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Para início de conversa | Carolina Nalon | TEDxPedradoPenedo

  • 0:05 - 0:09
    Minha mãe tinha me convidado
    pra um casamento que eu não queria ir,
  • 0:09 - 0:12
    mas eu estava morrendo
    de saudade da minha mãe,
  • 0:12 - 0:15
    então, por mais estranho
    que isso pareça, eu decidi visitá-la,
  • 0:15 - 0:18
    porque aquele era o único fim de semana
    em que eu podia visitá-la,
  • 0:18 - 0:20
    mesmo sabendo que ela não ia estar lá.
  • 0:20 - 0:22
    Mas, como eu estava
    com muita saudade, eu falei:
  • 0:22 - 0:25
    "Cara, eu vou esperar até domingo
    à noite minha mãe chegar,
  • 0:25 - 0:28
    porque aí, pelo menos,
    eu dou um abraço e um beijo nela
  • 0:28 - 0:29
    antes de ir pra São Paulo".
  • 0:29 - 0:33
    Eu lembro direitinho o momento em que
    comecei a escutar o som dela no hall.
  • 0:33 - 0:37
    Eu já dei um pulo do sofá,
    abri os braços e tipo: "Oi, mãe!"
  • 0:37 - 0:41
    Ela entrou assim na porta, cheia de malas,
    olhou pra mim e falou:
  • 0:41 - 0:44
    "Carolina, toda vez que você vem pra cá,
  • 0:44 - 0:46
    você deixa o carro
    estacionado torto na garagem.
  • 0:46 - 0:49
    Eu não aguento mais
    ter que te dizer isso!"
  • 0:49 - 0:51
    E aí, eu quebrei.
  • 0:51 - 0:54
    Como vocês acham que eu reagi?
  • 0:54 - 0:56
    Opção A: virei pra minha mãe e falei:
  • 0:56 - 0:59
    "Ô louco, mãe, eu aqui morrendo
    de saudade de você, te esperando,
  • 0:59 - 1:01
    e você já chega dando uma dessa?"
  • 1:02 - 1:05
    Ou: "Ó, eu não devia
    ter ficado aqui te esperando.
  • 1:05 - 1:07
    Estou indo pra São Paulo, tá? Tchau!"
  • 1:08 - 1:10
    Ou: "Eu que estaciono mal?
  • 1:10 - 1:12
    E você que outro dia...",
  • 1:12 - 1:15
    e aí a gente ia começar uma discussão
    de quem dirige pior ou melhor.
  • 1:15 - 1:19
    Ou alternativa D: fugi pro banheiro.
  • 1:20 - 1:23
    Eu confesso que, por 26 anos,
  • 1:23 - 1:26
    eu sempre reagi em alguma
    dessas três primeiras alternativas.
  • 1:27 - 1:29
    Mas, exatamente na época desse episódio,
  • 1:29 - 1:33
    eu tinha começado a estudar
    comunicação não violenta.
  • 1:33 - 1:35
    Então, o que eu fiz
    foi fugir pro banheiro.
  • 1:35 - 1:38
    E eu fugi pro banheiro pra pensar.
  • 1:38 - 1:43
    Eu cheguei lá e falei: "Meu Deus do céu,
    parece que essa é uma oportunidade.
  • 1:43 - 1:44
    Santo Marshall Rosenberg!",
  • 1:44 - 1:47
    o cara que sistematizou
    a comunicação não violenta,
  • 1:47 - 1:48
    "Me ajuda!"
  • 1:48 - 1:51
    E eu comecei a pensar: "O que minha mãe
    está querendo me dizer?
  • 1:51 - 1:54
    O que está além dessa palavra?
    Do que ela está precisando?
  • 1:54 - 1:57
    Ela está me fazendo algum pedido.
  • 1:57 - 2:01
    A forma como ela está me pedindo
    não é a minha preferida,
  • 2:01 - 2:02
    mas eu sei que tem alguma coisa aí".
  • 2:02 - 2:06
    E comecei a me lembrar de outras coisas
    que aconteceram naquela semana.
  • 2:06 - 2:09
    Saí do banheiro e falei: "Mãe,
  • 2:09 - 2:11
    você está chateada porque eu não fui
    no casamento com você?"
