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Só pela discussão

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    Meu nome é Dan Cohen, e eu sou
    um acadêmico, como ele disse.
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    E o que isso significa é que eu discuto.
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    É uma parte importante da minha vida,
    e eu gosto de discutir.
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    E eu não sou apenas
    um acadêmico, sou um filósofo,
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    então gosto de pensar que sou
    realmente muito bom em discutir.
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    Mas eu também gosto
    de pensar muito sobre discussão.
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    E pensando sobre discussão,
    eu me deparei com alguns enigmas,
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    e um dos enigmas é que
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    como estive pensando
    sobre discussão ao longo dos anos,
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    e já se passaram décadas,
    eu melhorei minha discussão,
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    mas quanto mais eu discuto
    e melhor fico na discussão,
  • 0:35 - 0:38
    mais eu perco. E isso é um enigma.
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    E o outro enigma é que eu
    não me importo com isso.
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    Por que é que não me importo de perder
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    e por que é que acho que os bons argumentadores
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    são realmente melhores em perder?
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    Bem, há alguns outros enigmas.
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    Um deles é, por que discutir?
    Quem ganha com discussões?
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    E quando eu penso
    em discussões agora, estou falando,
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    vamos chamá-las de discussões
    acadêmicas ou discussões cognitivas,
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    onde algo cognitivo está em jogo.
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    Essa proposta é verdade?
    Essa é uma boa teoria?
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    Será que é uma interpretação viável
    dos dados ou do texto?
  • 1:06 - 1:09
    E assim por diante. Eu não estou mesmo
    interessado em discussões
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    sobre de quem é a vez de lavar a louça
    ou quem tem que tirar o lixo.
  • 1:12 - 1:15
    Sim, nós temos essas discussões também.
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    Eu costumo ganhar essas discussões,
    porque eu conheço os truques.
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    Mas essas não são as discussões importantes.
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    Estou interessado em
    discussões acadêmicas hoje,
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    e aqui estão as coisas que me intrigam.
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    Primeiro, o que bons argumentadores ganham
    quando ganham uma discussão?
  • 1:28 - 1:30
    O que eu ganho se eu convencê-lo que
  • 1:30 - 1:33
    utilitarismo não é o quadro adequado
    para pensar sobre teorias éticas?
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    Então, o que nós ganhamos
    quando ganhamos uma discussão?
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    Mesmo antes disso, o que me importa
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    se você tem essa ideia
    de que a teoria de Kant funciona
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    ou Mill é o moralista
    mais adequado de seguir?
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    Não me faz a menor diferença se você pensa
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    que o funcionalismo é uma teoria viável da mente.
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    Então, por que ainda tentamos argumentar?
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    Por que tentamos convencer outras pessoas
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    a acreditar em coisas em que
    elas não querem acreditar?
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    E será que é uma coisa agradável a fazer?
    Será que é uma boa maneira
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    de tratar outro ser humano, tentar fazê-los
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    pensar em algo em que
    eles não querem pensar?
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    Bem, a minha resposta vai fazer referência a
  • 2:07 - 2:08
    três modelos de discussão.
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    O primeiro modelo, vamos chamá-lo
    de modelo dialético,
  • 2:10 - 2:13
    é que pensamos sobre discussões como
    uma guerra e vocês sabem como é isso.
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    Há um monte de gritos e berros
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    e ganhadores e perdedores,
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    e isso não é mesmo um modelo
    muito útil de discussão
  • 2:18 - 2:21
    mas é um modelo muito comum
    e enraizado de discussão.
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    Mas há um segundo modelo de discussão:
    discussões como provas.
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    Pense na discussão de um matemático.
  • 2:27 - 2:30
    Eis meu argumento.
    Será que funciona? Será que é bom?
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    As premissas são justificadas?
    As inferências são válidas?
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    A conclusão segue das premissas?
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    Sem oposição, sem adversariedade,
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    não necessariamente uma discussão
    no sentido adversarial.
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    Mas há um terceiro modelo a ter em mente
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    que eu acho vai ser muito útil,
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    e são discussões como performances,
  • 2:52 - 2:54
    discussões como estar
    na frente de uma plateia.
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    Podemos pensar em um político
    tentando apresentar uma posição,
  • 2:57 - 2:59
    tentando convencer
    o público de alguma coisa.
  • 2:59 - 3:02
    Mas há outro detalhe neste modelo
    que eu realmente acho que é importante,
  • 3:02 - 3:06
    que quando discutimos
    na frente de uma plateia,
  • 3:06 - 3:11
    às vezes a plateia tem um papel
    mais participativo na discussão,
  • 3:11 - 3:15
    isto é, discussões também são
    audiências na frente de júris
  • 3:15 - 3:18
    que fazem um julgamento e decidem o caso.
  • 3:18 - 3:20
    Vamos chamar isso de modelo retórico,
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    onde você tem que adaptar seu argumento
    para o público à disposição.
