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Como vencer uma discussão (no Supremo Tribunal dos EUA ou em qualquer outro lugar)

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    Há catorze anos,
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    defendi o meu primeiro processo
    no Supremo Tribunal.
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    Não era um processo qualquer,
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    era um processo
    que os especialistas consideraram
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    um dos casos mais importantes
    da história do Supremo Tribunal.
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    Tratava-se de decidir
    se Guantánamo era constitucional
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    e se as Convenções de Genebra
    se aplicavam à guerra ao terrorismo.
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    Isso foi poucos anos depois
    dos terríveis ataques
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    de 11 de setembro.
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    O Supremo Tribunal tinha
    nomeado sete Republicanos
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    e dois Democratas
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    e o meu cliente era o motorista
    de Osama bin Laden.
  • 0:33 - 0:36
    O meu adversário
    era o Procurador-Geral dos EUA,
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    o melhor advogado de barra dos EUA.
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    Já tinha defendido 35 casos.
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    Eu nem sequer tinha 35 anos.
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    E para piorar as coisas,
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    o Senado, pela primeira vez
    desde a Guerra Civil,
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    aprovara uma lei para tentar retirar
    o processo da alçada do Supremo Tribunal.
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    Bom, os especialistas em oratória diriam
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    que eu devia gerar tensão
    e não vos contar o final.
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    Mas acontece que nós ganhámos. Como?
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    Hoje, eu vou falar sobre
    como ganhar uma discussão
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    no Supremo Tribunal
    ou em qualquer outro lugar.
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    O senso comum é que
    devemos falar com confiança.
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    É assim que conseguimos persuadir.
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    Eu acho que isso está errado.
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    Penso que a confiança
    é inimiga da persuasão.
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    A persuasão é uma questão de empatia,
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    de entrar na cabeça das pessoas.
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    É isso que faz o TED ser o que é.
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    É por isso que vocês estão
    a assistir a esta palestra.
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    Vocês podiam ter apenas lido
    um resumo da palestra, mas não.
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    A mesma coisa acontece
    no Supremo Tribunal.
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    Nós escrevemos resumos
    em folhas de papel
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    mas também temos a argumentação oral.
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    Não temos só um sistema
    em que a Justiça escreve perguntas
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    e nós escrevemos as respostas.
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    Porquê? Porque a argumentação
    é uma questão de interação.
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    Eu vou levar-vos aos bastidores
    para vos contar o que fiz
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    e como essas lições
    podem ser generalizadas,
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    não só para vencer processos no tribunal,
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    mas para algo muito mais profundo.
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    Agora, é óbvio que é necessário praticar,
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    mas nem todas as práticas servem.
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    Na primeira sessão prática
    para Guantánamo,
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    apanhei um avião para Harvard
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    e escutei todos aqueles
    professores lendários
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    a bombardearem-me com perguntas.
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    Apesar de eu já ter lido tudo
    e ensaiado um milhão de vezes,
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    eu não estava a convencer ninguém.
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    Os meus argumentos
    não convenciam ninguém.
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    Eu estava desesperado.
    Tinha feito tudo o que podia,
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    tinha lido todos os livros,
    tinha ensaiado um milhão de vezes,
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    mas não chegava a parte alguma.
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    Até que esbarrei num tipo,
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    — era professor de teatro,
    nem sequer era advogado,
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    nunca havia sequer pisado
    o Supremo Tribunal.
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    Ele entrou no meu escritório um dia
    com uma camisa branca amarrotada
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    e uma gravata à "cowboy".
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    Olhou para mim, com os meus
    braços cruzados, e disse:
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    "Olha, Neal, bem vejo
    que achas que isto não vai funcionar
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    "mas vamos tentar mesmo assim.
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    "Apresenta-me os teus argumentos."
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    Eu agarrei no meu bloco-notas
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    e comecei a ler os meus argumentos.
  • 2:50 - 2:52
    Ele perguntou:
    "O que estás a fazer?"
  • 2:52 - 2:53
    E eu: "A apresentar
    os meus argumentos."
