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Title:
As histórias por detrás das icónicas capas da revista The New Yorker
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Description:
Apresentamos-vos Françoise Mouly, a Diretora Artística da revista The New Yorker. Durante os últimos 24 anos, ela ajudou a decidir o que aparece na famosa capa da revista, desde a representação a preto sobre fundo preto das Torres Gémeas na semana após o 11/09 até à recente piada sobre Putin, inspirada em Eustace Tilley, a mascote "dandy" da revista. Nesta retrospetiva visual, Mouly mostra como um simples desenho se pode impor na torrente de imagens que vemos diariamente e captar, de forma elegante, o sentimento (e a sensibilidade) de um momento no tempo.
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Speaker:
Françoise Mouly
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Há 24 anos,
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fui levada para a The New Yorker
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como editora artística
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para rejuvenescer uma instituição
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que, na altura, se tinha tornado
algo convencional,
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trazer novos artistas
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e tentar arrancar a revista
da sua torre de marfim
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para um maior envolvimento
com o seu tempo.
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E, para mim,
foi a coisa certa a fazer
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porque sempre me senti cativada
pelo modo como uma imagem
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— um simples desenho —
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se pode impor na torrente de imagens
que vemos num único dia.
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O modo como ela pode captar um momento,
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como cristaliza uma tendência social
ou um acontecimento complexo
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de uma forma que muitas palavras
não seriam capazes de fazer
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— e reduzir isso à sua essência
transformando-a num cartune.
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e olhei para a primeira capa
desenhada por Rea Irvin em 1925
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— um "dandy" a olhar para uma borboleta
através do seu monóculo,
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a quem chamamos Eustace Tilley.
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Apercebi-me de que, à medida
que a revista se foi tornando conhecida
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pelas suas pesquisas bem feitas
e pelas longas reportagens,
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algum do humor se perdeu pelo caminho,
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porque agora, Eustace Tilley
era visto como um "dandy" altivo
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mas, na verdade, em 1925,
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quando Rea Irving o desenhou,
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ele fê-lo como parte
de uma revista de humor
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para divertir a juventude da época,
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que eram as miúdas rebeldes
dos loucos anos 20.
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Na biblioteca,
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encontrei as imagens
que realmente captavam a "zeitgeist"
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da Grande Depressão.
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Mostram-nos não só
como as pessoas se vestiam
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ou como eram os seus carros,
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mas também o que as fazia rir,
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quais eram os seus preconceitos.
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Temos mesmo a noção
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do que era estar vivo nos anos 30.
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Então, chamei artistas contemporâneos,
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como este, o Adrian Tomine.
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Eu chamo muitas vezes artistas narrativos
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— cartunistas,
autores de livros infantis —
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e dou-lhes temas como:
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o que é estar no Metro,
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ou o Dia de São Valentim,
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e eles enviam-me esboços.
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Uma vez aprovados os esboços
pelo editor,
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David Remnick,
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são feitas.
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Adoro a maneira
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como estas imagens
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não nos dizem o que pensar,
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mas fazem-nos mesmo pensar,
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porque o artista
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é, na verdade, quase um "puzzle";
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o artista desenha os pontos
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e vocês, os leitores,
têm de completar a imagem.
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Para compreender
a imagem à esquerda de Anita Kunz,
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ou a da direita de Tomer Hanuka,
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temos de fazer o jogo das diferenças.
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E é algo que...
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é mesmo empolgante ver
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como o envolvimento com o leitor...
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como estas imagens captam mesmo...
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brincam com os estereótipos.
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Mas quando percebemos,
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os estereótipos são rearranjados
na nossa cabeça.
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Mas as imagens não têm de mostrar
apenas pessoas,
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por vezes, pode ser um sentimento.
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Imediatamente após o 11 de setembro,
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eu estava num estado
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— tal como toda a gente —
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em que não sabia como lidar
com o que estávamos a passar
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e senti que nenhuma imagem
conseguiria captar aquele momento.
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Só queria fazer uma capa negra,
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uma não capa.
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Falei com o meu marido,
o cartunista Art Spiegelman.
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referi-lhe que iria propor isso,
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e ele disse-me: "Oh, se vais fazer
uma capa negra,
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"então porque não fazes a silhueta
das Torres Gémeas
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"preto sobre preto?"
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E eu sentei-me para desenhar isto.
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Assim que o vi,
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tive um arrepio pela coluna abaixo,
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e apercebi-me de que,
nesta recusa de fazer uma imagem,
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tínhamos encontrado uma forma
de captar a perda
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e o luto,
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e a ausência.
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Foi algo profundo
o que aprendi neste processo
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— às vezes, algumas das imagens
que mais dizem
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são as que o fazem com menos meios.
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E uma imagem simples
pode dizer muito.
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Esta é a imagem de Bob Staake
que publicámos
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mesmo a seguir à eleição de Barack Obama,
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e que captou um momento histórico.
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Mas não conseguimos planear isto,
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porque, para o fazer,
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temos de deixar o artista sentir
as emoções que todos sentimos,
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quando está a acontecer.
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Por isso, em novembro de 2016,
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durante as eleições do ano passado,
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a única imagem
que conseguimos publicar foi esta,
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que estava nas bancas
na semana em que toda a gente votou.
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(Risos)
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Porque sabíamos
que alguém se sentiria assim...
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(Risos)
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quando o resultado das eleições
fosse anunciado.
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E quando soubemos o resultado,
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sentimo-nos realmente perplexos.
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Esta é a imagem enviada de novo
por Bob Staake,
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e que acertou em cheio.
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E, mais uma vez,
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nós não sabemos o que vem a seguir,
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mas aqui parecia que não sabíamos
como andar para a frente,
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mas andámos para a frente.
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Esta é a imagem que publicámos
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depois da eleição de Donald Trump
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na altura da Marcha das Mulheres
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em todos os estados dos EUA.
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Ao longo destes 24 anos,
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tenho visto mais de 1000 imagens
ganharem vida, semana após semana,
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e perguntam-me muitas vezes
qual delas é a minha preferida,
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mas não consigo escolher uma
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porque me sinto muito orgulhosa
de quão diferentes são as imagens
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umas das outras.
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E isso deve-se ao talento e diversidade
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de todos os artistas que contribuem.
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E agora, bem,
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agora, pertencemos à Rússia,
por isso...
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Numa representação feita por Barry Blitt,
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Eustace tornou-se
Eustace Vladimirovich Tilley.
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E a borboleta não é senão
um Donald Trump aturdido,
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a tentar perceber
como controlar o efeito borboleta
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e o famoso logótipo do título
desenhado por Rae Irvin em 1925
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está agora em cirílico.
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O que realmente me entusiasma
neste momento
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é a forma como...
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A liberdade de imprensa
é essencial para a nossa democracia.
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Conseguimos ver
desde o sublime ao ridículo
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que os artistas conseguem captar
o que se está a passar
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de uma forma que um artista
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armado apenas de tinta da China
e aguarelas
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consegue captar e entrar
no diálogo cultural.
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Isto coloca esses artistas
no centro dessa cultura,
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e é exatamente aí
que eu penso que devem estar.
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Porque o que mais precisamos
agora é de um bom cartune.
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Obrigada.
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(Aplausos)