  • 2:11 - 2:15
    Ela: "Eu estou, porque todo mundo lá
    estava com a família, só eu que não!
  • 2:15 - 2:17
    Eu não estava com você nem com o João.
  • 2:17 - 2:20
    Vocês nunca me acompanham
    nos eventos da família!"
  • 2:20 - 2:22
    Eu falei: "Ah, tem mais coisa por aí".
  • 2:22 - 2:25
    E fui me lembrando de várias outras coisas
    que tinham acontecido naquela semana
  • 2:25 - 2:28
    e fui apontando como eu achava
    que ela estava se sentindo,
  • 2:28 - 2:31
    o que ela queria que tivesse acontecido,
  • 2:31 - 2:34
    e a gente acabou tendo uma das conversas
    mais legais da nossa vida.
  • 2:34 - 2:37
    Inclusive depois ela decidiu
    se mudar pra São Paulo
  • 2:37 - 2:39
    pra ficar mais perto dos filhos.
  • 2:39 - 2:40
    Então, foi um negócio super mágico
  • 2:40 - 2:44
    e foi o dia em que eu olhei e falei:
    "Cara, eu preciso trabalhar com isso",
  • 2:44 - 2:46
    porque, em 26 anos,
    isso nunca tinha acontecido.
  • 2:46 - 2:49
    A gente sempre se amou muito,
    teve uma relação maravilhosa,
  • 2:49 - 2:51
    mas a gente sempre partia pro conflito.
  • 2:52 - 2:55
    Lá no banheiro, então,
    eu me lembrei dos princípios
  • 2:55 - 2:57
    que pra mim são
    os mais importantes da CNV,
  • 2:58 - 3:00
    que são princípios do Marshall, que são:
  • 3:00 - 3:03
    "Por trás de todo comportamento,
    existe uma necessidade",
  • 3:03 - 3:09
    e "Todo ato violento é uma expressão
    trágica de uma necessidade não atendida".
  • 3:09 - 3:13
    Então, tinha alguma coisa ali
    que eu precisava revisitar na minha mãe.
  • 3:14 - 3:18
    Agora, não é que a minha mãe
    chegou falando isso e eu pensei:
  • 3:18 - 3:21
    "Nossa, minha mãe...
    ela está precisando de alguma coisa",
  • 3:21 - 3:24
    que eu tive uma ressonância
    emocional e afetiva com ela.
  • 3:24 - 3:25
    Eu não tive.
  • 3:25 - 3:29
    Eu fiz um esforço pra compreender
    o que estava por trás daquilo.
  • 3:29 - 3:31
    Eu fiz um esforço pra me conectar.
  • 3:31 - 3:34
    Então, isso é chamado
    de empatia cognitiva,
  • 3:34 - 3:38
    e eu quero que vocês guardem esse conceito
    porque eu vou voltar pra ele depois.
  • 3:38 - 3:40
    Eu acho que isso é uma parte
    muito importante da empatia.
  • 3:41 - 3:45
    E além da empatia cognitiva,
    tem também a empatia emocional,
  • 3:45 - 3:49
    que é quando a gente sente essa
    ressonância emocional com outra pessoa.
  • 3:50 - 3:52
    Então, a gente já nasce
    programado pra isso.
  • 3:53 - 3:56
    Se alguém vira pra você
    e fala assim: "Meu filho morreu",
  • 3:56 - 4:00
    você sente na hora: "Nossa,
    como deve ser ruim ter [vivido] isso".
  • 4:00 - 4:04
    Mas, às vezes, mesmo tendo essa
    empatia emocional, a gente se embola
  • 4:05 - 4:08
    em conseguir demonstrar empatia pro outro.
  • 4:08 - 4:12
    Vocês já devem conhecer esse cara aqui,
    que é o "abominável homem das neves",
  • 4:13 - 4:17
    mas um amigo meu criou
    alguns outros tipos de abomináveis
  • 4:17 - 4:23
    pra explicar como a gente reage
    quando a gente tem empatia emocional,
  • 4:23 - 4:25
    mas a gente não sabe
    como demonstrar empatia.
