As quatro histórias que contamos a nós próprios sobre a morte
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0:01 - 0:03Tenho uma pergunta:
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0:03 - 0:06Quem é que aqui se lembra de quando
se apercebeu, pela primeira vez, -
0:06 - 0:09de que iria morrer?
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0:09 - 0:10Eu lembro-me.
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0:10 - 0:15Eu era ainda rapaz,
e o meu avô tinha acabado de morrer. -
0:15 - 0:19Lembro-me de estar deitado na cama,
à noite, alguns dias mais tarde, -
0:19 - 0:22a tentar compreender o que tinha sucedido.
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0:22 - 0:25O que significava ele ter morrido?
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0:25 - 0:27Para onde é que ele tinha ido?
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0:27 - 0:30Era como se um buraco
se tivesse aberto na Realidade -
0:30 - 0:32e o tivesse engolido.
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0:32 - 0:35Mas então ocorreu-me
a pergunta realmente chocante: -
0:35 - 0:39Se ele morreu, também isso
me iria acontecer a mim? -
0:39 - 0:42Iria aquele buraco na Realidade
abrir-se e engolir-me? -
0:42 - 0:44Ir-se-ia abrir por baixo da minha cama
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0:44 - 0:46e engolir-me durante o sono?
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0:47 - 0:51A certa altura, todas as crianças
se tornam conscientes da morte. -
0:51 - 0:53Isso pode acontecer
de formas diferentes, claro, -
0:53 - 0:56e, normalmente, acontece por fases.
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0:56 - 0:58A nossa ideia da morte desenvolve-se
à medida que crescemos. -
0:58 - 1:03Se procurarem nos recantos
da vossa memória, -
1:03 - 1:06poder-se-ão lembrar
de algo como o que senti -
1:06 - 1:09quando o meu avô morreu
e quando me apercebi -
1:09 - 1:11de que isso me poderia
acontecer a mim também, -
1:11 - 1:14a sensação de que,
por detrás de tudo isto, -
1:14 - 1:16o vazio está à espera.
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1:17 - 1:19E este desenvolvimento na infância
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1:19 - 1:22reflete o desenvolvimento
da nossa espécie, -
1:22 - 1:25tal como houve um objetivo
no vosso desenvolvimento -
1:25 - 1:29enquanto crianças, quando
o vosso sentido do Eu e do tempo -
1:29 - 1:31se tornou suficientemente sofisticado
-
1:31 - 1:35ao ponto de compreenderem que são mortais.
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1:35 - 1:39Assim, a certa altura
na evolução da nossa espécie, -
1:39 - 1:42em alguns humanos primitivos
o sentido do Eu e do tempo -
1:42 - 1:44tornou-se suficientemente sofisticado
-
1:44 - 1:47para se tornarem os primeiros humanos
a aperceber-se de que: -
1:47 - 1:49"Vou morrer".
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1:50 - 1:53Isto é, se quiserem, a nossa maldição.
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1:53 - 1:57É o preço que pagamos
por sermos tão inteligentes. -
1:57 - 1:59Temos de viver com o conhecimento
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1:59 - 2:01de que a pior coisa que
poderá alguma vez acontecer -
2:01 - 2:03um dia certamente acontecerá:
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2:03 - 2:05o fim de todos os nossos projetos,
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2:05 - 2:08as nossas esperanças, os nossos sonhos,
o nosso mundo individual. -
2:08 - 2:10Cada um de nós vive na sombra
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2:10 - 2:13de um apocalipse pessoal.
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2:13 - 2:16Isso é assustador. É aterrador.
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2:16 - 2:18Por isso, procuramos uma saída.
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2:18 - 2:22No meu caso, como eu tinha
cerca de cinco anos de idade, -
2:22 - 2:24isso significava perguntar à minha mãe.
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2:24 - 2:27Quando comecei
a perguntar pela primeira vez -
2:27 - 2:29o que acontece quando morremos,
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2:29 - 2:31os adultos à minha volta, nessa altura,
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2:31 - 2:34responderam-me com uma
típica mistura inglesa de estranhezas -
2:34 - 2:37e de cristianismo meio sentido
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2:37 - 2:39e a frase que mais ouvi
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2:39 - 2:41foi que o avô estava agora
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2:41 - 2:43"lá em cima a observar-nos"
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2:43 - 2:46e que, se eu morresse também,
o que, claro, não iria acontecer, -
2:46 - 2:49então também eu iria lá para cima,
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2:49 - 2:51o que fez com que a morte parecesse
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2:51 - 2:53um elevador existencial.
