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Um olhar honesto ao preço, à inovação e a quem comanda a economia

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    Criação de valor.
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    Criação de riqueza.
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    São palavras realmente poderosas.
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    Talvez vocês pensem em finanças,
    inovação e em criatividade.
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    Mas quem são os criadores de valor?
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    Se usarmos essa palavra, talvez estejamos
    sugerindo que alguns não criam valor.
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    Quem são eles? Os sedentários no sofá?
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    Os extratores de valor?
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    Os destruidores de valor?
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    Para responder isso, precisamos ter
    uma teoria adequada do valor.
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    E estou aqui, como economista,
    para revelar a vocês
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    que acabamos nos perdendo nesta questão.
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    Não fiquem tão surpresos.
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    O que quero dizer é
    que paramos de contestar,
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    de fazer as perguntas realmente difíceis
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    sobre qual é a diferença
    entre criação e extração de valor,
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    atividades produtivas e improdutivas.
  • 0:47 - 0:49
    Permitam-me apresentar algum contexto.
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    O ano de 2009, quase um ano e meio
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    depois de uma das maiores
    crises financeiras do nosso tempo,
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    perdendo apenas para
    a Grande Depressão de 1929,
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    foi quando o CEO da Goldman Sachs disse
  • 1:02 - 1:06
    que os funcionários deles eram
    os mais produtivos no mundo.
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    Eficiência e produtividade,
    para um economista,
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    têm muito a ver com valor.
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    Você produz algo,
    de modo dinâmico e eficiente.
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    Também produz o que o mundo
    precisa, quer e compra.
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    Mas como isso poderia ter sido dito
    apenas um ano após a crise
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    pela qual passou esse banco,
    assim como muitos outros?
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    Estou criticando apenas o Goldman Sachs,
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    no centro da crise, porque eles produziram
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    produtos financeiros bem problemáticos,
    não apenas relacionados a hipotecas,
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    que fizeram com que milhares de pessoas
    perdessem a casa delas.
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    Em 2010, apenas no mês de setembro,
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    120 mil pessoas perderam sua casa
    com execuções de hipotecas daquela crise.
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    Entre 2007 e 2010,
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    8,8 milhões de pessoas perderam o emprego.
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    O banco também precisou ser "socorrido"
    na época pelo contribuinte norte-americano
  • 1:56 - 1:59
    pela soma de US$ 10 bilhões.
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    Não ouvimos contribuintes se gabando,
    considerando-se criadores de valor,
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    mas, tendo socorrido uma das maiores
    companhias produtivas de criação de valor,
  • 2:07 - 2:08
    talvez devessem ter se gabado.
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    A seguir, quero que nos perguntemos
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    como nos perdemos,
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    como foi que uma declaração como aquela
    pôde quase passar despercebida,
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    pois não foi uma piada casual;
    foi dita com muita seriedade.
  • 2:21 - 2:26
    Assim, quero levar vocês de volta
    300 anos no pensamento econômico,
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    quando o termo foi contestado,
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    o que não significa
    que estavam certos ou errados,
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    mas não era possível simplesmente
    se intitular criador de valor, de riqueza.
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    Havia muito debate entre os economistas.
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    E argumento que meio
    que nos perdemos no caminho,
  • 2:39 - 2:43
    e isso fez com que esse termo,
    "criação de riqueza e valor",
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    se tornasse bem fraco e preguiçoso,
    e fosse facilmente apreendido.
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    Vamos começar, odeio dizer
    isso a vocês, há 300 anos.
  • 2:52 - 2:54
    O interessante, naquele tempo,
  • 2:54 - 2:58
    é que a sociedade ainda era
    tipicamente agrícola.
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    Então, não é nenhuma surpresa
    que os economistas da época,
  • 3:01 - 3:03
    chamados de fisiocratas,
  • 3:03 - 3:06
    colocavam o trabalho agrícola
    no centro da atenção deles.
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    Quando indagavam: "De onde vem o valor?",
    eles consideravam a agricultura.
