:34
    Está correto pensar assim?
  • 10:34 - 10:36
    AK: Estamos trabalhando com essa teoria,
  • 10:36 - 10:38
    de que grande parte
    da infecção ocorre no início.
  • 10:38 - 10:40
    Vemos isso para várias
    infecções respiratórias,
  • 10:40 - 10:43
    quando as pessoas ficam
    gravemente doentes,
  • 10:43 - 10:48
    o comportamento delas é muito diferente
    de quando podem andar por aí normalmente.
  • 10:50 - 10:54
    CA: E comparando esse número D
    com o de outros casos, como a gripe,
  • 10:54 - 10:56
    eles são semelhantes?
  • 10:56 - 10:58
    Qual é o número D da gripe?
  • 10:58 - 11:01
    AK: Para a gripe provavelmente
    é um pouco menor
  • 11:01 - 11:05
    em termos do período em que as pessoas
    transmitem ativamente o vírus.
  • 11:05 - 11:07
    A gripe passa muito rápido
  • 11:07 - 11:09
    de um caso para o outro, na verdade.
  • 11:09 - 11:14
    Possivelmente cerca de três dias
    para infectar outra pessoa.
  • 11:15 - 11:18
    No outro extremo da escala,
    temos coisas como as DSTs,
  • 11:18 - 11:21
    em que a duração pode ser de vários meses.
  • 11:21 - 11:22
    CA: Certo.
  • 11:22 - 11:27
    Bem, realmente nada tão incomum até agora,
    em termos desse vírus em particular.
  • 11:27 - 11:30
    Vamos olhar para o O, oportunidade.
  • 11:30 - 11:31
    O que é isso?
  • 11:31 - 11:33
    AK: Oportunidade mede
  • 11:33 - 11:37
    quantas chances o vírus tem
    para se propagar através de interações
  • 11:37 - 11:39
    no período infeccioso de uma pessoa.
  • 11:39 - 11:41
    É uma medida típica
    de comportamento social.
  • 11:42 - 11:45
    Quantos contatos sociais
    as pessoas fazem, em média,
  • 11:45 - 11:49
    que criam oportunidades de transmissão
    durante o período infeccioso?
  • 11:49 - 11:54
    CA: Então, é o número de pessoas
    das quais você se aproximou o suficiente,
  • 11:54 - 11:56
    durante um determinado dia,
  • 11:56 - 11:58
    para ter a chance de infectá-las.
  • 11:58 - 12:01
    E esse número,
  • 12:01 - 12:05
    em um ambiente urbano normal,
    se as pessoas não tomarem precauções,
  • 12:05 - 12:07
    pode chegar a centenas?
  • 12:07 - 12:09
    AK: É possível, para algumas pessoas.
  • 12:09 - 12:11
    Fizemos vários estudos
    analisando isso nos últimos anos,
  • 12:11 - 12:15
    e a média, em termos de contato físico,
    é de cerca de cinco pessoas por dia.
  • 12:15 - 12:20
    A maioria das pessoas tem conversas
    ou contato com cerca de 10 a 15 pessoas,
  • 12:20 - 12:25
    mas as saudações físicas
    variam muito em cada cultura.
  • 12:25 - 12:28
    CA: E posso presumir que, para esse vírus,
  • 12:28 - 12:31
    esse número não é diferente
    do que para qualquer outro.
  • 12:31 - 12:34
    Essa é apenas uma característica
    da vida que vivemos.
  • 12:35 - 12:37
    AK: Para esse número,
  • 12:37 - 12:39
    se é afetado por esse tipo de interação,
  • 12:39 - 12:42
    e já vimos isso para a gripe
    e outras infecções respiratórias,
  • 12:42 - 12:46
    as interações físicas cotidianas
    e os contatos muito próximos
  • 12:46 - 12:49
    parecem ser os mais importantes
    para a transmissão.
  • 12:49 - 12:52
    CA: Talvez haja uma diferença.
  • 12:52 - 12:56
    O fato de uma pessoa infectar outras
    antes de apresentar sintomas
  • 12:56 - 13:00
    pode significar que nesse caso
    haja mais oportunidades.
  • 13:00 - 13:03
    Isso faz parte da "personalidade"
    desse vírus, por assim dizer.
  • 13:03 - 13:07
    Por não deixar transparecer
    que está em alguém,
  • 13:07 - 13:10
    as pessoas continuam a interagir,
    a ir para o trabalho,
  • 13:10 - 13:14
    a pegar o metrô e assim por diante,
    sem nem saber que estão doentes.
  • 13:14 - 13:15
    AK: Exato.
  • 13:15 - 13:18
    E no caso da gripe, quando as pessoas
    ficam claramente doentes,
  • 13:18 - 13:20
    seus contatos sociais diminuem.
  • 13:20 - 13:23
    Portanto, um vírus que pode ser infeccioso
  • 13:23 - 13:26
    enquanto as pessoas vivem seu dia a dia,
  • 13:26 - 13:29
    realmente tem uma vantagem
    em termos de transmissão.
  • 13:29 - 13:30
    CA: Na sua modelagem,
  • 13:30 - 13:35
    o número de oportunidades
    é maior que o da gripe?
  • 13:35 - 13:40
    AK: No momento,
    usamos valores semelhantes,
  • 13:40 - 13:43
    então tentamos observar, por exemplo,
  • 13:43 - 13:45
    contatos físicos em diferentes populações.
  • 13:45 - 13:48
    Mas estamos aumentando o risco.
  • 13:48 - 13:50
    Então, chegamos ao termo T.
  • 13:50 - 13:52
    Entre cada contato,
  • 13:52 - 13:55
    qual o risco de ocorrer
    um evento de transmissão?
  • 13:55 - 13:57
    CA: Tudo bem, vamos para o próximo número,
  • 13:57 - 14:00
    a probabilidade de transmissão T.
  • 14:00 - 14:02
    Como você define isso?
  • 14:02 - 14:05
    AK: Esse número mede, basicamente,
  • 14:05 - 14:07
    a chance de o vírus se espalhar
  • 14:07 - 14:10
    durante uma oportunidade
    ou interação específica.
  • 14:10 - 14:13
    Pode-se ter uma conversa com alguém
  • 14:13 - 14:17
    sem tossir ou espirrar
  • 14:17 - 14:19
    ou na qual, por algum motivo,
    o vírus não se espalha
  • 14:19 - 14:21
    e não expõe a outra pessoa.
  • 14:21 - 14:26
    Como mencionei, digamos que as pessoas
    têm dez conversas por dia,
  • 14:26 - 14:29
    mas não vemos uma pessoa infectar
    dez outras por dia com este vírus.
  • 14:29 - 14:31
    Isso sugere que nem todas
    essas oportunidades
  • 14:31 - 14:34
    resultam na disseminação do vírus.
  • 14:35 - 14:39
    CA: Mas dizem que é um vírus infeccioso.
  • 14:39 - 14:42
    Como é esse número
    de probabilidade de transmissão
  • 14:42 - 14:44
    comparado, por exemplo, com o da gripe?
  • 14:45 - 14:49
    AK: Em algumas análises observamos
    as interações muito próximas.
  • 14:49 - 14:51
    Analisamos cerca de dez
    estudos de caso diferentes
  • 14:51 - 14:57
    e descobrimos que um terço desses contatos
    foram infectados no estágio inicial,
  • 14:57 - 14:59
    quando as pessoas não sabiam
    que estavam doentes.
  • 14:59 - 15:01
    Portanto, nessas refeições
    em grandes grupos,
  • 15:01 - 15:05
    cada contato teria, potencialmente,
    cerca de uma chance em três
  • 15:05 - 15:07
    de ser exposto.
  • 15:07 - 15:10
    Para a gripe sazonal,
    que tende a ser um pouco menor,
  • 15:10 - 15:12
    mesmo em residências e ambientes fechados,
  • 15:12 - 15:14
    os números não são
    necessariamente tão altos.
  • 15:15 - 15:18
    Mesmo para a SARS,
  • 15:18 - 15:22
    o risco por interação
  • 15:22 - 15:24
    era menor do que constatamos
    para o coronavírus.
  • 15:24 - 15:28
    O que intuitivamente faz sentido,
    deve haver um risco maior por interação,
  • 15:28 - 15:31
    se ele se espalha tão facilmente.
  • 15:32 - 15:36
    Certo, e a quarta letra do DOTS
  • 15:36 - 15:38
    é o S, de suscetibilidade.
  • 15:40 - 15:41
    O que é isso?
  • 15:41 - 15:45
    AK: Essa é a medida da proporção
    da população suscetível ao vírus.
  • 15:46 - 15:48
    Imagine que ocorrem interações,
  • 15:48 - 15:50
    um vírus se espalha,
    pessoas são expostas a ele,
  • 15:50 - 15:52
    mas algumas pessoas
    podem ter sido vacinadas
  • 15:52 - 15:54
    ou ter alguma imunidade
  • 15:54 - 15:58
    e não desenvolvem a infecção
    nem infectam outras pessoas.
  • 15:58 - 16:01
    Portanto, temos que levar em conta
    essa potencial proporção de pessoas
  • 16:01 - 16:04
    que não se transformam em casos.
  • 16:06 - 16:12
    CA: Obviamente, ainda não há
    vacina para o coronavírus,
  • 16:12 - 16:16
    e, pelo menos até onde sabemos,
    inicialmente ninguém está imune.
  • 16:16 - 16:20
    Você está modelando um valor bem alto
    para esse número de suscetibilidade,
  • 16:20 - 16:22
    isso é parte do problema?
  • 16:22 - 16:27
    AK: Sim, a evidência é de que populações
    são totalmente suscetíveis,
  • 16:27 - 16:29
    e, mesmo em áreas
    como a China, por exemplo,
  • 16:29 - 16:33
    onde houve muita transmissão, mas houve
    medidas de controle muito fortes,
  • 16:33 - 16:35
    estimamos que, ao final de janeiro,
  • 16:35 - 16:38
    cerca de 95% da população de Wuhan
    ainda era suscetível ao vírus.
  • 16:38 - 16:44
    Portanto, houve muita infecção,
    mas isso não afetou muito o DOTS,
  • 16:44 - 16:47
    os quatro componentes
    que impulsionam a transmissão.
  • 16:47 - 16:49
    CA: O modo como o cálculo funciona,
  • 16:49 - 16:51
    devo confessar
  • 16:51 - 16:55
    que, em meio ao estresse
    de toda essa situação,
  • 16:55 - 16:58
    meu lado nerd ama
    a elegância da matemática,
  • 16:58 - 17:01
    nunca pensei nisso dessa forma,
  • 17:01 - 17:03
    mas basicamente
    multiplicamos esses números
  • 17:03 - 17:05
    para obter o número de reprodução.
  • 17:05 - 17:07
    É isso?
  • 17:07 - 17:10
    AK: Sim, praticamente trilhamos o caminho
    da infecção durante a transmissão
  • 17:10 - 17:11
    ao multiplicar esses números,
  • 17:12 - 17:14
    e obtemos o número de reprodução do vírus.
  • 17:14 - 17:18
    CA: E isso é muito lógico.
  • 17:18 - 17:21
    É o número de dias em que você
    pode infectar outras pessoas,
  • 17:21 - 17:23
    e o número de pessoas, em média,
  • 17:23 - 17:26
    que você tem oportunidade
    de infectar durante esses dias.
