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Como vencer um debate, na Suprema Corte dos EUA, ou em qualquer lugar

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    Catorze anos atrás,
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    fui à Suprema Corte
    defender meu primeiro caso.
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    E não era qualquer caso:
    os especialistas o consideraram
  • 0:09 - 0:12
    um dos mais importantes
    que a Suprema Corte já ouviu.
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    Considerava se Guantánamo
    era constitucional
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    e se as Convenções de Genebra
    se aplicam à guerra ao terror.
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    Isso foi alguns anos depois
    dos horríveis ataques de 11 de setembro.
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    A Suprema Corte tinha sete juízes
    republicanos e dois democratas,
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    meu cliente era o motorista
    de Osama Bin Laden
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    e meu oponente era o procurador-geral
    dos Estados Unidos,
  • 0:36 - 0:38
    o melhor advogado do país.
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    Ele já havia defendido 35 casos,
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    eu nem tinha 35 anos
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    e, para piorar, pela primeira vez
    desde a Guerra Civil,
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    o Senado aprovou um projeto de lei para
    tirar o caso da pauta da Suprema Corte.
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    Os treinadores de palestrantes diriam
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    que eu deveria criar suspense
    e não dizer o que aconteceu,
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    mas nós vencemos.
  • 0:59 - 1:00
    Como?
  • 1:00 - 1:03
    Hoje, vou falar sobre
    como vencer uma argumentação
  • 1:03 - 1:05
    na Suprema Corte ou em qualquer lugar.
  • 1:05 - 1:09
    A sabedoria popular diz:
    fale com confiança,
  • 1:09 - 1:12
    é assim que convencemos alguém.
  • 1:12 - 1:13
    Acho que isso está errado,
  • 1:13 - 1:17
    e que confiança é inimiga da persuasão.
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    Persuasão tem a ver com empatia,
    e saber tocar a mente das pessoas.
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    Isso é o que faz do TED o que é.
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    Por isso você está
    assistindo a esta palestra.
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    Você podia simplesmente ler
    em algum site, mas não fez isso.
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    É o mesmo com argumentos na Suprema Corte:
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    passamos as ideias para o papel,
    mas também temos as defesas orais.
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    Não temos um sistema no qual juízes
    apenas escrevem questões
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    e nós as respostas.
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    Por quê?
  • 1:42 - 1:45
    Porque argumentação envolve interação.
  • 1:45 - 1:48
    Quero levar você aos bastidores
    para mostrar o que fiz,
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    e como essas lições servem para tudo.
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    Não só para vencer uma defesa na Corte,
    mas pra algo bem mais profundo.
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    Obviamente, isso envolve prática,
    mas não uma qualquer.
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    Na primeira sessão de treinos
    para Guantánamo, voei até Harvard
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    e tive que responder uma enxurrada
    de questões de professores renomados.
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    E mesmo tendo lido tudo,
    ensaiado milhares de vezes,
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    não conseguia convencer ninguém.
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    Meus argumentos não impactavam.
  • 2:16 - 2:17
    Eu estava desesperado.
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    Fiz tudo que podia:
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    li cada livro, ensaiei milhares de vezes
    e não estava indo a lugar algum.
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    No fim das contas, conheci um rapaz,
  • 2:25 - 2:28
    um professor de teatro,
    que nem era advogado
  • 2:28 - 2:30
    e nunca tinha pisado na Suprema Corte.
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    Ele foi ao meu escritório um dia,
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    com uma camisa amarrotada
    e uma gravata de caubói.
  • 2:35 - 2:39
    Eu estava de braços cruzados,
    ele me olhou e disse:
  • 2:39 - 2:43
    "Neal, sei que você acha
    que isso não vai dar certo,
  • 2:43 - 2:46
    mas finja um pouquinho,
    me apresente a sua defesa".
  • 2:46 - 2:49
    Peguei minhas anotações e comecei a ler.
  • 2:49 - 2:51
    Ele disse: "O que está fazendo?"
  • 2:51 - 2:53
    Respondi: "Estes são meus argumentos".
  • 2:53 - 2:55
    "Seus argumentos são um bloco de notas?"
  • 2:55 - 2:58
    Falei: "Não, mas estão escritos nele".
  • 2:58 - 3:02
    Ele falou: "Neal, olhe pra mim.
    Me apresente a sua defesa".
