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Como estou combatendo o viés algorítmico

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    Olá, sou Joy, uma "poetisa dos códigos",
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    a minha missão é deter
    uma força invisível que tem crescido,
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    uma força que chamo de "olhar codificado",
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    é como chamo o viés algorítmico.
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    Tal como o preconceito humano,
    ele resulta em desigualdade.
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    Porém, os algoritmos, assim como os vírus,
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    podem espalhar o viés
    em grande escala e rapidamente.
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    O viés algorítmico também
    pode levar a experiências de exclusão
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    e a práticas discriminatórias.
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    Vou mostrar o que quero dizer.
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    (Vídeo) Joy Boulamwini:
    Oi, câmera. Tenho um rosto.
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    Consegue ver meu rosto?
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    Um rosto sem óculos?
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    Você consegue ver o rosto dela...
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    E o meu?
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    Estou usando uma máscara. Consegue vê-la?
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    Joy Boulamwini: Como isso aconteceu?
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    Por que estou diante de um computador,
    usando uma máscara branca,
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    tentando ser detectada
    por uma câmera barata?
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    Bom, quando não estou lutando
    contra o olhar codificado
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    como uma poetisa dos códigos,
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    faço pós-graduação
    no Laboratório de Mídia do MIT,
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    na qual tenho a oportunidade de trabalhar
    em diversos projetos bacanas,
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    inclusive no "Aspire Mirror",
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    projeto que criei para poder projetar
    máscaras digitais sobre minha imagem.
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    De manhã, se eu quisesse me sentir
    poderosa, poderia usar uma de leão.
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    Se precisasse de uma inspiração,
    usaria uma citação.
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    Então, usei um software genérico
    de reconhecimento facial
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    para criar o sistema,
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    mas descobri que era bem difícil testá-lo,
    a não ser que usasse uma máscara branca.
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    Infelizmente, já tive esse problema antes.
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    Quando cursava minha graduação
    em ciência da computação na Georgia Tech,
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    eu trabalhava com robôs sociais,
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    e uma das minhas tarefas era fazer com que
    um robô brincasse de "Achou!",
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    um jogo simples de revezamento
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    em que uma pessoa cobre o rosto e depois
    o mostra à outra, dizendo: "Achou!"
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    O problema é que a brincadeira
    não dá certo se você não vê o outro,
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    e meu robô não me via.
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    Aí, peguei emprestado o rosto
    de uma amiga para fazer o projeto,
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    entreguei a tarefa
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    e pensei: "Sabe de uma coisa?
    Outra pessoa vai resolver esse problema".
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    Pouco tempo depois,
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    eu estava em Hong Kong,
    numa competição de empreendedorismo.
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    Os organizadores decidiram
    levar os participantes
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    pra visitar "start-ups" locais.
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    Uma das start-ups tinha um robô social,
    e eles decidiram fazer uma demonstração.
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    A demonstração funcionou com todos,
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    até que chegou a minha vez
    e, como vocês já podem imaginar,
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    ele não detectou meu rosto.
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    Perguntei aos desenvolvedores por quê,
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    e descobri que usaram o mesmo software
    genérico de reconhecimento facial que eu.
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    Do outro lado do mundo,
    descobri que o viés algorítmico
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    consegue viajar tão rápido
    quanto um download da internet.
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    O que estava acontecendo?
    Por que meu rosto não era detectado?
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    Bem, precisamos analisar
    como damos "visão" às máquinas.
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    A visão de computador utiliza
    técnicas de aprendizagem automática
  • 3:14 - 3:16
    para fazer o reconhecimento facial.
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    Funciona assim: você cria uma série
    de treinamento, com alguns rostos.
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    "Isto é um rosto. Isto é um isto.
    Isto não é um rosto."
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    Com o tempo, você ensina o computador
    a reconhecer outros rostos.
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    Porém, se as séries não forem
    diversificadas o bastante,
  • 3:31 - 3:34
    qualquer rosto que seja
    muito diferente dos demais
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    será mais difícil de detectar,
    e era isso que acontecia comigo.
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    Mas não se preocupem. Tenho boas notícias.
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    As séries de treinamento
    não surgem do nada.
  • 3:43 - 3:45
    Nós é que as criamos.
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    Então, podemos criar
    séries de amplo espectro,
  • 3:49 - 3:53
    que reflitam rostos humanos
    de forma mais diversa.
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    Vocês já viram nos exemplos que dei
  • 3:55 - 3:57
    como os robôs sociais
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    me fizeram ver a exclusão causada
    pelo viés algorítmico,
  • 4:02 - 4:06
    mas o viés algorítmico também
    pode acarretar práticas discriminatórias.
  • 4:07 - 4:09