  • 17:27 - 17:31
    Multiplicamos isso
    pela probabilidade de transmissão,
  • 17:31 - 17:37
    ou seja, a probabilidade de o vírus
    se instalar nessas pessoas, como disse.
  • 17:37 - 17:39
    E então multiplicar
    pelo número de suscetibilidade.
  • 17:39 - 17:43
    Nesse caso, qual você acha que é
    a probabilidade de suscetibilidade?
  • 17:44 - 17:47
    AK: Podemos assumir que é de quase 100%
  • 17:47 - 17:49
    em termos de propagação.
  • 17:50 - 17:52
    CA: Certo, multiplicamos esses números
  • 17:52 - 17:57
    e, hoje, para o coronavírus,
  • 17:57 - 18:02
    dois a três é o número mais plausível,
  • 18:03 - 18:05
    e significa um crescimento muito rápido.
  • 18:05 - 18:08
    AK: Exato, nesses surtos não controlados,
  • 18:08 - 18:10
    e vemos vários países neste estágio,
  • 18:10 - 18:13
    esse crescimento realmente é rápido.
  • 18:14 - 18:19
    CA: E como essa estimativa
    de dois a três se compara à gripe?
  • 18:19 - 18:24
    A gripe sazonal deve ter uma estimativa,
    quando se espalha no inverno,
  • 18:24 - 18:28
    que cai bem abaixo de um
    em outras épocas do ano,
  • 18:28 - 18:30
    para o número de reprodução.
  • 18:30 - 18:33
    Mas qual é a estimativa durante
    o período de gripe sazonal?
  • 18:34 - 18:37
    AK: No início da temporada da gripe,
  • 18:37 - 18:42
    provavelmente acharemos
    algo entre 1,2 e 1,4.
  • 18:42 - 18:44
    Não é incrivelmente transmissível,
  • 18:44 - 18:48
    se imaginarmos que a população
    tem alguma imunidade pela vacinação
  • 18:48 - 18:49
    e outras coisas.
  • 18:49 - 18:51
    Portanto, pode se espalhar,
    está acima de um,
  • 18:51 - 18:54
    mas não necessariamente dispara
    tão rapidamente quanto o coronavírus.
  • 18:55 - 18:58
    CA: Quero voltar a dois desses elementos,
  • 18:58 - 19:01
    a oportunidade e a
    probabilidade de transmissão,
  • 19:01 - 19:04
    porque eles parecem ter
  • 19:04 - 19:07
    mais chance de realmente agir
    sobre a taxa de infecção.
  • 19:07 - 19:11
    Antes disso, vamos falar
    sobre outro número-chave,
  • 19:11 - 19:14
    que é a taxa de mortalidade.
  • 19:14 - 19:15
    Antes de tudo,
  • 19:15 - 19:18
    há duas versões diferentes
    da taxa de mortalidade
  • 19:18 - 19:20
    que talvez confundam as pessoas.
  • 19:20 - 19:22
    Você poderia defini-las?
  • 19:22 - 19:26
    AK: O que é frequentemente conhecido
    como taxa de mortalidade
  • 19:26 - 19:30
    é a proporção dos casos com sintomas
  • 19:31 - 19:34
    que se tornam fatais.
  • 19:34 - 19:37
    Às vezes também falamos sobre
    a taxa de mortalidade da infecção,
  • 19:37 - 19:41
    ou seja, de todos os infectados,
    independentemente dos sintomas,
  • 19:41 - 19:44
    quantos se tornarão fatais.
  • 19:44 - 19:50
    Mas a maioria dos valores que vemos
    é a taxa de mortalidade de casos.
  • 19:50 - 19:54
    CA: Então, qual é a taxa
    de mortalidade deste vírus
  • 19:54 - 19:57
    e, novamente, como isso se compara
    a outros patógenos?
  • 19:58 - 20:00
    AK: Alguns números estão surgindo.
  • 20:00 - 20:04
    Um dos desafios em tempo real é que
    muitas vezes não vemos todos os casos,
  • 20:04 - 20:07
    há pessoas sintomáticas
    que não são reportadas.
  • 20:07 - 20:08
    E também há um atraso.
  • 20:08 - 20:12
    Por exemplo, se 100 pessoas compareceram
    a um hospital com coronavírus
  • 20:12 - 20:13
    e nenhuma morreu ainda,
  • 20:13 - 20:16
    não significa que a taxa
    de mortalidade é zero;
  • 20:16 - 20:18
    precisamos esperar
    pelo que vai acontecer a elas.
  • 20:18 - 20:21
    Quando ajustamos
    a subnotificação e o atraso,
  • 20:22 - 20:25
    a melhor estimativa para a mortalidade
    dos casos é de cerca de 1%.
  • 20:25 - 20:28
    Portanto, em média, cerca de 1%
    das pessoas com sintomas
  • 20:28 - 20:29
    têm um resultado fatal.
  • 20:29 - 20:32
    E isso deve ser dez vezes pior
    que a gripe sazonal.
  • 20:34 - 20:37
    CA: É uma comparação assustadora
  • 20:37 - 20:40
    dado o número de pessoas
    que morrem de gripe.
  • 20:40 - 20:45
    Quando a Organização Mundial da Saúde
    mencionou um número mais alto,
  • 20:45 - 20:48
    de 3,4%, há pouco tempo,
  • 20:48 - 20:50
    foi criticada.
  • 20:50 - 20:54
    Explique por que isso pode ter
    desorientado as pessoas,
  • 20:54 - 20:57
    e como pensar e se ajustar a isso.
  • 20:57 - 21:00
    AK: É muito comum as pessoas
    olharem esses números brutos,
  • 21:00 - 21:03
    analisarem quantos casos
    e quantas mortes temos até agora,
  • 21:03 - 21:04
    e considerarem essa proporção.
  • 21:04 - 21:08
    Mesmo há algumas semanas,
    esse número era 2%.
  • 21:08 - 21:11
    Mas, se considerarmos o efeito do atraso,
  • 21:11 - 21:13
    mesmo que não surjam novos casos,
  • 21:13 - 21:16
    ainda ocorrerão resultados fatais
    ao longo do tempo,
  • 21:16 - 21:18
    que podem aumentar esse número.
  • 21:18 - 21:22
    Isso ocorreu em todas as epidemias,
    da gripe pandêmica ao Ebola,
  • 21:22 - 21:23
    vemos isso constantemente.
  • 21:23 - 21:26
    Alertei várias pessoas
    de que esse número aumentará,
  • 21:26 - 21:30
    à medida que os casos na China diminuírem,
    parecerá que estão aumentando,
  • 21:30 - 21:33
    mas é só uma particularidade estatística.
  • 21:33 - 21:35
    Não há nada por trás disso,
  • 21:35 - 21:38
    não estão ocorrendo
    mutações ou algo assim.
  • 21:39 - 21:42
    CA: Se entendi bem,
    há dois efeitos em andamento.
  • 21:42 - 21:48
    Um é que o número de mortes
    dos casos existentes aumentará,
  • 21:48 - 21:52
    o que na verdade elevará
    ainda mais esses 3,4%.
  • 21:52 - 21:55
    Mas devemos compensar isso
    com o fato de que, aparentemente,
  • 21:56 - 21:58
    um grande número de casos
    passou despercebido
  • 21:58 - 22:02
    e, devido a falhas na testagem,
  • 22:02 - 22:05
    o número de mortes
  • 22:05 - 22:08
    provavelmente reflete um número
    prévio de casos muito maior, certo?
  • 22:09 - 22:11
    AK: Exato, temos algo
    que eleva esse número
  • 22:11 - 22:13
    e algo que o diminui.
  • 22:13 - 22:18
    Significa que, se as estimativas iniciais
    só forem ajustadas em relação ao atraso
  • 22:18 - 22:20
    sem pensarmos nos casos não relatados,
  • 22:20 - 22:22
    começamos a ter números
    realmente muito assustadores.
  • 22:22 - 22:25
    Podemos chegar a 20%, 30%,
  • 22:25 - 22:29
    o que realmente não se enquadra
    no que sabemos sobre esse vírus em geral.
  • 22:30 - 22:31
    CA: Certo.
  • 22:32 - 22:33
    Há muito mais dados agora.
  • 22:33 - 22:37
    Do seu ponto de vista,
    a taxa de mortalidade provável,
  • 22:37 - 22:42
    pelo menos no estágio inicial
    de uma infecção,
  • 22:42 - 22:44
    é de cerca de 2%?
  • 22:44 - 22:49
    AK: No geral, podemos pensar
    em algo na faixa de 0,5% a 2%,
  • 22:49 - 22:51
    e isso está em vários
    conjuntos de dados diferentes.
  • 22:51 - 22:53
    Isso para pessoas que apresentam sintomas.
  • 22:53 - 22:57
    Em média, 1% é um bom número
    para se trabalhar.
  • 22:57 - 22:58
    CA: Certo, 1%.
  • 22:58 - 23:01
    Para a gripe, costuma ser 0,1%,
  • 23:01 - 23:07
    então, essa doença é de cinco a dez vezes
    mais perigosa que a gripe.
  • 23:07 - 23:11
    E esse perigo não é simétrico
    entre as faixas etárias, como se sabe.
  • 23:11 - 23:14
    Afeta principalmente os idosos.
  • 23:14 - 23:16
    AK: Sim, na média é 1%,
  • 23:16 - 23:21
    mas, para pessoas com mais de 60, 70,
    esse número realmente dispara.
  • 23:21 - 23:24
    Estimamos que nos grupos
    de maior faixa etária
  • 23:24 - 23:29
    haja 5%, talvez 10% de mortalidade.
  • 23:29 - 23:33
    Além disso, claro, precisamos
    considerar os casos graves
  • 23:33 - 23:35
    e as pessoas que precisarão
    de hospitalização.
  • 23:35 - 23:39
    E esses riscos aumentam muito
    nos grupos de maior faixa etária.
  • 23:41 - 23:43
    CA: Adam, junte esses números para nós.
  • 23:43 - 23:49
    Nos seus modelos, se você considerar
    uma taxa de reprodução de 2% a 3%
  • 23:49 - 23:53
    e uma taxa de mortalidade de 0,5% a 1%
  • 23:53 - 23:56
    e executar a simulação,
  • 23:56 - 23:58
    como ela será?
  • 23:59 - 24:04
    AK: Se temos uma transmissão descontrolada
    e número de reprodução de 2% ou 3%
  • 24:04 - 24:06
    e não fazemos nada a respeito,
  • 24:06 - 24:07
    a única maneira de o surto terminar
  • 24:07 - 24:10
    é com um número suficiente de pessoas
    contraindo a doença,
  • 24:10 - 24:12
    a imunidade geral aumenta,
  • 24:12 - 24:15
    e o surto acabar por conta própria.
  • 24:15 - 24:19
    Nesse caso, espera-se que uma parcela
    muito grande da população seja infectada.
  • 24:19 - 24:21
    É o que vemos
  • 24:21 - 24:24
    em muitos outros surtos não contidos,
  • 24:24 - 24:26
    que basicamente
    se espalham pela população,
  • 24:26 - 24:28
    e um grande número de pessoas
    são infectadas.
  • 24:28 - 24:31
    Com taxas de mortalidade
    e de hospitalização como essas,
  • 24:31 - 24:35
    seria realmente muito prejudicial
    se isso ocorresse.