  • 2:53 - 2:56
    E ele: "Os teus argumentos
    são um bloco-notas?"
  • 2:56 - 2:58
    E eu: "Não, mas os meus argumentos
    estão num bloco-notas".
  • 2:58 - 3:00
    E ele: "Neal, olha para mim
  • 3:00 - 3:02
    "e diz-me os teus argumentos".
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    Foi o que eu fiz.
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    Instantaneamente, percebi.
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    Os meus argumentos
    estavam a fazer sentido.
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    Eu estava a estabelecer ligação
    com outro ser humano.
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    E ele pôde ver um sorriso
    a começar a formar-se no meu rosto
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    enquanto eu ia proferindo
    as minhas palavras.
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    E disse: "OK, Neal, agora
    apresenta os argumentos
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    "enquanto seguras na minha mão."
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    E eu disse: "O quê?"
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    E ele: "Sim, segura na minha mão".
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    Eu estava desesperado, por isso obedeci.
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    E então percebi: "Uau, isto é ligação.
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    "Isto é o poder da persuasão."
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    Aquilo ajudou-me muito.
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    Mas, sinceramente, eu continuava nervoso
    com o julgamento que se aproximava.
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    Eu sabia que, apesar de uma argumentação
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    ser uma questão de nos colocarmos
    no lugar do outro, e ter empatia,
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    eu precisava de partir
    de uma base sólida.
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    Então, fiz uma coisa fora
    da minha zona de conforto.
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    Comecei a usar acessórios,
    mas não qualquer acessório,
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    foi uma pulseira que o meu pai
    tinha usado durante toda a vida,
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    até morrer, apenas uns meses
    antes do julgamento.
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    Usei uma gravata
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    que a minha mãe me havia dado,
    especialmente para essa ocasião.
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    Agarrei no meu bloco-notas
    e escrevi nele os nomes dos meus filhos,
  • 4:05 - 4:09
    porque esse era o motivo pelo qual
    eu estava a fazer tudo aquilo.
  • 4:09 - 4:12
    Por eles, para lhes deixar um país melhor
    do que o que eu encontrara.
  • 4:12 - 4:14
    Cheguei ao tribunal, e estava calmo.
  • 4:14 - 4:17
    A pulseira, a gravata
    e os nomes dos meus filhos,
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    tudo ajudou a manter-me concentrado.
  • 4:19 - 4:22
    Tal como um alpinista a olhar
    para a beira do precipício,
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    se tivermos um ponto de apoio sólido,
    podemos arriscar-nos.
  • 4:25 - 4:29
    E como argumentar
    é uma questão de persuasão,
  • 4:29 - 4:31
    eu sabia que tinha de evitar emoções.
  • 4:31 - 4:33
    As demonstrações de emoção falham.
  • 4:33 - 4:37
    Seria como escrever um "e-mail" usando
    apenas letras maiúsculas em negrito.
  • 4:37 - 4:38
    Isso não convence ninguém.
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    Dessa forma, o foco está todo
    em nós, o emissor,
  • 4:41 - 4:43
    e não no ouvinte ou no destinatário.
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    Claro, nalgumas situações, mostrar
    emoções é uma boa solução.
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    Quando discutimos com os pais
  • 4:48 - 4:50
    e usamos as emoções, isso funciona.
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    Porquê?
    Porque os nossos pais amam-nos.
  • 4:53 - 4:55
    Mas os juízes do Supremo Tribunal
    não nos amam.
  • 4:55 - 4:57
    Eles não gostam de pensar
    que são o tipo de pessoas
  • 4:57 - 4:59
    que podem ser convencidas
    por emoções.
  • 4:59 - 5:02
    E eu também aproveitei a ideia
    para criar uma armadilha
  • 5:02 - 5:05
    para levar o meu adversário
    a provocar uma reação emocional,
  • 5:05 - 5:09
    para eu poder ser visto
    como a voz firme e calma da lei.
  • 5:09 - 5:11
    Isso funcionou.
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    Lembro-me de estar sentado
    no tribunal e saber que tínhamos ganho,
  • 5:15 - 5:17
    que os tribunais de Guantánamo
    iam ser desativados.
