Um olhar honesto ao preço, à inovação e a quem comanda a economia
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0:01 - 0:03Criação de valor.
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0:03 - 0:04Criação de riqueza.
-
0:04 - 0:06São palavras realmente poderosas.
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0:06 - 0:10Talvez vocês pensem em finanças,
inovação e em criatividade. -
0:10 - 0:12Mas quem são os criadores de valor?
-
0:12 - 0:16Se usarmos essa palavra, talvez estejamos
sugerindo que alguns não criam valor. -
0:16 - 0:19Quem são eles? Os sedentários no sofá?
-
0:19 - 0:21Os extratores de valor?
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0:21 - 0:23Os destruidores de valor?
-
0:23 - 0:27Para responder isso, precisamos ter
uma teoria adequada do valor. -
0:27 - 0:30E estou aqui, como economista,
para revelar a vocês -
0:30 - 0:33que acabamos nos perdendo nesta questão.
-
0:33 - 0:35Não fiquem tão surpresos.
-
0:35 - 0:38O que quero dizer é
que paramos de contestar, -
0:38 - 0:41de fazer as perguntas realmente difíceis
-
0:41 - 0:45sobre qual é a diferença
entre criação e extração de valor, -
0:45 - 0:47atividades produtivas e improdutivas.
-
0:47 - 0:49Permitam-me apresentar algum contexto.
-
0:49 - 0:53O ano de 2009, quase um ano e meio
-
0:53 - 0:55depois de uma das maiores
crises financeiras do nosso tempo, -
0:55 - 0:59perdendo apenas para
a Grande Depressão de 1929, -
0:59 - 1:02foi quando o CEO da Goldman Sachs disse
-
1:02 - 1:06que os funcionários deles eram
os mais produtivos no mundo. -
1:06 - 1:08Eficiência e produtividade,
para um economista, -
1:08 - 1:10têm muito a ver com valor.
-
1:10 - 1:13Você produz algo,
de modo dinâmico e eficiente. -
1:13 - 1:17Também produz o que o mundo
precisa, quer e compra. -
1:17 - 1:20Mas como isso poderia ter sido dito
apenas um ano após a crise -
1:20 - 1:23pela qual passou esse banco,
assim como muitos outros? -
1:23 - 1:26Estou criticando apenas o Goldman Sachs,
-
1:26 - 1:28no centro da crise, porque eles produziram
-
1:28 - 1:34produtos financeiros bem problemáticos,
não apenas relacionados a hipotecas, -
1:34 - 1:37que fizeram com que milhares de pessoas
perdessem a casa delas. -
1:37 - 1:40Em 2010, apenas no mês de setembro,
-
1:40 - 1:46120 mil pessoas perderam sua casa
com execuções de hipotecas daquela crise. -
1:46 - 1:49Entre 2007 e 2010,
-
1:49 - 1:528,8 milhões de pessoas perderam o emprego.
-
1:52 - 1:56O banco também precisou ser "socorrido"
na época pelo contribuinte norte-americano -
1:56 - 1:59pela soma de US$ 10 bilhões.
-
1:59 - 2:03Não ouvimos contribuintes se gabando,
considerando-se criadores de valor, -
2:03 - 2:07mas, tendo socorrido uma das maiores
companhias produtivas de criação de valor, -
2:07 - 2:08talvez devessem ter se gabado.
-
2:08 - 2:11A seguir, quero que nos perguntemos
-
2:12 - 2:13como nos perdemos,
-
2:13 - 2:17como foi que uma declaração como aquela
pôde quase passar despercebida, -
2:17 - 2:21pois não foi uma piada casual;
foi dita com muita seriedade. -
2:21 - 2:26Assim, quero levar vocês de volta
300 anos no pensamento econômico, -
2:26 - 2:28quando o termo foi contestado,
-
2:28 - 2:30o que não significa
que estavam certos ou errados, -
2:30 - 2:34mas não era possível simplesmente
se intitular criador de valor, de riqueza. -
2:34 - 2:37Havia muito debate entre os economistas.