  • 4:26 - 4:31
    Um amigo meu chamado Cláudio Thebas
    que inventou esses "abomináveis".
  • 4:31 - 4:35
    Eu queria apresentar o primeiro,
    que é o abominável homem "IBGE".
  • 4:36 - 4:38
    O abominável homem IBGE é o seguinte,
  • 4:38 - 4:40
    imagina que a mulher chega e fala assim:
  • 4:40 - 4:43
    "Ai, amor, hoje eu tive
    uma briga com meu chefe.
  • 4:43 - 4:46
    Foi uma situação
    tão terrível lá no trabalho..."
  • 4:46 - 4:50
    Aí, o abominável homem IBGE fala:
    "Ó, a situação tá braba mesmo,
  • 4:50 - 4:53
    mas você já viu quantas pessoas
    ficaram desempregadas no Brasil este ano?
  • 4:53 - 4:57
    Então, segura as pontas
    porque não está fácil pra ninguém!"
  • 4:58 - 5:02
    Então, ele trouxe um dado,
    com a melhor das boas intenções,
  • 5:02 - 5:05
    pra talvez mostrar pra ela
    uma outra perspectiva do problema,
  • 5:05 - 5:07
    mas o que aconteceu aqui?
  • 5:07 - 5:10
    Se ela queria falar daquilo
    que aconteceu com o chefe dela,
  • 5:10 - 5:14
    pronto, já quebrou o fluxo da conversa,
    quebrou o momento de conexão da empatia.
  • 5:15 - 5:18
    Tem também o abominável homem
    "meu pior é melhor".
  • 5:19 - 5:21
    Então, o amigo chega e fala:
  • 5:21 - 5:24
    "Nossa, eu bati meu carro hoje,
    está lá no mecânico.
  • 5:24 - 5:26
    Agora não sei o que fazer.
  • 5:26 - 5:28
    Essa semana tenho que ir
    de carro pro trabalho.
  • 5:28 - 5:29
    Vai ser uma confusão".
  • 5:29 - 5:30
    Aí, o amigo fala assim:
  • 5:30 - 5:32
    "Pô, e eu então!
  • 5:32 - 5:35
    Uma vez eu dei 'PT'
    num carro, quase morri!
  • 5:35 - 5:39
    Isso sim foi susto, mas, olha, a gente tem
    que agradecer que a gente está vivo".
  • 5:39 - 5:41
    Então, aconteceu a mesma coisa.
  • 5:41 - 5:44
    Se ele queria falar
    do trabalho que vai dar,
  • 5:44 - 5:46
    agora ele já não vai conseguir mais.
  • 5:46 - 5:48
    Então, o fluxo, a conexão,
    foram interrompidos.
  • 5:49 - 5:51
    Tem também o abominável
    homem "sabe-tudo".
  • 5:51 - 5:52
    Então, o amigo chega e fala:
  • 5:52 - 5:56
    "Cara, eu briguei com a minha mulher,
    agora não sei o que faço com ela".
  • 5:56 - 5:58
    E o sabe-tudo chega
    e fala assim: "Pode deixar.
  • 5:59 - 6:03
    Sabe, mulher, tem uma coisa que ela
    não resiste, que é receber flores.
  • 6:03 - 6:06
    Então, pega aqui o telefone
    dessa floricultura, liga agora,
  • 6:06 - 6:08
    manda flor pra ela
    que vai ficar tudo resolvido".
  • 6:08 - 6:12
    Então, o abominável homem sabe-tudo
    é uma metralhadora de conselhos.
  • 6:12 - 6:15
    Ele sempre tem uma solução.
  • 6:15 - 6:17
    Não é que aconselhar seja ruim, gente.
  • 6:17 - 6:19
    Por favor, eu não quero
    passar essa mensagem,
  • 6:19 - 6:21
    mas é que não era o momento ainda.
  • 6:21 - 6:24
    Ele ainda tinha muito pra desabafar,
    muito pra desaguar.
  • 6:24 - 6:28
    Então, quem aqui conhece
    algum desses abomináveis?
  • 6:29 - 6:32
    Quem aqui já foi algum desses abomináveis?
  • 6:32 - 6:34
    Eu acho que isso é muito importante.
