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Para resolver problemas globais, olhem para os países em desenvolvimento

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    Eu sou um ativista de ideias.
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    Isso significa que eu luto
    pelas ideias em que acredito
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    para que as pessoas
    tenham um lugar ao sol,
  • 0:14 - 0:18
    independentemente da parte do mundo
    em que nasceram.
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    Como eu também devia ter.
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    Eu sou daquela parte do mundo
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    frequente e eufemisticamente
    referida como "o Sul Global"
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    ou "o mundo em desenvolvimento".
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    Mas vamos ser honestos:
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    quando dizemos estas palavras,
    o que queremos dizer é o mundo pobre,
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    aqueles cantos do mundo
    com recipientes prontos a usar
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    para as ideias em segunda mão
    de outros lugares e de outras pessoas.
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    Mas eu estou aqui
    para sair um pouquinho do roteiro
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    e para tentar convencer-vos
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    que esses lugares, na verdade,
    estão vivos e cheios de ideias.
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    O meu grande problema é:
    por onde começar?
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    Talvez por Alexandria, no Egito,
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    onde conhecemos Rizwan.
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    Quando ele sai da sua tenda,
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    vai a uma farmácia
    buscar remédios para o coração
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    que podem impedir a coagulação
    do sangue nas artérias.
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    Ele lida com o facto de que,
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    apesar de uma epidemia crescente
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    que atualmente causa 82%
    de todas as mortes no Egito,
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    são os medicamentos que
    podem resolver essa situação
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    que os falsificadores
    — como génios do mal que sempre são —
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    decidiram contemplar.
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    Falsificadores que fabricam
    medicamentos falsos.
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    Felizmente, para Rizwan,
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    a minha equipa e eu,
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    trabalhando em parceria com a maior
    empresa farmacêutica de África
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    colocámos códigos únicos
  • 1:52 - 1:55
    — pensem neles
    como "passwords" descartáveis —
  • 1:55 - 2:00
    em cada pacote do medicamento
    para o coração, mais vendido no Egito.
  • 2:00 - 2:04
    Assim, quando Rizwan
    compra o medicamento para o coração,
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    ele pode digitar essas senhas descartáveis
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    para uma ligação gratuita
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    que montámos em todas as empresas
    de telecomunicações no Egito
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    de graça.
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    Depois, recebe uma mensagem
    — chamem-lhe "mensagem da vida" —
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    que o tranquiliza, dizendo-lhe
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    que aquele medicamento não é
    um dos 12% dos remédios no Egito
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    que são falsificados.
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    Das esplendorosas margens do Nilo,
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    passamos para
    o belo Vale do Rift no Quénia.
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    Na cidade de Narok, conhecemos Ole Lenku,
    um homem íntegro.
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    Quando ele entra numa loja
    de produtos agrícolas,
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    quer sementes de couve certificadas
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    que lhe garantam que,
    se ele as plantar,
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    renderão uma colheita
    suficientemente rica
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    para ele pagar as mensalidades
    da escola dos seus filhos.
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    É só o que ele quer.
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    Infelizmente,
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    segundo o cálculo da maioria
    das organizações internacionais,
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    40% de todas as sementes
    vendidas na África Oriental e do Sul
  • 3:07 - 3:08
    são de qualidade duvidosa,
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    e às vezes totalmente falsas.
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    Felizmente para Ole,
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    mais uma vez, a nossa equipa
    deitou-se ao trabalho
  • 3:16 - 3:20
    e, trabalhando com o principal
    regulador agrícola no Quénia,
  • 3:20 - 3:24
    digitalizámos todo
    o processo de certificação
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    para sementes, naquele país,
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    para cada semente
    — milhete, sorgo, milho —
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    de modo que, quando Ole Lenku
    digita um código num pacote de milhete,
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    ele pode consultar
    um certificado digital
  • 3:41 - 3:45
    que lhe assegura que a semente
    está devidamente certificada.
  • 3:45 - 3:48
    Do Quénia,
    dirigimo-nos para Noida, na Índia
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    onde a imparável Ambika
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    está a progredir rapidamente quanto
    ao sonho de se tornar uma atleta de elite,
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    sabendo com toda a segurança
  • 3:57 - 4:01
    que, graças à nossa tecnologia
    de catalogação de ingredientes,
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    não irá ingerir algo que, acidentalmente,
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    vá atrapalhar os seus exames "antidoping"
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    afastando-a dos desportos que ela adora.
  • 4:11 - 4:14
    Finalmente, chegamos a Gana,
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    o meu país de origem,
  • 4:16 - 4:19
    onde há outro problema
    que precisa de ser abordado,
  • 4:19 - 4:22
    o problema da falta de vacinação
    ou de vacinas de baixa qualidade.