-
2:37 - 2:39E argumento que meio
que nos perdemos no caminho, -
2:39 - 2:43e isso fez com que esse termo,
"criação de riqueza e valor", -
2:43 - 2:47se tornasse bem fraco e preguiçoso,
e fosse facilmente apreendido. -
2:47 - 2:52Vamos começar, odeio dizer
isso a vocês, há 300 anos. -
2:52 - 2:54O interessante, naquele tempo,
-
2:54 - 2:58é que a sociedade ainda era
tipicamente agrícola. -
2:58 - 3:01Então, não é nenhuma surpresa
que os economistas da época, -
3:01 - 3:03chamados de fisiocratas,
-
3:03 - 3:06colocavam o trabalho agrícola
no centro da atenção deles. -
3:06 - 3:10Quando indagavam: "De onde vem o valor?",
eles consideravam a agricultura. -
3:10 - 3:13E produziram o que foi, provavelmente,
a primeira planilha do mundo, -
3:13 - 3:15chamada "Tableau Économique",
-
3:15 - 3:19elaborada por François Quesnay,
um dos líderes deste movimento. -
3:19 - 3:21E foi bem interessante,
-
3:21 - 3:24pois eles não disseram apenas:
"Agricultura é a fonte de valor". -
3:24 - 3:28Eles se preocupavam com o que acontecia
com aquele valor quando era produzido. -
3:28 - 3:32O que o Tableau Économique fazia,
e tentei simplificar aqui para vocês, -
3:32 - 3:35era dividir as classes sociais em três.
-
3:35 - 3:38Os agricultores, criando valor,
eram chamados de "classe produtiva". -
3:38 - 3:41Os comerciantes, que apenas
moviam parte desse valor -
3:41 - 3:45mas eram úteis, necessários,
eram chamados de "proprietários". -
3:46 - 3:49E havia ainda outra classe
que cobrava uma taxa dos agricultores -
3:49 - 3:51por um ativo existente, as terras,
-
3:51 - 3:54e eles eram chamados de "classe estéril".
-
3:54 - 3:58Essa é uma palavra bem pesada
se pensarmos no seu significado: -
3:58 - 4:02se muitos dos recursos
vão para os proprietários, -
4:02 - 4:06isso coloca o potencial
de reprodução do sistema em risco. -
4:06 - 4:10Então, todas essas flechas ali
eram a maneira de simular... -
4:10 - 4:13planilhas e simuladores,
eles já usavam "big data", -
4:13 - 4:17o que realmente acontecia
em diferentes cenários -
4:17 - 4:20se a riqueza não estivesse sendo
reinvestida na produção -
4:20 - 4:22para tornar essas terras mais produtivas,
-
4:22 - 4:25mas sim desviada de maneiras diferentes,
-
4:25 - 4:28ou mesmo se os proprietários
estavam faturando demais. -
4:28 - 4:30Mais tarde nos anos 1800,
-
4:30 - 4:32e essa já não era mais
a Revolução Agrícola -
4:32 - 4:34mas a Industrial,
-
4:34 - 4:35os economistas clássicos,
-
4:35 - 4:39como Adam Smith, David Ricardo,
Karl Marx, o revolucionário, -
4:39 - 4:42também perguntaram: "O que é valor?"
-
4:42 - 4:46Mas não é de se surpreender que,
porque estavam vivendo numa era industrial -
4:46 - 4:48com o surgimento de máquinas e fábricas,
-
4:48 - 4:51eles disseram que se tratava
de trabalho industrial, -
4:51 - 4:53e havia uma "teoria trabalhista" do valor.
-
4:53 - 4:55Mas, de novo, o foco era a reprodução,
-
4:55 - 5:00uma preocupação real com o valor criado,
se ele estava sendo desviado. -
5:00 - 5:03E em "A Riqueza das Nações",
Adam Smith dá um ótimo exemplo -
5:03 - 5:05da fábrica de pinos, no qual ele disse
-
5:05 - 5:08que se houver apenas uma pessoa
fazendo cada parte do alfinete, -
5:08 - 5:11no máximo ela fará um alfinete por dia.