  • 3:02 - 3:07
    Fiz aquilo e naquele momento percebi
    que meus pontos estavam funcionando;
  • 3:07 - 3:10
    eu estava me conectando
    com outro ser humano,
  • 3:10 - 3:15
    e ele pôde ver que comecei a sorrir
    à medida em que eu falava.
  • 3:15 - 3:20
    Ele falou: "Muito bem, Neal. Agora
    faça o mesmo segurando minha mão".
  • 3:20 - 3:22
    Eu disse: "O quê?"
  • 3:22 - 3:24
    Ele disse: "Isso, segure minha mão".
  • 3:25 - 3:27
    Eu estava desesperado, então obedeci.
  • 3:27 - 3:30
    Ali percebi que aquilo era conexão.
  • 3:30 - 3:33
    Aquilo era o poder de persuasão.
  • 3:33 - 3:34
    E ajudou.
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    Mas eu ainda estava nervoso,
    pois a data da audiência se aproximava.
  • 3:38 - 3:42
    E mesmo entendendo que argumentar
    é saber se colocar no lugar do outro
  • 3:42 - 3:43
    e ter empatia,
  • 3:43 - 3:46
    eu precisava de algo mais
    que me desse confiança.
  • 3:46 - 3:49
    Saí da minha zona de conforto: usei joias,
  • 3:49 - 3:54
    uma pulseira que meu pai usou a vida toda
  • 3:54 - 3:58
    até falecer, apenas alguns
    meses antes da audiência.
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    Usei uma gravata que minha mãe
    havia me dado para a ocasião,
  • 4:02 - 4:05
    peguei meu bloco de notas e escrevi
    o nome dos meus filhos nele,
  • 4:05 - 4:08
    porque era por eles
    que eu estava fazendo isso,
  • 4:08 - 4:12
    pra deixar para eles um país
    melhor do que encontrei.
  • 4:12 - 4:14
    Cheguei calmo na Corte.
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    Tudo aquilo, a pulseira, a gravata e
    o nome dos meus filhos me tranquilizaram.
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    Como um alpinista
    se alongando além do precipício;
  • 4:22 - 4:25
    se ele tem algo sólido para segurar,
    ele consegue alcançar.
  • 4:25 - 4:31
    Como argumentar é saber persuadir,
    eu sabia que precisava evitar emoção.
  • 4:31 - 4:33
    Demonstrações emotivas falham,
  • 4:33 - 4:36
    é como escrever um e-mail
    com tudo em negrito e em caixa alta:
  • 4:36 - 4:38
    não convence ninguém.
  • 4:38 - 4:40
    Tem a ver com você, o orador,
  • 4:40 - 4:43
    e não com o ouvinte ou o receptor.
  • 4:43 - 4:46
    Em algumas situações,
    a solução é ser emotivo;
  • 4:46 - 4:50
    você argumenta com seus pais
    e apela para as emoções e funciona.
  • 4:50 - 4:51
    Por quê?
  • 4:51 - 4:53
    Porque eles te amam!
  • 4:53 - 4:55
    Já os juízes da Suprema Corte não te amam,
  • 4:55 - 4:59
    nem gostam de se ver como pessoas
    que se deixam levar pela emoção.
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    Usei isso a meu favor:
  • 5:01 - 5:05
    armei uma armadilha para o meu oponente
    e fiz com que se sentisse emotivo,
  • 5:05 - 5:09
    assim eu seria visto
    como a voz calma e firme da lei.
  • 5:09 - 5:10
    Funcionou.
  • 5:10 - 5:14
    Lembro-me de estar sentado no tribunal
    ouvindo que tínhamos ganhado,
  • 5:15 - 5:17
    que os tribunais de Guantánamo
    seriam desativados.
  • 5:17 - 5:21
    Saí do tribunal e me deparei
    com uma enxurrada de jornalistas,
  • 5:22 - 5:24
    centenas de câmeras
    e todos me perguntando:
  • 5:24 - 5:26
    "O que essa decisão significa?
    O que ela diz?"
  • 5:26 - 5:31
    A decisão tinha 185 páginas.
    Não tinha lido ainda, ninguém tinha.
  • 5:31 - 5:32
    Mas eu sabia o que significava.
