Return to Video

A vida é desprovida de sentido? E outras questões absurdas — Nina Medvinskaya

  • 0:08 - 0:11
    Albert Camus cresceu rodeado de violência.
  • 0:12 - 0:15
    A sua terra natal, a Argélia,
    estava mergulhada em conflitos
  • 0:15 - 0:19
    entre os nativos da Argélia
    e os colonizadores franceses.
  • 0:19 - 0:22
    Camus perdera o pai
    na Primeira Guerra Mundial,
  • 0:22 - 0:24
    e foi considerado inapto
    para combater na Segunda.
  • 0:24 - 0:27
    Ao lutar contra a tuberculose em França
  • 0:27 - 0:30
    e ao enfrentar a devastação da guerra
    enquanto jornalista de resistência,
  • 0:30 - 0:33
    Camus foi tomado pelo desânimo.
  • 0:33 - 0:36
    Não conseguia encontrar qualquer sentido
  • 0:36 - 0:39
    por detrás de toda aquela matança
    e sofrimento intermináveis.
  • 0:39 - 0:42
    Interrogou-se: "Se o mundo
    é desprovido de sentido,
  • 0:42 - 0:47
    "as nossas vidas individuais
    mesmo assim poderão ter valor?
  • 0:47 - 0:51
    Muitos dos contemporâneos de Camus
    estavam a explorar questões semelhantes
  • 0:51 - 0:56
    sob o estandarte de uma nova filosofia
    chamada existencialismo.
  • 0:56 - 1:00
    Os existencialistas acreditavam
    que as pessoas nasciam como tábuas rasas
  • 1:00 - 1:04
    e eram responsáveis por dar sentido
    à sua vida num mundo caótico.
  • 1:05 - 1:07
    Mas Camus rejeitava
    esta escola de pensamento.
  • 1:08 - 1:11
    Argumentava que todas as pessoas
    partilhavam a mesma natureza humana
  • 1:11 - 1:14
    que as unia para atingirem
    objetivos comuns.
  • 1:14 - 1:19
    Um desses objetivos
    era procurar o sentido da vida
  • 1:20 - 1:22
    apesar da crueldade arbitrária do mundo.
  • 1:22 - 1:25
    Camus considerava que a procura
    de sentido da humanidade
  • 1:25 - 1:28
    e a indiferença silenciosa do universo
  • 1:28 - 1:31
    eram como duas peças incompatíveis
    de um "puzzle",
  • 1:31 - 1:37
    e considerava a tentativa de as encaixar
    como sendo fundamentalmente absurda.
  • 1:37 - 1:42
    Esta tensão tornou-se o âmago
    da Filosofia do Absurdo de Camus,
  • 1:42 - 1:46
    que defendia que a vida
    é inerentemente fútil.
  • 1:46 - 1:49
    Explorar como viver sem sentido
  • 1:49 - 1:53
    tornou-se a questão orientadora
    da obra inicial de Camus,
  • 1:53 - 1:56
    a que ele chamou o seu "ciclo do absurdo".
  • 1:57 - 2:00
    A estrela deste ciclo,
    e o primeiro romance publicado de Camus,
  • 2:01 - 2:03
    oferece uma resposta bastante desoladora.
  • 2:04 - 2:09
    "O Estrangeiro" acompanha Meursault,
    um jovem emocionalmente distante
  • 2:09 - 2:12
    que não atribui muito significado a nada.
  • 2:12 - 2:15
    Não chora no funeral da mãe,
  • 2:16 - 2:19
    apoia o plano do vizinho
    destinado a humilhar uma mulher,
  • 2:19 - 2:25
    e até comete um crime violento —
    mas Meursault não sente remorsos.
  • 2:25 - 2:31
    Para ele, o mundo é desprovido de sentido
    e os julgamentos morais não têm lá lugar.
  • 2:31 - 2:37
    Esta atitude cria hostilidade entre ele
    e a sociedade ordeira em que vive,
  • 2:37 - 2:43
    ampliando lentamente a sua alienação
    até ao climax explosivo do romance.
  • 2:43 - 2:46
    Ao contrário do seu protagonista relegado,
  • 2:46 - 2:49
    Camus foi aplaudido
    pela sua filosofia honesta.
  • 2:49 - 2:52
    "O Estrangeiro" catapultou-o para a fama,
  • 2:52 - 2:56
    e Camus continuou a produzir obras
    que exploravam o valor da vida
  • 2:56 - 2:58
    por entre o absurdo,
  • 2:58 - 3:03
    muitas das quais regressavam em círculos
    à mesma questão filosófica:
  • 3:03 - 3:05
    se a vida é verdadeiramente
    desprovida de sentido,
  • 3:05 - 3:09
    o suicídio será
    a única resposta racional?
  • 3:10 - 3:13
    A resposta de Camus
    foi um categórico "não".
  • 3:13 - 3:18
    Pode não haver qualquer explicação
    para o nosso mundo injusto,
  • 3:18 - 3:20
