Como gerir uma companhia (quase) sem regras
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0:01 - 0:05Às segundas e quintas-feiras,
aprendo a morrer. -
0:05 - 0:07Chamo-lhes os meus dias terminais.
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0:07 - 0:10A minha esposa, a Fernanda,
não gosta do termo, -
0:10 - 0:15mas, na minha família muitos
morreram com melanomas, cancro, -
0:15 - 0:17incluindo os meus pais e avós.
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0:18 - 0:23Eu pensava: um dia, posso estar
no médico, ele olha para os exames e diz: -
0:23 - 0:27"Ricardo, isto não está bem.
Tens entre seis meses e um ano de vida". -
0:28 - 0:32Começamos a pensar no que faríamos
com esse tempo, e dizemos: -
0:32 - 0:35"Vou passar mais tempo com os miúdos.
Vou visitar estes lugares. -
0:35 - 0:38"Vou escalar montanhas e descer falésias
-
0:38 - 0:42"e fazer tudo o que não fiz
quando tinha tempo". -
0:42 - 0:47Mas, sabemos que seriam
memórias com um sabor amargo. -
0:47 - 0:51Seria um período difícil, provavelmente
chorávamos a maior parte do tempo. -
0:52 - 0:54Por isso, disse que ia fazer outra coisa:
-
0:54 - 0:59"Todas as segundas e quintas,
vou usar os meus dias terminais. -
0:59 - 1:05"Nesses dias, farei o que
faria se estivesse prestes a morrer". -
1:06 - 1:08(Risos)
-
1:08 - 1:11(Aplausos)
-
1:12 - 1:15Quando pensamos
no que é o contrário do trabalho, -
1:16 - 1:17cremos com frequência
que é o lazer. -
1:17 - 1:20Dizemos:
"Sim, preciso de tempo de lazer". -
1:20 - 1:24Mas, a verdade é que
o lazer ocupa muito tempo. -
1:24 - 1:26Jogamos golfe e ténis,
e conhecemos pessoas, -
1:26 - 1:29e saímos para almoçar,
e chegamos atrasados ao cinema... -
1:29 - 1:32Andamos sempre ocupados.
-
1:32 - 1:35O oposto do trabalho é a ociosidade.
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1:36 - 1:38Poucos de nós sabem
o que fazer com a ociosidade. -
1:38 - 1:41Ao analisar a forma
como a vida é distribuída, em geral, -
1:42 - 1:48percebemos que, nos períodos em que
temos muito dinheiro, temos pouco tempo, -
1:49 - 1:53e quando finalmente temos tempo,
nem temos o dinheiro, nem a saúde. -
1:54 - 1:58Então, começámos a pensar nisto
enquanto empresa, nos últimos 30 anos. -
1:58 - 2:01É uma empresa complicada,
com milhares de funcionários, -
2:01 - 2:04centenas de milhões de dólares
em volume de negócios, -
2:04 - 2:07que produz sistemas
de propulsão de foguetes, -
2:07 - 2:10gere 4000 caixas multibanco
no Brasil, -
2:10 - 2:15trata da declaração do IRS
de dezenas de milhares de pessoas. -
2:15 - 2:17Não é um negócio simples.
-
2:17 - 2:19Considerámos estas ideias e dissemos:
-
2:19 - 2:22"Vamos descentralizar,
-
2:22 - 2:28"dar às pessoas uma empresa
sem o ar de colégio interno: -
2:28 - 2:31"chegas a esta hora, vestes esta farda,
vais a reuniões assim, -
2:31 - 2:34isto podes dizer e isto não podes!",
e vejamos o que resta. -
2:34 - 2:39Começámos isto há 30 anos,
a lidar precisamente com este assunto. -
2:39 - 2:40Perguntámos:
-
2:40 - 2:44"Reparem na reforma,
em como distribuímos a nossa vida. -
2:44 - 2:49"Em vez de escalar montanhas aos 82 anos,
porque não fazê-lo na semana que vem?" -
2:49 - 2:51"E vamos fazê-lo assim:
-
2:51 - 2:55"Vendemos-vos as quartas-feiras de volta,
por 10% do vosso salário". -
2:55 - 2:59Se quisessem ser violinistas,
o que é pouco provável, -
2:59 - 3:02era o que fariam às quartas-feiras.