  • 5:32 - 5:35
    Isto foi o que eu disse
    nos degraus do tribunal:
  • 5:35 - 5:37
    "O que aconteceu hoje foi o seguinte:
  • 5:37 - 5:42
    um joão-ninguém, um rapaz acusado
    de ser o motorista do Bin Laden,
  • 5:42 - 5:44
    um dos homens mais horríveis que existe,
  • 5:44 - 5:47
    que não processou apenas qualquer pessoa,
    mas sim processou o país,
  • 5:47 - 5:51
    na verdade, o homem mais poderoso
    do mundo, o presidente dos Estados Unidos,
  • 5:51 - 5:54
    e não foi em um fórum
    qualquer de primeira instância,
  • 5:54 - 5:58
    mas no mais alto tribunal do país,
    a Suprema Corte,
  • 5:58 - 6:00
    e ele ganhou.
  • 6:00 - 6:03
    Isso é algo notável sobre este país.
  • 6:03 - 6:07
    Em muitos outros países,
    esse motorista teria sido baleado,
  • 6:07 - 6:08
    só por ter apresentado o seu caso.
  • 6:08 - 6:12
    E o mais importante para mim,
    o advogado dele teria sido baleado.
  • 6:12 - 6:14
    Essa é a diferença dos Estados Unidos,
  • 6:14 - 6:16
    o que torna esse país especial".
  • 6:16 - 6:17
    Por causa dessa decisão,
  • 6:17 - 6:20
    as Convenções de Genebra
    se aplicam à guerra ao terror,
  • 6:20 - 6:23
    o que significa o fim
    de prisões fantasmas pelo mundo,
  • 6:23 - 6:25
    o fim do afogamento simulado
  • 6:25 - 6:28
    e o fim desses tribunais
    militares como Guantánamo.
  • 6:28 - 6:33
    Por construir o caso com muito cuidado
    e persuadir os juízes,
  • 6:33 - 6:37
    conseguimos literalmente mudar o mundo.
  • 6:37 - 6:38
    Parece fácil, não?
  • 6:38 - 6:41
    Praticando muito e evitando
    demonstrar emoções
  • 6:41 - 6:44
    você também pode vencer
    qualquer argumento.
  • 6:44 - 6:48
    Lamento dizer que não é tão fácil assim,
    minhas estratégias não são infalíveis,
  • 6:48 - 6:52
    e embora tenha vencido mais casos
    do que muitos na Suprema Corte,
  • 6:52 - 6:54
    também perdi vários deles.
  • 6:54 - 6:57
    Para ser sincero, depois
    que Donald Trump foi eleito,
  • 6:57 - 7:00
    fiquei apavorado,
    constitucionalmente falando.
  • 7:00 - 7:04
    Não me leve a mal, isso não tem a ver
    com esquerda versus direita, algo assim.
  • 7:04 - 7:06
    Não estou aqui pra falar disso.
  • 7:06 - 7:09
    Mas uma semana antes de o novo
    presidente assumir o comando,
  • 7:09 - 7:12
    talvez você se lembre
    destas cenas nos aeroportos.
  • 7:12 - 7:16
    O presidente Trump baseou sua campanha
    em promessas como, e eu cito:
  • 7:16 - 7:20
    "Eu, Donald J. Trump, apelo
    por uma completa paralisação
  • 7:20 - 7:23
    de toda a imigração de muçulmanos
    para os Estados Unidos".
  • 7:23 - 7:26
    Ele também disse:
    "Acho que o Islã nos odeia".
  • 7:26 - 7:28
    E ele cumpriu o que prometeu,
  • 7:28 - 7:33
    proibindo a imigração de sete países
    com populações de maioria muçulmana.
  • 7:33 - 7:37
    Minha equipe jurídica e outros foram
    à Corte imediatamente e processaram,
  • 7:37 - 7:40
    derrubaram a primeira proibição de viagem.
  • 7:40 - 7:41
    Trump a revisou.
  • 7:41 - 7:44
    Fomos à Corte novamente
    e a derrubamos outra vez.
  • 7:44 - 7:46
    Ele a revisou de novo,
  • 7:46 - 7:48
    só que dessa vez ele incluiu
    a Coreia do Norte.
  • 7:48 - 7:52
    Todos sabemos que os Estados Unidos
    têm um enorme problema de imigração
  • 7:52 - 7:53
    com a Coreia do Norte.
  • 7:53 - 7:57
    Isso deu margem para que os advogados
    dele dissessem à Suprema Corte:
  • 7:57 - 7:59
    "Isso não é discriminação
    contra os muçulmanos,
  • 7:59 - 8:01
    outras pessoas estão incluídas também".
  • 8:01 - 8:04
    Eu achava que tínhamos
    a resposta final para isso.
  • 8:05 - 8:09
    Não vou entediar você com os detalhes,
    mas no final nós perdemos.