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    Quando colocamos vacinas
    na corrente sanguínea das crianças,
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    estamos a proporcionar-lhes
    um seguro de vida
  • 4:31 - 4:35
    contra doenças perigosas
    que podem causar deformações ou a morte.
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    Às vezes, isso é para toda a vida,
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    O problema é que as vacinas
    são organismos muito delicados,
  • 4:42 - 4:45
    e têm de ser armazenadas
    entre dois e oito graus.
  • 4:45 - 4:49
    Se não fizermos isso,
    elas perdem o seu poder,
  • 4:49 - 4:51
    e deixarão de conferir a imunidade
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    de que as crianças precisam.
  • 4:54 - 4:57
    Trabalhando com cientistas
    de visão informática,
  • 4:57 - 5:01
    transformámos marcadores simples
    nos frascos das vacinas
  • 5:01 - 5:04
    numa coisa que podemos considerar
    como autênticos termómetros.
  • 5:04 - 5:08
    Esses padrões mudam lentamente
    ao longo do tempo, reagindo à temperatura
  • 5:08 - 5:11
    até que deixam um padrão diferente
    na superfície da vacina,
  • 5:11 - 5:15
    de modo que uma enfermeira,
    com um "scan" do telefone,
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    pode detetar se a vacina foi armazenada
    adequadamente na temperatura certa
  • 5:19 - 5:21
    e ainda pode ser usada
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    antes de a aplicar na criança,
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    protegendo assim a geração seguinte.
  • 5:27 - 5:33
    Estas são algumas das soluções
    para salvar vidas e resgatar sociedades,
  • 5:33 - 5:35
    nestas partes do mundo.
  • 5:35 - 5:37
    Mas vou lembrar-vos
  • 5:37 - 5:39
    que há ideias poderosas por detrás delas
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    e vou recapitular algumas.
  • 5:41 - 5:46
    Primeiro, confiança social
    não é o mesmo que confiança interpessoal.
  • 5:46 - 5:49
    Segundo, a divisão entre
    consumo e regulamentação
  • 5:49 - 5:52
    num mundo cada vez mais interdependente
  • 5:52 - 5:53
    já não é viável.
  • 5:53 - 5:56
    E terceiro, a autonomia descentralizada,
  • 5:56 - 5:59
    independentemente do que dizem
    os entusiastas do "blockchain" no Ocidente
  • 5:59 - 6:01
    — que eu respeito muito —
  • 6:01 - 6:05
    não é tão importante como reforçar
    "feedbacks" de responsabilidade social.
  • 6:06 - 6:08
    Estas são algumas das ideias.
  • 6:08 - 6:11
    Sempre que vou a algum lugar
    e faço esta palestra
  • 6:11 - 6:15
    e faço estes comentários
    e forneço estes exemplos,
  • 6:15 - 6:16
    as pessoas dizem:
  • 6:16 - 6:19
    "Se essas ideias são tão brilhantes,
    porque não são difundidas?
  • 6:19 - 6:20
    "Nunca ouvi falar delas."
  • 6:20 - 6:22
    Quero garantir-vos
  • 6:22 - 6:25
    que a razão pela qual vocês
    nunca ouviram falar destas ideias
  • 6:25 - 6:28
    é exatamente o ponto
    que referi no início.
  • 6:28 - 6:31
    Ou seja, que há partes no mundo
  • 6:31 - 6:34
    onde as boas ideias não vingam,
  • 6:34 - 6:37
    por causa da latitude do lugar
    onde nasceram.
  • 6:37 - 6:40
    Chamo-lhe "imperialismo
    mental da latitude".
  • 6:40 - 6:41
    (Risos)
  • 6:41 - 6:44
    É essa a verdadeira razão.
  • 6:44 - 6:45
    Vocês podem dizer:
  • 6:45 - 6:47
    "Isso pode ser um grande problema
  • 6:47 - 6:49
    "mas é um problema obscuro
    nalgumas partes do mundo.
  • 6:49 - 6:51
    "Porque é que quer
    generalizar esse problema?
  • 6:51 - 6:53
    "Ou seja, há locais melhores."
  • 6:53 - 6:56
    E se, em resposta, eu vos disser
  • 6:56 - 7:00
    que, na verdade, por detrás de cada um
    destes problemas que descrevi,
  • 7:00 - 7:02
    há um problema básico
    de quebra de confiança
  • 7:02 - 7:04
    nos mercados e nas instituições,
  • 7:04 - 7:07
    e não há nada mais global,
    mais universal, mais próximo de nós
  • 7:07 - 7:09
    do que o problema da confiança.
  • 7:09 - 7:14
    Por exemplo, um quarto
    de todo o marisco vendido nos EUA
  • 7:14 - 7:16
    está falsamente rotulado.
  • 7:16 - 7:19
    Quando compramos uma sanduíche
    de atum ou de salmão em Manhattan
  • 7:19 - 7:23
    podemos estar a comer algo
    que foi proibido no Japão por ser tóxico.