  • 24:35 - 24:37
    Nacionalmente,
  • 24:37 - 24:39
    e a Itália é um bom exemplo no momento,
  • 24:39 - 24:43
    se temos uma transmissão inicial
    não detectada e um crescimento tão rápido,
  • 24:43 - 24:47
    o sistema de saúde rapidamente
    fica sobrecarregado.
  • 24:47 - 24:51
    Um dos aspectos
    mais desagradáveis deste vírus
  • 24:51 - 24:55
    é que, por haver esse tempo
    entre a infecção, os sintomas
  • 24:55 - 24:57
    e o comparecimento das pessoas
    às unidades de saúde,
  • 24:57 - 24:59
    se o sistema de saúde está sobrecarregado,
  • 24:59 - 25:02
    mesmo que se interrompa
    completamente a transmissão,
  • 25:02 - 25:05
    já temos todas as pessoas
    que foram expostas,
  • 25:05 - 25:07
    então ainda aparecerão casos,
    e alguns deles graves,
  • 25:07 - 25:09
    por mais algumas semanas.
  • 25:09 - 25:13
    Esse enorme acúmulo
    de infecções e sobrecarga
  • 25:13 - 25:16
    acaba atingindo a população
    através do sistema de saúde.
  • 25:17 - 25:20
    CA: Então, na verdade,
    há outro número-chave:
  • 25:20 - 25:24
    como se relaciona o número total de casos
  • 25:24 - 25:31
    à capacidade do sistema de saúde
    de um país para processar todos eles?
  • 25:31 - 25:34
    Isso deve fazer uma enorme diferença
    na taxa de mortalidade,
  • 25:34 - 25:37
    pessoas chegando com uma doença grave
  • 25:37 - 25:40
    em um sistema de saúde capaz de atender
    ou em um sobrecarregado.
  • 25:40 - 25:43
    A taxa de mortalidade será
    muito diferente nesse aspecto.
  • 25:43 - 25:46
    AK: Se alguém precisar um leito de UTI,
    vai ocupá-lo por algumas semanas
  • 25:46 - 25:48
    e há mais casos entrando no sistema,
  • 25:48 - 25:51
    então a situação fica
    muito difícil rapidamente.
  • 25:51 - 25:57
    CA: Fale sobre a diferença
    entre contenção e mitigação.
  • 25:57 - 26:00
    São termos diferentes
    sobre os quais temos ouvido falar muito.
  • 26:00 - 26:06
    Nos estágios iniciais do vírus,
    os governos estão focando a contenção.
  • 26:06 - 26:08
    O que isso significa?
  • 26:08 - 26:09
    AK: Contenção é a ideia
  • 26:09 - 26:14
    de que podemos concentrar os esforços
    no controle dos casos e de seus contatos.
  • 26:14 - 26:16
    Isso não causa perturbações
    para a população em geral:
  • 26:16 - 26:19
    temos um caso, que será isolado,
  • 26:19 - 26:21
    descobrimos com quem ele teve contato,
  • 26:21 - 26:25
    quais foram as possíveis
    oportunidades de exposição
  • 26:25 - 26:27
    e podemos acompanhar essa pessoa,
  • 26:27 - 26:30
    colocá-la em quarentena para garantir
    que não ocorram transmissões adicionais.
  • 26:30 - 26:33
    É um método muito focado e direcionado
  • 26:33 - 26:35
    que funcionou muito bem para o SARS.
  • 26:36 - 26:38
    Mas acho que, para esta infecção,
  • 26:38 - 26:41
    como alguns casos não serão detectados,
  • 26:41 - 26:45
    devemos realmente testar
    um grande número de pessoas em risco.
  • 26:45 - 26:48
    Mas se alguns poucos escaparem dessa rede,
    possivelmente teremos um surto.
  • 26:48 - 26:52
    CA: Algum país foi capaz
    de empregar essa estratégia
  • 26:52 - 26:55
    e efetivamente conter o vírus?
  • 26:55 - 26:59
    AK: Singapura tem feito
    um trabalho realmente notável
  • 26:59 - 27:00
    nas últimas seis semanas.
  • 27:01 - 27:03
    Além de algumas medidas mais amplas,
  • 27:03 - 27:05
    eles fazem um trabalho incrível
  • 27:05 - 27:08
    para rastrear quem teve contato
    com pessoas infectadas.
  • 27:08 - 27:10
    Analisando imagens de CFTV,
  • 27:10 - 27:13
    descobrindo qual táxi alguém pegou,
    quem pode estar em risco,
  • 27:13 - 27:15
    um acompanhamento realmente completo.
  • 27:15 - 27:18
    E por cerca de seis semanas,
    isso impediu a transmissão.
  • 27:19 - 27:20
    CA: Isso é incrível.
  • 27:20 - 27:25
    Então, alguém entra no país,
    tem resultado positivo no teste,
  • 27:25 - 27:27
    eles vão a campo, com uma equipe enorme,
  • 27:27 - 27:29
    e rastreiam tudo
  • 27:29 - 27:31
    a ponto de dizer:
  • 27:31 - 27:34
    "Não sabe qual táxi pegou?
    Vamos descobrir".
  • 27:34 - 27:36
    E quando encontram o motorista do táxi,
  • 27:36 - 27:39
    precisam tentar descobrir todos os outros
    que estiveram naquele táxi?
  • 27:39 - 27:43
    AK: Eles se concentram nos contatos
    próximos das pessoas em maior risco,
  • 27:43 - 27:47
    mas realmente diminuem a chance
    de alguém escapar dessa rede.
  • 27:48 - 27:50
    CA: Mas mesmo em Singapura,
  • 27:50 - 27:54
    se não me engano, os números
    começaram a se aproximar de zero,
  • 27:54 - 27:57
    mas, recentemente, voltaram
    a aumentar um pouco.
  • 27:57 - 27:58
    Ainda não está claro
  • 27:58 - 28:02
    se eles realmente serão capazes
    de sustentar a contenção.
  • 28:02 - 28:03
    AK: Exato.
  • 28:03 - 28:07
    Vimos o número de reprodução
    cair para 0,8, 0,9, talvez,
  • 28:07 - 28:09
    portanto abaixo da taxa crucial de um.
  • 28:10 - 28:13
    Mas, na última semana ou duas,
    ele parece ter aumentado,
  • 28:13 - 28:14
    e eles estão tendo mais casos.
  • 28:14 - 28:18
    Mesmo que estejam contendo o vírus,
  • 28:18 - 28:20
    acho que o mundo está passando por surtos
  • 28:20 - 28:22
    e continua jogando faíscas de infecção,
  • 28:22 - 28:25
    e fica cada vez mais difícil
    acabar com todas elas
  • 28:25 - 28:27
    com esse nível de esforço intensivo.
  • 28:27 - 28:29
    (Música)
  • 28:48 - 28:50
    CA: No caso deste vírus,
  • 28:50 - 28:54
    a maioria dos países foi alertada
    de que isso estava acontecendo.
  • 28:54 - 28:58
    As notícias vindas da China
    rapidamente se tornaram muito sombrias
  • 28:58 - 29:01
    e as pessoas tiveram tempo de se preparar.
  • 29:01 - 29:06
    Como seria a preparação ideal
  • 29:06 - 29:08
    sabendo que algo assim está por vir
  • 29:08 - 29:10
    e que há muita coisa em jogo
  • 29:10 - 29:13
    se conseguir contê-la com sucesso
    antes que ela realmente fuja do controle?
  • 29:13 - 29:16
    AK: Acho que duas coisas
    fariam uma diferença enorme.
  • 29:16 - 29:21
    Uma é ter um acompanhamento
    e detecção o mais meticuloso possível.
  • 29:21 - 29:22
    Fizemos alguns modelos
  • 29:22 - 29:25
    analisando a eficácia
    desse tipo de contenção inicial.
  • 29:25 - 29:30
    E pode ser eficaz, se forem
    identificadas 70% ou 80%
  • 29:30 - 29:33
    das pessoas que podem ter
    entrado em contato com o vírus.
  • 29:33 - 29:38
    Mas, se não detectar
    os casos novos e os contatos deles,
  • 29:38 - 29:41
    e no início o foco principal estava
    no histórico de viagens para a China,
  • 29:41 - 29:44
    depois ficou claro
    que a situação estava mudando,
  • 29:44 - 29:48
    mas como confiavam nisso
    como definição de caso,
  • 29:48 - 29:52
    muitos outros casos que correspondiam
    à definição não foram testados
  • 29:52 - 29:55
    porque não pareciam
    estar potencialmente em risco.
  • 29:55 - 29:59
    CA: Então, se sabemos
    que detecção precoce é a chave,
  • 29:59 - 30:01
    uma medida inicial essencial
  • 30:01 - 30:06
    é garantir rapidamente que se tenha
    testes suficientes disponíveis
  • 30:06 - 30:08
    onde forem necessários,
  • 30:08 - 30:10
    para que se possa reagir,
  • 30:10 - 30:14
    estar pronto para entrar em ação
    assim que alguém for detectado,
  • 30:14 - 30:19
    e muito rapidamente testar
    os contatos dele e assim por diante,
  • 30:19 - 30:22
    para ter uma chance
    de manter isso sob controle.
  • 30:22 - 30:23
    AK: Exatamente.
  • 30:23 - 30:26
    Minha linha de trabalho é
    de que há valor em um teste negativo,
  • 30:26 - 30:29
    porque mostra que algo
    que procuramos não está lá.
  • 30:29 - 30:33
    Portanto, um pequeno número
    de pessoas testadas
  • 30:33 - 30:36
    não garante que não estamos
    deixando casos passarem,
  • 30:36 - 30:39
    mas, se acompanharmos
    minuciosamente os contatos,
  • 30:39 - 30:41
    como já vimos na Coreia,
  • 30:41 - 30:43
    um grande número de pessoas é testada.
  • 30:43 - 30:45
    Portanto, embora ainda apareçam casos,
  • 30:45 - 30:49
    isso garante que eles têm uma ideia
    de onde estão essas infecções.
  • 30:49 - 30:52
    CA: Você está no Reino Unido agora,
  • 30:52 - 30:53
    eu estou nos EUA.
  • 30:53 - 30:58
    Qual é a probabilidade
    de tanto o Reino Unido
  • 30:58 - 31:02
    quanto os EUA conseguirem conter isso?
  • 31:03 - 31:07
    AK: Acho bastante improvável,
    nos dois casos.
  • 31:07 - 31:10
    Acho que o Reino Unido terá de introduzir
    algumas medidas adicionais.
  • 31:10 - 31:14
    O momento para isso, obviamente,
    depende um pouco da situação atual,
  • 31:14 - 31:16
    mas já testamos quase 30 mil pessoas.
  • 31:17 - 31:22
    Acho que os EUA passarão desse número,
  • 31:22 - 31:25
    dada a quantidade de evidências
    de haver transmissão extensiva,
  • 31:25 - 31:28
    e, sem ter uma ideia clara
    do número de infectados
  • 31:28 - 31:30
    e sem esse nível de testes,
  • 31:30 - 31:34
    é muito difícil realmente saber
    qual é o quadro atual nos EUA.
  • 31:35 - 31:41
    CA: Não quero levar isso para a política,
    mas você não se impressiona...
  • 31:41 - 31:43
    o Reino Unido testou 30 mil pessoas,
  • 31:43 - 31:46
    os EUA são 5 ou 6 vezes maior
  • 31:46 - 31:49
    e o número total de testes aqui
    era de 5 mil ou 6 mil há alguns dias.