  • 3:10 - 3:13
    E produziram o que foi, provavelmente,
    a primeira planilha do mundo,
  • 3:13 - 3:15
    chamada "Tableau Économique",
  • 3:15 - 3:19
    elaborada por François Quesnay,
    um dos líderes deste movimento.
  • 3:19 - 3:21
    E foi bem interessante,
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    pois eles não disseram apenas:
    "Agricultura é a fonte de valor".
  • 3:24 - 3:28
    Eles se preocupavam com o que acontecia
    com aquele valor quando era produzido.
  • 3:28 - 3:32
    O que o Tableau Économique fazia,
    e tentei simplificar aqui para vocês,
  • 3:32 - 3:35
    era dividir as classes sociais em três.
  • 3:35 - 3:38
    Os agricultores, criando valor,
    eram chamados de "classe produtiva".
  • 3:38 - 3:41
    Os comerciantes, que apenas
    moviam parte desse valor
  • 3:41 - 3:45
    mas eram úteis, necessários,
    eram chamados de "proprietários".
  • 3:46 - 3:49
    E havia ainda outra classe
    que cobrava uma taxa dos agricultores
  • 3:49 - 3:51
    por um ativo existente, as terras,
  • 3:51 - 3:54
    e eles eram chamados de "classe estéril".
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    Essa é uma palavra bem pesada
    se pensarmos no seu significado:
  • 3:58 - 4:02
    se muitos dos recursos
    vão para os proprietários,
  • 4:02 - 4:06
    isso coloca o potencial
    de reprodução do sistema em risco.
  • 4:06 - 4:10
    Então, todas essas flechas ali
    eram a maneira de simular...
  • 4:10 - 4:13
    planilhas e simuladores,
    eles já usavam "big data",
  • 4:13 - 4:17
    o que realmente acontecia
    em diferentes cenários
  • 4:17 - 4:20
    se a riqueza não estivesse sendo
    reinvestida na produção
  • 4:20 - 4:22
    para tornar essas terras mais produtivas,
  • 4:22 - 4:25
    mas sim desviada de maneiras diferentes,
  • 4:25 - 4:28
    ou mesmo se os proprietários
    estavam faturando demais.
  • 4:28 - 4:30
    Mais tarde nos anos 1800,
  • 4:30 - 4:32
    e essa já não era mais
    a Revolução Agrícola
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    mas a Industrial,
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    os economistas clássicos,
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    como Adam Smith, David Ricardo,
    Karl Marx, o revolucionário,
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    também perguntaram: "O que é valor?"
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    Mas não é de se surpreender que,
    porque estavam vivendo numa era industrial
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    com o surgimento de máquinas e fábricas,
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    eles disseram que se tratava
    de trabalho industrial,
  • 4:51 - 4:53
    e havia uma "teoria trabalhista" do valor.
  • 4:53 - 4:55
    Mas, de novo, o foco era a reprodução,
  • 4:55 - 5:00
    uma preocupação real com o valor criado,
    se ele estava sendo desviado.
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    E em "A Riqueza das Nações",
    Adam Smith dá um ótimo exemplo
  • 5:03 - 5:05
    da fábrica de pinos, no qual ele disse
  • 5:05 - 5:08
    que se houver apenas uma pessoa
    fazendo cada parte do alfinete,
  • 5:08 - 5:11
    no máximo ela fará um alfinete por dia.
  • 5:11 - 5:15
    Mas se você investisse em produção
    de fábrica e divisão do trabalho,
  • 5:15 - 5:16
    no novo pensamento,
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    hoje usaríamos a palavra
    "inovação organizacional",
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    aumentando, assim, a produtividade,
    e o crescimento e a riqueza das nações.
  • 5:23 - 5:25
    Ele mostrou que dez
    trabalhadores bem treinados,
  • 5:25 - 5:28
    cujo capital humano
    havia recebido investimento,
  • 5:28 - 5:30
    poderiam produzir 4,8 mil pinos ao dia,
  • 5:30 - 5:34
    ao contrário de apenas um feito
    por um trabalhador não treinado.
