Para início de conversa | Carolina Nalon | TEDxPedradoPenedo
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0:05 - 0:09Minha mãe tinha me convidado
pra um casamento que eu não queria ir, -
0:09 - 0:12mas eu estava morrendo
de saudade da minha mãe, -
0:12 - 0:15então, por mais estranho
que isso pareça, eu decidi visitá-la, -
0:15 - 0:18porque aquele era o único fim de semana
em que eu podia visitá-la, -
0:18 - 0:20mesmo sabendo que ela não ia estar lá.
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0:20 - 0:22Mas, como eu estava
com muita saudade, eu falei: -
0:22 - 0:25"Cara, eu vou esperar até domingo
à noite minha mãe chegar, -
0:25 - 0:28porque aí, pelo menos,
eu dou um abraço e um beijo nela -
0:28 - 0:29antes de ir pra São Paulo".
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0:29 - 0:33Eu lembro direitinho o momento em que
comecei a escutar o som dela no hall. -
0:33 - 0:37Eu já dei um pulo do sofá,
abri os braços e tipo: "Oi, mãe!" -
0:37 - 0:41Ela entrou assim na porta, cheia de malas,
olhou pra mim e falou: -
0:41 - 0:44"Carolina, toda vez que você vem pra cá,
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0:44 - 0:46você deixa o carro
estacionado torto na garagem. -
0:46 - 0:49Eu não aguento mais
ter que te dizer isso!" -
0:49 - 0:51E aí, eu quebrei.
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0:51 - 0:54Como vocês acham que eu reagi?
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0:54 - 0:56Opção A: virei pra minha mãe e falei:
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0:56 - 0:59"Ô louco, mãe, eu aqui morrendo
de saudade de você, te esperando, -
0:59 - 1:01e você já chega dando uma dessa?"
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1:02 - 1:05Ou: "Ó, eu não devia
ter ficado aqui te esperando. -
1:05 - 1:07Estou indo pra São Paulo, tá? Tchau!"
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1:08 - 1:10Ou: "Eu que estaciono mal?
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1:10 - 1:12E você que outro dia...",
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1:12 - 1:15e aí a gente ia começar uma discussão
de quem dirige pior ou melhor. -
1:15 - 1:19Ou alternativa D: fugi pro banheiro.
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1:20 - 1:23Eu confesso que, por 26 anos,
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1:23 - 1:26eu sempre reagi em alguma
dessas três primeiras alternativas. -
1:27 - 1:29Mas, exatamente na época desse episódio,
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1:29 - 1:33eu tinha começado a estudar
comunicação não violenta. -
1:33 - 1:35Então, o que eu fiz
foi fugir pro banheiro. -
1:35 - 1:38E eu fugi pro banheiro pra pensar.
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1:38 - 1:43Eu cheguei lá e falei: "Meu Deus do céu,
parece que essa é uma oportunidade. -
1:43 - 1:44Santo Marshall Rosenberg!",
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1:44 - 1:47o cara que sistematizou
a comunicação não violenta, -
1:47 - 1:48"Me ajuda!"
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1:48 - 1:51E eu comecei a pensar: "O que minha mãe
está querendo me dizer? -
1:51 - 1:54O que está além dessa palavra?
Do que ela está precisando? -
1:54 - 1:57Ela está me fazendo algum pedido.
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1:57 - 2:01A forma como ela está me pedindo
não é a minha preferida, -
2:01 - 2:02mas eu sei que tem alguma coisa aí".
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2:02 - 2:06E comecei a me lembrar de outras coisas
que aconteceram naquela semana. -
2:06 - 2:09Saí do banheiro e falei: "Mãe,
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2:09 - 2:11você está chateada porque eu não fui
no casamento com você?" -
2:11 - 2:15Ela: "Eu estou, porque todo mundo lá
estava com a família, só eu que não! -
2:15 - 2:17Eu não estava com você nem com o João.
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2:17 - 2:20Vocês nunca me acompanham
nos eventos da família!" -
2:20 - 2:22Eu falei: "Ah, tem mais coisa por aí".
