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A caminhada do "não" até o "sim" | WIlliam Ury | TEDxMidwest

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    Bem, o tema da negociação difícil
  • 0:19 - 0:22
    me lembra uma de minhas histórias
    favoritas do Oriente Médio,
  • 0:22 - 0:26
    de um homem que deixou
    17 camelos para os 3 filhos.
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    Para o primeiro filho, deixou metade;
  • 0:28 - 0:31
    para o segundo filho, deixou
    um terço dos camelos
  • 0:31 - 0:33
    e, para o caçula, deixou a nona parte.
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    Os 3 filhos começaram uma negociação,
    pois 17 não é divisível por 2,
  • 0:37 - 0:39
    não é divisível por três
  • 0:39 - 0:41
    e não é divisível por nove.
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    O clima começou a ficar
    tenso entre os irmãos.
  • 0:43 - 0:45
    Por fim, desesperados,
  • 0:45 - 0:48
    resolveram pedir ajuda a uma velha sábia.
  • 0:48 - 0:50
    A mulher pensou um bom
    tempo sobre o problema
  • 0:50 - 0:53
    e, finalmente, chegou e disse:
    "Bem, não sei se posso ajudá-los,
  • 0:53 - 0:56
    mas, se quiserem, podem
    ficar com o meu camelo".
  • 0:56 - 0:58
    Então, ficaram com 18 camelos.
  • 0:58 - 1:01
    O primeiro filho pegou sua metade,
    a metade de 18 é 9.
  • 1:01 - 1:04
    O segundo pegou sua terça parte,
    um terço de 18 é 6.
  • 1:04 - 1:08
    O filho mais novo pegou sua nona
    parte, e um novo de 18 é 2.
  • 1:08 - 1:10
    O total deu 17.
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    Eles ficaram com um camelo sobrando.
  • 1:12 - 1:14
    Aí, eles o devolveram à velha sábia.
  • 1:14 - 1:15
    (Risos)
  • 1:15 - 1:18
    Se pensarmos sobre essa história,
  • 1:18 - 1:21
    acho que ela lembra muito
    as negociações difíceis
  • 1:21 - 1:23
    nas quais nos envolvemos.
  • 1:23 - 1:25
    Elas começam como 17 camelos,
    e sem nenhuma solução.
  • 1:25 - 1:27
    Portanto, o que precisamos
  • 1:27 - 1:30
    é recuar em situações assim,
    como fez a velha sábia,
  • 1:30 - 1:32
    ver a situação com um novo olhar,
  • 1:32 - 1:34
    e surgir com o 18.º camelo.
  • 1:35 - 1:38
    Encontrar esse 18.º camelo
    em conflitos mundiais
  • 1:38 - 1:40
    tem sido a paixão da minha vida.
  • 1:40 - 1:44
    Basicamente, vejo a humanidade
    um pouco como esses três irmãos.
  • 1:44 - 1:46
    Somos todos uma família.
  • 1:46 - 1:48
    Sabemos que, cientificamente,
  • 1:48 - 1:50
    graças à revolução das comunicações,
  • 1:50 - 1:53
    todas as tribos do planeta,
    todas as 15 mil tribos,
  • 1:53 - 1:55
    estão conectadas.
  • 1:56 - 1:58
    É uma grande reunião de família.
  • 1:58 - 2:00
    Mas, como muitas reuniões familiares,
  • 2:00 - 2:02
    nem tudo são flores.
  • 2:02 - 2:04
    Ocorrem muitos conflitos,
  • 2:04 - 2:08
    e a questão é: como lidar
    com nossas diferenças?
  • 2:08 - 2:10
    Como lidar com nossas
    mais profundas diferenças,
  • 2:10 - 2:12
    dada a inclinação humana para o conflito
  • 2:12 - 2:17
    e a inteligência humana concebendo
    armas com enorme poder de destruição?
  • 2:17 - 2:19
    Esse é o problema.
  • 2:19 - 2:23
    Como tenho passado boa parte
    das últimas três décadas, quase quatro,
  • 2:23 - 2:25
    viajando pelo mundo,
  • 2:25 - 2:29
    trabalhando na solução de conflitos,
  • 2:29 - 2:32
    da Iugoslávia ao Oriente Médio,
  • 2:32 - 2:34
    da Chechênia à Venezuela,
  • 2:34 - 2:37
    alguns dos conflitos
    mais difíceis da face do planeta,
  • 2:37 - 2:39
    venho me fazendo essa pergunta.