  • 31:49 - 31:53
    Isso te parece bizarro?
  • 31:53 - 31:57
    Sinceramente, não entendo
    como isso aconteceu em um país letrado,
  • 31:57 - 31:59
    com tanto conhecimento
    sobre doenças infecciosas.
  • 32:00 - 32:04
    AK: Sim, e obviamente há
    vários fatores envolvidos,
  • 32:04 - 32:07
    logística e outros,
  • 32:07 - 32:10
    mas houve um período de alerta
    de que é uma ameaça e está chegando.
  • 32:10 - 32:14
    Os países precisam
    garantir que são capazes
  • 32:14 - 32:17
    de detectar o máximo possível
    de casos nos estágios iniciais,
  • 32:17 - 32:21
    porque é quando vão identificá-los
    e terão uma chance melhor de contê-los.
  • 32:22 - 32:25
    CA: Se não conseguirmos contê-los,
  • 32:25 - 32:28
    precisaremos mudar para alguma
    estratégia de mitigação.
  • 32:28 - 32:31
    O que entra em jogo daí?
  • 32:32 - 32:35
    E quero relembrar
  • 32:35 - 32:41
    dois dos fatores DOTS: oportunidade
    e probabilidade de transmissão,
  • 32:41 - 32:44
    pois o vírus é isso mesmo,
  • 32:44 - 32:48
    e não há muito a fazer quanto ao período
    em que alguém pode infectar outros.
  • 32:48 - 32:50
    Em relação à suscetibilidade,
  • 32:50 - 32:53
    não podemos fazer muito
    até haver uma vacina.
  • 32:53 - 32:55
    Podemos falar sobre isso daqui a pouco.
  • 32:55 - 32:58
    Mas em relação à oportunidade
    e probabilidade de transmissão,
  • 32:58 - 33:00
    podemos fazer algo.
  • 33:00 - 33:05
    Talvez você queira falar sobre isso,
  • 33:05 - 33:09
    ou sobre como criar
    uma estratégia de mitigação?
  • 33:09 - 33:11
    Pensando primeiro em oportunidade,
  • 33:11 - 33:15
    como reduzir o número de oportunidades
    de transmissão do vírus?
  • 33:16 - 33:18
    AK: Para isso
  • 33:18 - 33:21
    precisa haver uma mudança enorme
    em nossas interações sociais.
  • 33:21 - 33:26
    Considerando um número de reprodução
    por volta de dois ou três,
  • 33:26 - 33:31
    realmente precisamos cortar
    alguns aspectos dessa transmissão
  • 33:31 - 33:34
    pela metade ou em dois terços
    para que ele fique abaixo de um.
  • 33:34 - 33:38
    Para isso é preciso que todas
    as oportunidades de espalhar o vírus,
  • 33:38 - 33:40
    os contatos próximos,
  • 33:40 - 33:42
    sejam reduzidas,
  • 33:42 - 33:45
    por toda a população,
  • 33:45 - 33:48
    em dois terços, em média,
    para controlar o surto.
  • 33:48 - 33:51
    Pode ser através do trabalho em casa,
  • 33:51 - 33:53
    da mudança de estilo de vida,
  • 33:53 - 33:56
    se você vai a lugares e jantares lotados.
  • 33:57 - 33:59
    E, claro, medidas
    como fechamento de escolas
  • 33:59 - 34:02
    e outras que tentam reduzir
  • 34:02 - 34:03
    os contatos sociais de uma população.
  • 34:04 - 34:08
    CA: Fale mais sobre
    o fechamento de escolas,
  • 34:08 - 34:13
    porque, se bem me lembro, isso foi citado
    muitas vezes em pandemias passadas
  • 34:13 - 34:15
    como uma medida absolutamente essencial,
  • 34:15 - 34:21
    que as escolas representam
    esse tipo de reunião de pessoas,
  • 34:21 - 34:25
    quando se trata de gripes e resfriados,
    as crianças são portadoras do vírus.
  • 34:26 - 34:31
    Mas as crianças não parecem ficar doentes
    com este vírus em particular,
  • 34:31 - 34:34
    ou pelo menos muito poucas.
  • 34:34 - 34:39
    Elas podem transmitir o vírus?
  • 34:39 - 34:42
    Podem ser portadoras
    não intencionais dele?
  • 34:42 - 34:45
    Ou, de fato, há evidências
    de que o fechamento das escolas
  • 34:45 - 34:49
    pode não ser tão importante
    neste caso quanto em outros?
  • 34:49 - 34:52
    AK: A questão do papel
    das crianças é crucial,
  • 34:52 - 34:55
    e ainda não há uma boa base de evidências.
  • 34:55 - 34:57
    A partir do acompanhamento
    dos contatos dos casos,
  • 34:57 - 34:59
    não há evidências
    de que crianças sejam infectadas;
  • 34:59 - 35:02
    elas são expostas e, quando as testamos,
  • 35:02 - 35:06
    não é que não estejam infectadas,
  • 35:06 - 35:10
    mas não apresentam sintomas
    da mesma maneira.
  • 35:10 - 35:11
    Especialmente para a gripe,
  • 35:11 - 35:14
    ao analisar as implicações
    do fechamento das escolas:
  • 35:14 - 35:17
    no Reino Unido, em 2009,
    durante a gripe suína,
  • 35:17 - 35:20
    houve um declínio no surto
    durante as férias escolares,
  • 35:20 - 35:24
    pode-se ver na curva da epidemia:
    ela cai no verão e sobe no outono.
  • 35:24 - 35:28
    Mas, em 2009, havia alguma imunidade
    nas faixas etárias maiores.
  • 35:28 - 35:31
    Isso levou a transmissão
    para os mais jovens.
  • 35:31 - 35:35
    Estamos tentando entender isso.
  • 35:35 - 35:37
    O fechamento das escolas
    reduz as interações,
  • 35:37 - 35:39
    mas traz efeitos sociais indiretos,
  • 35:40 - 35:43
    podendo afetar avós
  • 35:43 - 35:47
    no papel de cuidadores alternativos,
    se os pais têm que trabalhar.
  • 35:47 - 35:51
    Há muitas peças a considerar.
  • 35:52 - 35:57
    CA: Com base em todas as diferentes
    evidências que você analisou,
  • 35:57 - 35:58
    se dependesse de você,
  • 35:58 - 36:02
    recomendaria que neste momento
    a maioria dos países
  • 36:02 - 36:07
    analisasse com atenção o fechamento geral
    das escolas como medida de precaução?
  • 36:07 - 36:09
    Vale a pena fazer isso
  • 36:09 - 36:15
    como uma estratégia dolorosa
    de dois, três, quatro, cinco meses?
  • 36:15 - 36:16
    O que você recomendaria?
  • 36:16 - 36:17
    AK: O principal,
  • 36:17 - 36:21
    dada a distribuição etária do risco
    e a gravidade nos grupos mais velhos,
  • 36:21 - 36:25
    é reduzir as interações que trazem
    a infecção para esses grupos.
  • 36:25 - 36:29
    Depois reduzir as interações
    entre todas as pessoas o máximo possível.
  • 36:29 - 36:31
    O principal é
  • 36:31 - 36:34
    que a carga da doença está tão localizada
    no grupo de mais de 60 anos
  • 36:34 - 36:39
    que não se trata apenas de todos
    tentarem evitar todas as interações,
  • 36:39 - 36:43
    mas de evitar os comportamentos
    que levam as infecções a esses grupos.
  • 36:44 - 36:47
    CA: Isso significa que as pessoas
    deveriam pensar duas vezes
  • 36:47 - 36:50
    antes de visitar um ente querido
  • 36:50 - 36:55
    em clínicas ou lares para idosos?
  • 36:55 - 36:59
    Devemos prestar uma atenção
    muito especial a isso,
  • 36:59 - 37:04
    essas instalações devem tomar
    muito cuidado com quem elas admitem,
  • 37:04 - 37:06
    verificando temperatura
    e sintomas ou algo assim?
  • 37:06 - 37:09
    AK: Essas medidas definitivamente
    devem ser consideradas.
  • 37:09 - 37:13
    No Reino Unido, estamos planejando
    uma estratégia chamada de "encasulamento"
  • 37:13 - 37:15
    para os grupos de mais idade,
  • 37:15 - 37:19
    na qual podemos realmente
    tentar isolar o máximo possível
  • 37:19 - 37:22
    as interações de pessoas
    que podem transmitir o vírus.
  • 37:22 - 37:24
    Basicamente, como você disse,
  • 37:24 - 37:27
    não podemos atacar outros
    aspectos da transmissão,
  • 37:27 - 37:30
    apenas reduzir o risco
    de exposição desses grupos,
  • 37:30 - 37:34
    então qualquer coisa
    que se possa fazer individualmente
  • 37:34 - 37:36
    para reduzir o risco de cada pessoa,
  • 37:36 - 37:39
    seja ela idosa ou de outro grupo de risco,
  • 37:39 - 37:41
    é crucial.
  • 37:41 - 37:43
    No âmbito geral,
  • 37:43 - 37:47
    essas medidas em larga escala podem ajudar
    a reduzir as interações em geral,
  • 37:47 - 37:50
    mas se essas reduções acontecerem
  • 37:50 - 37:53
    sem reduzir o risco das pessoas
    que sofrerão doenças graves,
  • 37:53 - 37:57
    essa carga incrivelmente
    pesada se manterá.
  • 37:58 - 38:05
    CA: As pessoas precisam aplicar
    essa lente dupla ao pensar essas questões?
  • 38:05 - 38:09
    Ao seguir com sua vida, o risco é
    você se infectar, pegar esse vírus.
  • 38:10 - 38:13
    Mas também há o risco
    de, sem querer, ser portador
  • 38:13 - 38:16
    para alguém que sofrerá
    muito mais do que você.
  • 38:16 - 38:20
    E precisamos ter
    essas duas coisas em mente.
  • 38:20 - 38:22
    AK: Sim, não é só
    a mão de quem você aperta,
  • 38:22 - 38:24
    é a mão de quem a outra
    pessoa vai apertar.
  • 38:24 - 38:27
    E precisamos pensar
    nessas etapas secundárias:
  • 38:27 - 38:31
    você pode achar que tem risco baixo
    e que faz parte de um grupo mais jovem,
  • 38:31 - 38:34
    mas muitas vezes estará
    a uma distância muito curta
  • 38:34 - 38:37
    de alguém que vai ser atingido
    fortemente por isso.
  • 38:37 - 38:40
    Precisamos ter uma atitude social
  • 38:40 - 38:43
    e isso pode ser muito dramático
    em termos de mudança de comportamento,
  • 38:43 - 38:47
    mas é preciso reduzir o impacto
    que potencialmente enfrentamos.
  • 38:49 - 38:51
    CA: Então, só podemos reduzir
    o número de oportunidades
  • 38:51 - 38:56
    se reduzirmos o número de contatos físicos
    que temos com outras pessoas.
  • 38:56 - 39:01
    E como diminuir
    a probabilidade de transmissão?
  • 39:01 - 39:03
    Ela afeta a forma como interagimos.
  • 39:03 - 39:07
    Você mencionou aperto de mão, imagino
    que dirá para não apertarmos as mãos.
  • 39:07 - 39:09
    AK: Sim, mudanças como essa.