  • 6:34 - 6:38
    Quando eu comecei a estudar isso,
    eu olhava pra esses bloqueios da empatia,
  • 6:38 - 6:42
    esse nosso impulso de aconselhar,
    de competir pelo sofrimento,
  • 6:42 - 6:44
    enfim, de encerrar o assunto,
  • 6:44 - 6:46
    e eu falei: "Eu faço tudo!"
  • 6:46 - 6:51
    Então, o primeiro passo: reconhecer que
    a gente não sabe como demonstrar empatia,
  • 6:51 - 6:54
    pra aprender a demonstrar empatia.
  • 6:54 - 6:59
    Aí, a gente tem vários princípios
    equivocados sobre a empatia,
  • 6:59 - 7:02
    de achar que a empatia é fazer pelo outro
  • 7:02 - 7:04
    o que a gente gostaria
    que fosse feito pela gente,
  • 7:04 - 7:06
    mas não há nada mais equivocado.
  • 7:06 - 7:11
    Empatia é fazer pelo outro o que o outro
    gostaria que fosse feito por ele.
  • 7:11 - 7:15
    Empatia é criar espaço.
  • 7:15 - 7:18
    Pra mim, essa é a melhor
    definição de empatia,
  • 7:18 - 7:21
    quando existe espaço pra pessoa desaguar.
  • 7:21 - 7:24
    Sabe quando você sai de uma conversa,
    você chega com uma pressão emocional,
  • 7:24 - 7:26
    você conversa com alguém e sente um:
  • 7:26 - 7:29
    "Ah... Aliviou.
  • 7:29 - 7:32
    Agora parece que eu consigo escutar
    o que você quer me dizer"?
  • 7:32 - 7:36
    Se eu quisesse falar pra minha mãe por que
    eu não tinha ido no casamento com ela
  • 7:36 - 7:37
    na hora em que ela chegou,
  • 7:38 - 7:42
    a chance de ela me escutar era muito
    baixa porque ela estava ali na pressão.
  • 7:42 - 7:46
    Ela precisava esvaziar
    pra depois poder conversar.
  • 7:46 - 7:48
    Então, pra mim isso mudou tudo.
  • 7:49 - 7:52
    Empatia também é a gente
    resistir ao nosso impulso
  • 7:52 - 7:54
    de já resolver o problema do outro,
  • 7:54 - 7:58
    porque muitas vezes o que o outro
    precisa é só desse desabafo.
  • 7:58 - 8:01
    Eu fiquei muito surpresa: tem um dia
    de que eu nunca me esqueço,
  • 8:01 - 8:03
    que ilustra bem isso.
  • 8:03 - 8:05
    Quando eu morava com uma amiga minha,
  • 8:05 - 8:07
    ela tinha acabado de passar
    por uma semana muito difícil
  • 8:07 - 8:09
    porque ela tinha perdido o emprego.
  • 8:09 - 8:14
    Aí, uma dia ela estava mal, assim,
    ela entrou no meu quarto já chorando.
  • 8:15 - 8:17
    Eu olhei pra ela, só abri
    os braços assim e falei: "Vem".
  • 8:18 - 8:21
    Aí na hora que ela abraçou,
    eu vi ela sofrendo tanto, eu pensei:
  • 8:21 - 8:23
    "Essa mulher tem
    um currículo tão incrível,
  • 8:23 - 8:26
    ela é uma profissional tão boa,
    eu sou coach de carreira também,
  • 8:26 - 8:27
    vamos fazer uma sessão de coaching
  • 8:27 - 8:29
    e vai ficar tudo bem,
    vai ficar tudo certo,
  • 8:29 - 8:32
    a gente dá um 'up' no currículo,
    ela se muda de São Paulo",
  • 8:32 - 8:34
    ela já nem queria mais morar em São Paulo,
  • 8:34 - 8:35
    mas eu falei: "Não.
  • 8:35 - 8:39
    Carol, dá uma segurada,
    não é a hora de falar isso pra ela agora".
  • 8:39 - 8:43
    E aí eu só falei: "Jo, você foi
    pega de surpresa, né?
  • 8:43 - 8:45
    Essa semana está difícil".
