Para resolver problemas globais, olhem para os países em desenvolvimento
-
0:01 - 0:05Eu sou um ativista de ideias.
-
0:06 - 0:11Isso significa que eu luto
pelas ideias em que acredito -
0:11 - 0:14para que as pessoas
tenham um lugar ao sol, -
0:14 - 0:18independentemente da parte do mundo
em que nasceram. -
0:19 - 0:21Como eu também devia ter.
-
0:21 - 0:23Eu sou daquela parte do mundo
-
0:23 - 0:27frequente e eufemisticamente
referida como "o Sul Global" -
0:27 - 0:29ou "o mundo em desenvolvimento".
-
0:29 - 0:30Mas vamos ser honestos:
-
0:30 - 0:34quando dizemos estas palavras,
o que queremos dizer é o mundo pobre, -
0:34 - 0:38aqueles cantos do mundo
com recipientes prontos a usar -
0:38 - 0:42para as ideias em segunda mão
de outros lugares e de outras pessoas. -
0:45 - 0:49Mas eu estou aqui
para sair um pouquinho do roteiro -
0:49 - 0:51e para tentar convencer-vos
-
0:51 - 0:55que esses lugares, na verdade,
estão vivos e cheios de ideias. -
0:55 - 0:58O meu grande problema é:
por onde começar? -
0:58 - 1:03Talvez por Alexandria, no Egito,
-
1:03 - 1:05onde conhecemos Rizwan.
-
1:05 - 1:07Quando ele sai da sua tenda,
-
1:07 - 1:10vai a uma farmácia
buscar remédios para o coração -
1:10 - 1:13que podem impedir a coagulação
do sangue nas artérias. -
1:13 - 1:15Ele lida com o facto de que,
-
1:17 - 1:20apesar de uma epidemia crescente
-
1:20 - 1:26que atualmente causa 82%
de todas as mortes no Egito, -
1:26 - 1:29são os medicamentos que
podem resolver essa situação -
1:29 - 1:33que os falsificadores
— como génios do mal que sempre são — -
1:33 - 1:35decidiram contemplar.
-
1:35 - 1:39Falsificadores que fabricam
medicamentos falsos. -
1:40 - 1:42Felizmente, para Rizwan,
-
1:42 - 1:44a minha equipa e eu,
-
1:44 - 1:49trabalhando em parceria com a maior
empresa farmacêutica de África -
1:49 - 1:52colocámos códigos únicos
-
1:52 - 1:55— pensem neles
como "passwords" descartáveis — -
1:55 - 2:00em cada pacote do medicamento
para o coração, mais vendido no Egito. -
2:00 - 2:04Assim, quando Rizwan
compra o medicamento para o coração, -
2:04 - 2:08ele pode digitar essas senhas descartáveis
-
2:08 - 2:10para uma ligação gratuita
-
2:10 - 2:15que montámos em todas as empresas
de telecomunicações no Egito -
2:15 - 2:16de graça.
-
2:16 - 2:20Depois, recebe uma mensagem
— chamem-lhe "mensagem da vida" — -
2:20 - 2:22que o tranquiliza, dizendo-lhe
-
2:22 - 2:28que aquele medicamento não é
um dos 12% dos remédios no Egito -
2:29 - 2:31que são falsificados.
-
2:31 - 2:34Das esplendorosas margens do Nilo,
-
2:34 - 2:39passamos para
o belo Vale do Rift no Quénia. -
2:39 - 2:43Na cidade de Narok, conhecemos Ole Lenku,
um homem íntegro. -
2:43 - 2:45Quando ele entra numa loja
de produtos agrícolas, -
2:45 - 2:49quer sementes de couve certificadas
-
2:49 - 2:51que lhe garantam que,
se ele as plantar, -
2:51 - 2:53renderão uma colheita
suficientemente rica -
2:53 - 2:55para ele pagar as mensalidades
da escola dos seus filhos. -
2:55 - 2:57É só o que ele quer.
-
2:57 - 2:59Infelizmente,
-
2:59 - 3:02segundo o cálculo da maioria
das organizações internacionais, -
3:02 - 3:0740% de todas as sementes
vendidas na África Oriental e do Sul -
3:07 - 3:08são de qualidade duvidosa,
-
3:08 - 3:10e às vezes totalmente falsas.