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2:22 - 2:25E fui me lembrando de várias outras coisas
que tinham acontecido naquela semana -
2:25 - 2:28e fui apontando como eu achava
que ela estava se sentindo, -
2:28 - 2:31o que ela queria que tivesse acontecido,
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2:31 - 2:34e a gente acabou tendo uma das conversas
mais legais da nossa vida. -
2:34 - 2:37Inclusive depois ela decidiu
se mudar pra São Paulo -
2:37 - 2:39pra ficar mais perto dos filhos.
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2:39 - 2:40Então, foi um negócio super mágico
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2:40 - 2:44e foi o dia em que eu olhei e falei:
"Cara, eu preciso trabalhar com isso", -
2:44 - 2:46porque, em 26 anos,
isso nunca tinha acontecido. -
2:46 - 2:49A gente sempre se amou muito,
teve uma relação maravilhosa, -
2:49 - 2:51mas a gente sempre partia pro conflito.
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2:52 - 2:55Lá no banheiro, então,
eu me lembrei dos princípios -
2:55 - 2:57que pra mim são
os mais importantes da CNV, -
2:58 - 3:00que são princípios do Marshall, que são:
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3:00 - 3:03"Por trás de todo comportamento,
existe uma necessidade", -
3:03 - 3:09e "Todo ato violento é uma expressão
trágica de uma necessidade não atendida". -
3:09 - 3:13Então, tinha alguma coisa ali
que eu precisava revisitar na minha mãe. -
3:14 - 3:18Agora, não é que a minha mãe
chegou falando isso e eu pensei: -
3:18 - 3:21"Nossa, minha mãe...
ela está precisando de alguma coisa", -
3:21 - 3:24que eu tive uma ressonância
emocional e afetiva com ela. -
3:24 - 3:25Eu não tive.
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3:25 - 3:29Eu fiz um esforço pra compreender
o que estava por trás daquilo. -
3:29 - 3:31Eu fiz um esforço pra me conectar.
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3:31 - 3:34Então, isso é chamado
de empatia cognitiva, -
3:34 - 3:38e eu quero que vocês guardem esse conceito
porque eu vou voltar pra ele depois. -
3:38 - 3:40Eu acho que isso é uma parte
muito importante da empatia. -
3:41 - 3:45E além da empatia cognitiva,
tem também a empatia emocional, -
3:45 - 3:49que é quando a gente sente essa
ressonância emocional com outra pessoa. -
3:50 - 3:52Então, a gente já nasce
programado pra isso. -
3:53 - 3:56Se alguém vira pra você
e fala assim: "Meu filho morreu", -
3:56 - 4:00você sente na hora: "Nossa,
como deve ser ruim ter [vivido] isso". -
4:00 - 4:04Mas, às vezes, mesmo tendo essa
empatia emocional, a gente se embola -
4:05 - 4:08em conseguir demonstrar empatia pro outro.
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4:08 - 4:12Vocês já devem conhecer esse cara aqui,
que é o "abominável homem das neves", -
4:13 - 4:17mas um amigo meu criou
alguns outros tipos de abomináveis -
4:17 - 4:23pra explicar como a gente reage
quando a gente tem empatia emocional, -
4:23 - 4:25mas a gente não sabe
como demonstrar empatia. -
4:26 - 4:31Um amigo meu chamado Cláudio Thebas
que inventou esses "abomináveis". -
4:31 - 4:35Eu queria apresentar o primeiro,
que é o abominável homem "IBGE". -
4:36 - 4:38O abominável homem IBGE é o seguinte,
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4:38 - 4:40imagina que a mulher chega e fala assim:
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4:40 - 4:43"Ai, amor, hoje eu tive
uma briga com meu chefe. -
4:43 - 4:46Foi uma situação
tão terrível lá no trabalho..." -
4:46 - 4:50Aí, o abominável homem IBGE fala:
"Ó, a situação tá braba mesmo, -
4:50 - 4:53mas você já viu quantas pessoas
ficaram desempregadas no Brasil este ano? -
4:53 - 4:57Então, segura as pontas
porque não está fácil pra ninguém!" -
4:58 - 5:02Então, ele trouxe um dado,
com a melhor das boas intenções, -
5:02 - 5:05pra talvez mostrar pra ela
uma outra perspectiva do problema, -
5:05 - 5:07mas o que aconteceu aqui?
