Solo, alma e sociedade | Satish Kumar | TEDxExeter

Satish Kumar é um palestrante internacionalmente renomado em questões ecológicas e espirituais. Quando tinha apenas nove anos de idade, Satish renunciou ao mundo e se uniu a uma irmandade nômade de monges Jain. Ele deixou a ordem monástica e se tornou um ativista da reforma agrária, trabalhando para tornar a visão de Gandhi de um mundo pacífico em realidade, antes de fazer uma peregrinação de 8 mil milhas pela paz, caminhando da Índia à America sem nenhum dinheiro, atravessando desertos, montanhas, tempestades e neve.

Desde 1973 ele é editor da revista Ressurgência, e seus livros incluem "Sem Destino", "Você É, Logo Eu Sou", "Compasso Espiritual", "Peregrino da Terra".

Satish ensina, dá palestras e oficinas sobre ecologia reverencial, educação holística e simplicidade voluntária. Ele foi premiado com o título de Doutor Honorário em Educação (2000), Literatura (2001) e em 2009 um Doutorado Honorário em Direito pela Universidade de Exeter.

Satish tem contribuído regularmente para o Pensamento para o Dia na Radio 4 e tem aparecido como convidado no programa Desert Island Discs. Participou da série da BBC2 Mundo Natural -- Peregrino da Terra: Uma Jornada Espiritual na Paisagem de Dartmoor. Satish é um Vice Presidente na RSPCA.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Obrigado, obrigado, obrigado.

Obrigado.

Poder das ideias.

Todo grande movimento em nossa história

apresentou o seu Poder das Ideias
com três palavras.

A Revolução Francesa:
Igualdade, Liberdade, Fraternidade.

O grande Cristianismo, antes disso:

Pai, Filho e Espírito Santo.

O ideal americano:
Vida, Liberdade e Busca da Felicidade.

Em nosso tempo, o movimento New Age:
Mente, Corpo, Espírito.

Mas todas essas três palavras
foram corretas em seu tempo.

Mas faltava algo nelas.

Ou faltava a nossa relação
com o mundo natural

ou faltava a nossa relação
com nós mesmos

ou faltava a nossa relação
com o mundo humano, a sociedade humana.

Então, Poder das Ideias,
eu venho para este evento TED

com três palavras,

uma nova trindade
para a Era da Sustentabilidade.

E essas três palavras são:

Solo,

Alma

e Sociedade.

Eu coloco Solo primeiro

porque nós nos esquecemos
que nós viemos do solo.

Nós nos esquecemos
que nós retornaremos ao solo.

Nós não nos lembramos

que o solo, que nos nutre,
nos alimenta, cuida de nós.

O solo para mim representa
o mundo natural como um todo,

a Terra inteira.

Mas nós humanos pensamos que somos
muito especiais como espécie

e governamos a Terra,

controlamos a Natureza,

e que nós podemos usar a Natureza
como quisermos

porque nós somos os governantes,
nós somos o pináculo da evolução.

Eu quero dizer que nós não somos
os governantes da Natureza.

Não somos a espécie superior.

Nós viemos da Terra,

e todas as espécies sobre esta Terra
são nossos parentes.

Os pássaros voando no céu:
nossos irmãos e irmãs.

O cervo, a cobra, o elefante...

O rei da Espanha vai para Botswana
para caçar um elefante.

Uma vergonha tal monarquia!

Eles são nossos irmãos e irmãs.

Nós somos a Natureza.
A Natureza não está lá fora.

As árvores, as montanhas, as florestas,
os animais, as aves: nós somos a Natureza.

Natureza significa estar vivo,
natal, natividade, nação, nativo,

são todas palavras
que vem da mesma raiz.

Então nós somos a Natureza,

e o que nós fazemos para a Natureza,
lá fora, nós fazemos para nós mesmos.

E portanto, criemos uma nova consciência

de que nós temos
que reverenciar a Natureza.

James Lovelock,

o grande cientista do nosso tempo,

inventor da hipótese e teoria de Gaia,

ele disse: "Eu reverencio Gaia,
a Mãe Natureza".