  • 2:39 - 2:43
    E penso que encontrei, de certa forma,
    o segredo para a paz.
  • 2:43 - 2:45
    Na verdade, é surpreendentemente simples.
  • 2:45 - 2:48
    Não é fácil, mas é simples.
  • 2:48 - 2:50
    Nem chega a ser uma novidade.
  • 2:50 - 2:53
    Deve ser uma das nossas heranças
    humanas mais antigas.
  • 2:53 - 2:56
    O segredo da paz somos nós.
  • 2:56 - 3:01
    Somos nós, a comunidade
    ao redor do conflito,
  • 3:01 - 3:03
    que podemos ter um papel construtivo.
  • 3:03 - 3:07
    Deixem-me ilustrar isso com uma história.
  • 3:07 - 3:09
    Cerca de 20 anos atrás,
  • 3:09 - 3:12
    estava na África do Sul, trabalhando
    com as partes daquele conflito
  • 3:12 - 3:13
    e, como tive um mês extra,
  • 3:13 - 3:18
    resolvi passar um tempo vivendo
    com vários grupos do povo San.
  • 3:18 - 3:22
    Estava curioso para saber
    como eles resolviam seus conflitos.
  • 3:22 - 3:26
    Pois, até onde a memória alcança,
    eles sempre foram caçadores-coletores,
  • 3:26 - 3:31
    vivendo quase como nossos ancestrais
    viveram por 99% da história humana.
  • 3:31 - 3:34
    E, lá, todos os homens têm flechas
    envenenadas, que usam para caçar,
  • 3:34 - 3:36
    absolutamente mortais.
  • 3:36 - 3:38
    Então, como lidam com suas diferenças?
  • 3:38 - 3:43
    Descobri que, nessas comunidades,
    quando os ânimos se exaltam,
  • 3:43 - 3:46
    alguém vai e esconde as flechas
    envenenadas no meio do mato,
  • 3:46 - 3:50
    e aí todo mundo se senta em círculo assim,
  • 3:50 - 3:53
    sentam e conversam exaustivamente.
  • 3:53 - 3:55
    Isso pode levar dois, três, quatro dias,
  • 3:55 - 3:58
    mas eles não descansam
    até encontrarem uma solução,
  • 3:58 - 4:01
    ou melhor, uma reconciliação.
  • 4:01 - 4:03
    E, se os ânimos continuarem exaltados,
  • 4:03 - 4:05
    eles, então, mandam alguém
    visitar uns parentes,
  • 4:05 - 4:07
    um tempo para esfriar a cabeça.
  • 4:07 - 4:10
    Acho que, provavelmente,
    esse tenha sido o sistema
  • 4:10 - 4:12
    que nos manteve vivos até hoje,
  • 4:12 - 4:14
    dadas as nossas tendências humanas.
  • 4:14 - 4:17
    Chamo esse sistema de "o terceiro lado".
  • 4:17 - 4:20
    Porque, normalmente,
    quando pensamos num conflito,
  • 4:20 - 4:22
    quando o descrevemos,
  • 4:22 - 4:23
    há sempre dois lados,
  • 4:23 - 4:26
    árabes contra israelenses,
    patrões contra empregados,
  • 4:26 - 4:29
    marido contra mulher,
    republicanos contra democratas.
  • 4:29 - 4:31
    Mas o que normalmente não vemos
  • 4:31 - 4:33
    é que sempre há um terceiro lado,
  • 4:33 - 4:37
    e o terceiro lado do conflito somos nós,
    é a comunidade circundante.
  • 4:37 - 4:38
    São os amigos, os aliados,
  • 4:38 - 4:40
    os membros da família, os vizinhos.
  • 4:40 - 4:44
    E podemos ter uma papel
    incrivelmente construtivo.
  • 4:44 - 4:48
    Talvez a maneira mais determinante
    de o terceiro lado ajudar
  • 4:48 - 4:52
    seja lembrando às partes
    o que está realmente em jogo.