-
5:11 - 5:15Mas se você investisse em produção
de fábrica e divisão do trabalho, -
5:15 - 5:16no novo pensamento,
-
5:16 - 5:19hoje usaríamos a palavra
"inovação organizacional", -
5:19 - 5:23aumentando, assim, a produtividade,
e o crescimento e a riqueza das nações. -
5:23 - 5:25Ele mostrou que dez
trabalhadores bem treinados, -
5:25 - 5:28cujo capital humano
havia recebido investimento, -
5:28 - 5:30poderiam produzir 4,8 mil pinos ao dia,
-
5:30 - 5:34ao contrário de apenas um feito
por um trabalhador não treinado. -
5:34 - 5:36E ele e seus colegas economistas clássicos
-
5:36 - 5:39também dividiram as atividades
em produtivas e improdutivas. -
5:39 - 5:40(Risos)
-
5:40 - 5:42E as improdutivas não eram...
-
5:42 - 5:45Devem estar rindo porque a maioria
de vocês está nessa lista, não? -
5:45 - 5:47(Risos)
-
5:47 - 5:49Advogados!
-
5:49 - 5:52Acho que ele estava certo quanto a eles,
certamente não quanto aos professores -
5:52 - 5:54e outras profissões relacionadas.
-
5:54 - 5:58Então advogados, professores,
lojistas, músicos... -
5:58 - 5:59Ele obviamente odiava ópera.
-
5:59 - 6:02Deve ter visto a pior
apresentação da vida dele -
6:02 - 6:03na véspera de escrever este livro.
-
6:03 - 6:07Ao menos três profissões ali
têm a ver com ópera. -
6:07 - 6:10Mas esse não foi um exercício
para dizer: "Não façam essas coisas". -
6:10 - 6:11Era apenas: "O que acontecerá
-
6:11 - 6:15se acabarmos permitindo que partes
da economia cresçam muito, -
6:15 - 6:18sem realmente pensar em como
aumentar a produtividade -
6:18 - 6:22da fonte do valor, a qual eles
julgavam ser a mais importante, -
6:22 - 6:23ou seja, o trabalho industrial.
-
6:23 - 6:28E não se perguntem se isso está
certo ou errado; era só muito contestado. -
6:28 - 6:29Ao fazerem essas listas,
-
6:29 - 6:33isso os forçava também
a fazer perguntas interessantes. -
6:33 - 6:36E o foco dos economistas clássicos,
tal como o dos fisiocratas, -
6:36 - 6:40eram as condições objetivas da produção.
-
6:40 - 6:42Observavam também a luta de classes.
-
6:42 - 6:44A compreensão deles dos salários
-
6:44 - 6:48tinha a ver com o objetivo,
as relações de poder de barganha -
6:48 - 6:50do capital e do trabalho.
-
6:50 - 6:54Mas, novamente, fábricas,
máquinas, divisão do trabalho, -
6:54 - 6:56terras agrícolas e o que estava
acontecendo com tudo. -
6:56 - 6:59Então, a grande revolução
que aconteceu na época... -
6:59 - 7:02e isso, a propósito, nem sempre é
ensinado em aulas de economia, -
7:02 - 7:07com o sistema atual do pensamento
econômico que temos, -
7:07 - 7:09chamado de "economia neoclássica",
-
7:09 - 7:13foi que a lógica mudou totalmente
em duas maneiras: -
7:13 - 7:18deste foco em condições
objetivas para subjetivas. -
7:18 - 7:19Explicarei o que quero dizer.
-
7:19 - 7:21Objetiva, como expliquei;
-
7:21 - 7:23subjetiva, no sentido
de que toda a atenção -
7:23 - 7:27foi para como indivíduos diferentes
tomam suas decisões. -
7:28 - 7:32Trabalhadores estão maximizando
suas escolhas de lazer versus trabalho; -
7:32 - 7:35consumidores estão maximizando
seu chamado "utilitário", -
7:35 - 7:37que é um "proxy" para a felicidade,
-
7:37 - 7:40e empresas estão maximizando seus lucros.
-
7:40 - 7:43E a ideia por trás disso era
que então poderíamos agregar isso, -
7:43 - 7:45e vemos no que se transforma:
-
7:45 - 7:51essas curvas de oferta e procura bacanas
que produzem um preço de equilíbrio. -
7:51 - 7:56É assim porque também adicionamos
muitas equações da física newtoniana -
7:56 - 8:00nas quais os centros de gravidade
são boa parte do princípio organizador. -
8:00 - 8:03Mas o segundo ponto aqui
é que esses preços de equilíbrio -
8:03 - 8:05revelam valor.
