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Title:
Uma antiga rocha sugere uma nova teoria sobre a origem da vida
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Description:
Quando e onde começou a vida na Terra? Os cientistas há muito que pensam que ela surgiu há 3000 milhões de anos no oceano — até que a astrobióloga Tara Djokic e a sua equipa fizeram uma descoberta inesperada no deserto da Austrália ocidental. Saibam como uma antiga rocha encontrada perto duma poça vulcânica quente está a mudar a nossa compreensão do "puzzle" da origem da vida.
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Speaker:
Tara Djokic
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A Terra tem 4600 milhões de anos,
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mas a vida duma pessoa, em geral,
dura menos de 100 anos.
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Porque é que nos preocupamos
com a história do nosso planeta
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quando o passado distante
parece tão inconsequente
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para a nossa vida diária?
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Tanto quanto podemos dizer,
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a Terra é o único planeta
no nosso sistema solar,
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conhecido por ter criado vida
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e o único sistema capaz
de sustentar a vida humana.
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Sabemos que a Terra é única
por ter placas tectónicas,
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água líquida à superfície
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e uma atmosfera rica em oxigénio.
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Mas nem sempre foi assim.
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Sabemos isso porque rochas antigas
registaram momentos fundamentais
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na história da evolução do planeta Terra.
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Um dos melhores locais
para observar estas rochas antigas
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é em Pilbara na Austrália Ocidental.
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As rochas aqui têm 3500 milhões de anos,
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e contêm algumas das provas
mais antigas de vida no planeta.
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Quando pensamos na vida primitiva,
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talvez imaginemos um estegossauro
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ou talvez um peixe
arrastando-se em terra firme.
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Mas a vida primitiva de que falo
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é uma vida simples, microscópica,
como as bactérias.
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E os seus fósseis estão,
muitas vezes, preservados
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em estruturas de camadas rochosas,
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chamadas estromatólitos.
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Esta simples forma de vida é quase
tudo o que vemos no registo fóssil
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nos primeiros 3000 milhões
de anos de vida na Terra.
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A nossa espécie só é
detetada no registo fóssil
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há poucas centenas de milhares de anos.
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Sabemos, pelo registo fóssil,
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que a vida das bactérias
tinha já uma forte posição
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há cerca de 3500 a 4000 milhões de anos.
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As rochas mais antigas do que isso
ou foram destruídas
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ou profundamente deformadas
pelas placas tectónicas.
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A peça que falta neste "puzzle"
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é exatamente quando e como
começou a vida na Terra.
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Mais uma vez aparece aquela antiga
paisagem vulcânica no Pilbara.
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Mal eu sabia que a nossa investigação
aqui ia fornecer outra pista
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a esse "puzzle" da origem da vida.
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Foi na minha primeira viagem
aqui no terreno
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no final de um projeto de mapeamento
que durou uma longa semana,
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que eu encontrei uma coisa muito especial.
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O que provavelmente parece
um conjunto de antigas rochas enrugadas
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são estromatólitos.
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E no centro deste monte
estava uma pequena rocha, peculiar
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com o tamanho da mão duma criança.
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Passaram-se seis meses até inspecionarmos
esta rocha ao microscópio,
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quando um dos meus mentores
na época, Malcolm Walter,
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sugeriu que a rocha parecia geiserite.
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A geiserite é uma rocha que só se forma
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dentro ou à volta de nascentes quentes.
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Para compreenderem
o significado da geiserite,
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preciso de vos fazer recuar
quase dois séculos.
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Em 1871, numa carta
ao seu amigo Joseph Hooker,
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Charles Darwin sugeria:
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"E se a vida começou
nalguma pequena lagoa quente
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"com todo o tipo de químicos
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"já pronta para sofrer
mudanças mais complexas?"
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Conhecemos pequenas lagoas quentes,
chamamos-lhe "nascentes quentes".
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Nestes ambientes, temos água quente
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que dissolve minerais
das rochas subjacentes.
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Esta solução mistura-se
com compostos orgânicos
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e resulta numa espécie de fábrica química
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que os investigadores mostraram poder
fabricar simples estruturas celulares
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que são os primeiros passos para a vida.
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Cem anos depois da carta de Darwin,
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descobriram-se fontes hidrotérmicas
no fundo do mar.
