Para transformarem o bem-estar infantil, tirem a etnia da equação.
-
0:01 - 0:05Imaginem que são funcionários
da Comissão de Proteção às Crianças. -
0:05 - 0:08E têm de averiguar uma
denúncia de abuso infantil. -
0:09 - 0:14Entram numa casa, sem aviso prévio,
inesperadamente e certamente sem convite. -
0:15 - 0:19A primeira coisa que veem
é um colchão no chão, no meio da sala. -
0:19 - 0:21Três crianças deitadas nele a dormir.
-
0:22 - 0:25Há uma mesinha ao pé
com uns cinzeiros, -
0:25 - 0:27e latas de cerveja vazias.
-
0:28 - 0:31Há ratoeiras grandes
armadas a um canto, -
0:31 - 0:34não muito longe do sítio
onde as crianças estão a dormir. -
0:34 - 0:36Então, vocês tomam notas.
-
0:37 - 0:40Uma parte do vosso trabalho
é percorrer a casa toda. -
0:40 - 0:44Começam pela cozinha,
onde há muito pouca comida. -
0:44 - 0:47Percebem que há outro colchão
no chão do quarto, -
0:47 - 0:50que a mãe divide com o seu bebé.
-
0:52 - 0:56Geralmente, nesta altura,
podem acontecer duas coisas. -
0:57 - 1:00As crianças serão consideradas
em perigo e afastadas de casa, -
1:00 - 1:04e colocadas sob custódia do Estado
durante um determinado tempo. -
1:04 - 1:08Ou as crianças permanecerão
com a família -
1:08 - 1:12e o sistema de proteção às crianças
fornecerá ajuda e apoio. -
1:14 - 1:16Quando eu pertencia
à Comissão de Proteção às Crianças -
1:16 - 1:19via coisas destas imensas vezes.
-
1:19 - 1:21Umas melhores, outras muito piores.
-
1:22 - 1:24Eu pedi para vocês se
imaginarem naquela casa, -
1:24 - 1:27porque gostava de saber
o que passou pelo vosso espírito. -
1:27 - 1:29O que guiou a vossa decisão?
-
1:29 - 1:32O que vai ter impacto
na vossa opinião sobre aquela família? -
1:33 - 1:36A que etnia acharam
que aquela família pertencia? -
1:38 - 1:41Eu quero que vocês percebam
que, se aquelas crianças fossem brancas, -
1:41 - 1:45era muito provável que aquela família
ficasse junta depois dessa visita. -
1:47 - 1:49Uma investigação realizada
na Universidade da Pensilvânia -
1:49 - 1:52descobriu que as famílias brancas,
em média, -
1:52 - 1:55têm mais acesso à ajuda e ao apoio
da Comissão de Proteção às Crianças. -
1:56 - 2:01E os casos são menos prováveis
de passar por uma investigação completa. -
2:02 - 2:06Mas, por outro lado,
se essas crianças forem negras, -
2:06 - 2:09há quatro vezes maior probabilidade
de elas serem afastadas, -
2:09 - 2:12de passarem mais tempo
em famílias de acolhimento ou orfanatos. -
2:12 - 2:16e é mais difícil encontrarem
um lar adotivo estável. -
2:17 - 2:20O orfanato deve ser um
abrigo imediato de proteção -
2:20 - 2:22para crianças que estão em alto risco.
-
2:22 - 2:26Mas também é um período
confuso e traumático para toda a família. -
2:27 - 2:29A investigação
da Universidade de Minnesota -
2:29 - 2:32mostrou que as crianças
que passaram por acolhimento familiar -
2:32 - 2:35tinham mais problemas
de comportamento e doenças psicológicas -
2:35 - 2:40do que as crianças que permaneceram
com a família e receberam apoio. -
2:41 - 2:43O cenário mencionado
anteriormente não é incomum. -
2:43 - 2:46Uma mãe solteira, a viver
num alojamento de baixa renda -
2:46 - 2:48com quatro filhos.
-
2:48 - 2:51Os ratos tornam quase impossível
manter comida em casa, -
2:51 - 2:53muito menos comida fresca.
-
2:54 - 2:57Aquela mãe merece
que lhe retirem os filhos? -
2:59 - 3:02Emma Ketteringham,
uma advogada de família, disse: -
3:02 - 3:04"Se vivem num bairro pobre,
-
3:04 - 3:07"é melhor que sejam pais perfeitos."
-
3:07 - 3:11Ela diz que estabelecemos padrões
injustos, muitas vezes inatingíveis, -
3:11 - 3:14para pais que criam os filhos
com muito pouco dinheiro. -
3:14 - 3:17E o bairro e a etnia
-
3:17 - 3:20influenciam se as crianças
serão ou não afastadas. -
3:22 - 3:25Nos anos que passei na linha da frente
da proteção às crianças, -
3:25 - 3:27tomei decisões de alto risco.
-
3:27 - 3:30E vi como os meus valores pessoais
afetavam o meu trabalho. -
3:31 - 3:35Hoje, como professora de serviço social
na Universidade Estatal da Flórida, -
3:35 - 3:38chefio um instituto que realiza
a investigação mais inovadora e eficaz -
3:38 - 3:41especializada no bem-estar infantil.
-
3:41 - 3:45A investigação mostra que há o dobro
de crianças negras em acolhimento familiar -
3:45 - 3:47— 28% —
-
3:47 - 3:51do que crianças
da população em geral — 14%. -
3:52 - 3:54Mesmo que existam muitas razões,
-
3:54 - 3:56vou analisar uma em particular:
-
3:56 - 3:58o preconceito implícito.
-
3:59 - 4:01Comecemos pelo termo "implícito".