-
3:11 - 3:12Felizmente para Ole,
-
3:13 - 3:16mais uma vez, a nossa equipa
deitou-se ao trabalho -
3:16 - 3:20e, trabalhando com o principal
regulador agrícola no Quénia, -
3:20 - 3:24digitalizámos todo
o processo de certificação -
3:24 - 3:25para sementes, naquele país,
-
3:25 - 3:29para cada semente
— milhete, sorgo, milho — -
3:29 - 3:35de modo que, quando Ole Lenku
digita um código num pacote de milhete, -
3:36 - 3:41ele pode consultar
um certificado digital -
3:41 - 3:45que lhe assegura que a semente
está devidamente certificada. -
3:45 - 3:48Do Quénia,
dirigimo-nos para Noida, na Índia -
3:48 - 3:51onde a imparável Ambika
-
3:51 - 3:56está a progredir rapidamente quanto
ao sonho de se tornar uma atleta de elite, -
3:56 - 3:57sabendo com toda a segurança
-
3:57 - 4:01que, graças à nossa tecnologia
de catalogação de ingredientes, -
4:01 - 4:03não irá ingerir algo que, acidentalmente,
-
4:03 - 4:06vá atrapalhar os seus exames "antidoping"
-
4:07 - 4:10afastando-a dos desportos que ela adora.
-
4:11 - 4:14Finalmente, chegamos a Gana,
-
4:14 - 4:16o meu país de origem,
-
4:16 - 4:19onde há outro problema
que precisa de ser abordado, -
4:19 - 4:22o problema da falta de vacinação
ou de vacinas de baixa qualidade. -
4:23 - 4:28Quando colocamos vacinas
na corrente sanguínea das crianças, -
4:28 - 4:31estamos a proporcionar-lhes
um seguro de vida -
4:31 - 4:35contra doenças perigosas
que podem causar deformações ou a morte. -
4:35 - 4:37Às vezes, isso é para toda a vida,
-
4:37 - 4:41O problema é que as vacinas
são organismos muito delicados, -
4:42 - 4:45e têm de ser armazenadas
entre dois e oito graus. -
4:45 - 4:49Se não fizermos isso,
elas perdem o seu poder, -
4:49 - 4:51e deixarão de conferir a imunidade
-
4:51 - 4:53de que as crianças precisam.
-
4:54 - 4:57Trabalhando com cientistas
de visão informática, -
4:57 - 5:01transformámos marcadores simples
nos frascos das vacinas -
5:01 - 5:04numa coisa que podemos considerar
como autênticos termómetros. -
5:04 - 5:08Esses padrões mudam lentamente
ao longo do tempo, reagindo à temperatura -
5:08 - 5:11até que deixam um padrão diferente
na superfície da vacina, -
5:11 - 5:15de modo que uma enfermeira,
com um "scan" do telefone, -
5:15 - 5:19pode detetar se a vacina foi armazenada
adequadamente na temperatura certa -
5:19 - 5:21e ainda pode ser usada
-
5:21 - 5:24antes de a aplicar na criança,
-
5:25 - 5:27protegendo assim a geração seguinte.
-
5:27 - 5:33Estas são algumas das soluções
para salvar vidas e resgatar sociedades, -
5:33 - 5:35nestas partes do mundo.
-
5:35 - 5:37Mas vou lembrar-vos
-
5:37 - 5:39que há ideias poderosas por detrás delas
-
5:39 - 5:41e vou recapitular algumas.
-
5:41 - 5:46Primeiro, confiança social
não é o mesmo que confiança interpessoal. -
5:46 - 5:49Segundo, a divisão entre
consumo e regulamentação -
5:49 - 5:52num mundo cada vez mais interdependente
-
5:52 - 5:53já não é viável.
-
5:53 - 5:56E terceiro, a autonomia descentralizada,
-
5:56 - 5:59independentemente do que dizem
os entusiastas do "blockchain" no Ocidente -
5:59 - 6:01— que eu respeito muito —
-
6:01 - 6:05não é tão importante como reforçar
"feedbacks" de responsabilidade social. -
6:06 - 6:08Estas são algumas das ideias.
-
6:08 - 6:11Sempre que vou a algum lugar
e faço esta palestra -
6:11 - 6:15e faço estes comentários
e forneço estes exemplos, -
6:15 - 6:16as pessoas dizem:
-
6:16 - 6:19"Se essas ideias são tão brilhantes,
porque não são difundidas? -
6:19 - 6:20"Nunca ouvi falar delas."
-
6:20 - 6:22Quero garantir-vos
-
6:22 - 6:25que a razão pela qual vocês
nunca ouviram falar destas ideias -
6:25 - 6:28é exatamente o ponto
que referi no início. -
6:28 - 6:31Ou seja, que há partes no mundo
-
6:31 - 6:34onde as boas ideias não vingam,
-
6:34 - 6:37por causa da latitude do lugar
onde nasceram. -
6:37 - 6:40Chamo-lhe "imperialismo
mental da latitude". -
6:40 - 6:41(Risos)
-
6:41 - 6:44É essa a verdadeira razão.
-
6:44 - 6:45Vocês podem dizer:
-
6:45 - 6:47"Isso pode ser um grande problema
-
6:47 - 6:49"mas é um problema obscuro
nalgumas partes do mundo. -
6:49 - 6:51"Porque é que quer
generalizar esse problema? -
6:51 - 6:53"Ou seja, há locais melhores."
