Por que tantos homens incompetentes se tornam líderes | Tomas Chamorro-Premuzic | TEDxUniversityofNevada

Existe uma discrepância patológica entre as qualidades que nos seduzem em um líder e aquelas que são necessárias para que um líder seja eficiente. Com base em pesquisas sobre psicologia da liderança, Chamorro-Premuzic mostra que, se os líderes fossem selecionados com base em competência em vez de autoconfiança, modéstia em vez carisma e integridade em vez de narcisismo, não só teríamos líderes mais competentes, mas também mais mulheres líderes. Na verdade, ele argumenta que o principal obstáculo que impede mulheres competentes de se tornarem líderes é a falta de obstáculos de carreira para homens incompetentes.

Dr. Tomas Chamorro-Premuzic é autoridade internacional em avaliação psicológico-profissional, gestão de talentos, desenvolvimento de líderes e análise organizacional.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Você já trabalhou com pessoas
que não eram tão boas quanto pensavam ser?

(Risos)

Isso vai surpreender você,
mas, estatisticamente,

é mais provável que sejam
homens do que mulheres.

(Risos)

Isso mesmo.

Os homens são normalmente mais iludidos
sobre seus talentos do que as mulheres.

Eles também têm mais tendência
a terem sucesso em suas carreiras.

Isso porque uma das melhores formas
de fazer os outros acharem

que você é melhor do que de fato é

é enganar a si mesmo primeiro.

(Risos)

Por isso, você talvez tenha
trabalhado não só "com" pessoas

que não são tão boas quanto pensam ser,
mas também trabalhado "para" elas.

Infelizmente, não ter consciência
das suas limitações

aumenta sua probabilidade
de se tornar chefe.

(Risos)

Sou psicólogo organizacional.

Uso ciência e tecnologia

pra prever e entender
o comportamento humano no trabalho.

Umas das áreas que me fascinam

é a relação entre gênero,
personalidade e liderança,

mais especificamente
como o gênero e a personalidade

moldam nossas escolhas
no que tange a líderes

e como esses líderes
acabam impactando as organizações.

Discussões sobre gênero tendem a focar

a sub-representatividade
das mulheres em cargos de liderança,

um problema quase que universal.

Em qualquer lugar do mundo,
bem, exceto na Islândia, talvez,

a grande maioria dos líderes são homens.

Mas o problema maior é o fato

de a maioria desses
líderes ser incompetente.

De fato,

seja nos negócios ou na política,

a maioria dos líderes causa
um impacto muito negativo

em seus seguidores e subordinados,

causando baixos níveis de engajamento,
confiança e produtividade,

bem como altos níveis
de estafa e estresse.

Basta pesquisar no Google
por "meu chefe é"

para ver o que a maioria das pessoas
acha dos seus gerentes...

(Risos)

e talvez, quem sabe, você se sinta
melhor em relação ao seu chefe:

(Risos)

"louco", "agressivo",
"insuportável", "tóxico",

e algumas outras coisas que são
grosseiras demais para repetir aqui.

A principal pergunta que devíamos fazer

não é por que não há tantas mulheres
em cargos de liderança,

mas por que tantos homens
incompetentes se tornam líderes.

Minha pesquisa sugere que existem
três razões principais pra isso.

A primeira é a nossa incapacidade
de diferenciar confiança de competência.

No mundo inteiro,

presumimos que pessoas confiantes
têm mais capacidade de liderança,

mas, em qualquer área,
inclusive a de liderança,

existe pouquíssima relação
entre confiança,

o quanto as pessoas acham
que são boas em algo,

e competência - o quanto elas
realmente são boas em algo.

Eu cresci na Argentina,

onde a distância entre confiança
e competência é especialmente acentuada.

(Risos)

Na verdade, um dos melhores
investimentos que você pode fazer

é comprar um argentino pelo que ele vale

e vendê-lo pelo que ele acha que vale.

(Risos)

Como podem imaginar,
não posso contar essa piada por lá.

(Risos)

Não temos autoconsciência
suficiente pra rir dela.

(Risos)

Infelizmente, porém,

a maioria dos líderes
tem algo de argentino em si,

no sentido de que a forma
como veem seus talentos

supera seus talentos de fato.

A segunda razão é a nossa preferência
por indivíduos carismáticos,

especialmente desde a explosão
da mídia de massa na década de 1960,

o que se intensificou muito
com a recente era digital.

Parecemos preferir líderes
encantadores e divertidos,

mas há uma grande diferença

entre um líderes eficiente
e um comediante de stand-up.

(Risos)

Na verdade, os melhores líderes
são modestos em vez de carismáticos,

ao ponto de serem sem graça.

É por isso que eles raramente aparecem
na mídia ou em filmes populares.

Por exemplo, imaginem um filme
sobre a Angela Merkel.

(Risos)

Ela acorda,

toma café com o marido,

vai bem preparada a reuniões,

deixa outras pessoas falarem
sem as interromper,

(Risos)

toma decisões racionais,

governa bem o seu país,

não existe nenhum escândalo sobre ela.