  • 8:09 - 8:11
    Cinco votos contra quatro.
  • 8:11 - 8:12
    Fiquei arrasado.
  • 8:12 - 8:16
    Estava preocupado que meu poder
    de persuasão tivesse diminuído.
  • 8:16 - 8:18
    Então, duas coisas aconteceram.
  • 8:18 - 8:22
    Notei uma parte da decisão
    da Suprema Corte que bania as viagens
  • 8:23 - 8:26
    que discutia os campos de concentração
    de japoneses aqui nos EUA.
  • 8:26 - 8:28
    Esse foi um momento
    horrível da nossa história,
  • 8:28 - 8:33
    quando mais de 100 mil nipo-americanos
    foram presos em campos de internados.
  • 8:33 - 8:37
    De todos que desafiaram esse esquema,
    meu favorito foi Gordon Hirabayashi,
  • 8:37 - 8:39
    estudante da Universidade de Washington.
  • 8:39 - 8:45
    Ele se entregou ao FBI, que disse:
    "Você é réu primário, pode ir pra casa".
  • 8:45 - 8:46
    Gordon disse:
  • 8:46 - 8:50
    "Não, sou quaker,
    devo lutar contra leis injustas".
  • 8:50 - 8:52
    Então, ele foi preso e condenado.
  • 8:52 - 8:55
    O caso Gordon chegou à Suprema Corte.
  • 8:55 - 8:59
    Vou de novo frustrar qualquer expectativa
    que você talvez tenha criado
  • 8:59 - 9:01
    e dizer logo como isso acabou:
  • 9:01 - 9:02
    Gordon perdeu,
  • 9:03 - 9:05
    mas por uma razão simples:
  • 9:05 - 9:11
    o procurador-geral, melhor advogado
    do governo, disse à Suprema Corte
  • 9:11 - 9:16
    que a prisão de nipo-americanos
    se justificava por necessidade militar.
  • 9:16 - 9:21
    E isso aconteceu mesmo com sua equipe
    descobrindo que não havia necessidade
  • 9:21 - 9:24
    para a prisão de nipo-americanos,
  • 9:24 - 9:29
    que o FBI e a comunidade
    de inteligência pensavam assim.
  • 9:29 - 9:32
    Na verdade, o motivo se baseava
    em preconceito racial.
  • 9:32 - 9:36
    A equipe dele implorou ao procurador-geral
    para que dissesse a verdade
  • 9:36 - 9:38
    e não suprimisse evidências.
  • 9:38 - 9:39
    O que o procurador-geral fez?
  • 9:40 - 9:41
    Nada!
  • 9:41 - 9:45
    Ele foi lá e contou a história
    das "necessidades militares".
  • 9:45 - 9:49
    A Corte manteve a condenação
    de Gordon Hirabayash.
  • 9:49 - 9:53
    No ano seguinte, mantiveram
    Fred Korematsu preso.
  • 9:53 - 9:55
    Agora, por que eu estava pensando nisso?
  • 9:55 - 9:59
    Porque aproximadamente 70 anos depois,
    estou ocupando o mesmo cargo,
  • 9:59 - 10:02
    Chefe do Gabinete do Procurador-Geral.
  • 10:02 - 10:04
    E preciso esclarecer as coisas,
  • 10:04 - 10:08
    explicando que o governo
    interpretou mal os fatos
  • 10:08 - 10:11
    no caso da prisão de japoneses.
  • 10:11 - 10:14
    E pensando na decisão da Suprema Corte
    sobre as proibições de viagens,
  • 10:14 - 10:16
    me dei conta de algo.
  • 10:16 - 10:17
    Nessa decisão, a Suprema Corte
  • 10:17 - 10:22
    mudou seu entendimento e anulou
    sua decisão no caso Korematsu.
  • 10:22 - 10:26
    Além do Departamento de Justiça,
  • 10:26 - 10:31
    a Suprema Corte também entendeu
    que a prisão dos japoneses foi errada.
  • 10:32 - 10:35
    Essa é uma lição básica
    sobre argumentação: o momento.
  • 10:35 - 10:39
    Qualquer pessoa ao fazer uma argumentação
    precisa levar esse fator em consideração.
  • 10:39 - 10:41
    Em que momento deve argumentar?
  • 10:41 - 10:43
    O que conta não é só o argumento certo,
  • 10:43 - 10:46
    você precisa do argumento certo
    no momento certo.
  • 10:46 - 10:52
    Quando seu público, seja sua esposa
    seu chefe, seu filho, será mais receptivo?