    mas escolher viver, apesar disso,
  • 3:20 - 3:24
    é a mais profunda expressão
    da nossa genuína liberdade.
  • 3:24 - 3:27
    Camus explica isto
    num dos seus ensaios mais famosos,
  • 3:27 - 3:30
    que se centra no mito grego de Sísifo.
  • 3:30 - 3:33
    Sísifo era um rei que intrujou os deuses,
  • 3:33 - 3:38
    e foi condenado a empurrar uma pedra
    por uma colina acima, interminavelmente.
  • 3:38 - 3:43
    A crueldade deste castigo
    reside na sua singular futilidade,
  • 3:43 - 3:47
    mas Camus defende que toda
    a humanidade está na mesma posição.
  • 3:47 - 3:51
    E só quando aceitamos
    a falta de sentido das nossas vidas
  • 3:51 - 3:55
    é que podemos enfrentar o absurdo
    de cabeça erguida.
  • 3:55 - 4:01
    Como diz Camus, quando o rei escolhe
    recomeçar a sua tarefa inexorável,
  • 4:01 - 4:04
    "Há que imaginar Sísifo feliz."
  • 4:04 - 4:08
    Os contemporâneos de Camus
    não aceitavam tão bem a futilidade.
  • 4:08 - 4:11
    Muitos existencialistas eram defensores
    de uma revolução violenta
  • 4:12 - 4:14
    com vista a derrubar os sistemas
    que, segundo julgavam,
  • 4:14 - 4:17
    estavam a privar as pessoas
    de capacidade de ação e propósito.
  • 4:17 - 4:22
    Camus respondeu com o seu segundo
    conjunto de trabalhos: o ciclo da revolta.
  • 4:22 - 4:26
    Em "O Rebelde", explora a rebelião
    como um ato criativo,
  • 4:26 - 4:28
    em vez de um ato destrutivo.
  • 4:28 - 4:31
    Camus acreditava que inverter
    a dinâmica do poder
  • 4:31 - 4:35
    só levava a um ciclo de violência sem fim.
  • 4:35 - 4:39
    Em vez disso, a forma de evitar
    um banho de sangue desnecessário
  • 4:39 - 4:44
    é estabelecer um entendimento público
    da nossa natureza humana partilhada.
  • 4:44 - 4:48
    Ironicamente, foi este ciclo
    de ideias relativamente pacíficas
  • 4:48 - 4:52
    que despoletou a sua desavença
    com muitos escritores e filósofos.
  • 4:53 - 4:54
    Apesar da controvérsia,
  • 4:55 - 4:59
    Camus começou a trabalhar no seu romance
    mais longo e pessoal até aí:
  • 4:59 - 5:04
    uma obra autobiográfica
    intitulada "O Primeiro Homem."
  • 5:04 - 5:08
    O romance era para ser a primeira peça
    de uma nova direção esperançosa:
  • 5:08 - 5:10
    o ciclo do amor.
  • 5:11 - 5:15
    Mas, em 1960, Camus morreu de repente,
    na sequência de um acidente de carro
  • 5:15 - 5:19
    que só pode ser descrito
    como desprovido de sentido e absurdo.
  • 5:19 - 5:22
    Embora o mundo nunca tenha visto
    o seu ciclo de amor,
  • 5:22 - 5:28
    os seus ciclos de revolta e de absurdo
    continuam a ressoar com os leitores hoje.
  • 5:28 - 5:33
    O seu conceito de absurdo passou
    a fazer parte da literatura mundial,
  • 5:33 - 5:37
    da filosofia do século XX
    e até da cultura popular.
  • 5:38 - 5:43
    Hoje, Camus continua a ser um guia
    de confiança para momentos de incerteza;
  • 5:43 - 5:48
    com as suas ideias desafiadoras
    a imbuir um mundo sem sentido
  • 5:48 - 5:51
    de inspiração em vez de derrota.
Title:
A vida é desprovida de sentido? E outras questões absurdas — Nina Medvinskaya
Speaker:
Nina Medvinskaya
Description:

Vejam a lição completa em: https://ed.ted.com/lessons/is-life-meaningless-and-other-absurd-questions-nina-medvinskaya

Albert Camus cresceu rodeado de violência. A sua terra natal, a Argélia, estava mergulhada em conflitos. Camus perdeu o pai na Primeira Guerra Mundial. Vendo a devastação da Segunda Guerra Mundial, Camus foi tomado pelo desânimo. Qual era o sentido por trás deste derramamento de sangue e sofrimento intermináveis? E se o mundo for desprovido de sentido, poderão as nossas vidas individuais ter valor, ainda assim? Nina Medvinskaya explora a filosofia do absurdo de Camus.

Lição de Nina Medvinskaya, realização de Avi Ofer.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
05:54

Portuguese subtitles

Revisions