  • 8:45 - 8:49
    E ela falou: "Nossa, cara.
    Eu não esperava por isso agora.
  • 8:49 - 8:50
    Eu estou muito preocupada".
  • 8:50 - 8:52
    E chorando.
  • 8:52 - 8:56
    "Talvez eu até tenha que voltar
    pra casa dos meus pais por um tempo."
  • 8:56 - 8:59
    E eu falei: "E você está preocupada
    de dar essa preocupação pra eles, né?"
  • 8:59 - 9:01
    E ela falou: "Sim.
  • 9:01 - 9:03
    Porque nessa altura do campeonato...
  • 9:03 - 9:06
    Eu não consigo entender,
    porque eu e minha família,
  • 9:06 - 9:08
    nós somos pessoas tão boas,
  • 9:08 - 9:11
    mas parece que um monte de coisa
    ruim acontece com a gente".
  • 9:11 - 9:16
    E aí eu fui escutando em silêncio,
    olhando pra ela, tipo: "Estou aqui".
  • 9:17 - 9:21
    E aí ela falou: "Você sabe, Carol,
  • 9:21 - 9:23
    meus pais me ajudaram tanto na minha vida
  • 9:23 - 9:27
    e eu acho que eu nunca
    agradeci apropriadamente a eles.
  • 9:27 - 9:31
    Tá aí! Eu acho que vou escrever
    uma carta de gratidão aos meus pais.
  • 9:32 - 9:33
    Obrigada, Carol".
  • 9:33 - 9:34
    E saiu.
  • 9:35 - 9:38
    Eu falei: "Gente, o que acabou
    de acontecer aqui?"
  • 9:38 - 9:41
    Eu não fiz nada, nada!
  • 9:41 - 9:43
    Eu só criei o espaço.
  • 9:43 - 9:45
    Então imagina, eu nunca seria
    capaz de dar esse conselho,
  • 9:45 - 9:48
    imagina, ela abre a porta e eu falo:
    "Eu já sei o que você precisa.
  • 9:48 - 9:51
    Escreve uma carta de gratidão
    pros seus pais". Nunca.
  • 9:51 - 9:55
    Então, a empatia cria esse lugar sagrado
  • 9:55 - 9:57
    pras pessoas chegarem
    onde elas precisam chegar,
  • 9:57 - 9:59
    pra elas mesmas conseguirem se escutar.
  • 10:00 - 10:02
    E aí várias histórias como essa
    foram acontecendo,
  • 10:02 - 10:05
    eu comecei a trabalhar
    com comunicação não violenta.
  • 10:05 - 10:08
    Os dois grandes eixos da CNV
    são empatia e autenticidade.
  • 10:08 - 10:10
    Eu estava feliz da vida, gente.
  • 10:10 - 10:13
    Um projeto que [tem] centenas de pessoas,
  • 10:13 - 10:15
    as pessoas que fazem
    parte da rede desse projeto
  • 10:15 - 10:20
    estão fazendo projetos incríveis,
    levando CNV pras escolas, pra hospitais,
  • 10:20 - 10:22
    tem um projeto que rolou
    no Complexo do Alemão,
  • 10:22 - 10:24
    então, umas coisas lindas, assim.
  • 10:24 - 10:27
    E eu entusiasta da empatia, né?
  • 10:27 - 10:29
    "Ê lelê, empatia é a cola do mundo,
  • 10:29 - 10:30
    vamo que vamo!"
  • 10:31 - 10:35
    Até um dia em 2015
    que eu recebi de várias pessoas,
  • 10:35 - 10:36
    o legal de se trabalhar com um tema
  • 10:36 - 10:40
    é que qualquer coisa que apareça sobre ele
    mil pessoas te mandam aquilo, né?
  • 10:40 - 10:42
    E aí eu recebi de várias
    pessoas este artigo:
  • 10:42 - 10:44
    "The dark side of empathy"
  • 10:44 - 10:46
    de um psicólogo chamado Paul Bloom,
  • 10:46 - 10:48
    que foi publicado no "The Atlantic".
  • 10:48 - 10:51
    E eu falei: "Como assim o lado
    obscuro da empatia?
  • 10:51 - 10:54
    Essa coisa linda que eu trabalho
    tem um lado obscuro?"