-
5:07 - 5:10Se ela queria falar daquilo
que aconteceu com o chefe dela, -
5:10 - 5:14pronto, já quebrou o fluxo da conversa,
quebrou o momento de conexão da empatia. -
5:15 - 5:18Tem também o abominável homem
"meu pior é melhor". -
5:19 - 5:21Então, o amigo chega e fala:
-
5:21 - 5:24"Nossa, eu bati meu carro hoje,
está lá no mecânico. -
5:24 - 5:26Agora não sei o que fazer.
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5:26 - 5:28Essa semana tenho que ir
de carro pro trabalho. -
5:28 - 5:29Vai ser uma confusão".
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5:29 - 5:30Aí, o amigo fala assim:
-
5:30 - 5:32"Pô, e eu então!
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5:32 - 5:35Uma vez eu dei 'PT'
num carro, quase morri! -
5:35 - 5:39Isso sim foi susto, mas, olha, a gente tem
que agradecer que a gente está vivo". -
5:39 - 5:41Então, aconteceu a mesma coisa.
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5:41 - 5:44Se ele queria falar
do trabalho que vai dar, -
5:44 - 5:46agora ele já não vai conseguir mais.
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5:46 - 5:48Então, o fluxo, a conexão,
foram interrompidos. -
5:49 - 5:51Tem também o abominável
homem "sabe-tudo". -
5:51 - 5:52Então, o amigo chega e fala:
-
5:52 - 5:56"Cara, eu briguei com a minha mulher,
agora não sei o que faço com ela". -
5:56 - 5:58E o sabe-tudo chega
e fala assim: "Pode deixar. -
5:59 - 6:03Sabe, mulher, tem uma coisa que ela
não resiste, que é receber flores. -
6:03 - 6:06Então, pega aqui o telefone
dessa floricultura, liga agora, -
6:06 - 6:08manda flor pra ela
que vai ficar tudo resolvido". -
6:08 - 6:12Então, o abominável homem sabe-tudo
é uma metralhadora de conselhos. -
6:12 - 6:15Ele sempre tem uma solução.
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6:15 - 6:17Não é que aconselhar seja ruim, gente.
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6:17 - 6:19Por favor, eu não quero
passar essa mensagem, -
6:19 - 6:21mas é que não era o momento ainda.
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6:21 - 6:24Ele ainda tinha muito pra desabafar,
muito pra desaguar. -
6:24 - 6:28Então, quem aqui conhece
algum desses abomináveis? -
6:29 - 6:32Quem aqui já foi algum desses abomináveis?
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6:32 - 6:34Eu acho que isso é muito importante.
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6:34 - 6:38Quando eu comecei a estudar isso,
eu olhava pra esses bloqueios da empatia, -
6:38 - 6:42esse nosso impulso de aconselhar,
de competir pelo sofrimento, -
6:42 - 6:44enfim, de encerrar o assunto,
-
6:44 - 6:46e eu falei: "Eu faço tudo!"
-
6:46 - 6:51Então, o primeiro passo: reconhecer que
a gente não sabe como demonstrar empatia, -
6:51 - 6:54pra aprender a demonstrar empatia.
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6:54 - 6:59Aí, a gente tem vários princípios
equivocados sobre a empatia, -
6:59 - 7:02de achar que a empatia é fazer pelo outro
-
7:02 - 7:04o que a gente gostaria
que fosse feito pela gente, -
7:04 - 7:06mas não há nada mais equivocado.
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7:06 - 7:11Empatia é fazer pelo outro o que o outro
gostaria que fosse feito por ele. -
7:11 - 7:15Empatia é criar espaço.
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7:15 - 7:18Pra mim, essa é a melhor
definição de empatia, -
7:18 - 7:21quando existe espaço pra pessoa desaguar.
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7:21 - 7:24Sabe quando você sai de uma conversa,
você chega com uma pressão emocional, -
7:24 - 7:26você conversa com alguém e sente um:
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7:26 - 7:29"Ah... Aliviou.