  • 4:52 - 4:54
    Pelo bem dos filhos, pelo bem da família,
  • 4:54 - 4:57
    pelo bem da comunidade,
    pelo bem do futuro,
  • 4:57 - 5:00
    vamos parar de brigar por um momento
    e começar a conversar.
  • 5:00 - 5:02
    Pois a verdade é que,
  • 5:02 - 5:03
    ao nos envolvermos num conflito,
  • 5:03 - 5:06
    é muito fácil perder a perspectiva.
  • 5:06 - 5:08
    É muito fácil reagir.
  • 5:08 - 5:10
    Nós, seres humanos,
    somos máquinas reativas.
  • 5:10 - 5:12
    E, como diz o ditado,
  • 5:12 - 5:15
    com raiva, fazemos o melhor discurso
  • 5:15 - 5:16
    do qual vamos nos arrepender.
  • 5:16 - 5:18
    (Risos)
  • 5:18 - 5:21
    E o terceiro lado nos lembra disso.
  • 5:21 - 5:23
    O terceiro lado nos ajuda
    a ir para o camarote,
  • 5:23 - 5:26
    que é uma metáfora
    para um lugar de perspectiva,
  • 5:26 - 5:28
    onde podemos manter
    nossos olhos na recompensa.
  • 5:28 - 5:32
    Quero contar uma história
    da minha experiência com negociação.
  • 5:32 - 5:37
    Alguns anos atrás, fui o mediador
    em conversas muito difíceis
  • 5:37 - 5:41
    entre líderes da Rússia e da Chechênia.
  • 5:41 - 5:44
    Como sabem, havia uma guerra em curso.
  • 5:44 - 5:47
    O encontro se deu em Haia,
    no Palácio da Paz,
  • 5:47 - 5:51
    na mesma sala onde o tribunal dos crimes
    de guerra iugoslavos acontecia.
  • 5:51 - 5:54
    E as conversas começaram bem espinhosas
  • 5:54 - 5:58
    quando o vice-presidente da Chechênia
    começou a apontar para os russos
  • 5:58 - 6:00
    e falar: "Vocês deviam ficar nesta sala,
  • 6:00 - 6:03
    pois vão ser julgados
    por crimes de guerra".
  • 6:03 - 6:05
    Daí, ele se virou para mim e falou:
  • 6:05 - 6:07
    "Você é americano.
  • 6:07 - 6:10
    Veja só o que vocês, americanos,
    estão fazendo em Porto Rico".
  • 6:10 - 6:13
    E minha mente começou a girar:
    "Porto Rico? O que sei sobre Porto Rico?"
  • 6:13 - 6:15
    Comecei a reagir.
  • 6:15 - 6:16
    (Risos)
  • 6:16 - 6:18
    Mas aí tentei me lembrar
    de ir para o camarote.
  • 6:18 - 6:22
    Quando ele parou de falar, todos
    olharam para mim à espera da resposta.
  • 6:22 - 6:25
    Consegui, da perspectiva do camarote,
    agradecer os comentários
  • 6:25 - 6:28
    e dizer: "Agradeço sua crítica ao meu país
  • 6:28 - 6:32
    e a considero um sinal de amizade,
    de que podemos falar francamente".
  • 6:32 - 6:33
    (Risos)
  • 6:33 - 6:37
    "E não estamos aqui para falar
    sobre Porto Rico ou o passado.
  • 6:37 - 6:39
    Estamos aqui porque queremos
    encontrar uma forma
  • 6:39 - 6:42
    de pôr um fim ao sofrimento
    e ao banho de sangue na Chechênia."
  • 6:42 - 6:45
    Aí, a conversa voltou para os trilhos.
  • 6:45 - 6:49
    Esse é o papel do terceiro lado:
    ajudar as partes a irem para o camarote.
  • 6:49 - 6:52
    Gostaria, agora, de abordar
  • 6:52 - 6:55
    o conflito considerado,
    de longe, o mais difícil do mundo,
  • 6:55 - 6:57
    ou o conflito mais impossível,
    o Oriente Médio.
  • 6:57 - 7:01
    A questão é: onde está o terceiro lado aí?
  • 7:01 - 7:03
    Qual a possibilidade de irmos
    para o camarote?
