O poder gentil das pessoas altamente sensíveis | Elena Herdieckerhoff | TEDxIHEParis

Elena é mentora de pessoas altamente sensíveis e empreendedores empáticos. Ela explica por que precisamos mudar a narrativa cultural predominante referente às pessoas altamente sensíveis.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Sou uma pessoa altamente sensível.

Qual é a primeira coisa que você pensa
quando lhe digo isso?

Que devo ser tímida e introvertida?

Ou talvez muito emotiva?

Ou talvez que você precise pisar em ovos
quando eu estiver por perto?

O senso comum a respeito
de pessoas altamente sensíveis

é que somos, de alguma maneira,
criaturas fracas e frágeis

que escolheram o bilhete errado
na loteria genética da vida.

Você pode ver isso na prática quando busca
no Google pela palavra "sensível".

Verá imagens de dores de dente,
irritações de pele,

(Risos)

plantas murchas e pessoas chorando.

A sensibilidade claramente
não tem uma boa reputação.

(Risos)

Hoje, quero ajudar a mudar isso.

Talvez você esteja pensando agora
como é ser uma pessoa altamente sensível.

Imagine-se vivendo com todos
os sentidos altamente alertas,

e também com um mundo interior ativo,

no qual todas as suas emoções
são amplificadas.

A tristeza é um pesar profundo,
e a alegria é puro êxtase.

Você também se importa além do normal

e não tem limites para a empatia.

Imagine estar em constante osmose
com tudo ao seu redor.

As pessoas altamente sensíveis
muitas vezes ouvem coisas como:

"Você é sensível demais!"

"Pare de se afetar por tudo."

Ou, minha favorita: "Você deveria
mesmo ser mais forte".

A mensagem principal é clara:

ser altamente sensível
é ser altamente problemático.

Eu concordava com isso.

Sempre pensei que deveria ter vindo
com algum tipo de aviso ou de ressalva:

"Cuidado, altamente sensível".

Bem, vou compartilhar com você

algumas vantagens de ser
uma pessoa altamente sensível.

Uma delas: tenho uma mente
extremamente ativa,

o que quer dizer
que é impossível de desligar.

Isso também quer dizer
que a insônia é minha melhor amiga.

Como pode imaginar, isso é muito útil
na noite anterior a uma palestra TEDx.

(Risos)

Além disso, não posso assistir
a filmes de terror ou violentos,

porque as imagens parecem
me perseguir pra sempre.

Lembro-me de quando era criança
e assisti ao filme "Tubarões".

Fiquei tão traumatizada,

que não consegui chegar
perto de uma piscina

nem ficar sozinha no mar, por muitos anos.

E, muito constrangedor,

faço jus ao meu apelido de infância,
"a princesa da ervilha",

quando o tema é viagens e camas de hotel.

O colchão não pode ser nem muito duro,
nem muito macio; precisa ser só o certo.

Meu pai uma vez, brincando, me disse

que eu deveria simplesmente viajar
com minha própria cama e travesseiro

para evitar qualquer transtorno
em futuras viagens.

(Risos)

Eu sempre pensava:
"Qual a vantagem de ser desse jeito?".

Bem, os dons da sensibilidade
se aproximaram de mim aos poucos.

Aprendi a amar a facilidade que tenho
para me conectar com os outros.

Também tenho uma intuição forte,
que me guia como um GPS infalível.

Foi apenas quando tinha 25 anos
que me deparei com um livro

que mudou a minha vida:

"Pessoas altamente sensíveis",
da doutora Elaine Aron.

Consegui finalmente dar um nome

à minha extraordinária e intensa
experiência de vida,

e ele me deu esperança
de que havia mais pessoas como eu.

Nesse livro, ela descreve
as pessoas altamente sensíveis,

ou, abreviando, PASs,

como pessoas que têm um traço genético

de sensibilidade
de processamento sensorial.

Isso é quase um palavrão.

E que, surpreendentemente,
15% a 20% da população é PAS.

Ela usa o acrônimo "PSEC" para resumir
os principais traços das PASs.

O "P" representa
"profundidade de processamento".

Como PASs, temos a capacidade fenomenal
de analisar tudo profundamente.

Meu exemplo favorito é o que chamo
de "síndrome do restaurante chinês".

(Risos)

Basicamente, pode levar até uma hora

para ler o cardápio inteiro de 40 páginas,

apesar de que, muito provavelmente,

vamos pedir nosso prato preferido,
de qualquer jeito.

(Risos)

O "S" representa "superestimulação".