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7:29 - 7:32Agora parece que eu consigo escutar
o que você quer me dizer"? -
7:32 - 7:36Se eu quisesse falar pra minha mãe por que
eu não tinha ido no casamento com ela -
7:36 - 7:37na hora em que ela chegou,
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7:38 - 7:42a chance de ela me escutar era muito
baixa porque ela estava ali na pressão. -
7:42 - 7:46Ela precisava esvaziar
pra depois poder conversar. -
7:46 - 7:48Então, pra mim isso mudou tudo.
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7:49 - 7:52Empatia também é a gente
resistir ao nosso impulso -
7:52 - 7:54de já resolver o problema do outro,
-
7:54 - 7:58porque muitas vezes o que o outro
precisa é só desse desabafo. -
7:58 - 8:01Eu fiquei muito surpresa: tem um dia
de que eu nunca me esqueço, -
8:01 - 8:03que ilustra bem isso.
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8:03 - 8:05Quando eu morava com uma amiga minha,
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8:05 - 8:07ela tinha acabado de passar
por uma semana muito difícil -
8:07 - 8:09porque ela tinha perdido o emprego.
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8:09 - 8:14Aí, uma dia ela estava mal, assim,
ela entrou no meu quarto já chorando. -
8:15 - 8:17Eu olhei pra ela, só abri
os braços assim e falei: "Vem". -
8:18 - 8:21Aí na hora que ela abraçou,
eu vi ela sofrendo tanto, eu pensei: -
8:21 - 8:23"Essa mulher tem
um currículo tão incrível, -
8:23 - 8:26ela é uma profissional tão boa,
eu sou coach de carreira também, -
8:26 - 8:27vamos fazer uma sessão de coaching
-
8:27 - 8:29e vai ficar tudo bem,
vai ficar tudo certo, -
8:29 - 8:32a gente dá um 'up' no currículo,
ela se muda de São Paulo", -
8:32 - 8:34ela já nem queria mais morar em São Paulo,
-
8:34 - 8:35mas eu falei: "Não.
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8:35 - 8:39Carol, dá uma segurada,
não é a hora de falar isso pra ela agora". -
8:39 - 8:43E aí eu só falei: "Jo, você foi
pega de surpresa, né? -
8:43 - 8:45Essa semana está difícil".
-
8:45 - 8:49E ela falou: "Nossa, cara.
Eu não esperava por isso agora. -
8:49 - 8:50Eu estou muito preocupada".
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8:50 - 8:52E chorando.
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8:52 - 8:56"Talvez eu até tenha que voltar
pra casa dos meus pais por um tempo." -
8:56 - 8:59E eu falei: "E você está preocupada
de dar essa preocupação pra eles, né?" -
8:59 - 9:01E ela falou: "Sim.
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9:01 - 9:03Porque nessa altura do campeonato...
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9:03 - 9:06Eu não consigo entender,
porque eu e minha família, -
9:06 - 9:08nós somos pessoas tão boas,
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9:08 - 9:11mas parece que um monte de coisa
ruim acontece com a gente". -
9:11 - 9:16E aí eu fui escutando em silêncio,
olhando pra ela, tipo: "Estou aqui". -
9:17 - 9:21E aí ela falou: "Você sabe, Carol,
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9:21 - 9:23meus pais me ajudaram tanto na minha vida
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9:23 - 9:27e eu acho que eu nunca
agradeci apropriadamente a eles. -
9:27 - 9:31Tá aí! Eu acho que vou escrever
uma carta de gratidão aos meus pais. -
9:32 - 9:33Obrigada, Carol".
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9:33 - 9:34E saiu.
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9:35 - 9:38Eu falei: "Gente, o que acabou
de acontecer aqui?" -
9:38 - 9:41Eu não fiz nada, nada!
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9:41 - 9:43Eu só criei o espaço.
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9:43 - 9:45Então imagina, eu nunca seria
capaz de dar esse conselho, -
9:45 - 9:48imagina, ela abre a porta e eu falo:
"Eu já sei o que você precisa. -
9:48 - 9:51Escreve uma carta de gratidão
pros seus pais". Nunca. -
9:51 - 9:55Então, a empatia cria esse lugar sagrado
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9:55 - 9:57pras pessoas chegarem
onde elas precisam chegar, -
9:57 - 9:59pra elas mesmas conseguirem se escutar.