-
3:02 - 3:03O que descobrimos foi que,
-
3:04 - 3:08embora achássemos que só os
mais velhos estariam interessados, -
3:08 - 3:12a idade média
dos primeiros a aderir foi 29 anos, claro. -
3:12 - 3:16Então, pensámos que tínhamos que
fazer as coisas de outra forma. -
3:16 - 3:18Começámos a perguntar:
-
3:18 - 3:21"Para que queremos saber a que horas
chegam ao trabalho e a que horas saem? -
3:21 - 3:27"Não podemos trocar isto por um contrato
para comprar-lhes uma coisa concreta? -
3:27 - 3:29"Porque estamos a construir esta sede?
-
3:29 - 3:32"Não será só uma questão de ego,
querermos parecer sólidos, -
3:32 - 3:34"grandes e importantes,
-
3:34 - 3:37"mas fazemos-vos andar 2 horas
para cá chegar, por causa disso?" -
3:37 - 3:41Fazíamos perguntas deste género.
-
3:41 - 3:42As perguntas foram estas:
-
3:42 - 3:44Primeiro: como encontramos as pessoas?
-
3:44 - 3:47Ao recrutá-las, dizíamos:
-
3:47 - 3:51"Não vamos fazer-vos
duas ou três entrevistas -
3:51 - 3:53"e depois casam-se
connosco para a vida. -
3:53 - 3:56"Não é isso que fazemos
no resto das nossas vidas. -
3:56 - 3:58"Então, venham às entrevistas,
-
3:58 - 4:01"os interessados em entrevistar-vos
vão aparecer -
4:01 - 4:05"e depois veremos o que acontece
a partir da intuição resultante, -
4:05 - 4:09"em vez de vermos apenas
se preenchem os requisitos. -
4:09 - 4:11"Depois, regressem.
-
4:11 - 4:14"Passem uma tarde, o dia,
falem com quem quiserem. -
4:14 - 4:18"Certifiquem-se de que somos
a noiva que julgavam -
4:18 - 4:21"e não as tretas
que pomos nos anúncios". -
4:21 - 4:23(Risos)
-
4:23 - 4:26Lentamente, entrámos num processo
de transformação, em que dizíamos: -
4:26 - 4:29"Não queremos que ninguém
seja um líder na empresa -
4:29 - 4:33"se não forem entrevistados
e aprovados pelos futuros subordinados". -
4:34 - 4:39Todos os seis meses, cada um é avaliado,
de forma anónima, enquanto líder, -
4:40 - 4:44e isto determina se deve continuar
nessa posição de liderança, -
4:44 - 4:46que, muitas vezes, é conjuntural,
como sabem. -
4:46 - 4:51Se não pontuarem 70% a 80%,
-
4:51 - 4:56não ficam — é provavelmente por isso
que não sou o CEO há mais de 10 anos. -
4:58 - 5:01Com o passar do tempo,
passámos a fazer outras perguntas. -
5:01 - 5:02Perguntávamos:
-
5:02 - 5:06"Porque é que as pessoas
não podem definir os seus salários? -
5:06 - 5:07"O que precisam de saber?"
-
5:07 - 5:09Só é preciso saber três coisas:
-
5:09 - 5:12quanto é que as pessoas ganham
na empresa, -
5:12 - 5:14quanto se ganha
em empresas semelhantes -
5:14 - 5:18e quanto a empresa ganhou,
para saber quanto podemos gastar. -
5:18 - 5:20Vamos dar estas informações às pessoas.
-
5:20 - 5:24Passámos a ter,
na cafetaria, um computador -
5:24 - 5:26onde se podia consultar
o que cada um ganhava, -
5:26 - 5:29o que recebia em benefícios,
quanto ganhava a empresa, -
5:29 - 5:32quais eram as margens, etc.
-
5:32 - 5:35Isto passou-se há 25 anos.