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    Quando saí do tribunal, fui recebido
    com uma tempestade dos "media".
  • 5:22 - 5:24
    Quinhentas câmaras,
    e todos a perguntar:
  • 5:24 - 5:27
    "O que é que essa decisão significa?
    O que é que ela diz?"
  • 5:27 - 5:29
    Bom, a decisão completa tinha 185 páginas.
  • 5:29 - 5:31
    Eu não tinha tempo para ler tudo,
    ninguém tinha.
  • 5:31 - 5:33
    Mas eu sabia o que ela significava.
  • 5:33 - 5:35
    E foi isso que eu disse
    à porta do tribunal:
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    "Eis o que aconteceu hoje.
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    "Nós temos aqui a escória
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    "— esse homem, que foi acusado
    de ser o motorista de bin Laden,
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    "um dos homens mais terríveis do mundo.
  • 5:44 - 5:46
    "Ele não processou um qualquer,
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    "mas a nação, o homem
    mais poderoso do mundo
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    "o presidente dos EUA.
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    "E levou esse processo
    não a um tribunal qualquer,
  • 5:54 - 5:56
    "mas ao mais alto tribunal do país,
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    "ao Supremo Tribunal dos EUA.
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    "E venceu!
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    "Isto é uma coisa incrível neste país.
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    "Em muitos outros países,
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    "este motorista teria sido assassinado,
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    "apenas por apresentar o seu caso.
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    "E eu, enquanto seu advogado,
    também teria sido assassinado.
  • 6:11 - 6:14
    "Mas é isso que torna os EUA diferente.
  • 6:14 - 6:16
    "É isso que torna os EUA especial."
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    Graças a essa decisão,
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    as convenções de Genebra passaram
    a aplicar-se à guerra ao terrorismo,
  • 6:21 - 6:24
    o que significa o fim das prisões
    clandestinas em todo o mundo,
  • 6:24 - 6:26
    das torturas por afogamento
    em todo o mundo,
  • 6:26 - 6:28
    e dos julgamentos militares de Guantánamo.
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    Construindo metodicamente o caso
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    e entrando na cabeça dos juízes,
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    nós conseguimos, literalmente,
    mudar o mundo.
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    Parece fácil, não é?
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    Vocês praticam muito,
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    evitam demonstrar emoções,
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    e também podem vencer
    qualquer discussão.
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    Sinto muito, mas não é assim tão simples.
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    As minhas estratégias não são infalíveis,
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    e, apesar de eu ter vencido
    mais casos no Supremo Tribunal
  • 6:51 - 6:53
    do que quase toda a gente,
  • 6:53 - 6:54
    também perdi muitos.
  • 6:55 - 6:57
    Na verdade, quando
    Donald Trump foi eleito,
  • 6:57 - 7:01
    eu fiquei aterrorizado,
    constitucionalmente falando.
  • 7:01 - 7:02
    Por favor, compreendam:
  • 7:02 - 7:05
    não é uma questão de Esquerda
    contra a Direita, nada disso.
  • 7:05 - 7:07
    Não é disso que eu venho aqui falar.
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    Mas ainda na primeira semana
    do mandato do novo presidente,
  • 7:10 - 7:12
    devem lembrar-se daquelas
    cenas nos aeroportos.
  • 7:12 - 7:16
    O presidente Trump construiu
    a sua campanha fazendo uma promessa:
  • 7:16 - 7:20
    "Eu, Donald J. Trump,
    vou lutar pelo fim absoluto
  • 7:20 - 7:23
    "da imigração de muçulmanos para os EUA."
  • 7:23 - 7:26
    E também disse:
    "Eu acho que o Islão nos odeia."
  • 7:26 - 7:28
    E cumpriu essa promessa,
  • 7:28 - 7:33
    proibindo a imigração de sete países
    de população maioritariamente islâmica.
  • 7:33 - 7:37
    Eu e a minha equipa legal entrámos
    imediatamente com um processo,
  • 7:37 - 7:40
    e derrotámos essa proibição.