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2:53 - 2:54(Risos)
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2:54 - 2:56Isto não me parecia muito plausível.
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2:56 - 3:00Eu costumava ver um noticiário televisivo
para crianças, naquela altura, -
3:00 - 3:02e esta era a Era da Exploração Espacial.
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3:02 - 3:04Havia sempre foguetões
a subirem pelo céu acima, -
3:04 - 3:07em direção ao espaço, indo lá acima.
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3:07 - 3:09Mas nenhum dos astronautas,
quando regressavam, -
3:09 - 3:12alguma vez mencionou
ter encontrado o meu avô -
3:12 - 3:15ou quaisquer outras pessoas falecidas.
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3:15 - 3:16Mas eu estava assustado,
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3:16 - 3:19e a ideia de tomar o elevador existencial
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3:19 - 3:20para ir ver o meu avô
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3:20 - 3:22soava melhor do que eu ser engolido
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3:22 - 3:24pelo vazio durante o sono.
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3:25 - 3:27Por isso, eu acreditava nisso,
de qualquer forma, -
3:27 - 3:30mesmo apesar de não fazer muito sentido.
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3:30 - 3:33E este processo de raciocínio
por que passei em criança, -
3:33 - 3:35e pelo qual tenho passado
muitas vezes desde então, -
3:35 - 3:36incluindo em adulto,
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3:36 - 3:38é o produto do que os psicólogos
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3:38 - 3:40chamam um preconceito.
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3:40 - 3:43Um preconceito é a forma
como, sistematicamente, -
3:43 - 3:45entendemos mal as coisas,
-
3:45 - 3:48as formas como erramos
no cálculo, no juízo, -
3:48 - 3:51distorcemos a realidade,
ou vemos o que queremos ver. -
3:51 - 3:54O preconceito de que estou a falar
-
3:54 - 3:55funciona assim:
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3:55 - 3:57Confrontem pessoas com o facto
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3:57 - 3:59de que elas vão morrer
-
3:59 - 4:02e elas acreditarão
em praticamente qualquer história -
4:02 - 4:04que lhes diga que isso não é verdade
-
4:04 - 4:06e que elas podem,
em vez disso, viver para sempre, -
4:06 - 4:09mesmo que isso signifique
tomar o elevador existencial. -
4:10 - 4:15Vemos isto como
o maior preconceito de todos. -
4:15 - 4:16Isto tem sido demonstrado
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4:16 - 4:19em mais de 400 estudos empíricos.
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4:19 - 4:22Estes estudos são engenhosos,
mas simples. -
4:22 - 4:24Eles funcionam assim:
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4:24 - 4:25Temos dois grupos de pessoas
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4:25 - 4:28semelhantes em todos os aspetos relevantes
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4:28 - 4:31e lembramos a um grupo
de que eles irão morrer -
4:31 - 4:34mas não ao outro e, depois,
comparamos o comportamento deles. -
4:34 - 4:37Portanto, estamos a observar
como isto influencia o comportamento -
4:37 - 4:40quando as pessoas se tornam
conscientes da sua mortalidade. -
4:41 - 4:44E de todas as vezes,
obtemos o mesmo resultado: -
4:44 - 4:47as pessoas que foram
consciencializadas da sua mortalidade -
4:47 - 4:49estão mais abertas a acreditar em histórias
-
4:49 - 4:51que lhes digam que podem escapar à morte
-
4:51 - 4:52e viver para sempre.
-
4:53 - 4:55Aqui está um exemplo: um estudo recente
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4:55 - 4:57incidiu sobre dois grupos de agnósticos
-
4:57 - 4:59— isto é, pessoas que estão indecisas
-
4:59 - 5:02quanto às suas crenças religiosas.
-
5:02 - 5:05A um grupo foi pedido para
pensar sobre "estar-se morto". -
5:05 - 5:09Ao outro grupo foi pedido para
pensar sobre "estar-se só". -
5:09 - 5:12Foram então questionados outra vez
sobre as suas crenças religiosas. -
5:12 - 5:15Aqueles a quem tinha sido pedido
para pensarem sobre "estar-se morto" -
5:15 - 5:19foram depois duas vezes
mais propensos a expressarem fé -
5:19 - 5:20em Deus e Jesus.
-
5:20 - 5:22Duas vezes mais propensos.