-
8:05 - 8:08Assim, a revolução aqui é uma mudança
do objetivo ao subjetivo, -
8:08 - 8:12mas também a lógica
não tem mais a ver com o que é valor, -
8:12 - 8:14como está sendo determinado,
-
8:14 - 8:16qual é o potencial
reprodutivo da economia, -
8:16 - 8:20o que leva a uma teoria do preço,
mas sim o contrário: -
8:20 - 8:23uma teoria de preço e troca
que revela valor. -
8:23 - 8:25Essa é uma mudança enorme.
-
8:25 - 8:29E não é apenas um exercício acadêmico,
por mais fascinante que possa ser. -
8:29 - 8:31Afeta como medimos o crescimento,
-
8:31 - 8:35como guiamos economias pra produzir mais
de algumas atividades, menos de outras, -
8:35 - 8:39como também remuneramos
algumas atividades mais que outras. -
8:39 - 8:42E isso também faz você pensar:
-
8:42 - 8:45você é feliz em sair da cama,
se é criador de valor ou não, -
8:45 - 8:49e como é o próprio sistema de preços
se você não está determinando isso? -
8:49 - 8:53Eu mencionei que isso afeta
como pensamos sobre produção. -
8:53 - 8:57Se apenas incluirmos no PIB, por exemplo,
as atividades que têm preços, -
8:57 - 8:59muita coisa estranha acontece.
-
8:59 - 9:03Economistas feministas e ambientalistas
têm escrito bastante sobre isso. -
9:03 - 9:05Darei alguns exemplos.
-
9:05 - 9:11Se você se casar com a sua babá,
o PIB vai cair, então não faça isso. -
9:11 - 9:16Evite fazer isso, pois uma atividade
antes paga continua sendo feita, -
9:16 - 9:17mas não é mais paga.
-
9:17 - 9:20Se você polui, o PIB aumenta.
-
9:20 - 9:22Então não polua, mas se poluir,
ajudará a economia. -
9:22 - 9:26Por quê? Porque temos que pagar
alguém pra se livrar da poluição. -
9:26 - 9:29Também foi interessante
o que aconteceu com o financiamento, -
9:29 - 9:31no setor financeiro do PIB.
-
9:31 - 9:34Isso também é algo
que sempre me surpreende, -
9:34 - 9:35pois muitos economistas não sabem.
-
9:35 - 9:37Até 1970,
-
9:37 - 9:41boa parte do setor financeiro
nem era incluída no PIB. -
9:41 - 9:43Era meio que indireto,
talvez inconscientemente, -
9:43 - 9:46ainda sendo visto
através da lente dos fisiocratas -
9:46 - 9:50como um tipo de movimentação de coisas,
não produzindo nada de novo. -
9:50 - 9:54Então, apenas essas atividades
com um preço explícito eram incluídas. -
9:54 - 9:57Por exemplo, se você buscava
uma hipoteca, pagava uma taxa. -
9:57 - 10:01Isso ia pro PIB e para os registros
da receita e do produto nacional. -
10:01 - 10:04Mas, por exemplo, pagamentos
de juros líquidos não iam. -
10:04 - 10:07A diferença entre o que os bancos
estavam ganhando em juros, -
10:07 - 10:11se eles lhe dessem um empréstimo
e o que pagavam por um depósito, -
10:11 - 10:12isso não era incluído.
-
10:12 - 10:16E assim tesoureiros começaram
a observar alguns dados -
10:16 - 10:18que passaram a mostrar
que o número de financiamentos -
10:18 - 10:22e os pagamentos de juros líquidos
estavam crescendo substancialmente. -
10:22 - 10:24E chamaram isso de "problema bancário".
-
10:24 - 10:27Havia pessoas trabalhando
dentro das Nações Unidas, -
10:27 - 10:30em um grupo chamado
Systems Nacional Accounts, SNA, -
10:30 - 10:32que chamaram isso de problema bancário,
-
10:32 - 10:34tipo: "Nossa, isso é enorme,
e nem estamos incluindo-o". -
10:34 - 10:38Então, em vez de fazer
aquele Tableau Économique -
10:38 - 10:42ou essas perguntas fundamentais
que os clássicos também faziam, -
10:42 - 10:44por exemplo, sobre a divisão do trabalho
-
10:44 - 10:47entre diferentes tipos
de atividades na economia, -
10:47 - 10:50eles apenas deram um nome
a estes pagamentos de juros líquidos. -
10:50 - 10:53Os bancos comerciais chamaram
isso de "mediação financeira", -
10:53 - 10:55que foi para as contas do NIPA.