Nós nos sobrecarregamos rapidamente
pelo mundo ao nosso redor.

Sou da Bavária e amo nossa Oktoberfest,

mas preciso ir embora depois de uma hora,

porque fico completamente sobrecarregada

pela mistura de cheiros
do frango assado, do algodão-doce,

pela cacofonia das músicas
e as multidões enormes.

É demais para meus sentidos.

O "E" representa "empatia".
As PASs sentem o que os outros sentem.

É como aquele antigo provérbio hebreu:

"Quando um chora,
o outro sente o gosto do sal".

Por último, o "C" representa
"consciência de sutilezas".

As PASs são como um sensor de ajuste fino,
podem captar as mínimas coisas.

Infelizmente, são também o tipo de pessoa

que te acorda às três da madrugada,

para dizer que tem uma torneira
pingando na cozinha

dois andares abaixo.

Como você pode ver,

ser uma PAS vai muito além
da resposta emocional.

Quero abordar dois temas importantes,

no que se refere a estereótipos de PAS.

O primeiro é assumir que as PASs
devem ser introvertidos disfarçados

que queriam um nome mais chique.

(Risos)

A verdade é que 30% das PASs
são, na verdade, extrovertidas,

o que significa que não podemos
colocá-las na categoria conveniente

de "tímidos quietos".

As PASs possuem várias nuances.

Segundo, devido à suposta
feminilidade dos traços das PAS,

muitos presumem que PASs são mulheres.

Pode ser uma surpresa que 50%
das PASs são, na verdade, homens.

Na nossa sociedade, não se espera
que os homens sejam sensíveis,

mas agressivos e competitivos.

Infelizmente, a ideia de que os homens
podem ser sensíveis e fortes

é ainda uma ideia estranha.

É uma boa hora para te dizer

que não acho que as PASs sejam melhores
ou piores do que ninguém;

elas são simplesmente diferentes.

Também gostaria de apontar
que, apesar dos rumores,

elas não são membros de uma
"Sociedade especial de flocos de neve",

e também as PASs não têm um aperto de mão
secreto pra se identificarem.

(Risos)

As PASs são como qualquer outra pessoa,

exceto pelo fato de que vivenciam
o mundo de um jeito mais intenso.

E se você acha que todas as PASs
são parecidas, isso não é verdade.

Não existem duas PASs iguais.

Cada PAS tem sua própria e única
impressão digital de sensibilidade,

junto com outros marcadores de identidade

como gênero, etnia,
histórico cultural e pessoal.

Também quero dizer
que ser uma PAS não é uma doença,

e também não é uma escolha.

É um traço genético.

Nós nascemos, essencialmente,
para sermos sensíveis.

Cada vez que você diz a uma PAS
que ela é "sensível demais",

é como dizer a alguém com olhos azuis,

que seus olhos são azuis demais.

Provavelmente, não importa
o quanto diga isso a ela,

ela ainda terá os mesmos
olhos azuis, olhando pra você.

Como sociedade, achamos
a sensibilidade um defeito,

um infeliz calcanhar de Aquiles emocional,

que diminui nossa habilidade
de nos tornarmos cada vez mais otimizados,

desprendidos e robóticos.

Todos nós menosprezamos os idealistas,
os sonhadores e os criadores.

Mas nem sempre foi assim.

Em séculos anteriores,

filantropos, filósofos,
poetas, artistas e pintores

eram venerados por sua sensível
contribuição à sociedade.

Quem seríamos sem
Leonardo da Vinci ou Mozart?

Sem Anaïs Nin ou Balzac?

Ou sem Madre Teresa ou Gandhi?

Nosso mundo certamente
teria um tom mais escuro.

Não estou sugerindo que todas as PASs
sejam gênios que moldam o mundo.

Mas a maior parte das PASs
tem uma urgência genuína

de criar conexão e sentido.

Como elas sentem cada dor que veem,

querem elevar os esquecidos
e salvar os menos favorecidos.

Quando as PASs tentam esconder
sua sensibilidade para se adequar,

todos nós perdemos.

Pois não seríamos uma sociedade mais pobre

sem o coração pungente
da criação sensível?

Uma sociedade que desmerece
a imaginação, a intuição e a empatia?

Acredito que sim.

Por isso acredito
que precisamos, com urgência,

começar a aceitar
e a valorizar a sensibilidade

pelo seu efeito regulador de temperatura

neste mundo muitas vezes "esquentado".