  • 10:54 - 10:58
    Eu falei: "Esse negócio vai chacoalhar
    comigo!" E chacoalhou.
  • 10:59 - 11:02
    Porque o que ele falava foi uma coisa
    que fez muito sentido pra mim:
  • 11:02 - 11:06
    que a empatia, ela pode
    nos conduzir a favoritismos.
  • 11:07 - 11:10
    Então, imagina no caso desse abominável,
  • 11:10 - 11:13
    que a mulher chega contando
    o que aconteceu com o chefe.
  • 11:13 - 11:15
    Então vamos supor
    que o marido tenha escutado ela.
  • 11:15 - 11:19
    Então elá está [contando]
    o que de terrível o chefe fez com ela.
  • 11:19 - 11:23
    O marido pode escutar e ficar tão chateado
  • 11:23 - 11:27
    e com tanto ódio do chefe,
    por empatizar com a mulher,
  • 11:27 - 11:28
    que ele vai escolher o lado dela
  • 11:28 - 11:31
    e vai ter sentimentos agressivos
    [contra] o chefe.
  • 11:32 - 11:34
    Eu falei: "Cara, isso faz sentido!"
  • 11:34 - 11:38
    Então nosso instinto empático pode
    nos conduzir a continuar nesse jogo
  • 11:38 - 11:41
    de quem é o culpado e quem é o inocente.
  • 11:41 - 11:44
    Então talvez não seja tão assim a cola
  • 11:44 - 11:46
    que a empatia fosse da sociedade.
  • 11:46 - 11:47
    E fiquei desesperada.
  • 11:47 - 11:51
    Mas é muito bom quando a gente
    também cai numa contradição,
  • 11:51 - 11:53
    quando alguma coisa
    em que a gente acredita muito
  • 11:53 - 11:54
    tem uma quebra.
  • 11:54 - 11:56
    Porque daí a gente começa a correr atrás.
  • 11:57 - 12:00
    E aí eu lembrei
    de um artigo do Gustavo Gitti,
  • 12:00 - 12:01
    que é um querido,
  • 12:01 - 12:04
    que se chamava:
    "Empatia não é o suficiente".
  • 12:04 - 12:06
    E fui nesse artigo
    procurar algumas referências,
  • 12:06 - 12:10
    conversei com o Gustavo, que me passou
    mais um monte de referências,
  • 12:10 - 12:16
    e nisso eu percebi, aprendi, o quanto
    que associar a empatia com a compaixão
  • 12:17 - 12:19
    é algo muito importante.
  • 12:19 - 12:23
    Pra gente não cair na aflição empática,
    pra gente não cair em favoritismos,
  • 12:23 - 12:25
    pra gente não cair em "burnout" empático.
  • 12:25 - 12:28
    Sabe quando você vê muitas notícias
    e você empatiza tanto com elas,
  • 12:28 - 12:32
    notícias de desastres, de tragédias,
    que você fica se sentindo exausto?
  • 12:33 - 12:34
    Esse é o "burnout" empático.
  • 12:34 - 12:39
    Então a compaixão,
    ela vem pra ajudar a gente
  • 12:39 - 12:44
    a conseguir se sentir
    tranquilo e no nosso centro
  • 12:44 - 12:47
    mesmo em situações
    que têm muita aflição,
  • 12:47 - 12:49
    um potencial afetivo muito grande.
  • 12:49 - 12:53
    Então, a compaixão
    é a aspiração genuína
  • 12:53 - 12:55
    de que o outro se livre do sofrimento.
  • 12:55 - 12:57
    Aqui nesse caso do abominável,
  • 12:57 - 13:00
    se mulher está contando
    tudo que aconteceu com o chefe,
  • 13:00 - 13:06
    o marido consegue
    internamente cultivar um olhar
  • 13:06 - 13:09
    de perceber que ela está sofrendo muito
  • 13:09 - 13:14
    porque ela está muito enredada
    e muito apegada a essa situação.
  • 13:14 - 13:21
    E muito apegada ao que ela achava
    que poderia ser essa relação com o chefe.