  • 5:34 - 5:36
    E ele e seus colegas economistas clássicos
  • 5:36 - 5:39
    também dividiram as atividades
    em produtivas e improdutivas.
  • 5:39 - 5:40
    (Risos)
  • 5:40 - 5:42
    E as improdutivas não eram...
  • 5:42 - 5:45
    Devem estar rindo porque a maioria
    de vocês está nessa lista, não?
  • 5:45 - 5:47
    (Risos)
  • 5:47 - 5:49
    Advogados!
  • 5:49 - 5:52
    Acho que ele estava certo quanto a eles,
    certamente não quanto aos professores
  • 5:52 - 5:54
    e outras profissões relacionadas.
  • 5:54 - 5:58
    Então advogados, professores,
    lojistas, músicos...
  • 5:58 - 5:59
    Ele obviamente odiava ópera.
  • 5:59 - 6:02
    Deve ter visto a pior
    apresentação da vida dele
  • 6:02 - 6:03
    na véspera de escrever este livro.
  • 6:03 - 6:07
    Ao menos três profissões ali
    têm a ver com ópera.
  • 6:07 - 6:10
    Mas esse não foi um exercício
    para dizer: "Não façam essas coisas".
  • 6:10 - 6:11
    Era apenas: "O que acontecerá
  • 6:11 - 6:15
    se acabarmos permitindo que partes
    da economia cresçam muito,
  • 6:15 - 6:18
    sem realmente pensar em como
    aumentar a produtividade
  • 6:18 - 6:22
    da fonte do valor, a qual eles
    julgavam ser a mais importante,
  • 6:22 - 6:23
    ou seja, o trabalho industrial.
  • 6:23 - 6:28
    E não se perguntem se isso está
    certo ou errado; era só muito contestado.
  • 6:28 - 6:29
    Ao fazerem essas listas,
  • 6:29 - 6:33
    isso os forçava também
    a fazer perguntas interessantes.
  • 6:33 - 6:36
    E o foco dos economistas clássicos,
    tal como o dos fisiocratas,
  • 6:36 - 6:40
    eram as condições objetivas da produção.
  • 6:40 - 6:42
    Observavam também a luta de classes.
  • 6:42 - 6:44
    A compreensão deles dos salários
  • 6:44 - 6:48
    tinha a ver com o objetivo,
    as relações de poder de barganha
  • 6:48 - 6:50
    do capital e do trabalho.
  • 6:50 - 6:54
    Mas, novamente, fábricas,
    máquinas, divisão do trabalho,
  • 6:54 - 6:56
    terras agrícolas e o que estava
    acontecendo com tudo.
  • 6:56 - 6:59
    Então, a grande revolução
    que aconteceu na época...
  • 6:59 - 7:02
    e isso, a propósito, nem sempre é
    ensinado em aulas de economia,
  • 7:02 - 7:07
    com o sistema atual do pensamento
    econômico que temos,
  • 7:07 - 7:09
    chamado de "economia neoclássica",
  • 7:09 - 7:13
    foi que a lógica mudou totalmente
    em duas maneiras:
  • 7:13 - 7:18
    deste foco em condições
    objetivas para subjetivas.
  • 7:18 - 7:19
    Explicarei o que quero dizer.
  • 7:19 - 7:21
    Objetiva, como expliquei;
  • 7:21 - 7:23
    subjetiva, no sentido
    de que toda a atenção
  • 7:23 - 7:27
    foi para como indivíduos diferentes
    tomam suas decisões.
  • 7:28 - 7:32
    Trabalhadores estão maximizando
    suas escolhas de lazer versus trabalho;
  • 7:32 - 7:35
    consumidores estão maximizando
    seu chamado "utilitário",
  • 7:35 - 7:37
    que é um "proxy" para a felicidade,
  • 7:37 - 7:40
    e empresas estão maximizando seus lucros.
