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Title:
Tempos perigosos pedem mulheres perigosas
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Description:
Pat Mitchell não tem nada a provar e muito menos a perder - ela se tornou uma "mulher perigosa". Não perigosa para ser temida, ela diz, mas para ser destemida: uma força que não deve ser subestimada. Nessa poderosa chamada à ação, Mitchell convida todas as mulheres, homens e aliados a se juntar a ela e abraçar os riscos necessários para criar um mundo onde a segurança, o respeito e a verdade tenham brilho maior que a escuridão desses nossos tempos.
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Speaker:
Pat Mitchell
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Recentemente,
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tenho declarado
para quem quiser ouvir
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que sou uma mulher perigosa.
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Agora, fazer uma declaração
assim tão ousada
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ainda é um pouco perigoso,
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mas também sinto ser a coisa certa.
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Neste momento da minha vida,
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prestes a completar 77 anos,
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Eu tenho...
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Adoro quando nos aplaudem pela idade.
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Prestes a completar 77, percebi
que não tenho mais nada a provar,
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muito menos a perder,
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e estou mais impaciente
em relação a tudo.
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O ritmo lento e verdadeiro
em direção à igualdade,
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o aumento do machismo, do racismo,
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a violência contra mulheres e raparigas...
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E estou zangada também
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com os que negam a mudança climática
que estão a roubar o futuro
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dos nossos filhos e netos.
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Amigos, estamos a viver tempos perigosos.
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E esses tempos forçam-nos
a sermos mais perigosas.
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O que eu quero dizer com isso?
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Não é para terem medo de nós.
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Não é esse tipo de perigo.
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Quero dizer sermos mais destemidas.
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Dizermos a verdade
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quando o silêncio é mais seguro.
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Falarmos por aqueles
que não estão presentes,
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principalmente nos locais
onde pessoas tomam decisões
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sobre a nossa vida e o nosso corpo.
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Precisamos de estar nesses lugares,
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sermos solidários,
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desafiarmos o conceito cultural
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que nos encoraja,
principalmente às mulheres e raparigas,
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a competir, a comparar,
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a criticar.
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Temos de parar com isso.
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E também falar contra a política
e as políticas que nos dividem
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e diminuem o nosso poder coletivo
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como uma comunidade global
de mulheres e de homens
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e dos aliados que estão lá connosco.
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Ser perigosa também significa
abraçar os riscos necessários
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para criar um mundo
onde mulheres e raparigas estejam seguras
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em casa e no trabalho,
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onde todas as vozes
estejam representadas e respeitadas,
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todos os votos façam a diferença,
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o planeta seja protegido.
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E tudo isso é possível.
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Porque estamos prontas.
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Estamos mais bem preparadas
do que qualquer geração antes de nós,
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temos mais recursos,
estamos mais interligadas.
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Em muitas partes do mundo,
viver mais tempo do que nunca.
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A parte da população
que mais depressa cresce no mundo
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é a de mulheres com mais de 65 anos
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com o potencial também
de se tornar a mais poderosa.
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Que mudança isso representa!
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As mulheres após a menopausa, como eu,
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ainda há pouco tempo,
eram consideradas inúteis
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ou malucas.
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Só servíamos para cuidadoras,
ou para sermos avós.
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e eu gosto muito dessa parte.
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Mas éramos postas de lado
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e esperavam que ficássemos
nas nossas cadeiras de baloiço.
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As mulheres, com mais de 60 anos
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não estão a reformar-se.
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Estamos a reprogramar-nos.
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agarrando em tudo o que sabemos
e fizemos — e é muita coisa —
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para redefinir o que é a idade,
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o que podemos fazer,
o que podemos realizar.
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Mas tornar-se perigosa não tem a ver
com chegar a certa idade
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porque, em qualquer idade,
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as mulheres e as raparigas
estão a manifestar-se,
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a arriscar-se para provocar a mudança.
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Eu comecei a correr riscos
ainda muito nova.
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Tive de fazer isso,
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ou ter a minha vida
definida pelas limitações
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para uma rapariga da área rural do Sul,
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sem dinheiro, sem conexões,
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sem influência.
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Mas o que não tinha limites
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era a minha curiosidade pelo mundo
para além daquela pequena cidade,
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para além das mentes tacanhas
de um Sul ainda segregacionista,
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um mundo que eu entrevia nos filmes
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no único cinema da cidade,
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e um mundo que começou
a ficar mais perto
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quando conheci Shirley Rountree,
a minha professora de inglês do 8.º ano.