  • 7:03 - 7:07
    Não vou fingir que tenho resposta
    para o conflito do Oriente Médio,
  • 7:07 - 7:11
    mas acho que tenho um primeiro passo,
    literalmente, um primeiro passo,
  • 7:11 - 7:14
    algo que qualquer um de nós
    poderia fazer como terceiro lado.
  • 7:14 - 7:16
    Deixem-me perguntar uma coisa primeiro.
  • 7:16 - 7:20
    Quantos aqui, nos últimos anos,
  • 7:20 - 7:23
    já se pegaram se preocupando
    com o Oriente Médio
  • 7:23 - 7:25
    e imaginando o que poderia ser feito?
  • 7:25 - 7:27
    Só de curiosidade, quantos de vocês?
  • 7:27 - 7:30
    OK, então, a grande maioria de nós.
  • 7:30 - 7:32
    E aqui é muito longe de lá.
  • 7:32 - 7:35
    Por que prestamos tanta
    atenção nesse conflito?
  • 7:35 - 7:37
    Seria pelo número de mortos?
  • 7:37 - 7:40
    Há centenas de vezes mais gente
    morrendo em conflitos na África
  • 7:40 - 7:41
    do que no Oriente Médio.
  • 7:41 - 7:43
    Não, é por causa da história,
  • 7:43 - 7:47
    por nos sentirmos pessoalmente
    envolvidos nessa história.
  • 7:47 - 7:51
    Sejamos cristãos, muçulmanos
    ou judeus, religiosos ou não,
  • 7:51 - 7:53
    sentimos um interesse pessoal naquilo.
  • 7:53 - 7:54
    As histórias importam;
  • 7:54 - 7:56
    como antropólogo, sei disso.
  • 7:56 - 7:59
    As histórias são o que usamos
    para transmitir conhecimento.
  • 7:59 - 8:01
    Dão significado a nossa vida.
  • 8:01 - 8:03
    É isso o que fazemos aqui
    no TED, contamos histórias.
  • 8:03 - 8:05
    As histórias são o segredo.
  • 8:05 - 8:08
    Então, minha questão é:
  • 8:08 - 8:12
    sim, vamos tentar resolver
    a política lá no Oriente Médio,
  • 8:12 - 8:15
    mas também vamos dar
    uma olhada na história.
  • 8:15 - 8:17
    Vamos tentar chegar à raiz do problema,
  • 8:17 - 8:19
    se é possível aplicar o terceiro lado aí.
  • 8:19 - 8:22
    O que isso significa?
    Qual é a história aí?
  • 8:22 - 8:26
    Como antropólogos, sabemos que toda
    cultura tem uma história da origem.
  • 8:27 - 8:29
    Qual a história da origem
    do Oriente Médio?
  • 8:29 - 8:31
    Numa frase, é:
  • 8:31 - 8:32
    há 4 mil anos,
  • 8:32 - 8:36
    um homem e sua família
    atravessaram o Oriente Médio,
  • 8:36 - 8:39
    e o mundo nunca foi o mesmo desde então.
  • 8:39 - 8:42
    Aquele homem, é claro, era Abraão.
  • 8:43 - 8:46
    E ele lutou pela unidade,
    a unidade da família;
  • 8:46 - 8:48
    ele é o pai de todos nós.
  • 8:48 - 8:52
    Mas não foi apenas sua luta,
    mas a mensagem que deixou.
  • 8:52 - 8:54
    Sua mensagem básica foi de união também,
  • 8:54 - 8:57
    a interconectividade de tudo,
    a unidade disso tudo.
  • 8:57 - 9:00
    E seu valor básico era o respeito,
  • 9:00 - 9:02
    era a bondade com os estranhos.
  • 9:02 - 9:05
    Ele ficou conhecido por isso,
    por sua hospitalidade.
  • 9:05 - 9:07
    Assim, nesse sentido,
  • 9:07 - 9:11
    ele é o terceiro lado simbólico
    do Oriente Médio.
  • 9:11 - 9:16
    Ele é quem nos lembra que somos
    todos parte de um todo maior.
  • 9:16 - 9:19
    Agora, pensem nisso por um momento.
  • 9:19 - 9:23
    Enfrentamos hoje o tormento do terrorismo.