Acredito que somos todos sensíveis;

em diferentes níveis
e de diferentes maneiras.

As PASs estão simplesmente
na extremidade do espectro.

Por isso o jeito como pensamos
e falamos sobre a sensibilidade

interessa a todos nós.

Precisamos nos unir como sociedade

para reescrever a narrativa cultural
negativa sobre a sensibilidade

e torná-la uma narrativa positiva.

Precisamos apagar a ideia
de que a sensibilidade é uma fraqueza

para, finalmente, nos beneficiar
das suas muitas vantagens.

Fazendo isso, criamos um ambiente

em que todos estejam seguros
para mostrar seu lado mais sensível,

não só as PASs.

Como podemos voltar a criar
mais consciência positiva

e aceitação da sensibilidade?

Em nível público,

duas mudanças mais urgentes
precisam acontecer,

nas escolas e locais de trabalho.

Nas escolas, precisamos
treinar melhor nossos professores

para reconhecerem e entenderem
crianças sensíveis.

E da mesma forma, para pais e professores,

o desejo, muitas vezes bem-intencionado,

de "endurecê-los" para sobreviverem
no mundo grande e malvado lá fora

precisa parar.

Não devemos tentar forçar ovelhas
a usarem pele de lobos.

Em nível corporativo,

o sistema é programado a favor
daqueles com "punhos de aço".

Como as pessoas sensíveis

tendem a ter um discurso
mais leve e cooperativo,

em vez de competitivo,

elas são muitas vezes deixadas para trás
na escalada corporativa.

Para mudar isso,
precisamos criar um ambiente

em que todos os tipos
de personalidade possam prosperar

e não apenas alguns tipos seletos.

Por isso acredito

que é do interesse das empresas

convidar pessoas sensíveis à mesa,

porque, sem pessoas sensíveis,

elas correm o risco de não ter inovação,
integridade e, acima de tudo, humanidade.

Em nível pessoal,

todos podemos contribuir

simplesmente parando de julgar
a delicada diferença

das pessoas sensíveis ao nosso redor.

Da próxima vez que se sentir
tentado a dizer a alguém:

"Você é sensível demais!",

peço que pare e faça uma pausa.

Preencha essa pausa com compreensão.

Você verá que o simples ato de aceitar
elevará vocês dois.

Aos meus amigos PASs,
digo: sejam corajosos

e sejam vocês mesmos, sem ter vergonha.

Parem de tentar se endurecer.

Parem de se esconder.
Vocês são lindos do jeito que são.

Não se sintam esquisitos,

pois não são vocês que devem
ser considerados errados,

mas sim um mundo em que corrupção,
violência e ganância são comuns.

Como Krishnamurti disse:

"Não é demonstração de saúde

ser bem-ajustado a uma sociedade
profundamente doente".

Quando eu era uma garotinha,

eu amava correr no nosso jardim
atrás das borboletas

e admirava a beleza frágil delas.

Eu sentia uma profunda
necessidade de protegê-las,

então, decidi prendê-las
numa jarra de vidro

com grama e flores dentro,

para mantê-las seguras
comigo em meu quarto.

Entendi rapidamente:

as borboletas não gostam de cativeiro.

Isso me fez entender
que elas não precisavam ser resgatadas.

Sua contribuição colorida
ao ecossistema natural

era exatamente como deveria ser.

Da mesma forma,

as PASs não devem se esconder
das dores deste mundo numa redoma.

É seu papel se levantarem e compartilharem
seu dom da sensibilidade com todos nós.

Acredito que, como seres humanos,
somos todos unidos

pela nossa experiência
de sensibilidade e empatia.

Também acredito que você
não precisa ser uma PAS

para se importar e fazer a diferença.

Estamos enfrentando
sérios problemas políticos,

culturais e ambientais atualmente.

Agora, mais do que nunca,

precisamos da contribuição
das mentes e corações sensíveis

para abrir caminho
nos tempos difíceis à frente.

Quanto mais nos permitirmos nos conectar

com nossos dons inatos de sensibilidade,

mais podemos nos curar
e curar o planeta em que vivemos.

Inspirada por John Lennon,

que talvez tenha escrito o maior hino
à sensibilidade de todos os tempos

com a canção "Imagine",

permita-me concluir dizendo:

por favor, não me diga
que sou uma sonhadora,

porque sei que não sou
a única pessoa sensível.

Tenho fé que você vai unir
suas mãos às minhas,

para fazer deste mundo
um lugar mais gentil.

(Aplausos) (Vivas)

Obrigada.