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    Sabem, apresentar uma discussão sólida,
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    bem construída e firme em inglês
    para um público francófono
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    simplesmente não vai funcionar.
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    Então temos esses modelos --
    discussão como guerra,
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    discussão como prova
    e discussão como performance.
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    Desses três, a discussão
    como guerra é a dominante.
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    Ela domina como falamos de discussões,
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    domina o modo como
    pensamos sobre discussões,
  • 3:47 - 3:50
    e por isso, molda como discutimos,
  • 3:50 - 3:52
    nossa verdadeira conduta nas discussões.
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    Agora, quando falamos de discussões,
  • 3:53 - 3:55
    Sim, falamos numa linguagem
    bem militarista.
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    Queremos discussões fortes,
    discussões que tenham ímpeto,
  • 3:59 - 4:01
    discussões que vão direto ao alvo.
  • 4:01 - 4:04
    Queremos ter nossas defesas preparadas
    e nossas estratégias em ordem.
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    Queremos discussões matadoras.
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    Esse é o tipo de discussão que queremos.
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    É a forma dominante
    de pensar sobre discussões.
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    Quando falo de discussões,
    foi provavelmente nisso
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    que vocês pensaram, no modelo adversarial.
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    Mas a metáfora de guerra,
    o paradigma de guerra
  • 4:20 - 4:22
    ou modelo de pensar sobre as discussões,
  • 4:22 - 4:25
    tem, eu acho, efeitos deformantes
    na forma como discutimos.
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    Primeiro ele prioriza tática
    em detrimento à substância.
  • 4:28 - 4:31
    Você pode estudar lógica, argumentação.
  • 4:31 - 4:33
    Você aprende tudo sobre
    os subterfúgios que as pessoas usam
  • 4:33 - 4:35
    para tentar ganhar
    discussões, os falsos passos.
  • 4:35 - 4:39
    Isso amplia o aspecto de nós-contra-eles.
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    Torna-se adversarial. É polarizador.
  • 4:42 - 4:46
    E os únicos resultados previsíveis
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    são triunfo, triunfo glorioso,
    ou uma miserável derrota vergonhosa.
  • 4:51 - 4:54
    Acho que esses são os efeitos
    deformantes, e o pior de tudo,
  • 4:54 - 4:57
    parece evitar coisas como negociação
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    ou deliberação ou compromisso
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    ou colaboração.
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    Pensem sobre isso. Alguma vez vocês
    já entraram em uma discussão
  • 5:04 - 5:08
    pensando: "Vamos ver se conseguimos
    botar algo para fora
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    ao invés de brigar. O que
    podemos trabalhar juntos?"
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    E eu acho que a metáfora
    da discussão como guerra
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    inibe os outros tipos de resolução
    para a argumentação
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    E, finalmente, esta é
    realmente a pior coisa,
  • 5:20 - 5:22
    discussões não parecem
    nos levar a lugar nenhum.
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    São becos sem saída. São rotatórias
  • 5:25 - 5:28
    ou engarrafamentos ou
    um impasse na conversa.
  • 5:28 - 5:30
    Não chegamos a lugar nenhum.
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    Ah, e mais uma coisa, e como educador,
  • 5:32 - 5:35
    é esta que realmente me incomoda:
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    Se a discussão é uma guerra,
    então há uma equação implícita
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    de aprender com a perda.
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    E deixem-me explicar o que quero dizer.
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    Suponha que você e eu
    tenhamos uma discussão.
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    Você acredita em uma
    proposição, P, e eu não.
  • 5:50 - 5:52
    E eu digo: "Bem, por que
    você acredita em P?"
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    E você me dá suas razões.
  • 5:54 - 5:56
    E eu me oponho e digo:
    "Bem, e que tal ... ?"
  • 5:56 - 5:58
    E você responde minha oposição.
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    E eu tenho uma pergunta:
    "Bem, o que você quer dizer?
  • 6:00 - 6:04
    Como isso se aplica aqui?
    E você responde minha pergunta.
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    Agora, suponhamos que, no final do dia,
  • 6:05 - 6:07
    eu tenha me oposto, tenha questionado,
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    levantei todos os tipos
    de contra-considerações,
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    e em todos os casos
    você respondeu à minha satisfação.
  • 6:14 - 6:16
    E assim, no final do dia, eu digo,
  • 6:16 - 6:20
    "Sabe o quê? Acho que você está certo. P."
  • 6:20 - 6:24
    E tenho uma nova crença.
    E não é apenas uma crença,
  • 6:24 - 6:29
    mas é uma bem articulada e examinada,
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    é uma crença testada em batalha.
  • 6:32 - 6:36
    Grande ganho cognitivo. Ok.
    Quem ganhou essa discussão?
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    Bem, a metáfora de guerra
    parece obrigar-nos a dizer
  • 6:39 - 6:42
    que você ganhou, mesmo que eu tenha sido
    o único que teve qualquer ganho cognitivo.
  • 6:42 - 6:46
    O que você ganhou
    cognitivamente ao me convencer?