-
4:01 - 4:04Ele está no subconsciente,
não damos pela sua presença. -
4:05 - 4:07Preconceitos — esses estereótipos
e julgamentos -
4:07 - 4:10que todos temos sobre
certos grupos de pessoas. -
4:10 - 4:13O preconceito implícito
é o que se esconde -
4:13 - 4:16por detrás de todas as decisões
que tomamos. -
4:16 - 4:19Mas, como podemos remediar isso?
-
4:19 - 4:22Eu tenho uma solução promissora
que quero partilhar. -
4:23 - 4:24Em quase todos os estados,
-
4:24 - 4:28há muitas crianças negras
em acolhimento familiar. -
4:28 - 4:31Mas os dados revelaram
que o condado de Nassau, -
4:31 - 4:33uma comunidade de Nova Iorque,
-
4:33 - 4:37conseguiu diminuir a taxa de
crianças negras afastadas dos seus lares. -
4:37 - 4:42Em 2016, juntamente com a minha equipa,
fui àquela comunidade -
4:42 - 4:44e liderei uma investigação
-
4:44 - 4:48em que descobrimos a existência
de reuniões de afastamento às cegas. -
4:48 - 4:50Funciona desta forma:
-
4:50 - 4:53Um assistente social responde
a uma denúncia de abuso infantil. -
4:53 - 4:55Vai a essa casa
-
4:55 - 4:57mas, antes de afastar a criança,
-
4:57 - 4:59o assistente social
tem de voltar ao escritório -
4:59 - 5:02e apresentar o que encontrou
naquela casa. -
5:02 - 5:03Mas a diferença é esta:
-
5:03 - 5:05Quando apresenta
o processo à comissão, -
5:05 - 5:09apaga os nomes, a etnia, o bairro,
-
5:09 - 5:11todo o tipo de informações identificáveis.
-
5:11 - 5:13Concentram-se no que aconteceu,
-
5:13 - 5:17nos laços familiares,
na história relevante -
5:17 - 5:20e na capacidade dos pais
de protegerem a criança. -
5:21 - 5:24Com essas informações,
a comissão faz uma recomendação, -
5:24 - 5:27sem nunca saber a etnia da família.
-
5:28 - 5:32O afastamento às cegas tem tido
um grande impacto naquela comunidade. -
5:32 - 5:37Em 2011, 57% das crianças
em acolhimentos eram negras. -
5:38 - 5:40Mas cinco anos depois
da utilização deste método, -
5:40 - 5:43o índice baixou para 21%.
-
5:43 - 5:47(Aplausos)
-
5:49 - 5:52Isto foi o que aprendemos após conversar
com os assistentes sociais: -
5:53 - 5:56"Quando uma família tem um histórico
no departamento, -
5:56 - 5:58"muitos de nós usamos
esse histórico contra ela, -
5:58 - 6:01"mesmo que estejam a tentar melhorar."
-
6:02 - 6:05"Quando eu vejo um caso
de um determinado prédio, -
6:05 - 6:07"de um bairro ou de um código postal,
-
6:07 - 6:09"automaticamente penso no pior."
-
6:10 - 6:14"A assistência infantil é subjetiva,
porque é uma área muito sentimental. -
6:14 - 6:17"Não há ninguém que não sinta emoções
com este tipo de trabalho. -
6:17 - 6:20"É muito difícil deitar tudo
para trás das costas -
6:20 - 6:22"quando se está a fazer
este tipo de trabalho. -
6:22 - 6:26"Então, vamos tirar a subjetividade
da etnia e da residência, -
6:26 - 6:29"e talvez tenhamos finais diferentes."
-
6:31 - 6:34Os afastamentos às cegas
parecem levar-nos para mais perto -
6:34 - 6:38de resolver o preconceito implícito
nas decisões de acolhimento. -
6:39 - 6:41O meu próximo passo é descobrir
-
6:41 - 6:44como usar a inteligência artificial
e a aprendizagem de máquinas -
6:44 - 6:46para aumentar a escala do projeto
-
6:46 - 6:48e torná-lo acessível
a outros estados. -
6:49 - 6:51Eu sei que podemos transformar
o bem-estar infantil. -
6:52 - 6:54As organizações devem
ter a responsabilidade -
6:54 - 6:57de desenvolverem a consciência social
dos seus empregados. -
6:57 - 6:59Nós temos a responsabilidade
-
6:59 - 7:03de ter a certeza de que as nossas decisões
são guiadas pela ética e pela segurança. -
7:03 - 7:06Vamos imaginar um sistema
de proteção às crianças -
7:06 - 7:09que se concentre em ajudar os pais,
-
7:09 - 7:11dando poder às famílias
-
7:11 - 7:14e deixando de ver a pobreza
como um fracasso. -
7:15 - 7:17Vamos trabalhar juntos
para construir um sistema -
7:17 - 7:22que deseje manter as famílias
mais fortes, em vez de as separar. -
7:22 - 7:23Obrigada.
-
7:23 - 7:27(Aplausos)
- Title:
- Para transformarem o bem-estar infantil, tirem a etnia da equação.
- Speaker:
- Jessica Pryce
- Description:
-
Nesta esclarecedora palestra sobre o impacto da etnia e do bairro nas decisões sobre o bem-estar da criança, a assistente social, Jessica Pryce partilha uma solução promissora para ajudar assistentes sociais a tomarem decisões e avaliarem situações sociais sobre a proteção de menores sem preconceitos. "Vamos trabalhar juntos, para construir um sistema que deseja manter as famílias mais fortes, e não separadas".
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 07:41
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Livia Marques edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation | ||
Livia Marques edited Portuguese subtitles for To transform child welfare, take race out of the equation |