  • 9:23 - 9:24
    O que é o terrorismo?
  • 9:24 - 9:28
    O terrorismo é basicamente
    pegar um estranho inocente
  • 9:28 - 9:33
    e tratá-lo como um inimigo,
    que se mata para se criar o medo.
  • 9:33 - 9:35
    Qual é o oposto do terrorismo?
  • 9:35 - 9:37
    É pegar um estranho inocente
  • 9:37 - 9:41
    e tratá-lo como um amigo
    que você acolhe em sua casa,
  • 9:41 - 9:44
    para semear e criar entendimento,
  • 9:44 - 9:47
    ou respeito, ou amor.
  • 9:47 - 9:52
    Portanto, e se pegássemos
    a história de Abraão,
  • 9:52 - 9:53
    que é uma história do terceiro lado,
  • 9:53 - 9:56
    e isso pudesse na verdade ser,
  • 9:56 - 9:58
    já que Abraão defende a hospitalidade,
  • 9:58 - 10:02
    e se isso pudesse ser
    um antídoto contra o terrorismo?
  • 10:02 - 10:06
    E se isso pudesse ser uma vacina
    contra a intolerância religiosa?
  • 10:06 - 10:08
    Como transformar essa história
    em realidade?
  • 10:08 - 10:11
    Bem, não basta apenas contar a história.
  • 10:11 - 10:15
    Isso é importante, mas as pessoas
    precisam experimentar a história.
  • 10:15 - 10:17
    Elas precisam viver a história.
  • 10:17 - 10:18
    Como se daria isso?
  • 10:18 - 10:21
    E essa foi a minha ideia
    de como fazer isso.
  • 10:21 - 10:23
    Isso aqui é o primeiro passo.
  • 10:23 - 10:25
    Porque o jeito mais simples
    de se fazer isso é:
  • 10:25 - 10:27
    sair para uma caminhada.
  • 10:27 - 10:31
    Fazer uma caminhada nos passos de Abraão.
  • 10:31 - 10:34
    Refazer os passos de Abraão.
  • 10:34 - 10:37
    Pois andar tem um poder real.
  • 10:37 - 10:40
    Antropologicamente, caminhar
    foi o que nos tornou humanos.
  • 10:40 - 10:44
    É engraçado que, ao andar,
    andamos lado a lado,
  • 10:44 - 10:46
    indo numa mesma direção,
  • 10:47 - 10:49
    Se eu me aproximasse face a face
  • 10:49 - 10:51
    e chegasse perto de vocês assim,
  • 10:51 - 10:54
    vocês se sentiriam ameaçados.
  • 10:55 - 10:57
    Mas, se andarmos ombro a ombro,
  • 10:57 - 10:59
    até encostando os ombros,
  • 10:59 - 11:01
    não tem problema.
  • 11:01 - 11:03
    Quem luta enquanto anda?
  • 11:03 - 11:06
    É por isso que, geralmente
    quando a negociação fica difícil,
  • 11:06 - 11:08
    as pessoas vão caminhar na natureza.
  • 11:08 - 11:13
    Então me veio a ideia
    de inspirar um caminho,
  • 11:13 - 11:17
    uma rota – pensem na Rota da Seda,
    na Trilha dos Apalaches –
  • 11:17 - 11:21
    que seguisse os passos de Abraão.
  • 11:21 - 11:23
    As pessoas falaram: "Que loucura! Não dá.
  • 11:23 - 11:26
    Não dá para refazer o caminho
    de Abraão, é perigoso demais,
  • 11:26 - 11:30
    ter de cruzar todas essas fronteiras,
    cruzar dez países no Oriente Médio,
  • 11:30 - 11:33
    pois o caminho une todos eles".
  • 11:33 - 11:36
    Daí, estudamos a ideia em Harvard.
    Fizemos as devidas diligências.
  • 11:36 - 11:39
    E, há alguns anos, um grupo
    de umas 25 pessoas de 10 países
  • 11:39 - 11:42
    decidimos tentar refazer
    os passos de Abraão,
  • 11:42 - 11:45
    saindo do local de seu nascimento,
    a cidade de Urfa,
  • 11:45 - 11:48
    no sul da Turquia, norte da Mesopotâmia.