-
5:22 - 5:24Mesmo que antes fossem todos
igualmente agnósticos. -
5:24 - 5:26Mas meta-se neles o medo da morte,
-
5:26 - 5:28e correm para Jesus.
-
5:30 - 5:33Isto mostra que,
lembrar às pessoas a morte, -
5:33 - 5:36fá-las propensas a acreditar,
apesar das evidências. -
5:36 - 5:39Isto funciona não só para a religião
-
5:39 - 5:41mas para qualquer tipo
de sistema de crenças -
5:41 - 5:44que prometa a imortalidade
de alguma maneira, -
5:44 - 5:46quer seja tornar-se famoso
-
5:46 - 5:47ou ter filhos,
-
5:47 - 5:49ou até o nacionalismo,
-
5:49 - 5:52que nos promete que podemos viver
como parte de um Todo maior. -
5:52 - 5:54Este é um preconceito que modelou
-
5:54 - 5:57o curso da História da Humanidade.
-
5:57 - 6:00A teoria por detrás deste preconceito
-
6:00 - 6:02nos mais de 400 estudos
-
6:02 - 6:03é chamada de "teoria de gestão do terror"
-
6:03 - 6:05e a ideia é simples.
-
6:05 - 6:06É simplesmente isto.
-
6:06 - 6:08Nós desenvolvemos os nossos
pontos de vista do mundo -
6:08 - 6:11isto é, as histórias
que contamos a nós próprios -
6:11 - 6:13acerca do mundo e do nosso lugar nele,
-
6:13 - 6:17de forma a ajudar-nos
a gerir o terror da morte. -
6:18 - 6:20E estas histórias de imortalidade
-
6:20 - 6:23têm milhares de diferentes manifestações.
-
6:23 - 6:27Mas creio que, por detrás
da aparente diversidade, -
6:27 - 6:30há apenas, na verdade,
quatro formas básicas -
6:30 - 6:33que estas histórias
de imortalidade podem assumir. -
6:33 - 6:35Podemos vê-las a repetirem-se a si mesmas
-
6:35 - 6:38através da História,
apenas com ligeiras variações -
6:38 - 6:41que refletem o vocabulário da época.
-
6:41 - 6:43Vou apresentar brevemente
-
6:43 - 6:46essas quatro formas básicas
de história da imortalidade. -
6:46 - 6:47Quero tentar dar-vos alguma noção
-
6:47 - 6:51do modo como são recontadas
por cada cultura ou geração -
6:51 - 6:54usando o vocabulário da sua época.
-
6:54 - 6:56A primeira história é a mais simples.
-
6:56 - 6:58Queremos evitar a morte
-
6:58 - 7:01e o sonho de o fazer neste corpo,
-
7:01 - 7:02neste mundo, para sempre,
-
7:02 - 7:05é o primeiro e mais simples tipo
de história da imortalidade. -
7:05 - 7:08Pode parecer, a princípio,
pouco plausível -
7:08 - 7:12mas, na verdade, quase todas as culturas
na História da Humanidade -
7:12 - 7:14tiveram algum mito ou lenda
-
7:14 - 7:17de um elixir da vida ou
de uma fonte da juventude -
7:17 - 7:21ou de algo que nos prometa
manter-nos vivos para sempre. -
7:22 - 7:24O Antigo Egito teve mitos assim,
-
7:24 - 7:27a Antiga Babilónia, a Antiga Índia.
-
7:27 - 7:30Ao longo da História da Europa,
encontramo-los no trabalho dos alquimistas, -
7:30 - 7:32e claro que ainda acreditamos nisso hoje,
-
7:32 - 7:36só que contamos esta história
usando o vocabulário da ciência. -
7:36 - 7:38Então, há cem anos,
-
7:38 - 7:40as hormonas tinham acabado
de ser descobertas, -
7:40 - 7:42e as pessoas esperavam que
os tratamentos hormonais -
7:42 - 7:44fossem curar o envelhecimento e a doença.
-
7:44 - 7:47Agora, em vez disso, depositamos
as nossas esperanças nas células estaminais, -
7:47 - 7:49na engenharia genética
e na nanotecnologia. -
7:49 - 7:53Mas a ideia de que a ciência
pode eliminar a morte -
7:53 - 7:58é apenas mais um capítulo
na história do elixir mágico, -
7:58 - 8:01uma história que é
tão antiga como a civilização. -
8:02 - 8:05Mas apostarmos tudo
na ideia de encontrar o elixir -
8:05 - 8:07para nos manter vivos para sempre
-
8:07 - 8:08é uma estratégia arriscada.