-
5:35 - 5:39À medida que as pessoas se
inteiravam destas informações, dizíamos: -
5:39 - 5:42"Não queremos ver
as vossas despesas. -
5:42 - 5:44"Não queremos saber
quantos dias de férias tiraram. -
5:44 - 5:46"Não queremos saber onde trabalham".
-
5:46 - 5:50A dado momento, tínhamos 14 escritórios
na cidade e dizíamos: -
5:50 - 5:52"Vão ao mais próximo da vossa casa,
-
5:52 - 5:55"do cliente que vão visitar hoje.
-
5:55 - 5:57"Não nos digam onde estão".
-
5:57 - 6:01Mesmo com milhares de pessoas,
cinco mil pessoas, -
6:01 - 6:04tínhamos duas pessoas
no departamento de recursos humanos -
6:04 - 6:07e felizmente,
uma delas já se reformou. -
6:07 - 6:09(Risos)
-
6:09 - 6:12Assim, a pergunta era:
"Como podemos cuidar das pessoas?" -
6:12 - 6:14As pessoas são tudo o que temos.
-
6:14 - 6:18Não podemos ter um departamento
que corre atrás das pessoas e cuida delas. -
6:18 - 6:23Ao ver que isto funcionava,
começámos a perguntar -
6:23 - 6:28— e era isto que eu procurava com
os dias terminais e nas empresas — -
6:28 - 6:31como podemos
preparar-nos para a sabedoria? -
6:31 - 6:36Passámos por uma era revolucionária,
a revolução industrial, -
6:36 - 6:39uma era da informação,
uma era do conhecimento, -
6:39 - 6:41mas não estamos mais próximos
de uma era da sabedoria. -
6:41 - 6:45Como é que nos estruturamos e organizamos
para ter mais sabedoria? -
6:45 - 6:46Por exemplo, muitas vezes,
-
6:46 - 6:51a ação individual sensata e inteligente
não se enquadra no geral. -
6:51 - 6:52Então, dizíamos:
-
6:53 - 6:56"Vamos acordar que vendes
57 geringonças por semana. -
6:57 - 7:01"Se as venderes até quarta-feira,
vai para a praia. -
7:01 - 7:04"Não cries um problema para nós,
para a área de fabrico, para aplicação, -
7:04 - 7:07"depois temos de comprar
empresas, a concorrência, -
7:07 - 7:10"fazer muitas coisas, porque
vendeste demasiadas geringonças. -
7:10 - 7:13"Por isso, vai para a praia
e volta na segunda-feira". -
7:13 - 7:15(Risos) (Aplausos)
-
7:15 - 7:19Assim, o processo é a procura
da sabedoria. -
7:19 - 7:22Neste processo, obviamente,
queríamos que todos soubessem tudo -
7:22 - 7:26e queríamos ser democráticos
na forma como tudo funcionava. -
7:26 - 7:31A direção tinha dois lugares em aberto,
com igual direito de voto, -
7:31 - 7:34para as primeiras duas pessoas
que aparecessem. -
7:34 - 7:35(Risos)
-
7:35 - 7:40Assim, vinham senhoras da limpeza
votar na reunião do conselho, -
7:40 - 7:43onde também havia
muita gente importante de fato e gravata. -
7:43 - 7:47A verdade é que elas
nos mantiveram na linha. -
7:47 - 7:51Quando começámos a observar quem entrava,
este processo fez-nos dizer: -
7:51 - 7:55"As pessoas chegam aqui e perguntam:
Onde é que eu me sento? -
7:55 - 7:58"Como é que devo trabalhar?
Onde vou estar daqui a cinco anos?" -
7:58 - 8:01Concluímos que era preciso
começar a preparar as pessoas -
8:01 - 8:02muito mais cedo, mas quando?