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10:00 - 10:02E aí várias histórias como essa
foram acontecendo, -
10:02 - 10:05eu comecei a trabalhar
com comunicação não violenta. -
10:05 - 10:08Os dois grandes eixos da CNV
são empatia e autenticidade. -
10:08 - 10:10Eu estava feliz da vida, gente.
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10:10 - 10:13Um projeto que [tem] centenas de pessoas,
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10:13 - 10:15as pessoas que fazem
parte da rede desse projeto -
10:15 - 10:20estão fazendo projetos incríveis,
levando CNV pras escolas, pra hospitais, -
10:20 - 10:22tem um projeto que rolou
no Complexo do Alemão, -
10:22 - 10:24então, umas coisas lindas, assim.
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10:24 - 10:27E eu entusiasta da empatia, né?
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10:27 - 10:29"Ê lelê, empatia é a cola do mundo,
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10:29 - 10:30vamo que vamo!"
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10:31 - 10:35Até um dia em 2015
que eu recebi de várias pessoas, -
10:35 - 10:36o legal de se trabalhar com um tema
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10:36 - 10:40é que qualquer coisa que apareça sobre ele
mil pessoas te mandam aquilo, né? -
10:40 - 10:42E aí eu recebi de várias
pessoas este artigo: -
10:42 - 10:44"The dark side of empathy"
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10:44 - 10:46de um psicólogo chamado Paul Bloom,
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10:46 - 10:48que foi publicado no "The Atlantic".
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10:48 - 10:51E eu falei: "Como assim o lado
obscuro da empatia? -
10:51 - 10:54Essa coisa linda que eu trabalho
tem um lado obscuro?" -
10:54 - 10:58Eu falei: "Esse negócio vai chacoalhar
comigo!" E chacoalhou. -
10:59 - 11:02Porque o que ele falava foi uma coisa
que fez muito sentido pra mim: -
11:02 - 11:06que a empatia, ela pode
nos conduzir a favoritismos. -
11:07 - 11:10Então, imagina no caso desse abominável,
-
11:10 - 11:13que a mulher chega contando
o que aconteceu com o chefe. -
11:13 - 11:15Então vamos supor
que o marido tenha escutado ela. -
11:15 - 11:19Então elá está [contando]
o que de terrível o chefe fez com ela. -
11:19 - 11:23O marido pode escutar e ficar tão chateado
-
11:23 - 11:27e com tanto ódio do chefe,
por empatizar com a mulher, -
11:27 - 11:28que ele vai escolher o lado dela
-
11:28 - 11:31e vai ter sentimentos agressivos
[contra] o chefe. -
11:32 - 11:34Eu falei: "Cara, isso faz sentido!"
-
11:34 - 11:38Então nosso instinto empático pode
nos conduzir a continuar nesse jogo -
11:38 - 11:41de quem é o culpado e quem é o inocente.
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11:41 - 11:44Então talvez não seja tão assim a cola
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11:44 - 11:46que a empatia fosse da sociedade.
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11:46 - 11:47E fiquei desesperada.
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11:47 - 11:51Mas é muito bom quando a gente
também cai numa contradição, -
11:51 - 11:53quando alguma coisa
em que a gente acredita muito -
11:53 - 11:54tem uma quebra.
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11:54 - 11:56Porque daí a gente começa a correr atrás.
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11:57 - 12:00E aí eu lembrei
de um artigo do Gustavo Gitti, -
12:00 - 12:01que é um querido,
-
12:01 - 12:04que se chamava:
"Empatia não é o suficiente". -
12:04 - 12:06E fui nesse artigo
procurar algumas referências, -
12:06 - 12:10conversei com o Gustavo, que me passou
mais um monte de referências, -
12:10 - 12:16e nisso eu percebi, aprendi, o quanto
que associar a empatia com a compaixão -
12:17 - 12:19é algo muito importante.
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12:19 - 12:23Pra gente não cair na aflição empática,
pra gente não cair em favoritismos, -
12:23 - 12:25pra gente não cair em "burnout" empático.
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12:25 - 12:28Sabe quando você vê muitas notícias
e você empatiza tanto com elas, -
12:28 - 12:32notícias de desastres, de tragédias,
que você fica se sentindo exausto? -
12:33 - 12:34Esse é o "burnout" empático.