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No instante em que ela entrou na sala,
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com os seus saltos altos,
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ela era uma mulher no comando,
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com um cabelo perfeito,
o batom vermelho,
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as cores combinadas,
da cabeça aos pés.
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Eu quis ser ela.
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Ela foi a minha primeira mentora
e ajudou-me a tornar-me em quem sou.
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Com o apoio dela,
consegui uma bolsa para a faculdade
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— a primeira na família —
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e fui para uma boa universidade estatal,
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bem no meio de dois
grandes movimentos de justiça social:
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os direitos civis para afro-americanos
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e direitos iguais para mulheres.
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Participei dos dois com entusiasmo,
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e descobri que o meu ativismo
recém-descoberto
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e o meu feminismo em fermentação
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iam entrar em conflito direto
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com a minha necessidade
de agradar e ser popular.
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No meu primeiro emprego como professora
na faculdade, quebrei as regras
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e encorajei os alunos
a irem comigo a manifestações.
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E quando descobri que o meu colega
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que tinha a mesma experiência
e formação académica que eu
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ganhava mais do que eu,
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preparei um protesto pessoal.
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Quando me recusaram um aumento,
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com a desculpa que ele tinha
uma família para sustentar,
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eu também tinha, porque era mãe solteira.
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Mas desisti do protesto
para manter meu emprego.
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Hoje, milhões de mulheres
estão fazendo esse tipo de concessão
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ficando nos seus empregos
sem salários iguais
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pelo mesmo trabalho.
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E como uma das primeiras mulheres
na televisão nos anos 70,
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avisaram-me que, se me concentrasse
em histórias de mulheres
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limitaria minhas oportunidades
de carreira
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e talvez tenha mesmo limitado.
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Mas eu produzi e apresentei
uma programação inovadora para mulheres.
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embora, simultaneamente,
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me tenha mantido silenciosa
sobre o assédio sexual.
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Tive de ouvir os consultores
que foram contratados
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para me aconselhar quanto ao meu aspeto:
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"Pinte o cabelo de louro."
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Eu pintei.
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"Abaixe o tom da voz."
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Eu tentei.
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"Aumente o decote."
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Não aumentei.
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Mas usei aqueles fatos horríveis
de apresentadora,
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com echarpes
que mais pareciam gravatas.
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Mais tarde, em posição de poder
nos "media",
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quase sempre a primeira
ou única mulher,
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ciente de estar a ser julgada
pelas lentes do sexo,
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várias vezes lutei
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para encontrar equilíbrio
entre ser uma líder para mulheres
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e não ser definida apenas
como uma mulher líder.
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Mas hoje tenho orgulho
de ser conhecida como uma mulher líder.
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Como ativista, porta-voz, feminista
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e recentemente afirmada
como mulher perigosa,
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preocupo-me menos
com o que os outros dizem
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e digo mais claramente
o que acho e sinto.
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E vou ser muito clara:
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Reconheço o privilégio
de poder fazer isso,
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de contar a minha verdade.
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E estar aqui hoje,
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com esta oportunidade
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de falar com vocês
sobre mulheres e poder
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— reparem que não disse
"empoderada".
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Acho que não estamos à espera
de conquistar poder.
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Acho que temos poder.
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Mas precisamos de mais oportunidades
de o reivindicar, de o usar,
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e de partilhar esse poder.
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Há mulheres com poder
que não o usam com sensatez
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e que não o partilham.
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Já ouvi, e vocês certamente também,
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histórias que começam assim:
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"O pior chefe que tive foi uma mulher..."
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E podemos falar de várias líderes
de que não nos orgulhámos.
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Mas podemos mudar tudo isso
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com uma ideia simples, mas brilhante
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que eu ouvi a uma perigosa congressista
de Nova Iorque,
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chamada Bella Abzug.
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Ela disse: "No século XXI,
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"as mulheres mudarão
a natureza do poder
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"mais do que o poder mudará
a natureza das mulheres."
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Desde que ouvi isso...
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pensei: "Esta é a nossa chamada à ação.
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"Esta é nossa maior oportunidade."
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E como jornalista e ativista,
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tenho visto esta ideia em ação,
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documentando histórias de mulheres
nos dois lados de longos conflitos,
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unindo-se e desafiando o poder oficial
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para formar alianças e encontrar caminhos
para dar fim à violência nas comunidades.
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E como ativista, viajei a lugares
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onde é perigoso nascer mulher,
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como o leste do Congo,
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onde há uma guerra travada
contra os corpos das mulheres.