  • 7:40 - 7:41
    Trump reformulou a sua proibição.
  • 7:42 - 7:44
    Fomos novamente a tribunal
    e derrotámo-la de novo.
  • 7:44 - 7:46
    Ele reformulou-a mais uma vez
  • 7:46 - 7:48
    e, dessa vez, incluiu a Coreia do Norte,
  • 7:48 - 7:50
    Porque todos sabemos
  • 7:50 - 7:53
    que os EUA têm um grande problema
    de imigração com a Coreia do Norte.
  • 7:53 - 7:57
    Mas isso permitiu que os seus advogados
    fossem ao Supremo Tribunal dizer:
  • 7:57 - 8:00
    "Estão a ver, não é discriminação
    contra os muçulmanos,
  • 8:00 - 8:01
    "também inclui outras pessoas!"
  • 8:02 - 8:05
    Eu achava que tínhamos um excelente
    argumento contra isso.
  • 8:05 - 8:07
    Não vou aborrecer-vos com os detalhes.
  • 8:07 - 8:09
    O importante é que perdemos.
  • 8:09 - 8:11
    Cinco votos a quatro.
  • 8:11 - 8:13
    E eu fiquei arrasado.
  • 8:13 - 8:16
    Fiquei com receio de ter perdido
    os meus poderes de persuasão.
  • 8:16 - 8:18
    E, então, aconteceram duas coisas.
  • 8:18 - 8:21
    A primeira foi que reparei que a opinião
    duma parte do Supremo Tribunal
  • 8:21 - 8:23
    sobre a proibição da imigração
  • 8:23 - 8:26
    falara dos campos de concentração
    para japoneses nos EUA.
  • 8:26 - 8:28
    Foi um momento terrível da nossa história,
  • 8:28 - 8:33
    em que mais de 100 mil americanos de etnia
    japonesa ficaram alojados nesses campos.
  • 8:33 - 8:35
    A minha pessoa favorita
    que desafiou essa posição
  • 8:35 - 8:37
    foi Gordon Hirabayashi,
  • 8:37 - 8:39
    um estudante da Universidade
    de Washington.
  • 8:39 - 8:42
    Ele entregou-se ao FBI, que disse:
  • 8:42 - 8:44
    "Tu não tens antecedentes
    criminais, podes ir para casa."
  • 8:45 - 8:46
    E o Gordon disse:
  • 8:46 - 8:50
    "Não, eu sou 'quaker'.
    Preciso de resistir contra leis injustas."
  • 8:50 - 8:53
    Então, foi preso e condenado.
  • 8:53 - 8:55
    O caso dele chegou ao Supremo Tribunal.
  • 8:55 - 8:57
    E lá vou eu de novo
  • 8:57 - 9:00
    acabar com qualquer sentimento
    de previsão que vocês possam ter,
  • 9:00 - 9:01
    e contar o que aconteceu.
  • 9:02 - 9:03
    Gordon perdeu.
  • 9:03 - 9:05
    Mas perdeu por um motivo simples.
  • 9:05 - 9:07
    Porque o Procurador Geral,
  • 9:07 - 9:09
    o principal advogado do governo,
  • 9:09 - 9:11
    disse ao Supremo Tribunal
  • 9:11 - 9:15
    que os campos de concentração
    se justificavam por necessidade militar.
  • 9:16 - 9:17
    E assim foi,
  • 9:17 - 9:20
    apesar de a sua própria
    equipa ter concluído
  • 9:20 - 9:24
    que não havia necessidade
    do confinamento dos americanos japoneses
  • 9:24 - 9:27
    e que o FBI e a comunidade
    dos serviços de informações
  • 9:27 - 9:29
    acreditavam nisso.
  • 9:29 - 9:32
    E que, na verdade, tudo fora motivado
    por preconceito racial.
  • 9:32 - 9:35
    A equipa solicitou ao Procurador Geral:
  • 9:35 - 9:38
    "Diga a verdade, não omita provas."
  • 9:38 - 9:39
    E o que fez o Procurador Geral?
  • 9:40 - 9:41
    Nada.