Então se nós nos esquecermos
da Mãe Natureza,

então toda a nossa "Liberdade,
Igualdade, Fraternidade",

toda a nossa "Vida, Liberdade
e Busca da Felicidade"

não nos levará a lugar algum.

Portanto lembremo-nos do Solo primeiro,

e então vem a Alma.

Muitos cientistas, Richard Dawkins
e muitos outros, dizem

que não existe o que chamamos
de espírito, não existe alma,

que somos somente cérebro.

Eu quero contestar isso.

Eu quero dizer que a Terra tem alma.

Nós todos temos alma.

Até animais têm alma,

árvores têm espírito,

e portanto nós somos cheios de alma.

E se nós não cuidarmos de nós,
de nossa alma, de nosso espírito

e de nós mesmos,

então nós não podemos
cuidar do Solo ou da Terra.

Então, cuidar da Terra

e cuidar da Alma estão inter-relacionados.

E todos nós temos grande potencial.

Nossa alma, nosso espírito, nós mesmos.

Esse potencial, no momento, está dormente.

Havia um grande filósofo na Índia
chamado Ananda Coomaraswamy.

Ele disse que um artista
não é um tipo especial de pessoa,

mas toda pessoa é um tipo
especial de artista.

(Risos)

Nós todos somos artistas.
Artistas em potencial.

Mas nosso artista, nosso ser especial,
está dormente, suprimido.

Nós temos que deixá-lo sair.

Deixemos ele se revelar.
Deixemos ele evoluir.

Cada um de nós é um possível Van Gogh.

Cada um de nós é um possível Shakespeare,

um possível Gandhi,
até mesmo um possível Buda!

Mas nos esquecemos;

pensamos que somos apenas
trabalhadores em um escritório,

gerenciando computadores,

usando celulares, trabalhando das 9 às 5,

conseguindo um salário,

e depois nos aposentaremos
e iremos para o nosso túmulo.

Nós somos mais do que isso!

Se tomarmos cuidado da nossa alma,
podemos ser um Gandhi.

Vocês são todos grandes líderes.

Aung San Suu Kyi, na Birmânia,
ela é como nós.

Ficou 16 anos em prisão domiciliar,
mas seu espírito, sua alma ...

ela cuida da alma, ela medita.

Então, cuidemos de nossa alma.

Cuidar da alma não é egoísmo.

Se você não está saudável,
se você não está bem,

se você não está feliz,
se você não está realizado,

se você não tem bem-estar,
como você poderá ajudar os outros?

E portanto, cuidar da Terra
e cuidar da Alma

são dois aspectos da mesma realidade.

E então chegamos à Sociedade.

Não podemos nos esquecer
da nossa comunidade humana.

Nós temos focado demais
nossas pequenas identidades.

Como vocês sabem eu andei pelo mundo,

caminhando, sem dinheiro, pela paz.

Como eu caminhei?

Se eu tivesse ido como indiano,
eu teria encontrado um paquistanês,

ou um russo, ou um britânico.

Se eu tivesse ido como um hindu,
eu teria encontrado um muçulmano,

um cristão, um budista.

Se eu tivesse ido como um socialista,
teria encontrado um capitalista.

Eu não levei nenhum desses rótulos.

Eu disse: "Eu vou como um ser humano",

e encontrei seres humanos em toda parte.

Nenhum russo, americano, britânico,
nenhum hindu, budista, jain...

Essas são todas identidades secundárias.

Nossa identidade primária

é a de que somos membros
da comunidade humana.

Nós somos membros da comunidade terrestre
e da comunidade humana.

E quando temos essa visão ampla,
expandimos nossa consciência

e dizemos: "Sou uma miniatura,
um microcosmo do macrocosmo".

E essa maravilhosa diversidade

de religiões, de nacionalidades, de raças,
de cores, de filosofias, de políticas,

ela é maravilhosa,
nós precisamos de diversidade.

Sem diversidade não há unidade.

Mas lembremo-nos:
diversidade não é divisão.

Nossa mente moderna está dividindo.

Não estão respeitando a diversidade;
estão focando apenas as divisões.