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E também são fábricas químicas.
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Esta aqui está situada ao longo
do arco vulcânico Tonga,
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a 1100 metros abaixo do nível do mar
no Oceano Pacífico.
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O fumo negro que vemos a sair
destas estruturas parecidas com chaminés,
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também é um fluido rico em minerais,
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que está a ser alimentado por bactérias.
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Desde a descoberta destas fontes
no mar profundo,
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o cenário favorito para a origem da vida
tem sido no oceano.
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E isso por uma boa razão:
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as fontes do mar profundo
são bem conhecidas
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no registo das rochas antigas.
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Pensa-se que a Terra primitiva
tinha um oceano global
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e muito pouca superfície terrestre.
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A probabilidade
de as fontes do fundo do mar
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serem abundantes na Terra primitiva
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encaixa bem com a origem da vida
no oceano.
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a nossa investigação no Pilbara
proporciona e apoia
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uma perspetiva alternativa.
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Ao fim de três anos, pudemos
mostrar que, de facto,
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a nossa pequena rocha era geiserite.
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Esta conclusão sugeria
que não só existiam fontes quentes
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no nosso vulcão em Pilbara,
com 3500 milhões de anos,
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mas apontava para indícios de vida
em terra, em fontes quentes
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no registo geológico da Terra
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em 3000 milhões de anos.
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Assim, numa perspetiva geológica,
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a pequena lagoa quente de Darwin,
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é uma candidata razoável
para a origem da vida.
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Claro que continua a ser discutível
como a vida começou na Terra
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e provavelmente sempre será.
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Mas é óbvio que floresceu;
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diversificou-se e tornou-se
cada vez mais complexa.
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Por fim, chegou à era do ser humano,
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uma espécie que começou
a questionar a sua própria existência
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e a existência da vida noutros locais.
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Haverá uma comunidade cósmica
à espera de comunicar connosco
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ou só nós é que existimos?
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Uma pista para este "puzzle"
provém do registo das rochas antigas.
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Há cerca de 2500 milhões de anos,
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há indícios de as bactérias
terem começado a produzir oxigénio,
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tal como as plantas fazem hoje.
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Os geólogos referem-se
ao período que se seguiu
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como a Grande Oxidação.
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Deduz-se das rochas chamadas
"formações ferríferas bandadas",
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muitas das quais podem ser observadas
como conjuntos de rochas
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com centenas de metros de espessura
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que estão expostas em desfiladeiros
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que existem no Parque Nacional Karijini
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na Austrália Ocidental.
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A chegada do oxigénio livre permitiu
duas importantes mudanças no planeta.
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Primeiro, permitiu que evoluísse
uma vida complexa.
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A vida precisa de oxigénio
para crescer e ficar mais complexa.
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E produziu a camada de ozono
que protege a vida moderna
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dos efeitos prejudiciais
das radiações ultravioletas do sol.
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Portanto, numa reviravolta irónica,
a vida microbiológica abriu caminho
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à vida complexa,
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e, na essência, abdicou do seu reinado
de 3000 milhões de anos, no planeta.
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Hoje, nós, seres humanos,
escavamos a vida complexa fossilizada
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e queimamo-la como combustível.
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Esta prática atira grande quantidade
de dióxido de carbono para a atmosfera
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e, tal como os nossos antepassados
microbianos,
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começámos a fazer mudanças
substanciais no nosso planeta.
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Os efeitos dessas mudanças
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são acompanhados
por um aquecimento global.
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Infelizmente, esta reviravolta irónica
pode ver a morte da Humanidade.
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Talvez a razão por que não encontramos
vida em parte alguma,
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vida inteligente em parte alguma
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é que, depois de ela evoluir,
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rapidamente se extingue.
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suspeito que podiam dizer isto:
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A vida na Terra é preciosa.
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É o produto de 4000 milhões
de anos, ou mais,
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de uma evolução conjunta,
delicada e complexa,
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entre a vida e a Terra,
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de que os seres humanos
apenas representam
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a última fase do tempo.
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Podemos usar estas informações
como um guia ou uma previsão
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ou como uma explicação
para a vida parecer tão solitária
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nesta parte da galáxia.
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Mas usemo-las para ter uma perspetiva
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quanto ao legado
que queremos deixar
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no planeta a que chamamos o nosso lar.
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