  • 10:52 - 10:55
    Às vezes isso estará fora do seu controle.
  • 10:55 - 10:58
    A demora tem um custo muito alto,
  • 10:58 - 11:00
    então você tem que lutar
  • 11:00 - 11:03
    e pode acontecer, como foi comigo,
    de ser o momento errado.
  • 11:03 - 11:05
    Foi isso que concluímos
    sobre a proibição de viagens.
  • 11:05 - 11:11
    O mandato de Trump estava bem no início,
    e a Suprema Corte não estava preparada
  • 11:11 - 11:14
    para anular uma iniciativa dele,
  • 11:14 - 11:17
    como não estava pronta para anular
    os campos de internados
  • 11:17 - 11:19
    de nipo-americanos do Roosevelt.
  • 11:20 - 11:22
    Às vezes, você tem que correr o risco.
  • 11:22 - 11:25
    Mas é muito doloroso perder
  • 11:25 - 11:27
    e ter paciência é bem difícil.
  • 11:27 - 11:29
    Mas isso me lembra uma segunda lição.
  • 11:29 - 11:35
    Mesmo que a vitória só venha depois,
    percebi o quão importante a luta é agora,
  • 11:35 - 11:38
    porque ela inspira e educa.
  • 11:38 - 11:43
    Lembro-me de ler uma coluna da Ann Coulter
    sobre o banimento muçulmano,
  • 11:43 - 11:45
    que dizia o seguinte:
  • 11:45 - 11:48
    "A oposição a Trump foi feita
    pelo americano de primeira geração,
  • 11:48 - 11:49
    Neal Katyal.
  • 11:49 - 11:52
    Existem tantos americanos de 10ª geração
    que desprezam seu país,
  • 11:52 - 11:56
    não havia nenhum deles que poderia
    explicar por que deveríamos destruir
  • 11:56 - 11:58
    nosso país com a imigração em massa?"
  • 11:58 - 12:03
    Foi ali que a emoção,
    a arqui-inimiga de um bom argumento,
  • 12:03 - 12:04
    foi importante para mim.
  • 12:04 - 12:09
    Foi necessária emoção fora do tribunal
    para me levar de volta lá.
  • 12:09 - 12:13
    Quando li a coluna da Coulter,
    eu fiquei furioso.
  • 12:14 - 12:20
    Repudio a ideia de que ser um americano
    da primeira geração me desqualifica,
  • 12:20 - 12:25
    e que a imigração massiva
    vai acabar com nosso país,
  • 12:25 - 12:30
    em vez reconhecer que ela foi literalmente
    a base em que esse país foi construído.
  • 12:30 - 12:34
    Quando eu li Coulter,
    pensei muito na minha história;
  • 12:34 - 12:38
    pensei no meu pai, que chegou
    aqui da Índia com US$ 8
  • 12:38 - 12:42
    e que não sabia se deveria usar
    o banheiro de negros ou de brancos;
  • 12:42 - 12:45
    pensei na primeira oferta dele
    de trabalho em um matadouro,
  • 12:45 - 12:48
    que não era um emprego
    dos sonhos para um hindu;
  • 12:48 - 12:52
    pensei sobre quando nos mudamos
    para um novo bairro em Chicago,
  • 12:52 - 12:54
    com outra família indiana
  • 12:54 - 12:56
    que tinha uma cruz
    queimada no seu quintal,
  • 12:56 - 13:01
    porque os racistas não sabiam bem
    diferenciar afro-americanos de hindus;
  • 13:01 - 13:04
    e pensei em todas as cartas de ódio
    que recebi no processo de Guantánamo,
  • 13:04 - 13:06
    por ser um "amante de muçulmanos".
  • 13:06 - 13:11
    De novo, os racistas não eram muito bons
    em diferenciar hindus e muçulmanos.
  • 13:11 - 13:15
    Ann Coulter pensou que ser filho
    de imigrante era uma fraqueza;
  • 13:15 - 13:18
    ela estava profundamente enganada.
  • 13:19 - 13:21
    É minha força,
  • 13:21 - 13:24
    porque eu sabia o que os EUA
    deveriam representar.
  • 13:25 - 13:27
    Sabia que nos Estados Unidos,
  • 13:27 - 13:32
    eu, o filho de um homem
    que chegou aqui com US$ 8 no bolso,
  • 13:32 - 13:37
    podia me apresentar na Suprema Corte
    em nome de um estrangeiro detestado,
  • 13:37 - 13:41
    na posição de motorista
    de Osama bin Laden, e vencer.