Então abracemos a diversidade

e celebremos, como um peregrino celebra.

Há dois tipos de pessoas.

Um tipo de pessoa é o turista.

E turistas sempre reclamam.

(Risos)

E o outro tipo de pessoa é o peregrino.

E peregrinos sempre celebram.

Eu quero convidá-los a juntarem-se
a mim como peregrinos,

não como turistas.

Nós temos vivido nesta Terra
como turistas,

sempre centrados
em nós mesmos - eu, eu, eu:

meu conforto, meu sucesso, meu dinheiro,

minha casa, minhas férias, eu.

Eu escrevi um livro chamado
"Você é, logo eu sou".

Eu desafiei René Descartes da França,
filósofo e cientista francês,

que disse: "Penso, logo existo".

Você consegue viver apenas
em sua mente?

Você pode comer sua mente?
Você pode comer seus pensamentos?

Sem a Terra eu não posso sobreviver.

A Terra é, logo eu sou.

Então eu escrevi meu livro
"Você é, logo eu sou."

Os outros são, logo eu sou.

Então, nós podemos expandir
nossa consciência

e dizer: "Eu sou,

em miniatura, em microcosmo,

o universo inteiro, a humanidade inteira".

E eu posso abraçar e celebrar
essa sociedade,

e então não haveria guerras,

nem Iraque, nem Afeganistão,
nem Cachemira, nem conflitos, nem pobreza,

porque nós somos membros
de uma comunidade terrestre.

Nós somos membros
de uma família terrestre.

Essa é a Sociedade.

Sra. Thatcher disse: "Não existe
tal coisa chamada sociedade".

Eu disse: "Como você sobreviveu até hoje?

Não havia... "

(Risos)

"Como você sobreviveu?"

Então, a sociedade existe,
e nós somos membros dessa sociedade.

Então, dessa forma, Solo, Alma
e Sociedade são inter-relacionadas -

três palavras em nosso mundo
interconectado.

Se nós quisermos criar um futuro
sustentável para a humanidade,

então temos que compreender
que somos criaturas da Terra.

Mas temos um potencial tremendo,

e podemos permitir que esse
potencial ressurja.

É por isso que eu chamei minha revista,
que eu edito, de "Ressurgência".

Deixe sua liderança ressurgir.

Liderança não virá de "10 Downing Street".

Liderança não virá
nem mesmo da Casa Branca.

Tivemos uma grande esperança no Obama,

ele escreveu um livro
chamado "A Audácia da Esperança".

Onde está essa audácia?

Esperança com timidez.

Então, liderança não virá de Paris,
Londres, Bruxelas, Moscou

ou de nenhum desses centros políticos.

Vocês são, todos nós, cada um de nós,
são líderes em potencial,

e com isso podemos vir à tona
se deixarmos de lado esse pequeno ego.

Somos focados demasiadamente
em nosso ego.

E pensamos em mim, mim, mim:
meu sucesso, meu nome, minha fama,

meu dinheiro, minha casa.

Se deixarmos o ego de lado,
como Mahatma Gandhi, Madre Teresa,

Aung San Suu Kyi,
Nelson Mandela, Dalai Lama,

todos esses maravilhosos
exemplos que temos,

mentores que temos, para seguir...

Quando deixarmos essa liderança
dormente vir à tona,

poderemos ser quem somos,
verdadeiramente quem somos.

Temos que ser quem somos.

Não temos que copiar nem o Gandhi.

Não temos que copiar ninguém.

Mas se nós quisermos provocar
uma mudança no mundo,

como disse Mahatma Gandhi,

"Seja a mudança
que você quer ver no mundo".

Você não pode pregar a mudança aos outros
sem que você personifique essa mudança.

Personificar - você tem que ser a mudança
que você quer ver no mundo.

E uma vez que você tem isso,

então há integridade
entre suas palavras e suas ações.

E então você tem o poder de comunicar.

Mahatma Gandhi, Madre Teresa,
Aung San Suu Kyi, Dalai Lama,

todos esses grandes líderes
conseguiam comunicar o que personificavam.