    Em todos os Estados Unidos,
  • 4:09 - 4:13
    departamentos de polícia estão começando
    a usar softwares de reconhecimento facial
  • 4:13 - 4:16
    como parte de seu arsenal
    na luta contra o crime.
  • 4:16 - 4:18
    A Georgetown Law publicou um relatório
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    mostrando que um em cada dois adultos
    nos EUA, ou seja, 117 milhões de pessoas,
  • 4:24 - 4:28
    tiveram seus rostos incluídos
    em redes de reconhecimento facial.
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    Hoje, os departamentos de polícia podem
    usar essas redes sem qualquer regulação,
  • 4:33 - 4:37
    usando algoritmos que não tiveram
    sua precisão auditada.
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    Ainda assim, sabemos que
    o reconhecimento facial não é infalível,
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    e identificar rostos de forma consistente
    continua sendo um desafio.
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    Talvez já tenham visto isso no Facebook.
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    Eu e meus amigos rimos o tempo todo
    quando vemos outras pessoas
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    sendo marcadas incorretamente
    em nossas fotos.
  • 4:52 - 4:58
    Mas errar na identificação de um suspeito
    de crime não é nada engraçado,
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    nem violar liberdades civis.
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    A aprendizagem automática vem sendo
    usada no reconhecimento facial,
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    mas também vem se expandindo
    além da visão de computador.
  • 5:09 - 5:13
    Em seu livro "Weapons
    of Math Destruction",
  • 5:13 - 5:20
    a cientista de dados Cathy O'Neil
    fala sobre a ascensão dos novos "DMDs"
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    algoritmos "disseminados,
    misteriosos e destrutivos"
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    que têm sido cada vez mais utilizados
    na tomada de decisões
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    que impactam mais aspectos
    das nossas vidas.
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    Quem será contratado ou demitido?
  • 5:32 - 5:35
    Vai conseguir aquele
    empréstimo, ou seguro?
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    Vai entrar na faculdade que você queria?
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    Eu e você pagamos o mesmo valor
    pelo mesmo produto
  • 5:42 - 5:44
    vendido na mesma loja?
  • 5:44 - 5:48
    A segurança pública também está começando
    a usar a aprendizagem automática
  • 5:48 - 5:50
    no policiamento preditivo.
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    Alguns juízes utilizam índices
    de risco gerados por máquinas
  • 5:53 - 5:58
    para determinar quanto tempo
    um indivíduo ficará na prisão.
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    Temos realmente que refletir
    sobre essas decisões. Será que são justas?
  • 6:02 - 6:08
    E já vimos que o viés algorítmico
    nem sempre leva a resultados justos.
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    Então, o que podemos fazer?
  • 6:10 - 6:14
    Bem, podemos começar a pensar
    em como criar codificação mais inclusiva
  • 6:14 - 6:17
    e adotar práticas
    de codificação inclusivas.
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    Tudo começa com pessoas.
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    Então, é importante saber quem codifica.
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    Estamos criando equipes diversificadas,
    com indivíduos diferentes
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    que possam verificar
    pontos cegos uns dos outros?
  • 6:28 - 6:32
    Quanto ao aspecto técnico,
    a forma como codificamos é relevante.
  • 6:32 - 6:35
    Estamos levando em conta a equidade
    no desenvolvimento de sistemas?
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    Finalmente, a razão pela qual
    codificamos é relevante.
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    Utilizamos ferramentas de criação
    computacional para gerar imensas riquezas.
  • 6:44 - 6:48
    Hoje temos a oportunidade
    de gerar igualdade ainda maior,
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    se considerarmos a mudança
    social como uma prioridade
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    e não como algo de menos importância.
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    Esses são os três princípios na criação
    do movimento pela codificação inclusiva.
  • 6:59 - 7:00
    É importante quem codifica,
  • 7:00 - 7:02
    é importante como se codifica
  • 7:02 - 7:04
    e é importante por que se codifica.
  • 7:04 - 7:07
    Então, para uma codificação inclusiva,
    podemos começar a pensar
  • 7:07 - 7:10
    na criação de plataformas
    que identifiquem o viés,
  • 7:10 - 7:13
    coletando as experiências das pessoas,
    como as que eu contei aqui,
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    mas também auditando
    softwares já existentes.
  • 7:16 - 7:20
    Também podemos começar a criar
    séries de treinamento mais inclusivas.
  • 7:20 - 7:23
    Imaginem uma campanha
    de "'Selfies' pela Inclusão",
  • 7:23 - 7:26
    em que eu e vocês possamos ajudar
    os desenvolvedores a testar
  • 7:26 - 7:29
    e criar séries de treinamento
    mais inclusivas.
  • 7:29 - 7:32
    Também podemos começar
    a pensar de forma mais consciente
  • 7:32 - 7:37
    sobre o impacto social das tecnologias
    que temos desenvolvido.
  • 7:37 - 7:40
    Pra iniciarmos o movimento
    de codificação inclusiva
  • 7:40 - 7:43
    lancei a Liga da Justiça Algorítmica,
  • 7:43 - 7:49
    onde todos que se importem com a equidade
    podem lutar contra o olhar codificado.
  • 7:49 - 7:52
    Em codedgaze.com,
    vocês podem relatar vieses,
  • 7:52 - 7:55
    solicitar auditorias,
    participar dos testes
  • 7:55 - 7:57
    e se juntar ao debate que vem ocorrendo,
  • 7:57 - 8:00
    #codedgaze.
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    Convido vocês a se juntarem a mim
  • 8:03 - 8:07
    na criação de um mundo onde a tecnologia
    trabalhe em favor de todos,
  • 8:07 - 8:09
    não apenas em favor de alguns,
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    um mundo onde valorizemos a inclusão
    e tenhamos como foco a mudança social.
  • 8:14 - 8:15
    Obrigada.
  • 8:15 - 8:18
    (Aplausos)
  • 8:21 - 8:24
    Mas tenho uma pergunta:
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    Vocês vão se juntar a mim nessa luta?
  • 8:26 - 8:27
    (Risos)
  • 8:27 - 8:30
    (Aplausos)
Title:
Como estou combatendo o viés algorítmico
Speaker:
Joy Boulamwini
Description:

Joy Buolamwini , estudante de pósgradução do MIT, trabalhava com um software de reconhecimento facial quando percebeu um problema: o software não reconhecia seu rosto, porque as pessoas que codificaram o algoritmo não o haviam ensinado a reconhecer uma ampla gama de tons de pele e de estruturas faciais. Agora, sua missão é combater o viés na aprendizagem automática, um fenômeno que ela chama de "olhar codificado". É uma palestra esclarecedora sobre a necessidade de haver responsabilidade ao codificar, já que os algoritmos estão influenciando cada vez mais aspectos da nossa vida.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:46

Portuguese, Brazilian subtitles

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