-
10:55 - 10:59Já os bancos de investimento chamaram
de "assunção dos riscos da atividade", -
10:59 - 11:00e isso foi aderido.
-
11:00 - 11:04Caso não tenha explicado corretamente,
a linha vermelha indica a rapidez -
11:04 - 11:07com que a mediação financeira
crescia como um todo, -
11:07 - 11:11comparada ao resto da economia,
a indústria, na linha azul. -
11:11 - 11:13E isso foi extraordinário,
-
11:13 - 11:17pois o que ocorreu, e hoje sabemos,
e muitos estão escrevendo a respeito, -
11:17 - 11:19esses dados são do Banco da Inglaterra,
-
11:19 - 11:24é que muito do que os financiamentos
fizeram de 1970 a 1980 em diante, -
11:24 - 11:29foi basicamente financiar a si mesmos:
financiamento financiando financiamento. -
11:29 - 11:32E isso significa financiamento,
seguros e mercado imobiliário. -
11:32 - 11:34Na verdade, no Reino Unido,
-
11:34 - 11:37cerca de 10% a 20% dos financiamentos
-
11:37 - 11:39encontram seu caminho
na economia real, na indústria, -
11:39 - 11:44digamos, no setor de energia, de TI,
de produtos farmacêuticos, -
11:44 - 11:49mas a maioria volta para financiamentos,
seguros e mercado imobiliário, -
11:49 - 11:53convenientemente chamado
de FIRE, fogo, em inglês. -
11:53 - 11:56Isso é interessante porque, de fato,
-
11:56 - 11:59não quer dizer que financiamento
seja bom ou ruim, -
11:59 - 12:02mas até o ponto de simplesmente
ter que dar um nome a ele, -
12:02 - 12:05porque havia uma renda sendo gerada,
-
12:05 - 12:08em vez de apenas perguntar:
"O que ele está realmente fazendo?" -
12:08 - 12:09foi uma oportunidade perdida.
-
12:09 - 12:15Do mesmo modo, na economia real,
na própria indústria, o que acontecia? -
12:15 - 12:20E esse foco real nos preços,
-
12:20 - 12:21e também seu compartilhamento,
-
12:21 - 12:24criou um enorme problema
de reinvestimento. -
12:24 - 12:28Novamente, a atenção real que ambos
os fisiocratas e os clássicos tinham -
12:28 - 12:31na medida em que o valor
sendo gerado na economia -
12:31 - 12:34estava de fato sendo reinvestido.
-
12:34 - 12:38Assim, o que temos hoje é
um setor industrial ultrafinanciado -
12:38 - 12:41no qual, cada vez mais, uma parte
dos lucros e da renda líquida -
12:41 - 12:44não está voltando à produção,
-
12:44 - 12:48em treinamento de capital humano,
em pesquisa e desenvolvimento, -
12:48 - 12:52mas apenas sendo desviado em termos
de recompra de suas próprias ações, -
12:52 - 12:53o que aumenta as opções de ações,
-
12:53 - 12:56que é como muitos executivos
estão sendo pagos. -
12:56 - 12:58E a recompra de ações é algo bom,
-
12:58 - 13:01mas esse sistema está
totalmente fora de controle. -
13:01 - 13:07Esses números mostram que nos últimos
10 anos, 466 das empresas S&P 500 -
13:07 - 13:11gastaram mais de US$ 4 trilhões
apenas recomprando suas ações. -
13:11 - 13:15E o que vemos se agregarmos
isso ao nível macroeconômico, -
13:15 - 13:17se observarmos o investimento
empresarial agregado, -
13:17 - 13:19que é uma porcentagem do PIB,
-
13:19 - 13:23também vemos uma queda nesse nível
de investimento empresarial. -
13:23 - 13:24E isso é um problema.
-
13:24 - 13:29Na verdade, é um problema enorme
para habilidades e criação de empregos. -
13:29 - 13:33Ouvimos falar muito sobre a atenção atual
para: "Robôs roubarão nossos empregos?" -
13:33 - 13:36Bem, a mecanização tem,
por séculos, eliminado empregos, -
13:36 - 13:40mas enquanto os lucros estavam
sendo reinvestidos na produção, -
13:40 - 13:42não importava; novos empregos surgiam.