-
8:08 - 8:11Quando olhamos para a História
-
8:11 - 8:13para todos os que procuraram
um elixir no passado, -
8:13 - 8:15a única coisa que eles têm agora em comum
-
8:15 - 8:17é que estão todos mortos.
-
8:17 - 8:18(Risos)
-
8:18 - 8:22Portanto, precisamos de um plano alternativo,
e é exatamente este tipo de plano B -
8:22 - 8:25que o segundo tipo de história
da imortalidade oferece: -
8:25 - 8:27É a ressurreição.
-
8:27 - 8:29Reside na ideia de que eu sou este corpo,
-
8:29 - 8:31eu sou este organismo físico.
-
8:31 - 8:33Ela aceita que vou ter de morrer
-
8:33 - 8:35mas diz que, apesar disso,
-
8:35 - 8:37eu posso erguer-me e voltar a viver.
-
8:37 - 8:40Por outras palavras,
posso fazer o que Jesus fez. -
8:40 - 8:43Jesus morreu, esteve três dias no túmulo
-
8:43 - 8:45e depois ergueu-se e voltou a viver.
-
8:45 - 8:48A ideia de que todos nós podemos
ser ressuscitados e voltar a viver -
8:48 - 8:51é uma crença ortodoxa,
não apenas para os cristãos -
8:51 - 8:53mas também para os judeus
e para os muçulmanos. -
8:53 - 8:55Mas o nosso desejo
de acreditar nesta história -
8:55 - 8:57está tão profundamente entranhado
-
8:57 - 8:59que o estamos a reinventar outra vez
-
8:59 - 9:01para a era científica,
-
9:01 - 9:04por exemplo, com a ideia da criogenia.
-
9:04 - 9:05É a ideia de que, quando morremos,
-
9:05 - 9:07podemo-nos fazer congelar,
-
9:07 - 9:09e depois, a dado momento,
-
9:09 - 9:11quando a tecnologia tiver
avançado suficientemente, -
9:11 - 9:13podemos ser descongelados,
intervencionados e reanimados -
9:13 - 9:15e, deste modo, ressuscitados.
-
9:15 - 9:17E assim, algumas pessoas
creem num Deus Omnipotente -
9:17 - 9:19que os irá ressuscitar
para viverem outra vez, -
9:19 - 9:22e outras pessoas creem que será
um cientista omnipotente a fazê-lo. -
9:23 - 9:26Mas para outros,
toda a ideia de ressurreição, -
9:26 - 9:28de sair da sepultura,
-
9:28 - 9:31é demasiado parecida
com um mau filme de "zombies". -
9:31 - 9:34Elas acham o corpo demasiado sujo,
demasiado pouco fiável -
9:34 - 9:36para garantir a vida eterna.
-
9:36 - 9:38Por isso, depositam as suas esperanças
-
9:38 - 9:41na terceira e mais espiritual
história da imortalidade, -
9:41 - 9:43a ideia de que podemos
abandonar o nosso corpo -
9:43 - 9:45e viver como alma.
-
9:46 - 9:48A maioria das pessoas na Terra
-
9:48 - 9:49creem que têm uma alma
-
9:49 - 9:52e a ideia é central a muitas religiões.
-
9:52 - 9:54Mas ainda que, na sua forma atual,
-
9:54 - 9:56na sua forma tradicional,
-
9:56 - 9:58a ideia de alma seja ainda
imensamente popular, -
9:58 - 10:00apesar disso, estamos de novo
-
10:00 - 10:02a reinventá-la para a era digital,
-
10:02 - 10:04por exemplo, com a ideia
-
10:04 - 10:05de que podemos abandonar o nosso corpo
-
10:05 - 10:07carregando a nossa mente,
a nossa essência, -
10:07 - 10:09o nosso verdadeiro Eu, para um computador,
-
10:09 - 10:12e viver assim como um "avatar" no éter.
-
10:14 - 10:16Mas, claro que há céticos
que dizem que, -
10:16 - 10:18se olharmos para a evidência da ciência,
-
10:18 - 10:19particularmente a neurociência,
-
10:19 - 10:21sugere-nos que a nossa mente,
-
10:21 - 10:23a nossa essência, o nosso verdadeiro Eu,
-
10:23 - 10:25está muito dependente
de uma parte em particular -
10:25 - 10:27do nosso corpo, isto é, o nosso cérebro.