  • 7:40 - 7:43
    E a ideia por trás disso era
    que então poderíamos agregar isso,
  • 7:43 - 7:45
    e vemos no que se transforma:
  • 7:45 - 7:51
    essas curvas de oferta e procura bacanas
    que produzem um preço de equilíbrio.
  • 7:51 - 7:56
    É assim porque também adicionamos
    muitas equações da física newtoniana
  • 7:56 - 8:00
    nas quais os centros de gravidade
    são boa parte do princípio organizador.
  • 8:00 - 8:03
    Mas o segundo ponto aqui
    é que esses preços de equilíbrio
  • 8:03 - 8:05
    revelam valor.
  • 8:05 - 8:08
    Assim, a revolução aqui é uma mudança
    do objetivo ao subjetivo,
  • 8:08 - 8:12
    mas também a lógica
    não tem mais a ver com o que é valor,
  • 8:12 - 8:14
    como está sendo determinado,
  • 8:14 - 8:16
    qual é o potencial
    reprodutivo da economia,
  • 8:16 - 8:20
    o que leva a uma teoria do preço,
    mas sim o contrário:
  • 8:20 - 8:23
    uma teoria de preço e troca
    que revela valor.
  • 8:23 - 8:25
    Essa é uma mudança enorme.
  • 8:25 - 8:29
    E não é apenas um exercício acadêmico,
    por mais fascinante que possa ser.
  • 8:29 - 8:31
    Afeta como medimos o crescimento,
  • 8:31 - 8:35
    como guiamos economias pra produzir mais
    de algumas atividades, menos de outras,
  • 8:35 - 8:39
    como também remuneramos
    algumas atividades mais que outras.
  • 8:39 - 8:42
    E isso também faz você pensar:
  • 8:42 - 8:45
    você é feliz em sair da cama,
    se é criador de valor ou não,
  • 8:45 - 8:49
    e como é o próprio sistema de preços
    se você não está determinando isso?
  • 8:49 - 8:53
    Eu mencionei que isso afeta
    como pensamos sobre produção.
  • 8:53 - 8:57
    Se apenas incluirmos no PIB, por exemplo,
    as atividades que têm preços,
  • 8:57 - 8:59
    muita coisa estranha acontece.
  • 8:59 - 9:03
    Economistas feministas e ambientalistas
    têm escrito bastante sobre isso.
  • 9:03 - 9:05
    Darei alguns exemplos.
  • 9:05 - 9:11
    Se você se casar com a sua babá,
    o PIB vai cair, então não faça isso.
  • 9:11 - 9:16
    Evite fazer isso, pois uma atividade
    antes paga continua sendo feita,
  • 9:16 - 9:17
    mas não é mais paga.
  • 9:17 - 9:20
    Se você polui, o PIB aumenta.
  • 9:20 - 9:22
    Então não polua, mas se poluir,
    ajudará a economia.
  • 9:22 - 9:26
    Por quê? Porque temos que pagar
    alguém pra se livrar da poluição.
  • 9:26 - 9:29
    Também foi interessante
    o que aconteceu com o financiamento,
  • 9:29 - 9:31
    no setor financeiro do PIB.
  • 9:31 - 9:34
    Isso também é algo
    que sempre me surpreende,
  • 9:34 - 9:35
    pois muitos economistas não sabem.
  • 9:35 - 9:37
    Até 1970,
  • 9:37 - 9:41
    boa parte do setor financeiro
    nem era incluída no PIB.
  • 9:41 - 9:43
    Era meio que indireto,
    talvez inconscientemente,
  • 9:43 - 9:46
    ainda sendo visto
    através da lente dos fisiocratas
  • 9:46 - 9:50
    como um tipo de movimentação de coisas,
    não produzindo nada de novo.
  • 9:50 - 9:54
    Então, apenas essas atividades
    com um preço explícito eram incluídas.
  • 9:54 - 9:57
    Por exemplo, se você buscava
    uma hipoteca, pagava uma taxa.
  • 9:57 - 10:01
    Isso ia pro PIB e para os registros
    da receita e do produto nacional.
  • 10:01 - 10:04
    Mas, por exemplo, pagamentos
    de juros líquidos não iam.