  • 11:48 - 11:51
    E, então, pegamos um ônibus,
    fizemos algumas caminhadas
  • 11:51 - 11:55
    e fomos para Harran, de onde,
    na Bíblia, ele saiu para sua jornada.
  • 11:55 - 11:58
    Depois cruzamos a fronteira
    para a Síria, fomos para Alepo,
  • 11:58 - 12:00
    que recebeu seu nome por causa de Abraão.
  • 12:00 - 12:04
    Passamos por Damasco, que tem
    uma longa história associada a Abraão.
  • 12:04 - 12:07
    Dali, fomos para o norte da Jordânia,
  • 12:07 - 12:12
    para Jerusalém, que tem tudo
    a ver com Abraão, para Belém
  • 12:12 - 12:15
    e, finalmente, para o lugar onde
    ele foi enterrado, em Hebron.
  • 12:15 - 12:18
    Assim, efetivamente,
    fomos do útero ao sepulcro.
  • 12:18 - 12:21
    Mostramos que era possível.
    Foi uma jornada incrível.
  • 12:21 - 12:22
    Deixem-me perguntar uma coisa:
  • 12:22 - 12:27
    quantos de vocês tiveram a experiência
    de estar num bairro estranho,
  • 12:27 - 12:29
    ou numa terra estranha,
  • 12:29 - 12:32
    e um completo, perfeito estranho,
  • 12:32 - 12:35
    chegar para você e demonstrar
    um pouco de bondade,
  • 12:35 - 12:39
    talvez o convidando para ir a sua casa,
    lhe dando uma bebida, café, comida?
  • 12:39 - 12:42
    Quantos aqui já tiveram essa experiência?
  • 12:42 - 12:45
    Essa é a essência do Caminho de Abraão.
  • 12:45 - 12:48
    É o que se descobre indo
    a essas vilas no Oriente Médio,
  • 12:48 - 12:49
    onde esperamos hostilidade,
  • 12:49 - 12:52
    e recebemos a mais incrível hospitalidade,
  • 12:52 - 12:53
    tudo associado a Abraão:
  • 12:53 - 12:57
    "Em nome do Pai Ibrahim, deixe-me
    lhe oferecer um pouco de comida".
  • 12:57 - 12:59
    Então, o que descobrimos
  • 12:59 - 13:02
    foi que Abraão não é um personagem
    de livro para essas pessoas;
  • 13:02 - 13:05
    ele está vivo, ele é uma presença viva.
  • 13:05 - 13:07
    E, para encurtar a história,
  • 13:07 - 13:09
    agora, nos últimos anos,
  • 13:09 - 13:13
    milhares de pessoas começaram
    a andar partes do Caminho de Abraão
  • 13:13 - 13:15
    no Oriente Médio,
  • 13:15 - 13:18
    desfrutando a hospitalidade
    das pessoas de lá.
  • 13:18 - 13:21
    Elas começaram a andar
    em Israel e na Palestina,
  • 13:21 - 13:24
    na Jordânia, na Turquia, na Síria.
  • 13:24 - 13:26
    É uma experiência incrível.
  • 13:26 - 13:28
    Homens, mulheres, jovens, velhos,
  • 13:28 - 13:31
    mais mulheres do que homens, curiosamente.
  • 13:31 - 13:33
    Para quem não consegue andar,
  • 13:33 - 13:35
    quem não consegue ir até lá,
  • 13:35 - 13:38
    estão sendo organizadas caminhadas
    nas cidades, nas próprias comunidades.
  • 13:38 - 13:43
    Como em Cincinnati, onde foram de uma
    igreja a uma mesquita, a uma sinagoga,
  • 13:43 - 13:45
    e comeram juntos uma refeição abraâmica.
  • 13:45 - 13:47
    Foi o Dia do Caminho de Abraão.
  • 13:47 - 13:49
    Em São Paulo, no Brasil,
    tornou-se um evento anual,
  • 13:49 - 13:53
    com milhares de pessoas
    correndo o Caminho da Paz,
  • 13:53 - 13:55
    unindo as diferentes comunidades.
  • 13:55 - 13:58
    A mídia adora isso, realmente adora.