  • 39:09 - 39:13
    Outra é a lavagem das mãos;
  • 39:13 - 39:16
    podemos realizar
    as mesmas atividades de antes,
  • 39:16 - 39:19
    mas ao lavar as mãos reduzimos a chance
  • 39:19 - 39:22
    de espalhar a infecção
    de uma interação para outra,
  • 39:22 - 39:26
    então todas essas medidas significam
    que, mesmo ocorrendo exposições,
  • 39:26 - 39:30
    estamos tomando medidas adicionais
    para evitar que ocorra alguma transmissão.
  • 39:30 - 39:33
    CA: A maioria das pessoas
    não entende completamente
  • 39:33 - 39:37
    ou não tem um modelo claro sobre o modo
    pelo qual esse vírus se espalha.
  • 39:37 - 39:41
    Você acha que as pessoas
    realmente entendem
  • 39:41 - 39:47
    que não inalamos as gotículas
    de alguém que tossiu ou espirrou.
  • 39:47 - 39:49
    Então, como isso se espalha?
  • 39:49 - 39:51
    Ele fica em superfícies. Como?
  • 39:51 - 39:56
    Uma pessoa doente simplesmente
    expira, toca a boca ou algo assim,
  • 39:56 - 39:58
    depois toca uma superfície,
    e ela fica contaminada?
  • 39:58 - 40:01
    Como o vírus chega às superfícies?
  • 40:01 - 40:05
    AK: Muito pelo fato de a pessoa
    tossir na mão e tocar na superfície.
  • 40:06 - 40:08
    Mas o desafio, obviamente,
  • 40:08 - 40:11
    é desvendar as questões
    sobre como a transmissão acontece.
  • 40:11 - 40:15
    Há transmissão numa família quando alguém
    tosse e o vírus vai para uma superfície,
  • 40:15 - 40:17
    pelo contato direto, por um aperto de mão,
  • 40:17 - 40:22
    e, mesmo para a gripe, trabalhamos duro
    para tentar entender essas coisas,
  • 40:22 - 40:25
    qual a relação entre risco de infecção
    e comportamento social.
  • 40:25 - 40:29
    Porque isso é visivelmente importante,
    mas realmente difícil de determinar.
  • 40:29 - 40:32
    CA: É quase como aceitar o fato
  • 40:32 - 40:35
    de que, na verdade,
    não sabemos muitas dessas coisas,
  • 40:35 - 40:39
    e que estamos todos
    nesse jogo de probabilidades.
  • 40:39 - 40:42
    Por isso a matemática
    é tão importante aqui.
  • 40:42 - 40:48
    Pensar em como cada um desses números,
  • 40:48 - 40:52
    trabalhando em conjunto,
    tem um papel a desempenhar.
  • 40:52 - 40:57
    E qualquer um cuja porcentagem
    você puder diminuir,
  • 40:57 - 41:01
    provavelmente contribui,
    não só para você, mas para todos.
  • 41:01 - 41:05
    As pessoas não sabem em detalhes
    como os números se combinam,
  • 41:05 - 41:07
    mas sabem que provavelmente
    todos eles importam.
  • 41:07 - 41:12
    Precisamos que, de alguma forma,
    elas aceitem essa incerteza
  • 41:12 - 41:17
    e tenham satisfação
    ao agir sobre cada um deles.
  • 41:17 - 41:23
    AK: A ideia de que infectar três pessoas,
    em média, leva a essa situação,
  • 41:23 - 41:25
    e como cada um pode reduzir essa taxa.
  • 41:25 - 41:29
    Se lavarmos as mãos, quanto isso reduz,
    em termos de apertos de mão?
  • 41:29 - 41:32
    O vírus poderia estar em você,
    mas não está mais,
  • 41:32 - 41:36
    ou se de alguma forma você muda
    seu comportamento social
  • 41:36 - 41:39
    isso evita algumas interações, a metade?
  • 41:39 - 41:43
    Como você pode realmente intervir
    nesse número o máximo possível?
  • 41:44 - 41:47
    CA: Há mais alguma coisa a dizer
    sobre como podemos reduzir
  • 41:47 - 41:52
    essa probabilidade de transmissão
    em nossas interações?
  • 41:52 - 41:57
    Qual distância física é aconselhável
  • 41:57 - 42:00
    manter das outras pessoas, se possível?
  • 42:00 - 42:02
    AK: Acho difícil definir exatamente,
  • 42:02 - 42:06
    mas algo a se ter em mente
    é que não há muitas evidências
  • 42:06 - 42:08
    de que esse vírus seja
    como um aerossol e que vá muito longe,
  • 42:08 - 42:10
    são distâncias razoavelmente curtas.
  • 42:10 - 42:15
    Não acho que, sentado
    a poucos metros de alguém,
  • 42:15 - 42:17
    o vírus possa te alcançar.
  • 42:18 - 42:19
    É em interações mais próximas
  • 42:19 - 42:22
    e por isso vemos
    tantos eventos de transmissão
  • 42:22 - 42:27
    ocorrerem em coisas como refeições
    e grupos muito unidos.
  • 42:27 - 42:32
    É aí que um vírus pode ir parar
    nas superfícies, nas mãos e no rosto,
  • 42:32 - 42:36
    é realmente nessas situações
    que precisamos pensar mais.
  • 42:38 - 42:40
    CA: Então, de certa forma,
    alguns medos das pessoas
  • 42:40 - 42:42
    podem ser superestimados,
  • 42:42 - 42:45
    por exemplo, se você estiver
    no meio de um avião
  • 42:45 - 42:47
    e alguém na frente espirra,
  • 42:47 - 42:49
    isso incomoda,
  • 42:49 - 42:53
    mas na verdade não é isso
    que deveria assustá-lo mais.
  • 42:53 - 42:57
    Existem maneiras muito mais inteligentes
    de prestar atenção ao seu bem-estar.
  • 42:57 - 43:00
    AK: Sim, se fosse sarampo,
    e as pessoas no avião fossem suscetíveis,
  • 43:00 - 43:03
    teríamos muitas infecções depois disso.
  • 43:03 - 43:07
    Lembre-se, em média, uma pessoa
    infecta outras duas ou três,
  • 43:07 - 43:11
    então talvez nem todas as 50 pessoas
    com que você interagiu ao longo da semana
  • 43:11 - 43:13
    estejam em risco.
  • 43:13 - 43:17
    Mas algumas delas,
    especialmente os contatos próximos,
  • 43:17 - 43:19
    é com esses que a transmissão ocorre.
  • 43:19 - 43:26
    CA: Do ponto de vista
    de uma estratégia nacional,
  • 43:26 - 43:30
    fala-se muito sobre a necessidade
    de "achatar a curva".
  • 43:30 - 43:31
    O que isso significa?
  • 43:31 - 43:35
    AK: Isso se refere à ideia
  • 43:35 - 43:38
    de os casos não chegarem todos
    ao mesmo tempo no sistema de saúde.
  • 43:38 - 43:42
    Se nos acomodarmos, não fizermos nada
    e apenas deixarmos a epidemia crescer,
  • 43:42 - 43:48
    com uma taxa de crescimento
    que, hoje, em alguns lugares,
  • 43:48 - 43:51
    faz a epidemia duplicar
    a cada três ou quatro dias,
  • 43:51 - 43:55
    ela vai disparar e vamos ter
    doentes, em estado grave,
  • 43:55 - 43:58
    todos precisando ao mesmo tempo
    de cuidados hospitalares,
  • 43:58 - 44:00
    e não teremos capacidade para isso.
  • 44:00 - 44:01
    A ideia de achatar a curva é:
  • 44:01 - 44:05
    se reduzirmos a transmissão
    e o número de reprodução,
  • 44:05 - 44:07
    ainda pode haver um surto,
  • 44:07 - 44:10
    mas será muito mais plano, mais longo,
  • 44:10 - 44:14
    e aparecerão menos casos graves que podem
    receber os cuidados de saúde que precisam.
  • 44:16 - 44:22
    CA: Isso significa que haverá
    menos casos no geral?
  • 44:23 - 44:28
    Quando analisamos gráficos
    com imagens reais do achatamento da curva,
  • 44:28 - 44:32
    parece que a área
    abaixo da linha é a mesma,
  • 44:32 - 44:35
    isto é, o número de pessoas
    infectadas é o mesmo,
  • 44:35 - 44:38
    mas em um período mais longo.
  • 44:38 - 44:40
    Tipicamente é isso que acontece,
  • 44:40 - 44:45
    e mesmo se adotarmos todas
    as estratégias de distanciamento social,
  • 44:45 - 44:49
    lavarmos as mãos, etc.,
  • 44:49 - 44:52
    o melhor que podemos esperar
    é diminuir a velocidade,
  • 44:52 - 44:55
    e acabaremos com o mesmo
    número de pessoas infectadas?
  • 44:55 - 44:57
    AK: Não necessariamente,
    depende das medidas adotadas.
  • 44:57 - 45:00
    Existem algumas medidas,
    como interromper viagens,
  • 45:00 - 45:03
    que normalmente atrasam a propagação
    em vez de reduzi-la.
  • 45:03 - 45:05
    Então, ainda teremos os mesmos surtos,
  • 45:05 - 45:08
    mas sua duração será mais longa.
  • 45:08 - 45:10
    Mas existem outras medidas.
  • 45:10 - 45:11
    Se reduzirmos as interações,
  • 45:11 - 45:14
    se o número de reprodução for menor,
  • 45:14 - 45:16
    esperara-se menos casos no geral.
  • 45:16 - 45:20
    E, por fim, teremos algum acúmulo
    de imunidade na população,
  • 45:20 - 45:22
    o que ajuda, se pensarmos
    nos componentes da fórmula,
  • 45:22 - 45:27
    reduzindo a suscetibilidade,
    além do que acontece em outros lugares.
  • 45:27 - 45:30
    Portanto, a esperança é
    que as duas coisas trabalhem juntas.
  • 45:30 - 45:34
    CA: Me ajude a entender como isso termina.
  • 45:35 - 45:37
    A China, por exemplo.
  • 45:39 - 45:43
    Qualquer coisa que pensarmos
    sobre a supressão inicial de dados
  • 45:43 - 45:46
    e o que ocorreu depois
  • 45:46 - 45:48
    é muito preocupante.
  • 45:48 - 45:53
    A resposta mais intensa veio em janeiro,
  • 45:53 - 45:57
    com a paralisação
    de uma imensa área do país,
  • 45:57 - 45:59
    o que parece ter sido de fato eficaz.
  • 45:59 - 46:05
    O número de casos está caindo
    em uma taxa impressionantemente alta.
  • 46:05 - 46:07
    Caindo para quase nada.
  • 46:07 - 46:10
    Não consigo entender isso.
  • 46:10 - 46:14
    É um país com 1,4 bilhão de pessoas.
  • 46:14 - 46:16
    Houve um grande número de casos por lá,
  • 46:16 - 46:20
    mas uma pequena fração
    da população ficou realmente doente.
  • 46:20 - 46:23
    E ainda assim os números caíram.
  • 46:23 - 46:29
    Não é como se todos na China
    tivessem desenvolvido alguma imunidade.
  • 46:29 - 46:33
    Será que eles foram
    absolutamente disciplinados
  • 46:33 - 46:38
    quanto a interromper as viagens
    para as regiões infectadas
  • 46:38 - 46:44
    e, de alguma forma, realmente
    investir nos testes massivamente
  • 46:44 - 46:46
    para que, ao sinal de qualquer problema,
  • 46:46 - 46:50
    voltassem ao modo de contenção
  • 46:50 - 46:52
    na maior parte da China?