  • 10:04 - 10:07
    A diferença entre o que os bancos
    estavam ganhando em juros,
  • 10:07 - 10:11
    se eles lhe dessem um empréstimo
    e o que pagavam por um depósito,
  • 10:11 - 10:12
    isso não era incluído.
  • 10:12 - 10:16
    E assim tesoureiros começaram
    a observar alguns dados
  • 10:16 - 10:18
    que passaram a mostrar
    que o número de financiamentos
  • 10:18 - 10:22
    e os pagamentos de juros líquidos
    estavam crescendo substancialmente.
  • 10:22 - 10:24
    E chamaram isso de "problema bancário".
  • 10:24 - 10:27
    Havia pessoas trabalhando
    dentro das Nações Unidas,
  • 10:27 - 10:30
    em um grupo chamado
    Systems Nacional Accounts, SNA,
  • 10:30 - 10:32
    que chamaram isso de problema bancário,
  • 10:32 - 10:34
    tipo: "Nossa, isso é enorme,
    e nem estamos incluindo-o".
  • 10:34 - 10:38
    Então, em vez de fazer
    aquele Tableau Économique
  • 10:38 - 10:42
    ou essas perguntas fundamentais
    que os clássicos também faziam,
  • 10:42 - 10:44
    por exemplo, sobre a divisão do trabalho
  • 10:44 - 10:47
    entre diferentes tipos
    de atividades na economia,
  • 10:47 - 10:50
    eles apenas deram um nome
    a estes pagamentos de juros líquidos.
  • 10:50 - 10:53
    Os bancos comerciais chamaram
    isso de "mediação financeira",
  • 10:53 - 10:55
    que foi para as contas do NIPA.
  • 10:55 - 10:59
    Já os bancos de investimento chamaram
    de "assunção dos riscos da atividade",
  • 10:59 - 11:00
    e isso foi aderido.
  • 11:00 - 11:04
    Caso não tenha explicado corretamente,
    a linha vermelha indica a rapidez
  • 11:04 - 11:07
    com que a mediação financeira
    crescia como um todo,
  • 11:07 - 11:11
    comparada ao resto da economia,
    a indústria, na linha azul.
  • 11:11 - 11:13
    E isso foi extraordinário,
  • 11:13 - 11:17
    pois o que ocorreu, e hoje sabemos,
    e muitos estão escrevendo a respeito,
  • 11:17 - 11:19
    esses dados são do Banco da Inglaterra,
  • 11:19 - 11:24
    é que muito do que os financiamentos
    fizeram de 1970 a 1980 em diante,
  • 11:24 - 11:29
    foi basicamente financiar a si mesmos:
    financiamento financiando financiamento.
  • 11:29 - 11:32
    E isso significa financiamento,
    seguros e mercado imobiliário.
  • 11:32 - 11:34
    Na verdade, no Reino Unido,
  • 11:34 - 11:37
    cerca de 10% a 20% dos financiamentos
  • 11:37 - 11:39
    encontram seu caminho
    na economia real, na indústria,
  • 11:39 - 11:44
    digamos, no setor de energia, de TI,
    de produtos farmacêuticos,
  • 11:44 - 11:49
    mas a maioria volta para financiamentos,
    seguros e mercado imobiliário,
  • 11:49 - 11:53
    convenientemente chamado
    de FIRE, fogo, em inglês.
  • 11:53 - 11:56
    Isso é interessante porque, de fato,
  • 11:56 - 11:59
    não quer dizer que financiamento
    seja bom ou ruim,
  • 11:59 - 12:02
    mas até o ponto de simplesmente
    ter que dar um nome a ele,
  • 12:02 - 12:05
    porque havia uma renda sendo gerada,
  • 12:05 - 12:08
    em vez de apenas perguntar:
    "O que ele está realmente fazendo?"
  • 12:08 - 12:09
    foi uma oportunidade perdida.
  • 12:09 - 12:15
    Do mesmo modo, na economia real,
    na própria indústria, o que acontecia?