  • 13:41 - 13:44
    Isso me fez perceber,
    que mesmo tendo perdido o caso,
  • 13:44 - 13:47
    eu não estava errado quanto
    ao banimento de muçulmanos,
  • 13:47 - 13:49
    independentemente da decisão da Corte,
  • 13:49 - 13:53
    nada mudaria o fato
    de que os imigrantes fortalecem esse país.
  • 13:53 - 13:57
    De muitas formas, os imigrantes
    são os que mais amam este país.
  • 13:57 - 13:59
    Quando li as palavras da Ann Coulter,
  • 13:59 - 14:04
    pensei nas gloriosas palavras
    da primeira emenda da nossa Constituição:
  • 14:04 - 14:08
    "O Congresso não deve criar nenhuma
    lei estabelecendo religião".
  • 14:08 - 14:12
    Pensei no lema da nossa nação:
    "E plurbis unum",
  • 14:12 - 14:14
    "de muitos, nos tornaremos um".
  • 14:14 - 14:16
    E, acima de tudo, percebi
  • 14:16 - 14:21
    que a única coisa que faz alguém
    perder um argumento é desistir dele.
  • 14:21 - 14:24
    Então, me juntei a uma ação
    do Congresso dos EUA
  • 14:24 - 14:29
    contestando a adição de uma questão
    no censo feita pelo presidente Trump.
  • 14:29 - 14:31
    Uma decisão de implicações enormes.
  • 14:31 - 14:33
    Foi um caso muito difícil.
  • 14:33 - 14:37
    Muitos pensaram que perderíamos,
    mas no fim vencemos.
  • 14:37 - 14:38
    Cinco votos contra quatro.
  • 14:38 - 14:44
    A Suprema Corte disse que Trump
    e seu gabinete haviam mentido.
  • 14:45 - 14:48
    Agora eu estava recuperado
    e de volta à luta,
  • 14:48 - 14:51
    e espero que cada cidadão,
    à sua maneira, lute também.
  • 14:51 - 14:56
    Voltei porque acredito
    que bons argumentos vencem no final.
  • 14:57 - 15:00
    O arco da justiça é longo,
    e se curva, muitas vezes, lentamente,
  • 15:00 - 15:04
    mas ele se curva apenas se o curvarmos.
  • 15:04 - 15:08
    Percebi que a questão
    não é como vencer cada disputa,
  • 15:08 - 15:11
    e sim como voltamos depois de perder.
  • 15:11 - 15:15
    Porque, a longo prazo,
    bons argumentos vão vencer.
  • 15:15 - 15:17
    Se você tem um bom argumento,
  • 15:17 - 15:19
    isso tem o poder de ir além de você,
  • 15:19 - 15:21
    ultrapassar sua essência e existência
  • 15:21 - 15:24
    e alcançar mentes no futuro.
  • 15:24 - 15:26
    E essa é a razão disso ser tão importante.
  • 15:26 - 15:30
    Não estou dizendo a você
    como ganhar defesas só por ganhar.
  • 15:30 - 15:32
    Não se trata de um jogo.
  • 15:32 - 15:36
    Eu estou dizendo isso,
    pois mesmo que você não vença agora,
  • 15:36 - 15:40
    se tiver uma boa argumentação,
    a história provará que você está certo.
  • 15:40 - 15:43
    Penso o tempo todo
    naquele professor de teatro
  • 15:43 - 15:44
    e acabei constatando
  • 15:44 - 15:48
    que eu estava segurando a mão da justiça.
  • 15:48 - 15:51
    Aquela mão se estenderá para você,
  • 15:51 - 15:56
    a decisão de ignorá-la
    ou de continuar a segurá-la é sua.
  • 15:56 - 15:59
    Muito obrigado pela sua atenção.
Title:
Como vencer um debate, na Suprema Corte dos EUA, ou em qualquer lugar
Speaker:
Neal Katyal
Description:

O segredo para vencer um debate não é uma grande retórica ou um estilo elegante, diz o litigante da Suprema Corte dos Estados Unidos Neal Katyal, é necessário muito mais do que isso. Contando alguns dos casos mais impactantes que ele apresentou diante da Corte, Katyal mostra porque a chave para elaborar um argumento persuasivo e bem-sucedido se baseia na conexão humana, empatia e fé no poder de suas ideias. "A questão não é como vencer um debate," ele diz. "É como voltar ao combate quando você perde."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:12

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