-
10:27 - 10:30E tais céticos podem encontrar conforto
-
10:30 - 10:32no quarto tipo de história da imortalidade
-
10:32 - 10:35e que é o legado,
-
10:35 - 10:36a ideia de que se pode viver para sempre
-
10:36 - 10:38através do eco que deixamos no mundo,
-
10:38 - 10:41como o grande guerreiro grego Aquiles,
-
10:41 - 10:43que sacrificou a sua vida
a combater em Tróia -
10:43 - 10:46de forma a ganhar uma fama imortal.
-
10:46 - 10:49A busca de fama é generalizada
-
10:49 - 10:51e popular agora mais do que nunca.
-
10:51 - 10:52Na nossa era digital
-
10:52 - 10:54é ainda mais fácil de conseguir.
-
10:54 - 10:56Vocês não precisam de ser
grandes guerreiros como Aquiles -
10:56 - 10:58ou grandes reis ou heróis.
-
10:58 - 11:01Tudo o que precisam é de ter uma
ligação de Internet e um gato engraçado. -
11:01 - 11:03(Risos)
-
11:03 - 11:05Mas algumas pessoas preferem
deixar um legado biológico -
11:05 - 11:08mais tangível — filhos, por exemplo.
-
11:08 - 11:10Ou gostam, esperam continuar a viver
-
11:10 - 11:13como parte de um Todo maior,
-
11:13 - 11:14uma nação ou família ou tribo,
-
11:14 - 11:16o seu conjunto de genes.
-
11:17 - 11:18Mas, mais uma vez, há céticos
-
11:18 - 11:20que duvidam que o legado
-
11:20 - 11:22seja, realmente, a imortalidade.
-
11:22 - 11:24Woody Allen, por exemplo, que disse:
-
11:24 - 11:27"Eu não quero viver para sempre
nos corações dos meus compatriotas. -
11:27 - 11:29"Quero viver para sempre
no meu apartamento." -
11:29 - 11:32Então, esses foram os quatro tipos básicos
-
11:32 - 11:33de histórias de imortalidade,
-
11:33 - 11:35e tentei apenas dar algum sentido
-
11:35 - 11:37ao modo como elas
são recontadas por cada geração -
11:37 - 11:39com ligeiras variações, apenas,
-
11:39 - 11:41para se ajustarem à moda da época.
-
11:41 - 11:44E o facto de elas continuarem
a existir desta forma, -
11:44 - 11:47numa forma tão semelhante mas
em sistemas de crença tão diferentes, -
11:47 - 11:49sugere, penso eu,
-
11:49 - 11:51que deveríamos ser céticos da verdade
-
11:51 - 11:55contida em qualquer
versão destas histórias. -
11:55 - 11:57O facto de algumas pessoas acreditarem
-
11:57 - 12:00num Deus Omnipotente que
as irá ressuscitar para voltarem a viver -
12:00 - 12:03e outros acreditarem que
um cientista omnipotente o irá fazer -
12:03 - 12:07sugere que nem uns nem outros
realmente acreditam nisso -
12:07 - 12:09face à evidência.
-
12:09 - 12:12Pelo contrário, nós acreditamos
nestas histórias -
12:12 - 12:14porque estamos inclinados
a acreditar nelas, -
12:14 - 12:15e estamos inclinados a acreditar nelas
-
12:15 - 12:18porque temos muito medo da morte.
-
12:20 - 12:22Por isso, a questão é:
-
12:22 - 12:25"Estamos condenados a viver
a única vida que temos -
12:25 - 12:29"modelada pelo medo e pela negação
-
12:29 - 12:32"ou podemos ultrapassar este preconceito?"
-
12:32 - 12:34Bem, o filósofo grego Epicuro
-
12:34 - 12:36achou que podíamos.
-
12:36 - 12:40Ele argumentou que
o medo da morte é natural -
12:40 - 12:42mas não é racional.
-
12:42 - 12:45"A morte" — disse ele — "nada é para nós,
-
12:45 - 12:48"porque quando estamos vivos,
a morte não existe, -
12:48 - 12:51"e quando a morte chega,
não existimos nós ." -
12:51 - 12:53Ora isto é frequentemente
citado, mas é difícil -
12:53 - 12:55de apreender realmente,
de interiorizar, de facto, -
12:55 - 12:59porque é esta ideia de deixarmos
de existir que é difícil de imaginar. -
13:00 - 13:02Por isso, dois mil anos mais tarde,
-
13:02 - 13:05outro filósofo, Ludwig Wittgenstein
explicou assim: -
13:05 - 13:08"A morte não é um acontecimento na vida.