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    Claro, você teve algum prazer com isso,
    talvez o seu ego afagado,
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    talvez você obteve algum
    status profissional no assunto.
  • 6:52 - 6:53
    Esse cara é um bom argumentador.
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    Mas cognitivamente -- só do ponto de vista
    cognitivo -- quem foi o vencedor?
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    A metáfora de guerra obriga-nos a pensar
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    que você é o vencedor e eu perdi,
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    mesmo que eu tenha ganhado.
  • 7:05 - 7:07
    E há algo de errado com essa imagem.
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    E é essa a imagem que eu realmente
    quero mudar, se pudermos.
  • 7:10 - 7:15
    Então, como podemos encontrar
    maneiras de fazer as discussões
  • 7:15 - 7:17
    produzirem algo positivo?
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    O que precisamos é de novas estratégias
    de saída para as discussões.
  • 7:21 - 7:24
    Mas não vamos ter novas estratégias
    de saída para as discussões
  • 7:24 - 7:27
    até que tenhamos novas abordagens
    de entrada para as discussões.
  • 7:27 - 7:31
    Precisamos pensar em
    novos tipos de discussão.
  • 7:31 - 7:34
    Para fazer isso, bem,
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    eu não sei como fazer.
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    Essa é a má notícia.
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    A metáfora da discussão como guerra
    é só-- é um monstro.
  • 7:41 - 7:43
    Só está tomando espaço em nossa mente,
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    e não há nenhuma
    bala mágica que vai matá-la.
  • 7:45 - 7:48
    Não há nenhuma varinha mágica
    que vai fazê-la desaparecer.
  • 7:48 - 7:49
    Eu não tenho uma resposta.
  • 7:49 - 7:53
    Mas tenho algumas sugestões
    e aqui vai a minha sugestão.
  • 7:53 - 7:56
    Se quisermos pensar
    em novos tipos de discussão,
  • 7:56 - 8:00
    o que precisamos fazer é pensar
    em novos tipos de argumentadores.
  • 8:00 - 8:02
    Então, tentem isso.
  • 8:02 - 8:07
    Pensem em todos os papéis que as pessoas
    desempenham nas discussões.
  • 8:07 - 8:10
    Há o proponente e o adversário
  • 8:10 - 8:12
    em uma discussão adversarial, dialética.
  • 8:12 - 8:14
    Há o público em discussões retóricas.
  • 8:14 - 8:18
    Há o pensador em discussões como prova.
  • 8:18 - 8:22
    Todos esses diferentes papéis.
    Agora, vocês podem imaginar uma discussão
  • 8:22 - 8:26
    em que vocês são o argumentador,
    mas também estão na plateia
  • 8:26 - 8:28
    observando-se discutir?
  • 8:28 - 8:31
    Vocês podem se imaginar
    vendo a si mesmo discutir,
  • 8:31 - 8:34
    perder a discussão, e ainda,
    no final da discussão,
  • 8:34 - 8:39
    dizer: "Uau, essa foi uma boa discussão."
  • 8:39 - 8:42
    Conseguem fazer isso? Eu acho que sim.
  • 8:42 - 8:44
    E acho que, se vocês puderem
    imaginar esse tipo de discussão
  • 8:44 - 8:46
    onde o perdedor diz ao vencedor
  • 8:46 - 8:47
    e o público e o júri podem dizer,
  • 8:47 - 8:49
    "Sim, essa foi uma boa discussão",
  • 8:49 - 8:51
    então vocês imaginaram uma boa discussão.
  • 8:51 - 8:53
    E mais do que isso,
    acho que vocês imaginaram
  • 8:53 - 8:56
    um bom argumentador,
    um argumentador que é digno
  • 8:56 - 9:00
    do tipo de argumentador
    que vocês deveriam tentar ser.
  • 9:00 - 9:02
    Agora, eu perco um monte de discussões.
  • 9:02 - 9:05
    É preciso prática para se tornar
    um bom argumentador
  • 9:05 - 9:07
    no sentido de ser capaz
    de se beneficiar de uma perda,
  • 9:07 - 9:09
    mas, felizmente, eu tive
    muitos, muitos colegas
  • 9:09 - 9:13
    que estiveram dispostos a se levantar
    e proporcionar essa prática para mim.
  • 9:13 - 9:14
    Obrigado.
  • 9:14 - 9:18
    (Aplausos)
Title:
Só pela discussão
Speaker:
Daniel H. Cohen
Description:

Por que nós discutimos? Para argumentar melhor que nossos oponentes, mostrar que estão errados e, principalmente, para ganhar! ... Certo? O filósofo Daniel H. Cohen mostra como nossa forma mais comum de discussão -- uma guerra onde uma pessoa tem que vencer e a outra tem que perder -- ignora o verdadeiro benefício de se envolver numa discordância ativa. (Filmado no TEDxColbyCollege)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:35

Portuguese, Brazilian subtitles

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