Por outro lado, existem inúmeras
biografias cativantes

sobre líderes carismáticos
com um lado obscuro fascinante

e que acabam arruinando
seus países e organizações.

A terceira e última razão
para a ascensão de homens incompetentes

é nossa incapacidade de resistir
à sedução de indivíduos narcisistas,

pessoas com visões pomposas
e megalomaníacas

que despertam o nosso próprio narcisismo.

Sempre admiramos pessoas famosas,

mas nossa admiração por pessoas
que admiram a si mesmas

ou que são famosas, bem,
só por serem famosas

tem crescido durante décadas.

A essa velocidade, gerações futuras
vão se lembrar da Kim e do Kanye e dizer:

"Nossa! Como eles eram modestos!"

(Risos)

Vocês se lembram da Paris Hilton?

Pois é; ela raramente
é notícia hoje em dia.

Além disso, a maior parte
dos ditos "populares" por aí

que visam a ajudar outras pessoas
a se tornarem líderes

nutrem e promovem
uma mentalidade narcisista:

"Ame a si mesmo, haja o que houver!"

"Não ligue para o que
os outros acham de você.

Se você se acha muito bom, você é!"

Infelizmente, isso gera
um grande número de líderes

que desconhecem suas limitações
e que "se acham" sem motivo.

Eles enxergam a liderança como um direito
e carecem de empatia e autocontrole.

Por isso, acabam agindo sem integridade

e se colocando em situações
arriscadas e imprudentes.

Por outro lado, os melhores líderes
conseguem controlar seu narcisismo.

Eles se importam muito
com as outras pessoas,

inclusive com o que elas acham deles,

e passam bastante tempo
preocupados com sua reputação,

razão pela qual há pouquíssimos
escândalos os envolvendo.

Como então podemos evitar que homens
incompetentes se tornem líderes?

A primeira solução
é estarmos atentos aos sinais

e procurarmos as qualidades
que tornam as pessoas líderes melhores,

especialmente quando elas geralmente
não fazem as pessoas serem líderes.

Existe uma discrepância patológica

entre as características
que nos seduzem em um líder

e aquelas que são necessárias
para ser um líder eficiente.

Se quisermos melhorar
o desempenho dos nossos líderes,

devemos começar focando
as características certas.

Em vez de nos deixarmos levar por pessoas
confiantes, narcisistas e carismáticas,

o critério para posições de liderança

devem ser a competência,
a modéstia e a integridade da pessoa.

Consequentemente, isso ...

(Aplausos)

isso também levaria

a uma proporção maior
de mulheres líderes do que homens.

(Aplausos) (Vivas)

Grandes estudos científicos mostram
que as mulheres têm melhor desempenho

nos quesitos competência,
modéstia e integridade.

Mas a questão

é que melhoraríamos significativamente
a qualidade dos nossos líderes.

A segunda solução é
desconfiarmos dos nossos instintos.

A maioria de nós adora a própria intuição,

mas a maioria das pessoas simplesmente
não é tão intuitiva quanto imagina.

Nesse sentido, a intuição se parece
um pouco com o senso de humor.

Noventa por cento das pessoas acham
que têm um ótimo senso de humor.

Mas quantas pessoas
são de fato engraçadas?

Dez por cento?

Uma saída é repararmos menos

na impressão que as pessoas causam
em entrevistas de emprego ou na TV,

pois ela é apenas um convite a projetarmos
nossos próprios preconceitos e vieses.

Percebam que, mesmo quando
temos boas intenções,

não é fácil vencermos nesse aspecto.

Um treinamento contra vieses inconscientes
dificilmente vai te ajudar a ignorar

o fato de a pessoa à sua frente
ser branca, mulher ou atraente.

Na verdade, quanto mais tentamos reprimir
certos pensamentos em nossa mente,

mais intensos e presentes eles se tornam.

A última coisa que deveríamos fazer,

se quisermos melhorar
a qualidade dos nossos líderes

e fazer com que mais mulheres
ocupem cargos de liderança,

é não baixarmos os padrões
aos selecionarmos líderes mulheres,

mas elevá-los ao selecionarmos
líderes homens.

Isso significa não querer que as mulheres
ajam tal como homens incompetentes.

Por exemplo...

(Vivas) (Aplausos)

querer que elas se arrisquem,

mesmo quando não tiverem
os talentos necessários,

ou passarem mais tempo se autopromovendo

ou buscando seus próprios
interesses pessoais.

Também significa não descartar os homens

só porque não possuem as características
tradicionalmente "masculinas"

que combinam com nossos
falhos arquétipos de liderança.

Fazendo isso, teremos líderes melhores,

só que o progresso começa
com cada um de nós.

Se quisermos melhorar o nível
de competência dos nossos líderes,

devemos primeiro melhorar
nossa própria capacidade

de julgar e selecionar líderes,

principalmente quando forem homens.

Obrigado.

(Vivas) (Aplausos)