  • 46:52 - 46:54
    Não consigo entender, me ajude.
  • 46:54 - 46:59
    AK: Nas duas últimas semanas de janeiro,
    quando essas medidas foram implementadas,
  • 46:59 - 47:02
    estima-se que o número de reprodução
    passou de 2,4 para 1,1.
  • 47:02 - 47:04
    Portanto, a transmissão caiu cerca de 60%
  • 47:04 - 47:06
    no espaço de uma semana ou duas.
  • 47:06 - 47:09
    É notável e, na verdade,
  • 47:09 - 47:11
    muito disso parece ter sido impulsionado
  • 47:11 - 47:15
    apenas por mudanças fundamentais
    no comportamento social:
  • 47:15 - 47:16
    enorme distanciamento social,
  • 47:16 - 47:20
    acompanhamento
    e testes realmente intensivos.
  • 47:20 - 47:25
    O número de reprodução reduziu o bastante
    para causar o declínio da curva
  • 47:25 - 47:28
    e agora vemos, em muitas áreas,
  • 47:28 - 47:31
    uma volta para a contenção,
  • 47:31 - 47:33
    porque há poucos casos,
    a situação é mais gerenciável.
  • 47:34 - 47:36
    Mas vemos que eles enfrentam um desafio,
  • 47:37 - 47:41
    porque muitas dessas cidades
    estão bloqueadas há seis semanas
  • 47:41 - 47:44
    e há um limite do tempo
    em que podem ser mantidas assim.
  • 47:44 - 47:48
    Portanto, algumas dessas medidas
    são gradualmente revogadas,
  • 47:48 - 47:52
    o que cria o risco de que casos
    vindos de outros países
  • 47:52 - 47:55
    possam reintroduzir a transmissão.
  • 47:58 - 48:01
    CA: Mas, considerando
    o quão infeccioso é o vírus
  • 48:01 - 48:05
    e quantas vias e pontos de conexão
    existem, teoricamente,
  • 48:05 - 48:07
    entre as pessoas em Wuhan,
  • 48:07 - 48:10
    mesmo durante o bloqueio
    ou em bloqueio relativo,
  • 48:10 - 48:14
    ou entre outros lugares onde houve
    alguma infecção, e o resto do país,
  • 48:14 - 48:21
    você se surpreende com a rapidez
    com que a curva caiu para quase zero?
  • 48:22 - 48:23
    AK: Sim.
  • 48:23 - 48:29
    Bem no início, quando vimos
    o achatamento dos casos
  • 48:29 - 48:32
    nos perguntamos se eles tinham
    um limite na capacidade de testes
  • 48:32 - 48:36
    e estavam relatando mil casos por dia
    por ser esse o número de kits que tinham.
  • 48:36 - 48:38
    Mas felizmente continuou assim,
  • 48:38 - 48:43
    mostrando que é possível reverter o quadro
    com esse nível de intervenção.
  • 48:43 - 48:46
    O principal agora é ver como isso funciona
    em outras configurações.
  • 48:46 - 48:51
    A Itália está realizando
    intervenções realmente dramáticas.
  • 48:51 - 48:53
    Mas claro que, devido ao efeito do atraso,
  • 48:53 - 48:55
    ao adotá-las hoje,
  • 48:55 - 48:58
    deve levar uma semana ou duas
    até os resultados aparecerem.
  • 48:58 - 49:00
    Descobrir o impacto dessas medidas
  • 49:00 - 49:04
    será fundamental para ajudar outros países
    a trabalharem para conter o vírus.
  • 49:05 - 49:10
    CA: Para termos uma ideia, Adam,
    de como serão os próximos dois meses,
  • 49:10 - 49:14
    fale-nos sobre alguns cenários
    que você tem em mente.
  • 49:15 - 49:17
    AK: Num cenário otimista,
  • 49:17 - 49:21
    vamos aprender muito
    com lugares como a Itália,
  • 49:21 - 49:23
    que, infelizmente foram muito atingidos.
  • 49:23 - 49:25
    Os países levarão isso muito a sério
  • 49:25 - 49:28
    e não teremos esse crescimento contínuo
  • 49:28 - 49:29
    com essa enorme sobrecarga,
  • 49:29 - 49:33
    seremos capazes
    de desacelerá-lo o suficiente.
  • 49:33 - 49:35
    Teremos muitos casos,
  • 49:35 - 49:38
    provavelmente muitos deles serão graves,
  • 49:38 - 49:42
    mas isso será mais gerenciável;
    esse é um cenário otimista.
  • 49:42 - 49:46
    Se os países não levarem isso a sério
  • 49:46 - 49:50
    ou a população não responder bem
    às medidas de controle
  • 49:50 - 49:51
    ou os casos não forem detectados,
  • 49:51 - 49:53
    poderemos ter situações,
  • 49:53 - 49:55
    e o Irã provavelmente está
    mais próximo disso, no momento,
  • 49:55 - 49:58
    em que haja ampla transmissão generalizada
  • 49:58 - 50:01
    e, quando a reação ocorrer,
  • 50:02 - 50:06
    essas infecções já estarão no sistema
    e se tornarão casos e doenças graves.
  • 50:06 - 50:11
    Espero que não seja nosso caso,
    mas cerca de dez países, no momento,
  • 50:11 - 50:16
    podem estar a caminho
    da mesma situação que a Itália.
  • 50:16 - 50:19
    Portanto, o que acontecer
    nas próximas semanas é realmente crucial.
  • 50:20 - 50:25
    CA: Existe uma chance real
    de que alguns países tenham, este ano,
  • 50:25 - 50:31
    muito mais mortes por este vírus
    do que pela gripe sazonal?
  • 50:32 - 50:35
    AK: Em alguns países é provável, sim,
  • 50:35 - 50:37
    se o controle não for possível,
  • 50:37 - 50:39
    e vimos isso acontecer na China,
  • 50:39 - 50:43
    mas lá o nível de intervenção
    não tinha precedentes.
  • 50:43 - 50:46
    Realmente mudou o tecido social.
  • 50:46 - 50:52
    Num primeiro momento,
    as pessoas não aceitam exatamente
  • 50:52 - 50:56
    o que significa reduzir
    suas interações nessa extensão.
  • 50:56 - 50:59
    Muitos países simplesmente
    não conseguirão gerenciar isso.
  • 51:01 - 51:03
    CA: É quase um desafio
    para as democracias, não é?
  • 51:03 - 51:08
    "Muito bem, mostrem o que podem fazer
    sem esse controle draconiano.
  • 51:08 - 51:10
    Se não gostam desse pensamento,
  • 51:10 - 51:13
    vamos lá, cidadãos, mexam-se,
    mostrem do que são capazes,
  • 51:13 - 51:17
    que podem ser sábios,
    inteligentes e disciplinados,
  • 51:17 - 51:20
    e se adiantem ao maldito vírus".
  • 51:20 - 51:21
    AK: Sim.
  • 51:21 - 51:25
    CA: Pessoalmente, não sou
    superotimista quanto a isso,
  • 51:25 - 51:30
    porque há muitas mensagens conflitantes
    vindas de inúmeros lugares diferentes,
  • 51:30 - 51:36
    e as pessoas não gostam
    de sacrifícios a curto prazo.
  • 51:36 - 51:38
    É quase um caso em que...
  • 51:39 - 51:41
    Na sua opinião,
  • 51:41 - 51:45
    o papel da mídia tem sido útil,
    neste caso, ou não?
  • 51:45 - 51:47
    É realmente útil, de alguma forma,
  • 51:47 - 51:51
    exagerar a preocupação, o medo
  • 51:51 - 51:53
    e fazer as pessoas entrarem
    um pouco em pânico?
  • 51:53 - 51:55
    AK: É um equilíbrio
    muito difícil de encontrar,
  • 51:55 - 51:58
    porque, no início, sem nenhum caso,
  • 51:58 - 52:01
    sem nenhuma evidência de possível pressão,
  • 52:01 - 52:05
    é muito difícil convencer as pessoas
    a levarem essa mensagem a sério,
  • 52:05 - 52:06
    se não exagerar.
  • 52:06 - 52:09
    Mas se esperar demais,
  • 52:09 - 52:11
    se disser que ainda não é
    uma preocupação,
  • 52:11 - 52:14
    que no momento está tudo bem,
    muitos vão pensar que é só uma gripe.
  • 52:15 - 52:18
    Quando o surto vier com força,
  • 52:18 - 52:21
    o sistema de saúde ficará
    sobrecarregado por semanas,
  • 52:21 - 52:24
    porque, mesmo que se faça intervenções,
  • 52:24 - 52:27
    é tarde demais para controlar
    as infecções que já ocorreram.
  • 52:27 - 52:30
    É uma linha tênue, e minha esperança
    é que a comunicação aumente;
  • 52:30 - 52:33
    hoje as pessoas têm exemplos
    tangíveis como a Itália,
  • 52:33 - 52:37
    e podem ver o que vai acontecer
    se não levarem a sério.
  • 52:37 - 52:40
    Mas, certamente,
    de todas as doenças que vi,
  • 52:40 - 52:42
    e vários colegas que são
    muito mais velhos do que eu
  • 52:42 - 52:44
    e têm memórias de outros surtos,
  • 52:44 - 52:47
    é a coisa mais assustadora que vimos
    em termos do impacto que pode ter,
  • 52:47 - 52:49
    e precisamos responder a isso.
  • 52:49 - 52:53
    CA: A coisa mais assustadora que já viram.
  • 52:53 - 52:54
    Uau.
  • 52:54 - 52:59
    Tenho algumas perguntas
    dos meus amigos no Twitter.
  • 52:59 - 53:05
    Todos estão bem por dentro deste tópico.
  • 53:05 - 53:07
    Hipoteticamente,
  • 53:07 - 53:09
    se todos ficassem em casa
    por três semanas,
  • 53:09 - 53:12
    o surto efetivamente acabaria?
  • 53:12 - 53:15
    Existe um modo de nos distanciarmos
    socialmente disso?
  • 53:15 - 53:20
    AK: Sim, em países com famílias
    relativamente pequenas,
  • 53:20 - 53:23
    no Reino Unido e nos EUA,
    são cerca de 2,5 pessoas,
  • 53:23 - 53:26
    mesmo havendo uma rodada
    de infecção na família,
  • 53:26 - 53:28
    ela provavelmente acabaria.
  • 53:28 - 53:29
    Como benefício secundário,
  • 53:29 - 53:31
    outras infecções também
    podem ser eliminadas.
  • 53:31 - 53:35
    O sarampo circula apenas em humanos,
    então pode haver algum efeito indireto,
  • 53:35 - 53:38
    se isso for possível, claro.
  • 53:38 - 53:42
    CA: Obviamente, isso seria
    um grande problema para a economia,
  • 53:42 - 53:46
    e um dos desafios inerentes
  • 53:46 - 53:50
    é que não se pode otimizar
    as políticas públicas
  • 53:50 - 53:55
    tanto para a saúde econômica
    como para o combate a um vírus.
  • 53:55 - 53:58
    De certa forma, são coisas conflitantes,
  • 53:58 - 54:02
    pelo menos o combate ao vírus
    e a saúde econômica a curto prazo.
  • 54:02 - 54:04
    Essas situações estão em conflito, certo?
  • 54:04 - 54:07
    E as sociedades precisam escolher uma.