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Lá, num centro de cura e liderança
chamado City of Joy,
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corajosas mulheres congolesas
transformam a dor em poder
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dando formação a sobreviventes
de agressão sexual
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para voltarem a suas aldeias
como líderes.
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E em conferências climáticas recentes,
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observei mulheres líderes
a trabalhar nos bastidores,
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longe da atenção do público,
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certificando-se que as negociações
para um acordo mundial sobre o clima
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sigam em frente.
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Então, à medida que avançamos
na vida e no trabalho
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e temos mais poder e mais influência,
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toca a mudar a natureza do poder
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derrubando barreiras ainda existentes
para quem nos segue,
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protestando e agitando,
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por uma representação
mais justa, verdadeira e igual,
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em todos os lugares
e em todas as mesas de discussão.
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se vocês defenderem uma mulher
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para um cargo ou promoção,
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podem ser confrontados com:
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"Você está a usar a carta das mulheres"
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ou "a carta racial"
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se estiverem a defender
uma mulher de cor.
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Eu já passei por isso,
e tenho certeza que vocês também.
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"Você está a fazer um programa
de ação afirmativa aqui na PBS?"
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foi a pergunta de um membro do conselho
quando, enquanto nova presidente,
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eu anunciei a primeira contratação
de cinco mulheres qualificadas.
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A minha ação afirmativa tinha sido pedir
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que a firma de pesquisa
me levasse uma lista de candidatos
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que incluísse os nomes
de mulheres e de pessoas de cor
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que também fossem, no meu ponto de vista,
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os melhores candidatos
para os cargos também.
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E digo às mulheres perigosas
e aos nossos aliados:
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está na hora de jogar
a carta das mulheres,
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de jogar a carta racial,
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de jogar todas as nossas cartas.
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Não para ganhar no jogo do poder,
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mas para chegar a melhores resultados
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para todos.
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de pôr de lado a teoria da escassez,
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aquela que diz
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que só há espaço
para uma de nós no topo.
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E, por isso, proteger o território,
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e não fazer amigos nem aliados.
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Mudar a natureza do poder
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transforma o "protejer o território"
em "partilhar o território",
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isso encoraja coligações
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constrói alianças,
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fortalece e mantém amizades.
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As minhas amigas são
a minha fonte de energia renovável.
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Tal como as minhas mentoras
as minhas defensoras,
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as minhas apoiantes,
as minhas patrocinadoras,
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de todas as maneiras que podemos
ajudar-nos umas às outras.
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Podemos tornar-nos
fontes de poder renovável
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umas das outras.
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E ao longo desse caminho,
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precisamos de nos cuidar mais,
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e nisso, não sou o melhor modelo.
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Não faço meditação.
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Não faço exercício regularmente.
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Mas vivo aerobicamente.
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Porque acredito
que não podemos ser perigosas
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só marginalmente
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e há muito a fazer.
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Então vamos usar nosso poder.
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E o poder do dinheiro?
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Toca a atribuir
mais dólares filantrópicos,
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das nossas campanhas de doação,
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dos nossos fundos de investimento,
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para fomentar a igualdade
económica e política.
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E toca a alavancar o poder
dos "media" e da tecnologia
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que temos em nossas mãos,
literalmente,
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para promover
as nossas histórias e ideias;
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para praticar a civilidade;
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para procurar a verdade,
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que está a diminuir
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e a ameaçar as sociedades
livres e abertas.
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Sim, temos tudo o que precisamos
para fazer avançar as nossas comunidades.
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E a melhor coisa que temos,
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e que nunca podemos esquecer
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é estarmos presentes
umas para as outras.
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Seguiremos em frente juntas,
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preparadas para correr mais riscos,
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sermos mais destemidas,
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manifestarmo-nos, falar claramente
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e estarmos presentes
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umas para as outras.
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George Bernard Shaw escreveu
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que acreditava que a sua vida
pertencia à comunidade,
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que quanto mais ele trabalhasse,
mais ele viveria
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e que queria estar bem gasto
quando morresse.
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Ele escreveu:
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"A vida não é uma vela efémera
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"mas uma tocha esplêndida
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"que eu uso por um instante
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"antes de passá-la
para gerações futuras."
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Eu também não vejo a minha vida
como uma vela efémera,
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apesar de me queimar dos dois lados.
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estejamos bem gastos quando eu morrer.
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Mas neste ponto do percurso da minha vida,
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não estou a passar a minha tocha.
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Estou a segurá-la mais alto do que nunca,
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com orgulho, com coragem,
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e convido-vos a juntarem-se a mim
nesta luz perigosa.
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