Comunicação não se trata
apenas de palavras.

TED é maravilhoso.

Estou falando a vocês, maravilhoso.

Mas se eu não tivesse a retaguarda
dessas palavras em minha vida,

elas não seriam boas palavras.

Então seja a mudança
que você quer ver no mundo,

e então você comunica e organiza,
e dessa forma podemos transformar o mundo.

Nós podemos dizer que podemos criar
um mundo assim como a Natureza.

Eu falei sobre Solo, Natureza.
A Natureza é maravilhosa.

Você planta uma semente no chão,
no solo, uma semente de maçã.

Essa semente, essa pequenina semente,
colocada como um investimento real,

melhor do que HSBC, ou Barclays, ou Lorax.

O banco real é o Banco da Terra.

E você investe e deposita
sua semente no solo.

Ela germinará.

Quanto de juros você quer?

(Risos)

Milhares e milhares de maçãs.

Não por 1 ano, não por 2 anos,
não por 5 anos, mas por 50 anos.

Que generosidade da Natureza!

Que abundância da Natureza!

E pensamos que a Natureza não é boa.

OGMs, nós criaremos OGMs.
A Natureza não é capaz de nos alimentar.

Vamos em busca de drogas.
A Natureza não é capaz de cuidar de nós.

A Natureza, aquela semente tão amarga,
tão pequena, que você não podia comer,

aquela semente criou maçãs,

perfumadas,

aromáticas,

suculentas,

deliciosas!

E tão generosas, tão generosas.

Qualquer um vem até uma macieira -

tenho um pomar.

Minha esposa June, que está aqui, e eu,

juntos, nós plantamos 15 macieiras.

E a cada ano nós temos tantas maçãs
que não conseguimos comê-las.

Então nós compartilhamos.

E você vai até uma macieira,

quem quer que você seja,
de onde quer que você venha,

a macieira nunca vai lhe perguntar:
"Você trouxe o seu visto de permanência?"

(Risos)

Nunca!

"Pegue maçãs sem pagar taxas."

Você é um santo?
Madre Teresa? Pegue maçãs.

Você é um pecador? Pegue maçãs.

Sem discriminação na Natureza.

Os cientistas modernos disseram:
"Natureza, violenta e selvagem".

Eu acho que é uma ciência equivocada.
É um tipo errado de ciência.

Queremos uma ciência que não diga que a
Natureza é boa ou má, a Natureza apenas é.

Algumas pessoas dizem
que a Natureza é competitiva.

Algumas pessoas dizem
que a Natureza é cooperativa.

Eu digo que a Natureza não é;
isso tudo é uma projeção humana.

A Natureza é apenas a Natureza.

Ela apenas é.

Ela é maravilhosa, tem flores coloridas,
campânulas neste momento.

Vá para Dartmoor,
Eu fiz um filme em Dartmoor -

programa Mundo Natural para a BBC2,
"Peregrino da Terra."

Campânulas, prímulas, pilriteiros,
a natureza maravilhosa florescendo.

Mas lembre-se, também tem espinheiros lá.

Nós temos que celebrar tudo.

Nós temos um jardim, e fazemos jardinagem
todos os dias, todas as estações.

Nós sempre temos que tirar
as ervas daninhas.

Não existe tal coisa como
uma Natureza de apenas um lado.

A Natureza é equilibrada: yin-yang,
trevas e luz, que se complementam.

Esquerda e direita, que se complementam.

Então, meus amigos, eu dou a vocês essa
nova trindade de Solo, Alma e Sociedade.

Por um novo mundo de sustentabilidade.
É um mundo de interconectividade.

E essa trindade
é uma trindade de inteireza,

é uma trindade de completude,
é uma trindade de parentesco.

Nós somos todos parentes,
todos os seres humanos são parentes.

Todas as criaturas
sobre esta Terra são parentes.

Nós somos um se manifestando
em milhões e milhões de formas.

Então celebremos essa diversidade,

e chamemos essa nova trindade
para a nossa era:

Solo, Alma, Sociedade!

Obrigado!

(Aplausos)

Obrigado!

(Aplausos)