Sugestões simples para a vida dos doentes de Parkinson | Mileha Soneji | TEDxDelft

Esta palestra foi dada num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx.

As soluções simples são muitas vezes as melhores, mesmo quando se trata duma coisa tão complicada como a doença de Parkinson. Mileha Soneji mostra-nos "designs" acessíveis que tornam mais fáceis as tarefas diárias dos que sofrem de doença de Parkinson. "A tecnologia não é tudo", diz ela. "Precisamos de soluções centradas nas pessoas".

Na Índia, temos famílias enormes.

Aposto que muitos de vocês
já ouviram dizer isso.

O que significa que há
muitos acontecimentos familiares.

Quando criança, os meus pais arrastavam-me
para esses acontecimentos familiares.

Mas uma das coisas por que
eu estava sempre ansiosa

era brincar com os meus primos.

Havia sempre aquele tio

que costumava estar lá, sempre disposto
a andar aos saltos connosco,

a brincar connosco,

a fazer com que nós crianças
tivéssemos o melhor tempo da nossa vida.

Aquele homem era um sucesso:

era confiante e era poderoso.

Mas assisti à deterioração da saúde
daquela pessoa bem disposta e carinhosa.

Tinha doença de Parkinson.

A doença de Parkinson provoca
a degeneração do sistema nervoso

o que significa que uma pessoa
que costumava ser independente

de repente, acha difíceis tarefas como
beber café, por causa das tremuras.

O meu tipo começou a usar
um andarilho para poder andar

e, para dar a volta,

tinha que dar um passo
de cada vez, assim,

e demorava séculos.

Aquela pessoa, que era sempre
o centro das atenções

em todas as reuniões familiares,

de repente escondia-se atrás das pessoas.

Escondia-se do olhar apiedado
das pessoas.

Não era a única pessoa do mundo.

Todos os anos, há 60 000 pessoas
diagnosticadas com doença de Parkinson

e este número tem vindo a aumentar.

Enquanto "designers", sonhamos
que os nossos "designs"

possam resolver problemas multifacetados,

uma solução que resolve tudo.

Mas não tem que ser sempre assim.

Também podemos dedicar-nos
a problemas simples

e criar pequenas soluções para eles
que acabem por ter um grande impacto.

O meu objetivo não é curar
a doença de Parkinson,

mas de tornar mais simples
as tarefas diárias

e. com isso, criar impacto.

A primeira coisa a que me dediquei
foram as tremuras.

O meu tio disse-me que tinha deixado
de beber café ou chá em público

para não se sentir envergonhado.

Por isso, desenhei
a chávena que não entorna.

Funciona desta forma.

A curva em cima reverte
o líquido para dentro

sempre que houver tremuras

e mantém o líquido lá dentro
ao contrário duma chávena normal.

O importante aqui é que não se sabe

que é um produto
para um doente de Parkinson.

Tem o ar duma chávena que pode ser
usada por qualquer pessoa desastrada,

o que a torna muito
mais confortável de usar.

Muito bem, um problema resolvido.

Faltam muitos outros.

Durante todo o tempo, eu falava com ele,

questionava-o,

e depois percebi que andava a receber
informações muito superficiais

ou apenas respostas às minhas perguntas.

Mas eu precisava de aprofundar mais,
para ter uma nova perspetiva.

Então pensei: "Vou observá-lo
nas suas tarefas diárias,

"enquanto ele come, enquanto vê TV".

Quando estava a observá-lo a dirigir-se
para a mesa do jantar, pensei:

"Como é que este homem, que tem
tanta dificuldade em andar num piso plano

"consegue subir uma escada?"

Na Índia, não há cadeiras elevatórias
que nos levem ao cima da escada,

como nos países desenvolvidos.

Temos mesmo que trepar escada acima.

Ele disse-me:

"Vou mostrar-te como é que faço".

Vejamos o que eu vi.

Ele levou muito tempo
a chegar a esta posição.

Durante todo esse tempo,
eu estava a pensar:

"Meu Deus, será que ele vai conseguir?

"Será que vai conseguir, sem o andarilho?"

Depois...

(Risos)

E virou-se, fê-lo tão facilmente!

Então, ficaram chocados?

Eu também fiquei.

Esta pessoa, que não conseguia andar
num piso plano,

de repente, era um profissional
a subir escadas.

Ao investigar isso, percebi que era
porque se tratava de um movimento contínuo.

Há um outro homem que também
sofre dos mesmos sintomas

e usa um andarilho.

Mas, quando monta numa bicicleta,

todos os sintomas desaparecem,

porque está em movimento contínuo.

Portanto, o que eu tinha
que fazer era transpor

aquela sensação de andar numa escada

para um piso plano.

Testei nele muitas ideias,

mas aquela que acabou
por funcionar foi esta.

Vejamos.

(Risos)

(Aplausos)

Andou mais depressa, não foi?

(Aplausos)

Chamo à escada uma ilusão.

Quando a ilusão de escada acabou
abruptamente, ele paralisou.

Chama-se paralisação da marcha.

Acontece com frequência.

Então, porque não ter uma ilusão
continuada de escada

em todas as divisões,

para que eles se sintam mais confiantes?

A tecnologia não é tudo.

Precisamos de soluções
centradas nas pessoas.

Eu podia tê-la feito facilmente
numa projeção

ou com óculos Google,
ou qualquer coisa dessas.

Mas fixei-me numa simples
impressão no chão.

Esta impressão podia ser feita
em residências, em hospitais

ou mesmo em hotéis,

para que eles se sentissem
muito mais confortáveis.

O que eu quero fazer
é que todos os doentes de Parkinson

se sintam como o meu tio
se sentiu naquele dia.

Ele disse-me que se sentira
como era antigamente.

"Inteligente" no mundo atual
tornou-se sinónimo de alta tecnologia

e o mundo está a ficar
cada vez mais inteligente, dia após dia.

Mas uma coisa simples e eficaz
não pode ser inteligente?

Basta-nos um pouco de solidariedade
e alguma curiosidade

para observar.

Não fiquemos por aqui.

Vamos procurar estes problemas complexos.
Não tenhamos medo deles.

Vamos quebrá-los, fragmentá-los
em problemas muito mais pequenos

e depois encontremos
soluções simples para eles.

Testemos essas soluções,
fracassemos se for preciso,

mas com novas perspetivas
para as melhorar.

Imaginem o que todos poderíamos fazer
se arranjássemos soluções simples.

Como seria o mundo, se juntássemos
todas as nossas soluções simples?

Toca a fazer um mundo mais inteligente
mas com simplicidade.

Obrigada.

(Aplausos)