-
8:02 - 8:05Achámos que seria bom
começar no infantário. -
8:05 - 8:10Então, criámos uma fundação,
que agora tem 11 anos, e três escolas, -
8:10 - 8:12onde começámos a fazer
as mesmas perguntas. -
8:12 - 8:15Como redesenhar a escola
para que ela crie sabedoria? -
8:15 - 8:18Uma coisa é dizer:
"Temos de reciclar os professores, -
8:18 - 8:20"os diretores têm de trabalhar mais",
-
8:20 - 8:25mas, a verdade, é que a forma
como as escolas educam está obsoleta. -
8:25 - 8:28A função do professor
está totalmente obsoleta. -
8:28 - 8:30Passar de uma aula de matemática
para outra de biologia -
8:30 - 8:34e depois para a França do século XIV,
é uma tontice. -
8:34 - 8:37(Aplausos)
-
8:38 - 8:41Então, começámos a pensar:
"Como é que devia ser?" -
8:41 - 8:45Juntámos algumas pessoas,
incluindo gente da área educativa, -
8:45 - 8:49pessoas como o Paulo Freire
e dois Ministros da Educação, do Brasil, -
8:49 - 8:53e dissemos: "Se desenhássemos
uma escola a partir do zero, -
8:53 - 8:54"como é que ela seria?"
-
8:54 - 8:58Assim, criámos uma escola,
chamada Lumiar, -
8:58 - 9:00— uma delas é uma escola pública —
-
9:00 - 9:02e a Lumiar diz o seguinte:
-
9:02 - 9:06"Vamos dividir
a função do professor em duas. -
9:06 - 9:08"A uma pessoa, chamamos tutor.
-
9:08 - 9:13"Tutor, no sentido da antiga palavra grega
'paideia', isto é, cuidar da criança. -
9:13 - 9:17"O que lhes acontece em casa,
em que momento da vida estão, etc. -
9:17 - 9:22"Mas não ensinem; o pouco que sabem,
comparado com o Google, não nos interessa. -
9:22 - 9:23"Guardem isso para vocês".
-
9:23 - 9:24(Risos)
-
9:24 - 9:28"Vamos trazer pessoas
que têm duas coisas: -
9:28 - 9:33"paixão e especialização,
— pode ser ou não a profissão deles. -
9:33 - 9:39"E usamos os idosos, os 25% da população
com a sabedoria que já ninguém quer". -
9:39 - 9:42Trazemo-los à escola e dizemos:
-
9:42 - 9:45"Ensinem a estas crianças
aquilo em que realmente acreditam". -
9:45 - 9:48Temos violinistas a ensinar matemática.
-
9:48 - 9:51Há muitas situações em que dizemos:
-
9:51 - 9:53"Não se preocupem
com o currículo escolar". -
9:53 - 9:58Nós temos 10 grandes linhas diretrizes
que duram desde os 2 até aos 17 anos. -
9:58 - 10:03Diretrizes como: como é que nos medimos,
enquanto seres humanos? -
10:03 - 10:06Há lugar para a matemática,
a física e tudo isso. -
10:06 - 10:08Como é que nos expressamos?
-
10:08 - 10:11Há lugar para a música,
a literatura, etc., -
10:11 - 10:12mas também para a gramática.
-
10:12 - 10:15Depois, temos as diretrizes
que já todos esqueceram, -
10:15 - 10:18mas que são, provavelmente,
as mais importantes da vida. -
10:18 - 10:21Sobre as coisas mesmo importantes na vida,
não sabemos nada. -
10:21 - 10:23Não sabemos nada
sobre o amor. -
10:24 - 10:25Não sabemos nada
sobre a morte. -
10:26 - 10:28Não sabemos nada
sobre o motivo por que estamos aqui. -
10:28 - 10:32Assim, precisamos de uma diretriz
que fale daquilo que não sabemos. -
10:32 - 10:34Isso é uma grande parte
do que fazemos. -
10:34 - 10:37(Aplausos)
-
10:40 - 10:43Com o passar dos anos,
começámos a fazer outras coisas. -
10:43 - 10:44Dizíamos:
-
10:44 - 10:48"Porque é que repreendemos as crianças?
'Senta-te, vem cá, faz isto, etc.?' -
10:48 - 10:52"Vamos organizá-las num círculo,
que se reúna uma vez por semana -
10:52 - 10:57"e dizemos-lhes: criem vocês as regras
e depois decidam o que fazer. -
10:57 - 11:03"Portanto, podem bater uns nos outros?