  • 12:15 - 12:20
    E esse foco real nos preços,
  • 12:20 - 12:21
    e também seu compartilhamento,
  • 12:21 - 12:24
    criou um enorme problema
    de reinvestimento.
  • 12:24 - 12:28
    Novamente, a atenção real que ambos
    os fisiocratas e os clássicos tinham
  • 12:28 - 12:31
    na medida em que o valor
    sendo gerado na economia
  • 12:31 - 12:34
    estava de fato sendo reinvestido.
  • 12:34 - 12:38
    Assim, o que temos hoje é
    um setor industrial ultrafinanciado
  • 12:38 - 12:41
    no qual, cada vez mais, uma parte
    dos lucros e da renda líquida
  • 12:41 - 12:44
    não está voltando à produção,
  • 12:44 - 12:48
    em treinamento de capital humano,
    em pesquisa e desenvolvimento,
  • 12:48 - 12:52
    mas apenas sendo desviado em termos
    de recompra de suas próprias ações,
  • 12:52 - 12:53
    o que aumenta as opções de ações,
  • 12:53 - 12:56
    que é como muitos executivos
    estão sendo pagos.
  • 12:56 - 12:58
    E a recompra de ações é algo bom,
  • 12:58 - 13:01
    mas esse sistema está
    totalmente fora de controle.
  • 13:01 - 13:07
    Esses números mostram que nos últimos
    10 anos, 466 das empresas S&P 500
  • 13:07 - 13:11
    gastaram mais de US$ 4 trilhões
    apenas recomprando suas ações.
  • 13:11 - 13:15
    E o que vemos se agregarmos
    isso ao nível macroeconômico,
  • 13:15 - 13:17
    se observarmos o investimento
    empresarial agregado,
  • 13:17 - 13:19
    que é uma porcentagem do PIB,
  • 13:19 - 13:23
    também vemos uma queda nesse nível
    de investimento empresarial.
  • 13:23 - 13:24
    E isso é um problema.
  • 13:24 - 13:29
    Na verdade, é um problema enorme
    para habilidades e criação de empregos.
  • 13:29 - 13:33
    Ouvimos falar muito sobre a atenção atual
    para: "Robôs roubarão nossos empregos?"
  • 13:33 - 13:36
    Bem, a mecanização tem,
    por séculos, eliminado empregos,
  • 13:36 - 13:40
    mas enquanto os lucros estavam
    sendo reinvestidos na produção,
  • 13:40 - 13:42
    não importava; novos empregos surgiam.
  • 13:42 - 13:45
    Mas essa falta de reinvestimento
    é, na verdade, muito perigosa.
  • 13:45 - 13:50
    Do mesmo modo, na indústria farmacêutica,
    por exemplo, como os preços são definidos,
  • 13:50 - 13:53
    é bem interessante como não se consideram
    essas condições objetivas
  • 13:53 - 13:57
    da maneira coletiva na qual o valor
    é criado na economia.
  • 13:57 - 14:02
    No setor com muitos atores diferentes
    como público, privado, é claro,
  • 14:02 - 14:05
    mas também organizações
    do setor terceirizado criando valor,
  • 14:05 - 14:10
    nós o medimos através
    do próprio sistema de preços.
  • 14:10 - 14:11
    Os preços revelam valor.
  • 14:11 - 14:12
    Então quando, recentemente,
  • 14:12 - 14:18
    o preço de um antibiótico aumentou 400%
    da noite pro dia, e perguntaram ao CEO:
  • 14:18 - 14:21
    "Como podem fazer isso? As pessoas
    precisam desse antibiótico. É injusto".
  • 14:21 - 14:25
    Ele disse: "Temos um imperativo moral
    de permitir que os preços subam
  • 14:25 - 14:27
    o máximo que o mercado suportar",
  • 14:27 - 14:30
    descartando completamente o fato
    de que nos EUA, por exemplo,
  • 14:30 - 14:34
    o National Institutes of Health
    gastou mais de US$ 30 bilhões ao ano
  • 14:34 - 14:36
    na pesquisa médica que leva
    a esses medicamentos.