-
6:53 - 6:56E se, em resposta, eu vos disser
-
6:56 - 7:00que, na verdade, por detrás de cada um
destes problemas que descrevi, -
7:00 - 7:02há um problema básico
de quebra de confiança -
7:02 - 7:04nos mercados e nas instituições,
-
7:04 - 7:07e não há nada mais global,
mais universal, mais próximo de nós -
7:07 - 7:09do que o problema da confiança.
-
7:09 - 7:14Por exemplo, um quarto
de todo o marisco vendido nos EUA -
7:14 - 7:16está falsamente rotulado.
-
7:16 - 7:19Quando compramos uma sanduíche
de atum ou de salmão em Manhattan -
7:19 - 7:23podemos estar a comer algo
que foi proibido no Japão por ser tóxico. -
7:23 - 7:24Literalmente.
-
7:24 - 7:27Muitos de vocês ouviram falar
duma época em que a carne de vaca -
7:27 - 7:30dos hambúrgueres na Europa
afinal era carne de cavalo. -
7:30 - 7:31Vocês ouviram falar.
-
7:31 - 7:36O que vocês não sabem é que boa parte
desses hambúrgueres falsos -
7:36 - 7:41também estavam contaminados
com cádmio, que pode danificar os rins. -
7:41 - 7:43Isto foi na Europa.
-
7:43 - 7:47Vocês estão cientes dos acidentes
de aviões e preocupam-se com eles, -
7:47 - 7:50porque, de vez em quando,
um deles é do vosso conhecimento. -
7:50 - 7:52Mas aposto que vocês não sabem
-
7:52 - 7:57que uma simples investigação
revelou um milhão de falsificações -
7:57 - 7:59na cadeia de suprimentos
aeronáuticos nos EUA. -
7:59 - 8:02Portanto, isto é um problema global,
ponto final. -
8:02 - 8:04É um problema global.
-
8:04 - 8:08O único motivo para não estarmos
a enfrentá-lo com a urgência necessária -
8:08 - 8:09é porque as melhores soluções,
-
8:09 - 8:12as soluções mais avançadas,
mais progressistas, -
8:12 - 8:15infelizmente, estão em partes do planeta
onde as soluções não se propagam. -
8:15 - 8:17Por isso, não é surpreendente
-
8:17 - 8:20que as tentativas para criar os mesmos
modelos de verificação para os fármacos -
8:20 - 8:23estejam uma década atrasados
nos EUA e na Europa, -
8:23 - 8:25quando já estão disponíveis na Nigéria.
-
8:25 - 8:28Uma década de atraso
e custando cem vezes mais. -
8:28 - 8:31Por isso, quando entramos
num Walgreens em Nova Iorque, -
8:31 - 8:33não podemos verificar
a origem do medicamento -
8:33 - 8:35mas podemos fazê-lo
em Maiduguri, na Nigéria. -
8:35 - 8:36Essa é a realidade.
-
8:36 - 8:37(Aplausos)
-
8:37 - 8:38Essa é a realidade.
-
8:39 - 8:40(Aplausos)
-
8:40 - 8:43Então, voltamos ao problema das ideias.
-
8:43 - 8:47Lembrem-se, as soluções
são apenas ideias empacotadas. -
8:47 - 8:49Assim, as ideias
são as coisas mais importantes. -
8:49 - 8:52Num mundo onde marginalizamos
as ideias do Sul Global, -
8:52 - 8:56não podemos criar modelos inclusivos
globais de solução de problemas. -
8:56 - 8:58Vocês podem dizer:
-
8:58 - 9:04"Isso é mau, mas num mundo
com tantos problemas -
9:04 - 9:06"precisaremos de mais uma causa?"
-
9:06 - 9:08Eu digo que sim, que precisamos
de mais uma causa. -
9:08 - 9:11Essa causa vai surpreender-vos:
a causa da justiça intelectual. -
9:11 - 9:12Vocês dirão:
-
9:12 - 9:15"Justiça intelectual?
Num mundo de abusos de direitos humanos?" -
9:15 - 9:17Eu passo a explicar.
-
9:17 - 9:20Todos os problemas que nos afetam,
com que nos confrontamos, -
9:20 - 9:21precisam de soluções.
-
9:21 - 9:24Precisamos das melhores ideias
para combatê-los. -
9:24 - 9:26É por isso que eu pergunto:
-
9:26 - 9:29Podemos dar uma hipótese
à justiça intelectual? -
9:30 - 9:33(Aplausos)
- Title:
- Para resolver problemas globais, olhem para os países em desenvolvimento
- Speaker:
- Bright Simons
- Description:
-
Para resolver o problema dos produtos falsificados, empresários africanos como Bright Simons, criaram maneiras inovadoras e eficazes de confirmar que os produtos são genuínos. Agora ele pergunta: porque é que essas soluções não estão em toda a parte? Dos medicamentos protegidos por uma senha a cultivos certificados digitalmente, Simons demonstra o poder das ideias locais e pede ao resto do mundo que o ouça.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 09:48
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