-
13:08 - 13:12"Nós não vivemos para
ter experiência da morte. -
13:12 - 13:14"E por isso" — acrescentou —
-
13:14 - 13:16"neste sentido, a vida não tem fim."
-
13:16 - 13:19Por isso, era natural para mim em criança
-
13:19 - 13:22ter medo de ser engolido pelo vazio,
-
13:22 - 13:24mas não era racional,
-
13:24 - 13:26porque ser engolido pelo vazio
-
13:26 - 13:28não é algo que algum de nós
-
13:28 - 13:30alguma vez vá experienciar em vida.
-
13:31 - 13:33Agora, ultrapassar
este preconceito não é fácil -
13:33 - 13:37porque o medo da morte está
tão profundamente entranhado em nós. -
13:37 - 13:41No entanto, quando vemos
que o medo em si não é racional, -
13:41 - 13:46e quando expomos as maneiras
como ele nos pode influenciar, -
13:46 - 13:50então podemos, pelo menos,
começar a tentar minimizar a influência -
13:50 - 13:52que tem nas nossas vidas.
-
13:53 - 13:56Ajuda ver a vida como se fosse um livro:
-
13:57 - 13:59tal como um livro está limitado
pela capa e contracapa, -
13:59 - 14:01pelo princípio e pelo fim,
-
14:01 - 14:04assim as nossas vidas estão limitadas
pelo nascimento e pela morte. -
14:04 - 14:08E ainda que um livro seja limitado
pelo princípio e pelo fim, -
14:08 - 14:10ele pode abarcar paisagens distantes,
-
14:10 - 14:13figuras exóticas, aventuras fantásticas.
-
14:13 - 14:16E mesmo que um livro seja limitado
pelo princípio e pelo fim, -
14:16 - 14:18as personagens dentro dele
-
14:18 - 14:21não conhecem os limites dos horizontes.
-
14:21 - 14:24Elas apenas conhecem os momentos
que criam a sua história, -
14:24 - 14:27mesmo quando o livro é fechado.
-
14:27 - 14:29Assim, as personagens de um livro
-
14:29 - 14:33não têm medo de chegar à última página.
-
14:33 - 14:36Long John Silver não tem medo
-
14:36 - 14:38que vocês acabem o vosso exemplar
da "Ilha do Tesouro". -
14:38 - 14:40E assim deve ser convoso.
-
14:40 - 14:42Imaginem o livro das vossas vidas,
-
14:42 - 14:45a sua capa e contracapa, o seu princípio
e fim, o vosso nascimento e morte. -
14:45 - 14:47Vocês apenas conseguem conhecer
os momentos intermédios -
14:47 - 14:49os momentos que criam a vossa vida.
-
14:49 - 14:51Não faz sentido terem medo
-
14:51 - 14:53do que está fora das capas,
-
14:53 - 14:54seja antes do vosso nascimento
-
14:54 - 14:56seja depois da vossa morte.
-
14:56 - 14:59Não precisam de se preocupar
com o tamanho do livro -
14:59 - 15:02ou se é uma banda desenhada ou um épico.
-
15:02 - 15:04A única coisa que importa
-
15:04 - 15:07é que façam dele uma boa história.
-
15:07 - 15:08Obrigado.
-
15:08 - 15:12(Aplausos)
- Title:
- As quatro histórias que contamos a nós próprios sobre a morte
- Speaker:
- Stephen Cave
- Description:
-
O filósofo Stephen Cave começa com uma sombria mas irresistível questão: "Quando é que vocês se aperceberam, pela primeira vez, de que iriam morrer?" E ainda mais interessante: "Porque é que nós, humanos, resistimos tão frequentemente à inevitabilidade da morte?" Numa palestra fascinante, Stephen Cave explora quatro narrativas — comuns a todas as civilizações — que contamos a nós próprios "de maneira a ajudar-nos a gerir o terror da morte."
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 15:33
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for The 4 stories we tell ourselves about death | ||
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for The 4 stories we tell ourselves about death | ||
Isabel Vaz Belchior approved Portuguese subtitles for The 4 stories we tell ourselves about death | ||
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for The 4 stories we tell ourselves about death | ||
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