  • 13:21 - 13:25
    Eu sou uma superiniciante em entender
  • 13:25 - 13:28
    e de fato praticar e integrar
    a compaixão na minha vida,
  • 13:28 - 13:32
    então eu quero só pontuar
    algumas coisas que eu aprendi até agora.
  • 13:33 - 13:38
    A compaixão é quando você não tem só
    um olhar pra quem está vivendo a situação,
  • 13:38 - 13:42
    mas você tem uma compaixão
    e uma empatia pelo todo,
  • 13:42 - 13:45
    pela situação como um todo.
  • 13:46 - 13:47
    E aí não tem como falar...
  • 13:47 - 13:50
    Se compaixão é se livrar do sofrimento,
  • 13:50 - 13:54
    é você [desejar] que o outro
    se livre do sofrimento,
  • 13:54 - 13:57
    não tem como falar de compaixão
    sem falar de sofrimento,
  • 13:57 - 13:59
    e o que é o sofrimento.
  • 13:59 - 14:01
    Então quando a gente tem uma noção clara
  • 14:01 - 14:04
    de que sofrimento é esse
    que a gente quer se livrar,
  • 14:04 - 14:07
    porque a gente sofre muito,
    e primeiramente
  • 14:07 - 14:10
    porque a gente tem essa noção
    de que não deveria sofrer.
  • 14:10 - 14:12
    Então a partir do momento
    que a gente assume
  • 14:12 - 14:16
    que sim, o sofrimento existe,
    e esse é o nosso ponto de partida,
  • 14:16 - 14:19
    e se ele está acontecendo agora,
    é algo que tem que ser acolhido,
  • 14:19 - 14:23
    a gente já dá o primeiro passo
    pra conseguir ser mais compassivo.
  • 14:23 - 14:28
    E isso é uma coisa
    que eu estou praticando bastante
  • 14:28 - 14:31
    e eu tenho sentido algumas mudanças, sabe?
  • 14:31 - 14:34
    E é muito pra você estar em um ponto bom.
  • 14:34 - 14:37
    Então, não necessariamente
    esse marido vai virar pra mulher e falar:
  • 14:37 - 14:40
    "Eu desejo que você se livre
    do sofrimento e de suas causas".
  • 14:41 - 14:43
    Ele pode oferecer
    empatia cognitiva por ela,
  • 14:43 - 14:46
    então dar o momento,
    criar espaço pra ela desabafar.
  • 14:46 - 14:50
    Mas internamente ele está
    fazendo esse trabalho.
  • 14:50 - 14:55
    Eu tive amigas que,
    diante das tragédias recentes
  • 14:55 - 14:58
    que aconteceram aqui
    com o time do Chapecó,
  • 14:58 - 15:01
    elas não conseguiram mais
    trabalhar ao longo do dia.
  • 15:01 - 15:04
    E eu senti muitíssimo
    por isso ter acontecido, também.
  • 15:04 - 15:07
    Eu pensei neles, eu pensei nas famílias,
  • 15:07 - 15:11
    mas isso não me deixou
    numa situação de aflição.
  • 15:11 - 15:15
    Então eu acho que eu estou conseguindo
    começar a integrar esses conceitos;
  • 15:15 - 15:18
    que é uma prática interna mesmo,
    de transformação interna.
  • 15:18 - 15:21
    E eu acho que é importantíssimo
    quando estamos tentando
  • 15:21 - 15:23
    ser empático com muitas pessoas.
  • 15:24 - 15:27
    E aí vocês devem perguntar:
    "Mas Carol, então agora que você descobriu
  • 15:27 - 15:31
    que a compaixão é uma coisa
    tão importante pra apoiar a empatia,
  • 15:31 - 15:34
    a empatia perdeu o lugar?"
  • 15:34 - 15:37
    E aí eu falo que não, absolutamente não.
  • 15:37 - 15:42
    E sabe em que momento eu acho
    que a empatia é importantíssima?
  • 15:42 - 15:45
    Pra início de conversa.
  • 15:45 - 15:50
    Então que as nossas conversas
    tenham como ponto de partida a empatia.
  • 15:50 - 15:52
    Porque o mundo, gente,
    tem cada vez mais gente.