  • 9:41 - 9:44
    Manteve a história
    da "necessidade militar".
  • 9:45 - 9:49
    E o Supremo Tribunal manteve
    a condenação de Gordon Hirabayashi.
  • 9:49 - 9:53
    E, no ano seguinte, repetiu
    a condenação de Fred Korematsu.
  • 9:53 - 9:55
    Agora, porque é que eu
    estava a pensar nisto?
  • 9:55 - 9:59
    Porque quase 70 anos depois,
    eu ocupei a mesma posição,
  • 9:59 - 10:02
    de chefe da Procuradoria Geral,
  • 10:02 - 10:04
    e pude corrigir os erros,
  • 10:04 - 10:08
    explicar que o governo havia interpretado
    os factos erroneamente
  • 10:08 - 10:11
    no caso dos campos de concentração.
  • 10:11 - 10:14
    E quando pensei na opinião do Supremo
    Tribunal sobre a proibição de imigração,
  • 10:14 - 10:18
    eu percebi que o Supremo Tribunal,
    nessa decisão,
  • 10:18 - 10:22
    se esforçou muito para derrubar
    o processo contra Korematsu.
  • 10:22 - 10:26
    Agora, não era somente o Departamento
    de Justiça que estava a dizer
  • 10:26 - 10:28
    que os campos de concentração
    eram um erro,
  • 10:28 - 10:31
    mas o Supremo Tribunal também.
  • 10:32 - 10:35
    Isso é uma lição crucial
    sobre argumentar: o momento certo.
  • 10:35 - 10:39
    Todos vocês, quando estiverem a discutir,
    têm uma importante decisão a tomar:
  • 10:39 - 10:41
    Quando devem apresentar
    os vossos argumentos?
  • 10:41 - 10:43
    Não basta ter os argumentos certos,
  • 10:43 - 10:46
    é preciso o argumento certo
    na altura certa.
  • 10:46 - 10:50
    Em que momento a vossa audiência
    — um cônjuge, um chefe ou um filho —
  • 10:50 - 10:52
    estará mais recetiva?
  • 10:52 - 10:55
    Algumas vezes, isso foge
    totalmente do nosso controlo.
  • 10:55 - 10:58
    Os atrasos custam demasiado caro.
  • 10:58 - 11:00
    Então podemos entrar e lutar
  • 11:00 - 11:03
    e, tal como eu, errar o momento.
  • 11:03 - 11:05
    Foi o que pensámos quanto
    à proibição de imigração.
  • 11:05 - 11:08
    Vejam bem, o Supremo Tribunal
    não estava preparado,
  • 11:08 - 11:11
    logo no início do mandato
    do presidente Trump,
  • 11:11 - 11:14
    para vetar a sua iniciativa principal,
  • 11:14 - 11:20
    assim como não estava preparado para vetar
    os campos de concentração de Roosevelt.
  • 11:20 - 11:22
    Algumas vezes, simplesmente
    temos de arriscar.
  • 11:22 - 11:25
    E é muito doloroso quando perdemos.
  • 11:25 - 11:27
    É muito difícil ter paciência.
  • 11:27 - 11:29
    Mas isso recorda-me a segunda lição.
  • 11:29 - 11:31
    Mesmo que a vitória venha depois,
  • 11:31 - 11:35
    eu percebi como é importante
    a luta do momento.
  • 11:35 - 11:38
    Porque ela inspira, ela educa.
  • 11:38 - 11:41
    Eu lembro-me de ler
    uma coluna de Ann Coulter
  • 11:41 - 11:43
    sobre o veto aos muçulmanos.
  • 11:43 - 11:45
    Eis o que ela disse:
  • 11:45 - 11:48
    "A discutir contra Trump estava
    um americano filho de imigrantes,
  • 11:48 - 11:50
    "Neal Katyal.
  • 11:50 - 11:53
    "Há inúmeras pessoas cujas famílias
    odeiam os EUA há 10 gerações.
  • 11:53 - 11:57
    "Porque não chamar um deles para defender
    que devíamos destruir o nosso país
  • 11:57 - 11:58
    "através da imigração em massa?"