  • 13:58 - 14:03
    Dão atenção especial a isso,
    porque é visual e dissemina a ideia,
  • 14:03 - 14:07
    essa ideia da hospitalidade abraâmica
    da bondade com estranhos.
  • 14:07 - 14:12
    Há algumas semanas, a rádio NPR
    fez uma reportagem sobre o Caminho.
  • 14:12 - 14:13
    Mês passado,
  • 14:13 - 14:18
    houve um artigo no "Manchester Guardian",
  • 14:19 - 14:21
    quase duas páginas inteiras.
  • 14:22 - 14:25
    E eles citaram um habitante de uma vila
  • 14:25 - 14:28
    que disse: "Essa caminhada
    nos conecta com o mundo".
  • 14:28 - 14:31
    Ele falou: "Foi como
    uma luz em nossas vidas,
  • 14:31 - 14:33
    ela nos trouxe esperança".
  • 14:33 - 14:35
    Então, é sobre isso.
  • 14:35 - 14:37
    Mas não é apenas psicológico;
  • 14:37 - 14:39
    tem a ver com a economia.
  • 14:39 - 14:42
    Porque, enquanto caminham,
    as pessoas gastam dinheiro.
  • 14:42 - 14:45
    E esta mulher aqui, Um Ahmad,
  • 14:45 - 14:48
    vive no Caminho no norte da Jordânia.
  • 14:48 - 14:50
    Ela é tremendamente pobre.
  • 14:50 - 14:53
    Ela é parcialmente cega, o marido
    não consegue trabalhar,
  • 14:53 - 14:56
    e tem sete filhos.
  • 14:56 - 14:58
    Mas uma coisa ela consegue: cozinhar.
  • 14:58 - 15:01
    E começou a cozinhar
    para grupos de caminhantes
  • 15:01 - 15:04
    que passam pela vila
    e fazem uma refeição em sua casa.
  • 15:04 - 15:08
    Eles se sentam no chão;
    ela não tem nem toalha de mesa.
  • 15:08 - 15:10
    Ela faz uma comida deliciosa,
  • 15:10 - 15:13
    fresca, com ervas colhidas no campo.
  • 15:13 - 15:15
    E, com cada vez mais caminhantes vindo,
  • 15:15 - 15:19
    ela começou a ter, recentemente,
    uma renda para sustentar a família.
  • 15:19 - 15:21
    Então, ela falou para a nossa equipe lá:
  • 15:21 - 15:24
    "Vocês me deram visibilidade
  • 15:24 - 15:29
    numa vila onde as pessoas antes
    tinham vergonha de olhar para mim".
  • 15:29 - 15:31
    Esse é o potencial do Caminho de Abraão.
  • 15:31 - 15:34
    Existem literalmente centenas
    desse tipo de comunidades
  • 15:34 - 15:37
    no Oriente Médio, no Caminho.
  • 15:38 - 15:41
    Basicamente o potencial é de mudar o jogo.
  • 15:41 - 15:45
    Para tanto, temos de mudar a perspectiva,
    a forma como vemos as coisas,
  • 15:45 - 15:50
    passar da perspectiva da hostilidade
    para a da hospitalidade,
  • 15:50 - 15:53
    do terrorismo para o turismo.
  • 15:53 - 15:55
    E, nesse sentido, o Caminho de Abraão
  • 15:55 - 15:57
    é um agente de mudança.
  • 15:57 - 15:59
    Deixem-me lhes mostrar uma coisa.
  • 15:59 - 16:01
    Tenho uma semente aqui
  • 16:01 - 16:05
    que peguei enquanto andava
    no caminho no início do ano.
  • 16:05 - 16:08
    Essa semente está associada
    ao carvalho, é claro,
  • 16:08 - 16:11
    dá num carvalho,
    que está associado com Abraão.
  • 16:11 - 16:15
    O caminho agora é como uma semente;
    ainda está na fase inicial.
  • 16:15 - 16:17
    Como vai ser a árvore de carvalho?
  • 16:17 - 16:19
    Quando penso em minha infância,
  • 16:19 - 16:22
    passei boa parte da vida,
    após nascer aqui em Chicago,
  • 16:22 - 16:23
    na Europa.