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12:34 - 12:39Então a compaixão,
ela vem pra ajudar a gente -
12:39 - 12:44a conseguir se sentir
tranquilo e no nosso centro -
12:44 - 12:47mesmo em situações
que têm muita aflição, -
12:47 - 12:49um potencial afetivo muito grande.
-
12:49 - 12:53Então, a compaixão
é a aspiração genuína -
12:53 - 12:55de que o outro se livre do sofrimento.
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12:55 - 12:57Aqui nesse caso do abominável,
-
12:57 - 13:00se mulher está contando
tudo que aconteceu com o chefe, -
13:00 - 13:06o marido consegue
internamente cultivar um olhar -
13:06 - 13:09de perceber que ela está sofrendo muito
-
13:09 - 13:14porque ela está muito enredada
e muito apegada a essa situação. -
13:14 - 13:21E muito apegada ao que ela achava
que poderia ser essa relação com o chefe. -
13:21 - 13:25Eu sou uma superiniciante em entender
-
13:25 - 13:28e de fato praticar e integrar
a compaixão na minha vida, -
13:28 - 13:32então eu quero só pontuar
algumas coisas que eu aprendi até agora. -
13:33 - 13:38A compaixão é quando você não tem só
um olhar pra quem está vivendo a situação, -
13:38 - 13:42mas você tem uma compaixão
e uma empatia pelo todo, -
13:42 - 13:45pela situação como um todo.
-
13:46 - 13:47E aí não tem como falar...
-
13:47 - 13:50Se compaixão é se livrar do sofrimento,
-
13:50 - 13:54é você [desejar] que o outro
se livre do sofrimento, -
13:54 - 13:57não tem como falar de compaixão
sem falar de sofrimento, -
13:57 - 13:59e o que é o sofrimento.
-
13:59 - 14:01Então quando a gente tem uma noção clara
-
14:01 - 14:04de que sofrimento é esse
que a gente quer se livrar, -
14:04 - 14:07porque a gente sofre muito,
e primeiramente -
14:07 - 14:10porque a gente tem essa noção
de que não deveria sofrer. -
14:10 - 14:12Então a partir do momento
que a gente assume -
14:12 - 14:16que sim, o sofrimento existe,
e esse é o nosso ponto de partida, -
14:16 - 14:19e se ele está acontecendo agora,
é algo que tem que ser acolhido, -
14:19 - 14:23a gente já dá o primeiro passo
pra conseguir ser mais compassivo. -
14:23 - 14:28E isso é uma coisa
que eu estou praticando bastante -
14:28 - 14:31e eu tenho sentido algumas mudanças, sabe?
-
14:31 - 14:34E é muito pra você estar em um ponto bom.
-
14:34 - 14:37Então, não necessariamente
esse marido vai virar pra mulher e falar: -
14:37 - 14:40"Eu desejo que você se livre
do sofrimento e de suas causas". -
14:41 - 14:43Ele pode oferecer
empatia cognitiva por ela, -
14:43 - 14:46então dar o momento,
criar espaço pra ela desabafar. -
14:46 - 14:50Mas internamente ele está
fazendo esse trabalho. -
14:50 - 14:55Eu tive amigas que,
diante das tragédias recentes -
14:55 - 14:58que aconteceram aqui
com o time do Chapecó, -
14:58 - 15:01elas não conseguiram mais
trabalhar ao longo do dia. -
15:01 - 15:04E eu senti muitíssimo
por isso ter acontecido, também. -
15:04 - 15:07Eu pensei neles, eu pensei nas famílias,
-
15:07 - 15:11mas isso não me deixou
numa situação de aflição. -
15:11 - 15:15Então eu acho que eu estou conseguindo
começar a integrar esses conceitos; -
15:15 - 15:18que é uma prática interna mesmo,
de transformação interna. -
15:18 - 15:21E eu acho que é importantíssimo
quando estamos tentando -
15:21 - 15:23ser empático com muitas pessoas.
-
15:24 - 15:27E aí vocês devem perguntar:
"Mas Carol, então agora que você descobriu -
15:27 - 15:31que a compaixão é uma coisa
tão importante pra apoiar a empatia, -
15:31 - 15:34a empatia perdeu o lugar?"