Claro, durante uma semana. Experimentem". -
11:03 - 11:05Eles criaram as mesmas regras
que tínhamos antes. -
11:05 - 11:07A diferença é que são deles
-
11:07 - 11:09e eles têm o poder,
-
11:09 - 11:14o que significa que podem suspender
e expulsar crianças, e fazem-no, -
11:14 - 11:18portanto, não estamos a brincar às escolas.
-
11:18 - 11:20São mesmo eles que decidem.
-
11:20 - 11:25Dentro deste espírito,
mantemos um mosaico digital, -
11:25 - 11:29porque isto não é construtivista,
nem Montessori, nem nada disso, -
11:29 - 11:32é um sítio onde mantemos
o currículo brasileiro, -
11:32 - 11:35com 600 azulejos,
-
11:35 - 11:38aos quais queremos expor as crianças
até elas atingirem 17 anos. -
11:38 - 11:42Seguimos sempre isto,
sabemos como se estão a dar, e dizemos: -
11:42 - 11:45"Ainda não estás interessado nisto,
vamos esperar um ano". -
11:45 - 11:49As crianças estão em grupos
que não são divididos por idades. -
11:49 - 11:53Assim, temos um miúdo de seis anos
com outro de onze, -
11:53 - 11:55o que elimina os gangues e os grupos
-
11:55 - 11:59e essas coisas que costumamos
encontrar nas escolas, em geral. -
11:59 - 12:01Eles têm uma classificação
entre 0% e 100%, -
12:01 - 12:05que fazem eles próprios numa aplicação,
de duas em duas horas. -
12:05 - 12:10Até sabermos, por exemplo, que 37% deles
estão em condições, neste assunto, -
12:10 - 12:15para podermos enviá-los para o mundo
com conhecimento suficiente desse assunto. -
12:15 - 12:20Os cursos são: o Mundial de futebol,
ou como construir uma bicicleta. -
12:20 - 12:24Eles inscrevem-se num curso
de 45 dias para construir uma bicicleta. -
12:24 - 12:29Tentem construir uma bicicleta
sem saber que o valor de pi é 3,1416. -
12:29 - 12:30Não conseguem.
-
12:30 - 12:35Agora, tente qualquer um de vós
usar 3,1416 para alguma coisa. -
12:35 - 12:37Já não sabem.
-
12:37 - 12:39Isto perdeu-se e é isso
que tentamos fazer, -
12:39 - 12:41criar sabedoria nessa escola.
-
12:41 - 12:47Isto traz-nos de volta ao gráfico
e à distribuição da nossa vida. -
12:47 - 12:49Acumulei muito dinheiro.
-
12:49 - 12:54Algumas pessoas pensam e dizem:
"Está na altura de devolver". -
12:54 - 12:57Bem, se querem devolver
é porque tiraram demais. -
12:57 - 13:00(Risos) (Aplausos)
-
13:05 - 13:08Estou sempre a imaginar
o Warren Buffet a acordar, um dia, -
13:08 - 13:12e descobrir que tem mais 30 mil milhões
de dólares do que julgava. -
13:12 - 13:13Ele vê aquilo e diz:
-
13:13 - 13:16"O que faço com isto?
Devia dar a quem precise muito. -
13:16 - 13:17"Vou dá-los ao Bill Gates".
-
13:17 - 13:20(Risos)
-
13:21 - 13:23O meu consultor financeiro,
em Nova Iorque, diz-me: -
13:23 - 13:27"Você é meio tolo,
porque teria 4,1 vezes -
13:27 - 13:32"mais dinheiro do que tem hoje
se o investisse em vez de o partilhar". -
13:33 - 13:34Mas eu prefiro ir partilhando.
-
13:34 - 13:38(Aplausos)
-
13:38 - 13:42Durante algum tempo,
ensinei os MBA do MIT. -
13:42 - 13:45Um dia, acabei no cemitério
de Mount Auburn. -
13:45 - 13:47É um cemitério lindo
em Cambridge. -
13:47 - 13:50Andava a passear.
Era o meu aniversário e estava a pensar. -
13:50 - 13:53E, na primeira volta,
vi uns túmulos de pessoas grandiosas -
13:53 - 13:55que fizeram grandes feitos
e pensei: -
13:56 - 13:59"Quero ser lembrado pelo quê?"