-
13:42 - 13:45Mas essa falta de reinvestimento
é, na verdade, muito perigosa. -
13:45 - 13:50Do mesmo modo, na indústria farmacêutica,
por exemplo, como os preços são definidos, -
13:50 - 13:53é bem interessante como não se consideram
essas condições objetivas -
13:53 - 13:57da maneira coletiva na qual o valor
é criado na economia. -
13:57 - 14:02No setor com muitos atores diferentes
como público, privado, é claro, -
14:02 - 14:05mas também organizações
do setor terceirizado criando valor, -
14:05 - 14:10nós o medimos através
do próprio sistema de preços. -
14:10 - 14:11Os preços revelam valor.
-
14:11 - 14:12Então quando, recentemente,
-
14:12 - 14:18o preço de um antibiótico aumentou 400%
da noite pro dia, e perguntaram ao CEO: -
14:18 - 14:21"Como podem fazer isso? As pessoas
precisam desse antibiótico. É injusto". -
14:21 - 14:25Ele disse: "Temos um imperativo moral
de permitir que os preços subam -
14:25 - 14:27o máximo que o mercado suportar",
-
14:27 - 14:30descartando completamente o fato
de que nos EUA, por exemplo, -
14:30 - 14:34o National Institutes of Health
gastou mais de US$ 30 bilhões ao ano -
14:34 - 14:36na pesquisa médica que leva
a esses medicamentos. -
14:36 - 14:40Novamente, há falta de atenção
a essas condições objetivas, -
14:40 - 14:43permitindo que o próprio
sistema de preços revele o valor. -
14:43 - 14:46Esse não é apenas um exercício acadêmico,
-
14:46 - 14:48por mais interessante que seja.
-
14:48 - 14:51Tudo isso é importante mesmo
para como medimos a produção, -
14:51 - 14:53como direcionamos a economia,
-
14:53 - 14:55se sentimos que somos produtivos,
-
14:55 - 14:58quais setores acabamos ajudando, apoiando
-
14:58 - 15:02e fazendo com que as pessoas
tenham orgulho de fazer parte disso. -
15:02 - 15:03Voltando àquela citação,
-
15:03 - 15:06não é surpreendente que Blankfein
tenha dito aquilo. -
15:06 - 15:07Ele tinha razão.
-
15:07 - 15:11Do modo que medimos produção,
produtividade e valor na economia, -
15:11 - 15:14os funcionários da Goldman Sachs
são os mais produtivos! -
15:14 - 15:18Eles ganham mais; o preço
do trabalho revela o valor deles. -
15:18 - 15:21Mas isso torna-se tautológico, é claro.
-
15:21 - 15:23Há uma necessidade real de repensar:
-
15:23 - 15:26como estamos medindo a produção,
-
15:26 - 15:28e há algumas experiências
incríveis no mundo todo. -
15:28 - 15:33A Nova Zelândia, por exemplo, tem agora
um indicador nacional bruto de felicidade. -
15:33 - 15:37No Butão, também consideram
indicadores de felicidade e bem-estar. -
15:37 - 15:40Mas o problema é que não basta
ficar adicionando coisas. -
15:40 - 15:42Temos que pausar,
-
15:42 - 15:44e acho que é um oportuno momento pra isso,
-
15:44 - 15:48já que tão pouco parece ter mudado
desde a crise financeira, -
15:48 - 15:51para nos certificarmos
de que não estamos confundindo -
15:51 - 15:53extração de valor com criação de valor,
-
15:53 - 15:56considerando o que está incluído,
não apenas adicionando mais, -
15:56 - 16:00para garantir que não estamos, talvez,
confundindo aluguéis com lucros. -
16:00 - 16:03Aluguel, para os clássicos,
tinha a ver com renda não adquirida. -
16:03 - 16:06Hoje, quando se fala
em aluguéis, na economia, -
16:06 - 16:09é somente uma imperfeição
para um preço competitivo -
16:09 - 16:13que poderia ser contestado
se tirássemos algumas assimetrias. -
16:13 - 16:18Segundo, podemos direcionar atividades
para o que os clássicos chamavam -
16:18 - 16:19de "limite de produção".