  • 54:07 - 54:11
    AK: É difícil convencer
    as pessoas desse equilíbrio,
  • 54:11 - 54:13
    o que sempre dizemos
    sobre planejamento pandêmico
  • 54:13 - 54:15
    é que colocá-lo em prática agora é barato,
  • 54:15 - 54:17
    caso contrário,
    pagaremos por isso mais tarde.
  • 54:18 - 54:20
    Infelizmente, como vimos,
  • 54:20 - 54:23
    não houve muito dinheiro
    para a resposta imediata.
  • 54:23 - 54:27
    E parece que só quando há
    um impacto e fica caro
  • 54:27 - 54:31
    as pessoas aceitam esse custo.
  • 54:32 - 54:34
    CA: Mais algumas perguntas no Twitter.
  • 54:34 - 54:37
    O aumento da temperatura nos EUA
    nas próximas semanas e meses
  • 54:37 - 54:39
    diminuirá a propagação do COVID-19?
  • 54:40 - 54:42
    AK: Não vi nenhuma evidência convincente
  • 54:42 - 54:44
    de que exista relação forte
    com a temperatura;
  • 54:44 - 54:49
    vemos essa relação em outras infecções,
  • 54:49 - 54:51
    mas o fato de serem surtos generalizados
  • 54:51 - 54:55
    dificulta a identificação e, claro,
    há outras coisas acontecendo.
  • 54:55 - 54:58
    Mesmo que um país não tenha
    um surto tão grande quanto outro,
  • 54:58 - 55:00
    ele será influenciado
    por medidas de controle,
  • 55:00 - 55:04
    comportamento social,
    oportunidades e coisas assim.
  • 55:04 - 55:07
    Portanto, seria realmente
    reconfortante se fosse assim,
  • 55:07 - 55:09
    mas não podemos dizer isso ainda.
  • 55:10 - 55:12
    CA: Ainda do Twitter,
  • 55:12 - 55:15
    existe uma recomendação global padrão
  • 55:15 - 55:18
    para todos os países
    sobre como fazer isso?
  • 55:18 - 55:20
    E, se não, por que não?
  • 55:21 - 55:23
    AK: É isso que as pessoas
    estão tentando reunir,
  • 55:23 - 55:25
    primeiro em termos do que funciona.
  • 55:25 - 55:28
    Apenas nas últimas semanas
  • 55:29 - 55:32
    tivemos a sensação de que isso pode ser
    controlado com esse nível de intervenções,
  • 55:32 - 55:35
    mas claro que nem todos os países
    podem fazer o que a China fez,
  • 55:35 - 55:41
    algumas dessas medidas têm uma carga
    social, econômica e psicológica enorme
  • 55:41 - 55:43
    na população.
  • 55:43 - 55:44
    E, claro, há o limite do tempo.
  • 55:45 - 55:48
    Na China mantiveram por seis semanas,
    isso é difícil de sustentar;
  • 55:48 - 55:50
    portanto, precisamos pensar nas trocas
  • 55:50 - 55:53
    que podemos pedir que as pessoas façam,
  • 55:53 - 55:57
    quais terão maior impacto
    na redução dessa carga.
  • 55:58 - 56:02
    CA: Outra pergunta: como isso aconteceu,
    e é provável que ocorra novamente?
  • 56:03 - 56:08
    AK: É provável que isso tenha se originado
    com o vírus que circulava em morcegos
  • 56:08 - 56:11
    e que, provavelmente,
    passou para outras espécies,
  • 56:11 - 56:13
    e de alguma forma chegou aos humanos;
  • 56:13 - 56:16
    há muitas evidências disso,
    não há uma história única e clara,
  • 56:16 - 56:20
    mas até para a SARS, a genômica
    precisou de vários anos para entender
  • 56:20 - 56:22
    a rota exata da transmissão.
  • 56:22 - 56:25
    Mas, certamente, acho plausível
    que isso aconteça novamente.
  • 56:25 - 56:28
    A natureza dissemina vírus constantemente.
  • 56:28 - 56:32
    Muitos deles não são bem adaptados
    aos seres humanos, não nos infectam,
  • 56:32 - 56:36
    pode ter havido um desses vírus
    há alguns anos que infectou alguém
  • 56:36 - 56:40
    que simplesmente não tinha
    nenhum contato e o vírus não foi adiante.
  • 56:40 - 56:41
    Vamos enfrentar situações assim
  • 56:41 - 56:44
    e precisamos pensar
    em como podemos nos antecipar
  • 56:44 - 56:46
    ao ponto de ter
    um pequeno número de casos,
  • 56:46 - 56:48
    e mesmo algo assim possa ser contido,
  • 56:48 - 56:51
    em vez de chegar à situação
    que temos agora.
  • 56:51 - 56:53
    CA: Parece que não é a primeira vez
  • 56:53 - 56:57
    que um vírus surgiu de um mercado
    de carne de animais silvestres.
  • 56:58 - 57:00
    Certamente é assim
    que acontece nos filmes.
  • 57:00 - 57:03
    A China já tomou algumas medidas desta vez
  • 57:03 - 57:06
    para tentar reprimir isso.
  • 57:06 - 57:09
    Para o futuro, pode ser uma boa abordagem
  • 57:09 - 57:12
    manter isso de forma adequada.
  • 57:12 - 57:15
    AK: É sim, e nos últimos anos,
    por exemplo em 2013,
  • 57:15 - 57:20
    vimos que a gripe aviária H7N9
    emergiu como uma grande preocupação,
  • 57:20 - 57:22
    e a China deu uma resposta muito extensa
  • 57:22 - 57:24
    em termos de mudar a forma
    como operam seus mercados
  • 57:25 - 57:26
    e a vacinação de aves,
  • 57:26 - 57:30
    e parece ter removido essa ameaça.
  • 57:30 - 57:34
    Então, essas medidas podem ser eficazes
    se forem identificadas cedo.
  • 57:34 - 57:36
    CA: Fale sobre vacinas.
  • 57:36 - 57:38
    Acho que essa é a medida-chave
  • 57:38 - 57:41
    para alterar o fator
    de suscetibilidade de sua equação.
  • 57:45 - 57:49
    Obviamente, existe uma corrida
    para obter essas vacinas,
  • 57:49 - 57:52
    existem algumas candidatas.
  • 57:52 - 57:54
    Como você vê isso?
  • 57:55 - 57:59
    AK: Certamente há pesquisas
    promissoras acontecendo,
  • 57:59 - 58:04
    mas há um prazo
    de cerca de 1 ano ou 18 meses
  • 58:04 - 58:05
    até estarem amplamente disponíveis.
  • 58:05 - 58:08
    Uma vacina precisa passar
    por testes, isso leva tempo,
  • 58:08 - 58:12
    portanto, mesmo que até o final do ano
    tenhamos algo viável e que funcione,
  • 58:12 - 58:16
    ainda haverá um tempo
    até podermos nos apegar a isso.
  • 58:16 - 58:18
    CA: Isso realmente me intriga,
  • 58:18 - 58:22
    e adoraria que você respondesse
    sobre isso como matemático.
  • 58:22 - 58:28
    Várias empresas já acreditam
    ter possíveis vacinas candidatas.
  • 58:28 - 58:32
    Como você diz, o processo
    de teste leva uma eternidade.
  • 58:33 - 58:38
    É possível não estarmos pensando
    corretamente sobre isso,
  • 58:38 - 58:45
    quando analisamos como os testes
    e os cálculos de segurança são feitos?
  • 58:45 - 58:49
    Porque uma coisa é introduzir
    um medicamento novo ou algo assim,
  • 58:49 - 58:54
    desejamos testar para garantir
    que não haja efeitos colaterais
  • 58:54 - 58:58
    e pode demorar muito até fazermos
    todos os testes de controle, etc.
  • 58:58 - 59:00
    Mas se existe uma emergência global,
  • 59:01 - 59:03
    não é o caso,
  • 59:03 - 59:05
    matemática e eticamente,
  • 59:05 - 59:07
    de fazer um cálculo diferente?
  • 59:07 - 59:09
    Em vez de perguntar:
  • 59:09 - 59:14
    "Existe algum caso em que esta vacina
    possa causar danos?",
  • 59:14 - 59:16
    com certeza deveríamos perguntar:
  • 59:16 - 59:18
    "Dentro das probabilidades,
  • 59:18 - 59:22
    não há um caso para aplicar
    essa vacina em escala,
  • 59:22 - 59:27
    e ter uma oportunidade
    de cortar isso pela raiz?"
  • 59:27 - 59:31
    O que estou desconsiderando
    ao pensar dessa maneira?
  • 59:31 - 59:36
    AK: Em outras situações,
    como a vacina contra o Ebola em 2015,
  • 59:36 - 59:40
    em poucos meses vimos evidências
  • 59:40 - 59:45
    e resultados intermediários
    muito promissores em humanos,
  • 59:45 - 59:47
    mostrando o que parecia
    uma eficácia muito alta.
  • 59:47 - 59:50
    E, apesar de não ter sido
    totalmente licenciada,
  • 59:50 - 59:55
    foi empregada no chamado "uso compassivo"
    em surtos subsequentes.
  • 59:55 - 60:00
    Portanto, existem mecanismos
    pelos quais podemos acelerar as vacinas.
  • 60:00 - 60:03
    Mas claro que hoje estamos numa situação
    em que não temos ideia
  • 60:03 - 60:05
    se essas coisas vão adiantar.
  • 60:05 - 60:08
    Precisamos acumular evidências suficientes
  • 60:08 - 60:10
    de que podem ter um impacto,
  • 60:10 - 60:13
    mas, obviamente, acelerá-las
    o máximo possível.
  • 60:14 - 60:17
    CA: O cético em mim ainda
    não entende isso completamente.
  • 60:17 - 60:19
    Não entendo
  • 60:19 - 60:24
    por que não se coloca mais energia
    em ideias mais ousadas.
  • 60:24 - 60:28
    Apesar do risco geral, todo mundo parece
  • 60:28 - 60:32
    incrivelmente avesso a riscos
    na hora de formular respostas.
  • 60:32 - 60:35
    AK: Com a ressalva de que há
    bons questionamentos a respeito disso,
  • 60:35 - 60:38
    e alguns fogem um pouco da minha alçada,
  • 60:38 - 60:41
    concordo que precisamos fazer mais
    para atingir os prazos.
  • 60:41 - 60:45
    Levamos uns seis meses para escolher
    uma cepa sazonal da gripe
  • 60:45 - 60:47
    e disponibilizar a vacina às pessoas.
  • 60:47 - 60:51
    Temos que prever com antecedência
    quais cepas vão circular.
  • 60:51 - 60:56
    E é algo que sabemos como fabricar
    e o fazemos há muito tempo.
  • 60:56 - 61:01
    Definitivamente, é preciso fazer mais
    para reduzir esses prazos.
  • 61:01 - 61:03
    Mas precisamos equilibrar isso,
  • 61:03 - 61:06
    especialmente se um grande número
    de pessoas será exposto,
  • 61:06 - 61:10
    e precisamos ter certeza de que é seguro
    e pode trazer algum benefício.
  • 61:13 - 61:15
    CA: Por fim,
  • 61:15 - 61:18
    Adam, preciso falar nisso...
  • 61:19 - 61:24
    Há outras coisas infecciosas acontecendo
    em todo o mundo ao mesmo tempo,
  • 61:24 - 61:28
    que são as ideias e a comunicação
    em torno desse vírus.