-
15:34 - 15:37E aí eu falo que não, absolutamente não.
-
15:37 - 15:42E sabe em que momento eu acho
que a empatia é importantíssima? -
15:42 - 15:45Pra início de conversa.
-
15:45 - 15:50Então que as nossas conversas
tenham como ponto de partida a empatia. -
15:50 - 15:52Porque o mundo, gente,
tem cada vez mais gente. -
15:52 - 15:56Às vezes eu paro diante daquele contador
do aumento da população mundial, -
15:56 - 16:00eu fico dez minutos olhando, assim,
falo: "Gente, caramba!" -
16:00 - 16:03E é um mundo com cada vez mais gente,
cada vez mais compartilhado, -
16:03 - 16:06então nunca antes a gente teve
tanto acesso à informação, -
16:06 - 16:08nunca antes a gente teve
tanto acesso a opiniões, -
16:08 - 16:10assim na palma da nossa mão,
-
16:10 - 16:12de pessoas completamente
diferentes da gente, -
16:12 - 16:14com opiniões diversas.
-
16:14 - 16:18Eu acho que nós vamos ser uma geração
que vai ser estudada daqui a um tempo. -
16:18 - 16:22Tipo: "Eles foram os primeiros
que tiveram acesso à internet". -
16:23 - 16:24E pra mim fica muito claro,
-
16:24 - 16:26quando eu leio comentários
de um site de notícias, -
16:26 - 16:29quando a gente acaba de passar
por um dia super polêmico -
16:29 - 16:33e eu estou dando "scroll"
na minha timeline do Facebook, -
16:33 - 16:35que a gente ainda não sabe dialogar
-
16:35 - 16:38com a complexidade
desse mundo compartilhado. -
16:39 - 16:44Então, a gente está precisando
mesmo de mais gente -
16:44 - 16:49que quer escutar pra compreender primeiro,
não pra responder primeiro. -
16:49 - 16:53Por isso que eu acho que empatia
é necessária pra início de conversa. -
16:53 - 16:57Principalmente a empatia cognitiva,
na qual eu realmente me esforço -
16:57 - 16:59pra saber o que está
por trás daquela opinião. -
17:00 - 17:03Eu acho que o mundo está
precisando de mais gente -
17:03 - 17:08que diante da aflição do outro
consegue se esticar; -
17:08 - 17:12que diante da própria aflição
consegue respirar; -
17:13 - 17:17que diante do grito do outro
consegue se conectar. -
17:18 - 17:20A partir do momento
em que eu comecei a escutar -
17:20 - 17:22pra compreender, não só pra responder,
-
17:22 - 17:25eu consegui mudar a forma
como eu conversava com a minha mãe, -
17:25 - 17:29eu consegui mudar a forma
como eu reagia a comentários na internet. -
17:29 - 17:31Eu tenho certeza que todo mundo aqui
-
17:31 - 17:34tem alguma relação em que se sente
numa sinuca de bico, -
17:34 - 17:36você pensa: "Pra onde vai essa relação?
-
17:36 - 17:38Será que um dia eu vou conseguir
fluir com essa pessoa?" -
17:38 - 17:41Eu tenho certeza que vocês
se sentem desesperançosos -
17:41 - 17:44com muitas das discussões
que estão rolando por aí. -
17:44 - 17:47Mas eu desejo que a partir de hoje
-
17:47 - 17:53vocês se sintam mais abertos e dispostos
a, pelo menos pra início de conversa, -
17:53 - 17:56vocês serem espaço.
-
17:56 - 17:57Obrigada.
-
17:57 - 18:00(Aplausos)
- Title:
- Para início de conversa | Carolina Nalon | TEDxPedradoPenedo
- Description:
-
Bióloga de formação, mudou o rumo da carreira para trabalhar com desenvolvimento humano e comunicação não violenta e tornou-se uma eterna inquieta que acredita no poder da empatia. Carolina percebeu que poderia impactar o mundo apostando no poder da autenticidade para construção de relações mais humanas. O projeto que conduz, chamado Caminho da Comunicação Autêntica, já impactou centenas de pessoas no Brasil e ao redor do mundo.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:07
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