-
13:59 - 14:00Dei outra volta
-
14:00 - 14:03e na segunda vez,
ocorreu-me outra pergunta, -
14:03 - 14:05que me serviu melhor:
-
14:05 - 14:08"Porque hei de querer ser lembrado?"
-
14:08 - 14:10(Risos)
-
14:10 - 14:13Isto levou-me a outros lados.
-
14:13 - 14:16Quando fiz 50 anos,
eu e a minha esposa, Fernanda, -
14:16 - 14:20passámos a tarde juntos,
tínhamos uma grande fogueira, -
14:20 - 14:23e atirei tudo o que tinha feito
para a fogueira. -
14:23 - 14:25Havia um livro publicado
em 38 línguas, -
14:25 - 14:29centenas e centenas de artigos
muitos DVD, tudo o que havia. -
14:29 - 14:31Isso teve dois resultados.
-
14:31 - 14:35Primeiro, libertou os nossos cinco filhos
de seguir os nossos passos. -
14:35 - 14:37Eles não sabem o que eu faço.
-
14:37 - 14:38(Risos)
-
14:38 - 14:40Isso é bom.
-
14:40 - 14:42Não vou levá-los a lado nenhum e dizer:
-
14:42 - 14:44"Um dia, isto será tudo vosso".
-
14:44 - 14:45(Risos)
-
14:45 - 14:49As cinco crianças não sabem nada,
o que é bom. -
14:49 - 14:51O segundo resultado
-
14:51 - 14:55foi que me libertei desta âncora
das concretizações passadas. -
14:55 - 15:00Estou livre para começar coisas novas
e tomar decisões de raiz -
15:00 - 15:02numa parte dos dias terminais.
-
15:02 - 15:03Algumas pessoas diriam:
-
15:03 - 15:08"Agora, que tens tempo,
nos dias terminais, sais e fazes coisas". -
15:08 - 15:10Não. Já estivemos na praia,
-
15:10 - 15:13fomos a Samoa, às Maldivas
e a Moçambique. -
15:13 - 15:14Essa parte já está.
-
15:14 - 15:17Já escalei montanhas
nos Himalaias. -
15:17 - 15:20Já mergulhei a 60 metros
para ver tubarões-martelo. -
15:20 - 15:25Passei 59 dias a andar de camelo
do Chade a Tombuctu. -
15:25 - 15:29Fui ao Polo Norte magnético
num trenó puxado por cães. -
15:29 - 15:31Temos andado ocupados.
-
15:32 - 15:37Chamo-lhe a minha lista vazia
de coisas a fazer antes de morrer. -
15:37 - 15:40(Risos)
-
15:40 - 15:43Com esta perspetiva,
olho para este período e penso: -
15:43 - 15:46Não estou reformado,
não me sinto reformado. -
15:46 - 15:48Por isso, comecei
a escrever um livro novo. -
15:48 - 15:52Nos últimos dois anos
abrimos três empresas novas. -
15:52 - 15:57Estou a divulgar este sistema educativo
de forma gratuita. -
15:57 - 16:00Descobri uma coisa interessante:
ninguém o quer de graça. -
16:00 - 16:02Há 10 anos que ando a tentar
-
16:02 - 16:05que o sistema público
adote esta perspetiva educativa, -
16:05 - 16:08como as escolas públicas que temos,
-
16:08 - 16:13que têm, em vez de um
aproveitamento médio de 43 em 100, -
16:13 - 16:16têm aproveitamentos de 91 em 100.