  • 14:36 - 14:40
    Novamente, há falta de atenção
    a essas condições objetivas,
  • 14:40 - 14:43
    permitindo que o próprio
    sistema de preços revele o valor.
  • 14:43 - 14:46
    Esse não é apenas um exercício acadêmico,
  • 14:46 - 14:48
    por mais interessante que seja.
  • 14:48 - 14:51
    Tudo isso é importante mesmo
    para como medimos a produção,
  • 14:51 - 14:53
    como direcionamos a economia,
  • 14:53 - 14:55
    se sentimos que somos produtivos,
  • 14:55 - 14:58
    quais setores acabamos ajudando, apoiando
  • 14:58 - 15:02
    e fazendo com que as pessoas
    tenham orgulho de fazer parte disso.
  • 15:02 - 15:03
    Voltando àquela citação,
  • 15:03 - 15:06
    não é surpreendente que Blankfein
    tenha dito aquilo.
  • 15:06 - 15:07
    Ele tinha razão.
  • 15:07 - 15:11
    Do modo que medimos produção,
    produtividade e valor na economia,
  • 15:11 - 15:14
    os funcionários da Goldman Sachs
    são os mais produtivos!
  • 15:14 - 15:18
    Eles ganham mais; o preço
    do trabalho revela o valor deles.
  • 15:18 - 15:21
    Mas isso torna-se tautológico, é claro.
  • 15:21 - 15:23
    Há uma necessidade real de repensar:
  • 15:23 - 15:26
    como estamos medindo a produção,
  • 15:26 - 15:28
    e há algumas experiências
    incríveis no mundo todo.
  • 15:28 - 15:33
    A Nova Zelândia, por exemplo, tem agora
    um indicador nacional bruto de felicidade.
  • 15:33 - 15:37
    No Butão, também consideram
    indicadores de felicidade e bem-estar.
  • 15:37 - 15:40
    Mas o problema é que não basta
    ficar adicionando coisas.
  • 15:40 - 15:42
    Temos que pausar,
  • 15:42 - 15:44
    e acho que é um oportuno momento pra isso,
  • 15:44 - 15:48
    já que tão pouco parece ter mudado
    desde a crise financeira,
  • 15:48 - 15:51
    para nos certificarmos
    de que não estamos confundindo
  • 15:51 - 15:53
    extração de valor com criação de valor,
  • 15:53 - 15:56
    considerando o que está incluído,
    não apenas adicionando mais,
  • 15:56 - 16:00
    para garantir que não estamos, talvez,
    confundindo aluguéis com lucros.
  • 16:00 - 16:03
    Aluguel, para os clássicos,
    tinha a ver com renda não adquirida.
  • 16:03 - 16:06
    Hoje, quando se fala
    em aluguéis, na economia,
  • 16:06 - 16:09
    é somente uma imperfeição
    para um preço competitivo
  • 16:09 - 16:13
    que poderia ser contestado
    se tirássemos algumas assimetrias.
  • 16:13 - 16:18
    Segundo, podemos direcionar atividades
    para o que os clássicos chamavam
  • 16:18 - 16:19
    de "limite de produção".
  • 16:19 - 16:21
    Não deve ser um "nós contra eles",
  • 16:21 - 16:24
    financiamentos grandes e ruins
    versus outros setores bons.
  • 16:24 - 16:26
    Podemos reformar o financiamento.
  • 16:26 - 16:29
    Perdeu-se uma boa oportunidade,
    de certa forma, após a crise.
  • 16:29 - 16:31
    Poderíamos ter tido o imposto
    sobre transações financeiras,
  • 16:31 - 16:35
    que teria recompensado
    o longo prazo sobre o curto prazo,
  • 16:35 - 16:37
    mas não decidimos fazer isso globalmente.
  • 16:37 - 16:39
    Podemos ainda mudar de ideia.
  • 16:39 - 16:41
    E podemos configurar
    novos tipos de instituições.