  • 11:59 - 12:00
    É nessa altura que a emoção,
  • 12:00 - 12:03
    que é tão prejudicial
    para uma boa discussão,
  • 12:03 - 12:05
    era importante para mim.
  • 12:05 - 12:09
    Eu precisava de emoções fora do tribunal,
    para voltar para a luta.
  • 12:09 - 12:13
    Quando li as palavras da Coulter,
    fiquei furioso.
  • 12:14 - 12:16
    Eu rejeito a ideia
  • 12:16 - 12:20
    de que ser um americano filho de
    imigrantes me desqualificaria.
  • 12:20 - 12:23
    Eu rejeito a ideia de que
    a imigração em massa
  • 12:23 - 12:25
    destruiria este país,
  • 12:25 - 12:28
    em vez de reconhecer
    que essa é a fundação
  • 12:28 - 12:30
    sobre a qual este país foi construído.
  • 12:30 - 12:32
    Quando li a Coulter,
  • 12:32 - 12:34
    pensei em muitas coisas do meu passado,
  • 12:34 - 12:36
    pensei no meu pai,
  • 12:36 - 12:38
    que chegou aqui vindo da Índia
    apenas com oito dólares,
  • 12:39 - 12:42
    sem saber se devia usar a casa de banho
    dos brancos ou o das "pessoas de cor".
  • 12:42 - 12:45
    Pensei no primeiro emprego
    que ele encontrou, num matadouro.
  • 12:46 - 12:47
    Um péssimo emprego para um hindu.
  • 12:48 - 12:52
    Pensei em como, quando nos mudámos
    para um novo bairro em Chicago,
  • 12:52 - 12:54
    com outra família indiana,
  • 12:54 - 12:56
    que essa família teve uma cruz
    queimada no seu quintal,
  • 12:56 - 12:58
    porque os racistas não são muito bons
  • 12:58 - 13:01
    em distinguir hindus de afro-americanos.
  • 13:01 - 13:04
    E pensei em todas as críticas que recebi
    durante o caso Guantánamo
  • 13:04 - 13:06
    por ser um "simpatizante de muçulmanos".
  • 13:06 - 13:10
    Os racistas também não são bons
    em distinguir hindus de muçulmanos.
  • 13:11 - 13:15
    Ann Coulter pensou que ser filho
    de um imigrante era uma fraqueza.
  • 13:15 - 13:18
    Ela estava profundamente enganada.
  • 13:19 - 13:21
    Essa é a minha força,
  • 13:21 - 13:24
    porque eu sabia
    o que os EUA deviam defender.
  • 13:25 - 13:27
    Eu sabia que, nos EUA,
  • 13:27 - 13:32
    eu, filho de um homem que chegou aqui
    apenas com oito dólares no bolso,
  • 13:32 - 13:35
    podia apresentar-se
    no Supremo Tribunal dos EUA,
  • 13:35 - 13:37
    representando um estrangeiro odiado,
  • 13:37 - 13:39
    como o motorista de Osama bin Laden,
  • 13:39 - 13:41
    e ganhar.
  • 13:41 - 13:44
    Isso fez-me perceber que,
    apesar de eu ter perdido a causa,
  • 13:44 - 13:47
    também estava certo quanto ao veto
    à imigração de muçulmanos.
  • 13:47 - 13:49
    Fosse qual fosse a decisão do Tribunal
  • 13:49 - 13:51
    eles não podiam mudar o facto
  • 13:51 - 13:53
    de os imigrantes fortalecerem esse país.
  • 13:53 - 13:57
    Na verdade, de muitas formas, são
    os imigrantes que mais amam este país.
  • 13:57 - 13:59
    Quando eu li as palavras da Ann Coulter,
  • 13:59 - 14:02
    pensei nas gloriosas palavras
    da nossa Constituição.
  • 14:02 - 14:04
    Na Primeira Emenda:
  • 14:04 - 14:08
    "O Congresso não deve criar leis
    estabelecendo uma religião".