  • 15:52 - 15:56
    Às vezes eu paro diante daquele contador
    do aumento da população mundial,
  • 15:56 - 16:00
    eu fico dez minutos olhando, assim,
    falo: "Gente, caramba!"
  • 16:00 - 16:03
    E é um mundo com cada vez mais gente,
    cada vez mais compartilhado,
  • 16:03 - 16:06
    então nunca antes a gente teve
    tanto acesso à informação,
  • 16:06 - 16:08
    nunca antes a gente teve
    tanto acesso a opiniões,
  • 16:08 - 16:10
    assim na palma da nossa mão,
  • 16:10 - 16:12
    de pessoas completamente
    diferentes da gente,
  • 16:12 - 16:14
    com opiniões diversas.
  • 16:14 - 16:18
    Eu acho que nós vamos ser uma geração
    que vai ser estudada daqui a um tempo.
  • 16:18 - 16:22
    Tipo: "Eles foram os primeiros
    que tiveram acesso à internet".
  • 16:23 - 16:24
    E pra mim fica muito claro,
  • 16:24 - 16:26
    quando eu leio comentários
    de um site de notícias,
  • 16:26 - 16:29
    quando a gente acaba de passar
    por um dia super polêmico
  • 16:29 - 16:33
    e eu estou dando "scroll"
    na minha timeline do Facebook,
  • 16:33 - 16:35
    que a gente ainda não sabe dialogar
  • 16:35 - 16:38
    com a complexidade
    desse mundo compartilhado.
  • 16:39 - 16:44
    Então, a gente está precisando
    mesmo de mais gente
  • 16:44 - 16:49
    que quer escutar pra compreender primeiro,
    não pra responder primeiro.
  • 16:49 - 16:53
    Por isso que eu acho que empatia
    é necessária pra início de conversa.
  • 16:53 - 16:57
    Principalmente a empatia cognitiva,
    na qual eu realmente me esforço
  • 16:57 - 16:59
    pra saber o que está
    por trás daquela opinião.
  • 17:00 - 17:03
    Eu acho que o mundo está
    precisando de mais gente
  • 17:03 - 17:08
    que diante da aflição do outro
    consegue se esticar;
  • 17:08 - 17:12
    que diante da própria aflição
    consegue respirar;
  • 17:13 - 17:17
    que diante do grito do outro
    consegue se conectar.
  • 17:18 - 17:20
    A partir do momento
    em que eu comecei a escutar
  • 17:20 - 17:22
    pra compreender, não só pra responder,
  • 17:22 - 17:25
    eu consegui mudar a forma
    como eu conversava com a minha mãe,
  • 17:25 - 17:29
    eu consegui mudar a forma
    como eu reagia a comentários na internet.
  • 17:29 - 17:31
    Eu tenho certeza que todo mundo aqui
  • 17:31 - 17:34
    tem alguma relação em que se sente
    numa sinuca de bico,
  • 17:34 - 17:36
    você pensa: "Pra onde vai essa relação?
  • 17:36 - 17:38
    Será que um dia eu vou conseguir
    fluir com essa pessoa?"
  • 17:38 - 17:41
    Eu tenho certeza que vocês
    se sentem desesperançosos
  • 17:41 - 17:44
    com muitas das discussões
    que estão rolando por aí.
  • 17:44 - 17:47
    Mas eu desejo que a partir de hoje
  • 17:47 - 17:53
    vocês se sintam mais abertos e dispostos
    a, pelo menos pra início de conversa,
  • 17:53 - 17:56
    vocês serem espaço.
  • 17:56 - 17:57
    Obrigada.
  • 17:57 - 18:00
    (Aplausos)
Title:
Para início de conversa | Carolina Nalon | TEDxPedradoPenedo
Description:

Bióloga de formação, mudou o rumo da carreira para trabalhar com desenvolvimento humano e comunicação não violenta e tornou-se uma eterna inquieta que acredita no poder da empatia. Carolina percebeu que poderia impactar o mundo apostando no poder da autenticidade para construção de relações mais humanas. O projeto que conduz, chamado Caminho da Comunicação Autêntica, já impactou centenas de pessoas no Brasil e ao redor do mundo.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:07

Portuguese, Brazilian subtitles

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