  • 16:41 - 16:45
    Há diferentes tipos de instituições
    financeiras públicas em todo o mundo
  • 16:45 - 16:49
    que oferecem um financiamento
    a longo prazo tranquilo e comprometido,
  • 16:49 - 16:53
    que ajuda pequenas empresas a crescer,
    e a infraestrutura e inovação acontecem.
  • 16:53 - 16:55
    Mas isso não pode ter a ver
    somente com a produção,
  • 16:55 - 16:57
    ou com a taxa de produção.
  • 16:57 - 17:02
    Devemos também, como sociedade, pausar
    e perguntar: "Que valor estamos criando?"
  • 17:02 - 17:06
    Quero encerrar com o fato de que estamos
    comemorando esta semana
  • 17:06 - 17:09
    o 50º aniversário do pouso na Lua.
  • 17:09 - 17:13
    Isso exigiu que os setores público
    e privado investissem e inovassem
  • 17:13 - 17:16
    em várias frentes,
    não apenas na aeronáutica.
  • 17:16 - 17:20
    Isso incluiu investimento em áreas
    como nutrição e materiais.
  • 17:20 - 17:24
    Muitos erros reais aconteceram
    ao longo do caminho.
  • 17:24 - 17:28
    De fato, o governo usou todo seu poder
    de aquisição, por exemplo,
  • 17:28 - 17:30
    para abastecer aquelas soluções
    de baixo para cima,
  • 17:30 - 17:32
    mas algumas falharam.
  • 17:32 - 17:35
    Mas falhas fazem parte
    da criação de valor?
  • 17:35 - 17:36
    Ou são apenas erros?
  • 17:36 - 17:40
    Ou como também nutrimos o experimento,
  • 17:40 - 17:42
    a "tentativa e erro" e o "erro e erro"?
  • 17:42 - 17:45
    Bell Labs, o laboratório de pesquisa
    e desenvolvimento da AT&T,
  • 17:45 - 17:49
    veio de uma época na qual
    o governo era bem corajoso.
  • 17:49 - 17:54
    Na verdade, pediu a AT&T que,
    para manter seu status de monopólio,
  • 17:54 - 18:01
    reinvestisse seus lucros na economia real
    e na inovação além das telecomunicações.
  • 18:01 - 18:03
    Esse foi o início
    da história do Bell Labs.
  • 18:03 - 18:07
    Então, como obter novas condições
    em torno de reinvestimento
  • 18:07 - 18:10
    para investir coletivamente
    em novos tipos de valor
  • 18:10 - 18:13
    direcionados a alguns dos maiores
    desafios do nosso tempo,
  • 18:13 - 18:14
    como mudanças climáticas?
  • 18:14 - 18:16
    Esta é uma questão-chave.
  • 18:16 - 18:18
    Mas também devemos nos perguntar:
  • 18:18 - 18:22
    "Se tivesse sido feito um cálculo
    do valor presente líquido
  • 18:22 - 18:24
    ou uma análise de custo-benefício
  • 18:24 - 18:29
    sobre se deveriam ou não sequer
    tentar ir à Lua e voltar numa geração,
  • 18:29 - 18:32
    provavelmente não teríamos nem começado".
  • 18:32 - 18:34
    Então ainda bem,
  • 18:34 - 18:36
    porque sou economista
    e posso dizer a vocês
  • 18:36 - 18:38
    que valor não é apenas preço.
  • 18:38 - 18:39
    Obrigada.
  • 18:39 - 18:41
    (Aplausos)
Title:
Um olhar honesto ao preço, à inovação e a quem comanda a economia
Speaker:
Mariana Mazzucato
Description:

De onde vem a riqueza, quem a cria e o que a destrói? Nesse mergulho profundo na economia global, Mariana Mazzucato explica como perdemos de vista o que significa valor e por que precisamos repensar nossos sistemas financeiros atuais, para que o capitalismo possa ser direcionado a um futuro ousado, inovador e sustentável que funcione para todos nós.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:55

Portuguese, Brazilian subtitles

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