  • 61:28 - 61:34
    São realmente dois sistemas
    infecciosos dinâmicos e interativos,
  • 61:34 - 61:37
    há algumas informações
    muito prejudiciais por aí.
  • 61:37 - 61:42
    Pode-se pensar nisso como uma batalha
    entre o conhecimento e medidas confiáveis
  • 61:42 - 61:44
    contra o vírus
  • 61:44 - 61:48
    e informações ruins?
  • 61:48 - 61:49
    Parte do que precisamos pensar aqui
  • 61:49 - 61:54
    é como suprimir um conjunto de coisas
  • 61:54 - 61:57
    e impulsionar o outro,
    na verdade, turbinar o outro.
  • 61:57 - 61:58
    Como pensar sobre isso?
  • 61:58 - 62:01
    AK: Podemos pensar como sendo
    uma competição por nossa atenção,
  • 62:01 - 62:03
    da mesma forma que, nas doenças,
  • 62:03 - 62:06
    os vírus competem para infectar
    hospedeiros suscetíveis.
  • 62:06 - 62:09
    Ao longo dos últimos anos
  • 62:09 - 62:13
    com notícias falsas, informações erradas
    e o surgimento da conscientização,
  • 62:13 - 62:16
    vemos uma transição para pensarmos
    em como reduzir essa suscetibilidade,
  • 62:16 - 62:19
    se temos pessoas em estágios diferentes,
  • 62:19 - 62:21
    como podemos usar a informação
    para nos anteciparmos.
  • 62:22 - 62:26
    Obviamente, no desafio de um surto,
    no começo temos pouquíssima informação,
  • 62:26 - 62:32
    e é muito fácil esse vácuo ser preenchido
    pela certeza e pela confiança.
  • 62:32 - 62:37
    Acho que as plataformas estão
    desenvolvendo formas de expor o público
  • 62:37 - 62:39
    à informação de qualidade mais cedo,
  • 62:39 - 62:42
    para que isso proteja as pessoas
    contra outras coisas.
  • 62:42 - 62:45
    CA: Uma das grandes incógnitas
    para mim nesse ano que continua,
  • 62:45 - 62:48
    digamos que haverá ainda inúmeras semanas,
  • 62:48 - 62:49
    para muitas pessoas,
  • 62:49 - 62:53
    de autoisolamento,
  • 62:53 - 62:59
    para aqueles de nós que têm a sorte
    de poder trabalhar de casa.
  • 62:59 - 63:02
    Mas a grande injustiça dessa situação,
  • 63:02 - 63:06
    é que há tantas pessoas que não podem
    ficar em casa e continuar a ganhar a vida,
  • 63:06 - 63:10
    e esse será um grande desafio esse ano,
  • 63:10 - 63:16
    se as taxas de mortalidade forem
    muito maiores no segundo grupo
  • 63:16 - 63:18
    do que no primeiro,
  • 63:18 - 63:19
    especialmente em um país como os EUA,
  • 63:20 - 63:24
    onde essas pessoas nem sequer
    têm seguro de saúde adequado e tudo mais.
  • 63:25 - 63:31
    Me parece que, só isso,
    já poderia se tornar um grande debate,
  • 63:31 - 63:34
    e espero que, em algum nível,
    seja uma enorme fonte de mudança.
  • 63:34 - 63:38
    AK: Acho esse ponto muito importante,
    porque é muito fácil...
  • 63:38 - 63:41
    tenho um trabalho que posso
    realizar muito bem de forma remota,
  • 63:41 - 63:45
    é muito fácil dizer que devemos
    interromper as interações sociais,
  • 63:45 - 63:48
    mas claro que isso pode ter
    um enorme impacto nas pessoas,
  • 63:48 - 63:51
    e nas escolhas e na rotina delas.
  • 63:51 - 63:53
    Isso precisa ser levado em consideração,
  • 63:53 - 63:57
    agora e daqui a alguns meses
    conforme o efeito que houver.
  • 63:57 - 63:59
    CA: Por fim,
  • 63:59 - 64:05
    podemos dizer que o mundo enfrentou
    problemas muito mais graves no passado,
  • 64:05 - 64:08
    e que, em qualquer cenário,
  • 64:08 - 64:12
    é muito provável que dentro
    dos próximos 18 meses
  • 64:12 - 64:16
    uma vacina surja e seja
    amplamente distribuída,
  • 64:16 - 64:22
    e que teremos aprendido muitas outras
    formas de lidar com esse problema?
  • 64:22 - 64:25
    Mas em algum momento,
    provavelmente no ano que vem,
  • 64:25 - 64:30
    o mundo sentirá que atingiu o auge disso
  • 64:30 - 64:32
    e poderá seguir em frente.
  • 64:32 - 64:34
    É provável que seja assim,
  • 64:34 - 64:37
    ou é mais provável que isso escape
  • 64:37 - 64:42
    e se torne um pesadelo endêmico,
    que a cada ano mata mais pessoas
  • 64:42 - 64:45
    do que a gripe atualmente?
  • 64:45 - 64:49
    Quais são os prováveis caminhos,
    olhando um pouco mais a longo prazo?
  • 64:49 - 64:54
    AK: Há maneiras plausíveis de ver
    cada um desses cenários se descortinando.
  • 64:54 - 64:59
    Acho que o mais plausível é vermos
    um crescimento muito rápido este ano
  • 64:59 - 65:03
    e muitos surtos grandes
    que não necessariamente se repetirão.
  • 65:03 - 65:07
    Mas há uma sequência de eventos
    em potencial que pode levar
  • 65:07 - 65:10
    a esses múltiplos surtos recorrentes
    em diferentes lugares a cada ano.
  • 65:10 - 65:12
    Mas, provavelmente,
  • 65:12 - 65:16
    a maior parte da transmissão
    estará concentrada no próximo ano.
  • 65:16 - 65:19
    E então, obviamente,
    se houver uma vacina disponível,
  • 65:19 - 65:21
    podemos superar a situação
    e, com sorte, aprender com ela.
  • 65:21 - 65:24
    Muitos dos países que responderam
    fortemente a esse vírus
  • 65:24 - 65:26
    foram muito afetados pela SARS.
  • 65:26 - 65:29
    Singapura, Hong Kong,
    realmente foram impactados,
  • 65:29 - 65:33
    e se apoiaram muito nisso
    em sua resposta a este vírus.
  • 65:33 - 65:34
    CA: Certo.
  • 65:34 - 65:37
    Vamos encerrar encorajando as pessoas
  • 65:37 - 65:39
    a canalizarem seu matemático interno
  • 65:39 - 65:44
    para pensar, especialmente,
    nas oportunidades
  • 65:44 - 65:48
    e nas probabilidades de transmissão
    que elas podem ajudar a mudar.
  • 65:48 - 65:53
    Lembre-nos das principais coisas
  • 65:53 - 65:55
    que você gostaria que as pessoas fizessem.
  • 65:55 - 65:57
    AK: Individualmente,
    apenas pensar muito mais
  • 65:57 - 66:00
    sobre suas interações
    e seu risco de infecção,
  • 66:00 - 66:04
    que o que vai parar em suas mãos
    obviamente pode acabar em seu rosto,
  • 66:04 - 66:06
    e em como você cria
    esse risco para os outros.
  • 66:06 - 66:09
    Pense também, em termos de interações,
  • 66:09 - 66:14
    como apertos de mão
    e contatos que não precisa ter.
  • 66:14 - 66:17
    Como podemos reduzi-los o máximo possível.
  • 66:17 - 66:19
    Se cada pessoa passa o vírus
    a duas ou três outras,
  • 66:19 - 66:22
    como podemos reduzir esse número para um,
    através do nosso comportamento.
  • 66:22 - 66:26
    Provavelmente precisaremos
    de intervenções em larga escala,
  • 66:26 - 66:29
    em termos de reuniões, conferências
  • 66:29 - 66:33
    e outras coisas em que há
    muitas oportunidades de transmissão.
  • 66:33 - 66:36
    E a combinação desse nível individual,
  • 66:36 - 66:40
    de reduzir o risco se você está
    doente ou com suspeita,
  • 66:40 - 66:44
    e também trabalharmos juntos
    para impedir que o vírus atinja grupos
  • 66:44 - 66:45
    em que, se continuar descontrolado,
  • 66:45 - 66:48
    pode realmente atingir
    algumas pessoas fortemente.
  • 66:49 - 66:54
    CA: Sim, há muitas coisas que precisamos
    abandonar por um tempo.
  • 66:54 - 66:59
    E talvez tentar reinventar
    os melhores aspectos delas.
  • 66:59 - 67:00
    Muito obrigado.
  • 67:00 - 67:03
    Se as pessoas quiserem
    acompanhar seu trabalho,
  • 67:03 - 67:06
    podem seguir você no Twitter, por exemplo.
  • 67:06 - 67:07
    Qual é o seu usuário?
  • 67:07 - 67:10
    AK: @AdamJKucharski, tudo junto.
  • 67:10 - 67:13
    CA: Adam, muito obrigado
    pelo seu tempo, fique bem.
  • 67:13 - 67:14
    AK: Obrigado.
  • 67:14 - 67:17
    (Música)
  • 67:29 - 67:33
    CA: Professor associado
    e TED Fellow Adam Kucharski.
  • 67:33 - 67:36
    Gostaríamos muito de saber
    o que você achou deste episódio bônus.
  • 67:36 - 67:39
    Avalie e comente no Apple Podcasts
  • 67:39 - 67:41
    ou no seu aplicativo favorito de podcast.
  • 67:41 - 67:43
    Essas avaliações influenciam de verdade.
  • 67:43 - 67:47
    Lemos e consideramos
    todos os comentários recebidos.
  • 67:47 - 67:49
    (Música)
  • 67:49 - 67:53
    O episódio desta semana foi produzido
    por Dan O'Donnell na Transmitter Media.
  • 67:53 - 67:55
    A gerente de produção é Roxanne Hai Lash,
  • 67:55 - 67:57
    e a verificadora de fatos é Nicole Bode.
  • 67:57 - 67:59
    Este episódio foi mixado por Sam Bair.
  • 67:59 - 68:01
    A música tema é de Allison Layton-Brown.
  • 68:01 - 68:04
    Um agradecimento especial
    à minha colega Michelle Quint.
  • 68:04 - 68:06
    Obrigado por ouvir The TED Interview.
  • 68:06 - 68:08
    Voltaremos em alguns dias,
  • 68:08 - 68:11
    com uma nova temporada
    de mergulhos profundos com grandes mentes.
  • 68:12 - 68:15
    Espero que goste deles,
    quer a vida volte ao normal ou não.
  • 68:15 - 68:19
    Sou Chris Anderson,
    obrigado por ouvir e fique bem.
Title:
Adam Kucharski sobre o que deve, e o que não deve, nos preocupar em relação ao coronavírus
Speaker:
The TED Interview
Description:

O especialista em doenças infecciosas Adam Kurcharski usa modelos matemáticos para ajudar o mundo a entender como doenças como o Ebola e a Zika se espalham e como podem ser controladas. À medida que a ameaça do COVID-19 continua a crescer, ele nos dá uma perspectiva necessária sobre a transmissão do vírus, como os governos têm respondido a ele e o que precisa mudar para encerrar a pandemia. (Apenas áudio)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
01:08:24

Portuguese, Brazilian subtitles

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