  • 7:23 - 7:24
    Literalmente.
  • 7:24 - 7:27
    Muitos de vocês ouviram falar
    duma época em que a carne de vaca
  • 7:27 - 7:30
    dos hambúrgueres na Europa
    afinal era carne de cavalo.
  • 7:30 - 7:31
    Vocês ouviram falar.
  • 7:31 - 7:36
    O que vocês não sabem é que boa parte
    desses hambúrgueres falsos
  • 7:36 - 7:41
    também estavam contaminados
    com cádmio, que pode danificar os rins.
  • 7:41 - 7:43
    Isto foi na Europa.
  • 7:43 - 7:47
    Vocês estão cientes dos acidentes
    de aviões e preocupam-se com eles,
  • 7:47 - 7:50
    porque, de vez em quando,
    um deles é do vosso conhecimento.
  • 7:50 - 7:52
    Mas aposto que vocês não sabem
  • 7:52 - 7:57
    que uma simples investigação
    revelou um milhão de falsificações
  • 7:57 - 7:59
    na cadeia de suprimentos
    aeronáuticos nos EUA.
  • 7:59 - 8:02
    Portanto, isto é um problema global,
    ponto final.
  • 8:02 - 8:04
    É um problema global.
  • 8:04 - 8:08
    O único motivo para não estarmos
    a enfrentá-lo com a urgência necessária
  • 8:08 - 8:09
    é porque as melhores soluções,
  • 8:09 - 8:12
    as soluções mais avançadas,
    mais progressistas,
  • 8:12 - 8:15
    infelizmente, estão em partes do planeta
    onde as soluções não se propagam.
  • 8:15 - 8:17
    Por isso, não é surpreendente
  • 8:17 - 8:20
    que as tentativas para criar os mesmos
    modelos de verificação para os fármacos
  • 8:20 - 8:23
    estejam uma década atrasados
    nos EUA e na Europa,
  • 8:23 - 8:25
    quando já estão disponíveis na Nigéria.
  • 8:25 - 8:28
    Uma década de atraso
    e custando cem vezes mais.
  • 8:28 - 8:31
    Por isso, quando entramos
    num Walgreens em Nova Iorque,
  • 8:31 - 8:33
    não podemos verificar
    a origem do medicamento
  • 8:33 - 8:35
    mas podemos fazê-lo
    em Maiduguri, na Nigéria.
  • 8:35 - 8:36
    Essa é a realidade.
  • 8:36 - 8:37
    (Aplausos)
  • 8:37 - 8:38
    Essa é a realidade.
  • 8:39 - 8:40
    (Aplausos)
  • 8:40 - 8:43
    Então, voltamos ao problema das ideias.
  • 8:43 - 8:47
    Lembrem-se, as soluções
    são apenas ideias empacotadas.
  • 8:47 - 8:49
    Assim, as ideias
    são as coisas mais importantes.
  • 8:49 - 8:52
    Num mundo onde marginalizamos
    as ideias do Sul Global,
  • 8:52 - 8:56
    não podemos criar modelos inclusivos
    globais de solução de problemas.
  • 8:56 - 8:58
    Vocês podem dizer:
  • 8:58 - 9:04
    "Isso é mau, mas num mundo
    com tantos problemas
  • 9:04 - 9:06
    "precisaremos de mais uma causa?"
  • 9:06 - 9:08
    Eu digo que sim, que precisamos
    de mais uma causa.
  • 9:08 - 9:11
    Essa causa vai surpreender-vos:
    a causa da justiça intelectual.
  • 9:11 - 9:12
    Vocês dirão:
  • 9:12 - 9:15
    "Justiça intelectual?
    Num mundo de abusos de direitos humanos?"
  • 9:15 - 9:17
    Eu passo a explicar.
  • 9:17 - 9:20
    Todos os problemas que nos afetam,
    com que nos confrontamos,
  • 9:20 - 9:21
    precisam de soluções.
  • 9:21 - 9:24
    Precisamos das melhores ideias
    para combatê-los.
  • 9:24 - 9:26
    É por isso que eu pergunto:
  • 9:26 - 9:29
    Podemos dar uma hipótese
    à justiça intelectual?
  • 9:30 - 9:33
    (Aplausos)
Title:
Para resolver problemas globais, olhem para os países em desenvolvimento
Speaker:
Bright Simons
Description:

Para resolver o problema dos produtos falsificados, empresários africanos como Bright Simons, criaram maneiras inovadoras e eficazes de confirmar que os produtos são genuínos. Agora ele pergunta: porque é que essas soluções não estão em toda a parte? Dos medicamentos protegidos por uma senha a cultivos certificados digitalmente, Simons demonstra o poder das ideias locais e pede ao resto do mundo que o ouça.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:48

Portuguese subtitles

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