-
16:16 - 16:18Mas de graça não se consegue,
ninguém o quer. -
16:18 - 16:21Talvez comecemos a cobrá-lo
e aí consigamos chegar a algum lado. -
16:21 - 16:25Mas divulgar este sistema
é uma das coisas que queremos fazer. -
16:25 - 16:30Tudo isto encerra uma mensagem,
para todos vós, que é mais ou menos esta: -
16:30 - 16:33Todos aprendemos a estar,
ao domingo à noite, -
16:33 - 16:36a enviar "e-mails"
e a trabalhar de casa. -
16:36 - 16:40Mas poucos de nós aprenderam
a ir ao cinema à segunda à tarde. -
16:40 - 16:44Se estamos à procura de sabedoria,
também temos de aprender a fazer isso. -
16:44 - 16:48Durante todos estes anos
o que temos feito é muito simples, -
16:48 - 16:51perguntar três vezes de seguida:
"Porquê?" -
16:51 - 16:54À primeira vez,
temos sempre uma boa resposta. -
16:54 - 16:57À segunda,
começa a ficar difícil. -
16:57 - 17:00À terceira, já não sabemos bem
porque estamos a fazer aquilo. -
17:00 - 17:05O pensamento que vos quero deixar
é a semente, a ideia, -
17:05 - 17:09de que se fizerem isto
irão chegar à pergunta: "Para quê?" -
17:09 - 17:11Porque estou a fazer isto?
-
17:11 - 17:14Em resultado,
e com o passar do tempo, -
17:14 - 17:17espero e desejo que,
com isto, -
17:17 - 17:19tenham um futuro
com muito mais sabedoria. -
17:19 - 17:21Muito obrigado.
-
17:21 - 17:24(Aplausos)
-
17:30 - 17:32Chris Anderson: Incrível...
-
17:34 - 17:39Ricardo, tu és um bocado doido.
-
17:39 - 17:41(Risos)
-
17:41 - 17:44Para muitas pessoas,
isto é uma loucura. -
17:44 - 17:47No entanto, também é
profundamente sensato. -
17:47 - 17:50As peças que estou
a tentar juntar, são estas: -
17:50 - 17:52As tuas ideias são tão radicais.
-
17:52 - 17:58Por exemplo, em gestão,
este tipo de ideias existe há algum tempo, -
17:58 - 18:01mas a percentagem de negócios
que as adotaram -
18:01 - 18:03continua a ser bastante baixa, certo?
-
18:03 - 18:06Alguma vez
uma empresa grande -
18:06 - 18:10adotou uma das tuas ideias
e sentiste: "Sim!"? -
18:10 - 18:13Ricardo Semler: Sim, acontece.
Aconteceu há duas semanas -
18:13 - 18:14com o Richard Branson,
-
18:14 - 18:17eles já não querem
controlar as férias das pessoas. -
18:17 - 18:19O Netflix usa alguns elementos.
-
18:19 - 18:22Mas, acho que isso não é
muito importante. -
18:22 - 18:26Gostaria de vê-lo a acontecer,
por uma espécie de zelo missionário, -
18:26 - 18:27mas é uma coisa muito pessoal.
-
18:27 - 18:31A verdade é que perder o controlo
exige um ato de fé. -
18:31 - 18:35Quase ninguém que detém controlo
está aberto a atos de fé. -
18:35 - 18:37Isto terá de vir das crianças
e de outras pessoas -
18:37 - 18:39que estão a abrir
empresas diferentes. -
18:39 - 18:43CA: Então, o elemento chave é esse?
Do teu ponto de vista, as provas existem, -
18:43 - 18:48ao nível empresarial isto funciona, mas
as pessoas não têm coragem de adotar? -
18:48 - 18:50RS: Nem sequer têm incentivos
para fazê-lo. -
18:50 - 18:53Têm um mandato de 90 dias
numa empresa. -
18:53 - 18:54Os relatórios são trimestrais.
-
18:54 - 18:57Saem-se bem em 90 dias, ou rua.
Tu chegas e dizes: -
18:57 - 19:01"Tenho um programa ótimo,
que, em menos de uma geração...", -
19:01 - 19:03e o tipo diz: "Põe-te a andar!"
-
19:03 - 19:04O problema é este.