  • 14:08 - 14:10
    Eu pensei no nosso lema nacional,
  • 14:10 - 14:12
    "E pluribus unum",
  • 14:12 - 14:14
    "de muitos, um".
  • 14:14 - 14:16
    Acima de tudo, eu percebi
  • 14:16 - 14:19
    que a única forma de verdadeiramente
    perder uma discussão
  • 14:19 - 14:21
    é desistir.
  • 14:21 - 14:24
    Então, juntei-me ao processo
    movido pelo Congresso
  • 14:24 - 14:29
    contestando a decisão de Trump de incluir
    uma pergunta sobre cidadania no censo,
  • 14:29 - 14:31
    uma decisão com grandes implicações.
  • 14:31 - 14:33
    Foi um processo muito difícil.
  • 14:33 - 14:35
    A maioria acreditava que perderíamos.
  • 14:35 - 14:37
    Mas acontece que ganhámos.
  • 14:37 - 14:39
    Cinco votos contra quatro.
  • 14:39 - 14:41
    O Supremo Tribunal basicamente disse
  • 14:41 - 14:45
    que o presidente Trump e o secretário
    do seu gabinete haviam mentido.
  • 14:45 - 14:48
    Então eu levantei-me e voltei à luta,
  • 14:48 - 14:51
    e espero que cada um de vocês,
    à vossa maneira, faça o mesmo
  • 14:51 - 14:52
    Eu estou a voltar à luta,
  • 14:53 - 14:56
    porque acredito que os bons argumentos
    sempre vencem no final.
  • 14:57 - 14:59
    O arco da justiça é longo,
  • 14:59 - 15:00
    e, muitas vezes, curva-se lentamente,
  • 15:00 - 15:03
    mas só se curva se nós o curvarmos.
  • 15:04 - 15:08
    Eu percebi que não se trata
    de vencermos todas as discussões,
  • 15:08 - 15:11
    mas de nos levantarmos
    e continuarmos quando perdemos.
  • 15:11 - 15:13
    Porque, a longo prazo,
  • 15:13 - 15:15
    os bons argumentos prevalecem.
  • 15:15 - 15:17
    Se tivermos um bom argumento,
  • 15:17 - 15:19
    ele tem o poder de nos sobreviver
  • 15:19 - 15:21
    de se espalhar para além de nós,
  • 15:21 - 15:24
    de alcançar mentes futuras.
  • 15:24 - 15:26
    É por esse motivo que tudo isso
    é tão importante.
  • 15:26 - 15:30
    Eu não estou a ensinar-vos a vencer
    discussões só por vencer.
  • 15:30 - 15:32
    Isto não é um jogo.
  • 15:32 - 15:36
    Eu estou a dizer-vos isto
    porque, mesmo que não ganhem agora,
  • 15:36 - 15:40
    se tiverem um bom argumento,
    a história vai mostrar que estavam certos.
  • 15:40 - 15:43
    Eu penso imensas vezes
    naquele professor de teatro.
  • 15:43 - 15:45
    Acabei por perceber
  • 15:45 - 15:48
    que a mão que eu estava a segurar
    era a mão da justiça.
  • 15:48 - 15:51
    Essa mão estendida vai-vos aparecer.
  • 15:51 - 15:55
    A decisão é vossa:
    ou a empurram para longe
  • 15:55 - 15:56
    ou continuam a segurá-la.
  • 15:56 - 15:59
    Muito obrigado pela vossa atenção.
Title:
Como vencer uma discussão (no Supremo Tribunal dos EUA ou em qualquer outro lugar)
Speaker:
Neal Katyal
Description:

O segredo para vencer uma discussão não é uma grande retórica ou um estilo elegante, diz o advogado do Supremo Tribunal dos EUA Neal Katyal — é preciso mais do que isso. Com histórias de alguns dos casos mais relevantes que ele defendeu perante o Tribunal, Katyal mostra que o segredo para construir um argumento persuasivo e bem sucedido está na conexão humana, na empatia e na fé no poder das nossas ideias. "A pergunta não é como vencer uma discussão", diz ele, "mas como nos levantamos e continuamos quando perdemos".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:12

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