  • 16:23 - 16:29
    Se alguém que estava, digamos, nas ruínas
    de Londres, em 1945, ou de Berlim,
  • 16:29 - 16:31
    tivesse dito:
  • 16:31 - 16:33
    "Daqui a 60 anos,
  • 16:33 - 16:36
    esta vai ser a parte mais pacífica
    e próspera do planeta",
  • 16:36 - 16:39
    essa pessoa certamente
    teria sido considerada louca.
  • 16:39 - 16:43
    Mas eles conseguiram isso, graças
    a uma identidade comum, a Europa,
  • 16:43 - 16:45
    e a uma economia comum.
  • 16:45 - 16:49
    Então, minha pergunta é:
    se isso pôde ser feito na Europa,
  • 16:49 - 16:50
    por que não no Oriente Médio?
  • 16:50 - 16:55
    Por que não, graças a uma identidade
    comum, que é a história de Abraão,
  • 16:55 - 17:00
    e a uma economia comum, que poderia
    se basear, em boa parte, no turismo?
  • 17:01 - 17:03
    Então, deixem-me concluir,
  • 17:03 - 17:06
    dizendo que, nos últimos 35 anos,
  • 17:06 - 17:09
    trabalhando em alguns dos conflitos
  • 17:09 - 17:12
    mais perigosos e espinhosos pelo mundo,
  • 17:12 - 17:17
    eu ainda não vi um conflito
    que não possa ser transformado.
  • 17:18 - 17:20
    Não é fácil, é claro.
  • 17:20 - 17:22
    Mas é possível.
  • 17:22 - 17:24
    Foi feito na África do Sul.
  • 17:24 - 17:26
    Foi feito na Irlanda do Norte.
  • 17:26 - 17:27
    Pode ser feito em qualquer lugar.
  • 17:27 - 17:30
    Depende simplesmente de nós.
  • 17:30 - 17:33
    Depende de assumirmos o terceiro lado.
  • 17:33 - 17:37
    Então, queria convidá-los
    a assumir o terceiro lado,
  • 17:37 - 17:39
    mesmo com um passo pequeno.
  • 17:39 - 17:41
    Em breve vamos fazer uma pausa.
  • 17:41 - 17:43
    Simplesmente vá até alguém
  • 17:43 - 17:46
    que seja de uma cultura
    diferente, um país diferente,
  • 17:46 - 17:48
    de uma etnia diferente, alguma diferença,
  • 17:48 - 17:50
    e inicie uma conversa.
  • 17:50 - 17:51
    Ouça essa pessoa.
  • 17:51 - 17:53
    Essa é uma atitude terceiro lado.
  • 17:53 - 17:55
    Isso é caminhar no Caminho de Abraão.
  • 17:55 - 17:56
    Depois de uma palestra TED,
  • 17:56 - 17:58
    por que não uma caminhada TED?
  • 17:58 - 17:59
    (Risos)
  • 17:59 - 18:03
    Então, vou deixá-los com três coisas.
  • 18:03 - 18:08
    A primeira, o segredo da paz
    é o terceiro lado.
  • 18:09 - 18:11
    O terceiro lado somos nós.
  • 18:11 - 18:14
    Cada um de nós, com um único passo,
  • 18:15 - 18:17
    pode levar o mundo, pode trazer o mundo
  • 18:17 - 18:20
    um passo mais próximo da paz.
  • 18:21 - 18:23
    Há um antigo provérbio africano que diz:
  • 18:23 - 18:25
    "Quando as teias de aranha se unem,
  • 18:25 - 18:28
    elas podem deter até o leão".
  • 18:28 - 18:32
    Se conseguirmos unir
    nossas teias da paz do terceiro lado,
  • 18:32 - 18:35
    podemos deter até mesmo o leão da guerra.
  • 18:35 - 18:37
    Muito obrigado.
  • 18:37 - 18:39
    (Aplausos)
Title:
A caminhada do "não" até o "sim" | WIlliam Ury | TEDxMidwest
Description:

William Ury, autor do livro "Como chegar ao sim", nos oferece uma solução elegante e simples (mas que não é fácil) para se chegar a um acordo, mesmo nas situações mais difíceis, desde um conflito familiar até, talvez, o conflito no Oriente Médio.

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido independentemente das Conferências TED.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:46

Portuguese, Brazilian subtitles

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