-
19:04 - 19:07(Risos)
-
19:07 - 19:13CA: Parece-me incrivelmente profundo
o que estás a tentar fazer com a educação. -
19:13 - 19:17Todos andam incomodados
com o sistema educativo dos seus países. -
19:17 - 19:20Ninguém acha que conseguimos
acompanhar um mundo -
19:20 - 19:23em que já temos o Google
e todas essas opções tecnológicas. -
19:23 - 19:27Tens provas de que as crianças
que estão a entrar no sistema agora, -
19:27 - 19:29apresentam um aumento
de desempenho enorme. -
19:29 - 19:32Como é que te podemos ajudar
a avançar estas ideias? -
19:32 - 19:36RS: Acho que é aquele problema
das ideias cuja altura chegou. -
19:37 - 19:40Nunca fui muito evangélico
em relação a estas coisas. -
19:40 - 19:42Nós apresentamo-las.
-
19:42 - 19:43Quem quer, aproveita.
-
19:43 - 19:46Há um grupo no Japão
que me assusta bastante. -
19:46 - 19:49Intitulam-se "Semleristas"
e têm 120 empresas. -
19:49 - 19:53Convidaram-me,
mas tenho sempre medo de lá ir. -
19:53 - 19:58Há um grupo na Holanda
com 600 pequenas empresas. -
19:58 - 20:01É algo que irá crescer por si próprio,
em parte, -
20:01 - 20:04outra parte estará errada
e não importa. -
20:04 - 20:06Encontrará o seu lugar.
-
20:06 - 20:08Eu tenho medo é de quem diz:
-
20:08 - 20:10"Isto é tão bom, tens de fazer isto.
-
20:10 - 20:13"Vamos criar um sistema,
investir imenso dinheiro, -
20:13 - 20:15"e as pessoas vão ter de usá-lo,
dê por onde der". -
20:15 - 20:19CA: Tens colocado questões extraordinárias
no curso da tua vida. -
20:19 - 20:21Parece-me que isso é que levou
a muito do que aconteceu. -
20:21 - 20:27Tens outra pergunta para nós,
para a TED, para este grupo? -
20:27 - 20:31RS: Volto sempre a variações
-
20:31 - 20:35da pergunta que o meu filho me fez
quando tinha três anos. -
20:35 - 20:39Estávamos sentados num jacuzzi
e disse: "Pai, porque existimos?" -
20:39 - 20:41Não há outra pergunta.
-
20:41 - 20:42Ninguém tem outra pergunta.
-
20:42 - 20:46Temos variações desta pergunta,
a partir dos três anos. -
20:46 - 20:52Quando passamos tempo numa empresa,
em burocracia, numa organização, -
20:52 - 20:53e dizemos: "Céus!"...
-
20:53 - 20:56Quantas pessoas,
no leito da morte, terão dito: -
20:56 - 20:58"Céus! Tomara ter estado
mais tempo no escritório."? -
20:58 - 21:03Tudo isto se trata
de ter a coragem, agora, -
21:03 - 21:06e não daqui a uma semana,
nem daqui a dois meses, -
21:06 - 21:08nem quando descobrirmos
que temos alguma doença, -
21:08 - 21:10de dizer:
"Não, porque estou a fazer isto?" -
21:10 - 21:13"Parem tudo.
Deixem-me fazer outra coisa". -
21:13 - 21:14E será melhor.
-
21:14 - 21:16Será muito melhor
do que o que estão a fazer, -
21:16 - 21:19se estiverem presos num processo.
-
21:19 - 21:23CA: Para mim, isso parece-me
uma forma bonita e profunda -
21:23 - 21:24de terminar o penúltimo dia da TED.
-
21:24 - 21:26Ricardo Semler, muito obrigado.
-
21:26 - 21:28RS: Muito obrigado.
-
21:28 - 21:29(Aplausos)
- Title:
- Como gerir uma companhia (quase) sem regras
- Speaker:
- Ricardo Semler
- Description:
-
Como seriam as coisas se o trabalho não controlasse a sua vida? Ricardo Semler, um diretor executivo brasileiro, pratica uma forma radical de democracia corporativa, que reinventa tudo, desde as reuniões da administração, até à forma como os colaboradores reportam os dias de férias que tiram (não precisam de fazê-lo). É uma visão que premeia a sabedoria dos colaboradores, promove o equilíbrio entre a vida e o trabalho, e nos conduz a conclusões profundas sobre o verdadeiro significado do trabalho e da vida. Pergunta para nota máxima: e se as escolas também fossem assim?
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 21:42
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