-
16:19 - 16:21Não deve ser um "nós contra eles",
-
16:21 - 16:24financiamentos grandes e ruins
versus outros setores bons. -
16:24 - 16:26Podemos reformar o financiamento.
-
16:26 - 16:29Perdeu-se uma boa oportunidade,
de certa forma, após a crise. -
16:29 - 16:31Poderíamos ter tido o imposto
sobre transações financeiras, -
16:31 - 16:35que teria recompensado
o longo prazo sobre o curto prazo, -
16:35 - 16:37mas não decidimos fazer isso globalmente.
-
16:37 - 16:39Podemos ainda mudar de ideia.
-
16:39 - 16:41E podemos configurar
novos tipos de instituições. -
16:41 - 16:45Há diferentes tipos de instituições
financeiras públicas em todo o mundo -
16:45 - 16:49que oferecem um financiamento
a longo prazo tranquilo e comprometido, -
16:49 - 16:53que ajuda pequenas empresas a crescer,
e a infraestrutura e inovação acontecem. -
16:53 - 16:55Mas isso não pode ter a ver
somente com a produção, -
16:55 - 16:57ou com a taxa de produção.
-
16:57 - 17:02Devemos também, como sociedade, pausar
e perguntar: "Que valor estamos criando?" -
17:02 - 17:06Quero encerrar com o fato de que estamos
comemorando esta semana -
17:06 - 17:09o 50º aniversário do pouso na Lua.
-
17:09 - 17:13Isso exigiu que os setores público
e privado investissem e inovassem -
17:13 - 17:16em várias frentes,
não apenas na aeronáutica. -
17:16 - 17:20Isso incluiu investimento em áreas
como nutrição e materiais. -
17:20 - 17:24Muitos erros reais aconteceram
ao longo do caminho. -
17:24 - 17:28De fato, o governo usou todo seu poder
de aquisição, por exemplo, -
17:28 - 17:30para abastecer aquelas soluções
de baixo para cima, -
17:30 - 17:32mas algumas falharam.
-
17:32 - 17:35Mas falhas fazem parte
da criação de valor? -
17:35 - 17:36Ou são apenas erros?
-
17:36 - 17:40Ou como também nutrimos o experimento,
-
17:40 - 17:42a "tentativa e erro" e o "erro e erro"?
-
17:42 - 17:45Bell Labs, o laboratório de pesquisa
e desenvolvimento da AT&T, -
17:45 - 17:49veio de uma época na qual
o governo era bem corajoso. -
17:49 - 17:54Na verdade, pediu a AT&T que,
para manter seu status de monopólio, -
17:54 - 18:01reinvestisse seus lucros na economia real
e na inovação além das telecomunicações. -
18:01 - 18:03Esse foi o início
da história do Bell Labs. -
18:03 - 18:07Então, como obter novas condições
em torno de reinvestimento -
18:07 - 18:10para investir coletivamente
em novos tipos de valor -
18:10 - 18:13direcionados a alguns dos maiores
desafios do nosso tempo, -
18:13 - 18:14como mudanças climáticas?
-
18:14 - 18:16Esta é uma questão-chave.
-
18:16 - 18:18Mas também devemos nos perguntar:
-
18:18 - 18:22"Se tivesse sido feito um cálculo
do valor presente líquido -
18:22 - 18:24ou uma análise de custo-benefício
-
18:24 - 18:29sobre se deveriam ou não sequer
tentar ir à Lua e voltar numa geração, -
18:29 - 18:32provavelmente não teríamos nem começado".
-
18:32 - 18:34Então ainda bem,
-
18:34 - 18:36porque sou economista
e posso dizer a vocês -
18:36 - 18:38que valor não é apenas preço.
-
18:38 - 18:39Obrigada.
-
18:39 - 18:41(Aplausos)
- Title:
- Um olhar honesto ao preço, à inovação e a quem comanda a economia
- Speaker:
- Mariana Mazzucato
- Description:
-
De onde vem a riqueza, quem a cria e o que a destrói? Nesse mergulho profundo na economia global, Mariana Mazzucato explica como perdemos de vista o que significa valor e por que precisamos repensar nossos sistemas financeiros atuais, para que o capitalismo possa ser direcionado a um futuro ousado, inovador e sustentável que funcione para todos nós.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:55
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