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Normas para sexos: sempre limitadoras, por vezes mortalmente | Lisa Cravens-Brown | TEDxOhioStateUniversity

  • 0:11 - 0:14
    Há uma série de anos,
    eu cantava num coro feminino.
  • 0:14 - 0:17
    Para um dos espetáculos,
    o diretor do coro decidiu
  • 0:17 - 0:20
    que íamos usar uma parte do concerto
    para reivindicar a palavra "puta".
  • 0:20 - 0:22
    Oh!
  • 0:23 - 0:25
    Eu acabei de dizer "puta"
    numa palestra TEDxOSU.
  • 0:25 - 0:27
    Pois disse.
  • 0:27 - 0:30
    Sei que muitos aqui devem
    ter tido uma reação negativa
  • 0:30 - 0:31
    à palavra que acabei de dizer.
  • 0:31 - 0:35
    O mesmo aconteceu comigo
    e com os outros membros do coro.
  • 0:35 - 0:38
    De facto, tivemos
    muitas discussões sobre isso.
  • 0:38 - 0:40
    As mulheres choraram,
    as mulheres gritaram,
  • 0:40 - 0:43
    as pessoas ficaram preocupadas
    de que afastássemos o público,
  • 0:43 - 0:45
    de que traumatizássemos as mulheres
  • 0:46 - 0:50
    porque tinham-nos ensinado
    que era uma palavra horrível,
  • 0:50 - 0:52
    que era a pior palavra de todas.
  • 0:53 - 0:57
    Com efeito, tem sido usada
    de formas terríveis, horríveis.
  • 0:57 - 0:59
    É usada por violadores de mulheres,
  • 0:59 - 1:02
    por pessoas que querem ferir as mulheres.
  • 1:02 - 1:05
    Mas há indícios que sugerem
    que, há muito tempo,
  • 1:05 - 1:08
    era uma palavra com uma conotação positiva
  • 1:08 - 1:10
    e que as comunidades,
    ao longo do tempo,
  • 1:10 - 1:14
    tinham transformado essa palavra
    numa palavra de horror.
  • 1:14 - 1:19
    Mas, se tínhamos criado isso,
    podíamos desfazer isso.
  • 1:19 - 1:21
    Eu tinha de tomar uma decisão
  • 1:21 - 1:24
    porque a personagem
    que eu desempenhava nessa parte
  • 1:24 - 1:29
    devia dizer a palavra "puta"
    umas 23 vezes numa só fala.
  • 1:29 - 1:31
    Eu tinha de atravessar o palco
  • 1:32 - 1:35
    e chamar às minhas amigas
    algumas variantes da palavra "puta".
  • 1:35 - 1:38
    Eu imitava a voz de pirata
    e outras coisas do mesmo estilo.
  • 1:38 - 1:42
    Depois, no fim, íamos cantar
    duas pequenas canções,
  • 1:42 - 1:45
    uma delas, numa ária de Mozart,
    nem mais, com a palavra "puta".
  • 1:46 - 1:50
    Por isso, ou alinhava ou saía.
  • 1:50 - 1:52
    Para tomar essa decisão,
  • 1:52 - 1:56
    pensei na minha filha
    que ia fazer sete anos na altura
  • 1:56 - 1:59
    e pensei num mundo
  • 1:59 - 2:02
    em que essa palavra
    já não tivesse poder sobre ela,
  • 2:02 - 2:07
    em que ela pudesse ser livre
    para escolher o sentido das palavras
  • 2:07 - 2:09
    e decidi alinhar.
  • 2:10 - 2:15
    Isso foi o ponto de partida da minha vida
    como ativista na desconstrução dos sexos.
  • 2:15 - 2:19
    Desde essa altura, tenho passado
    muito tempo a pensar e a estudar
  • 2:19 - 2:21
    e a ler sobre género e sexualidade
  • 2:21 - 2:23
    e cheguei à conclusão
  • 2:23 - 2:27
    de que as normas sexuais construídas
    pela sociedade são sempre limitadoras,
  • 2:27 - 2:31
    frequentemente prejudiciais
    e, por vezes, mortíferas.
  • 2:31 - 2:34
    Eu quero partilhar hoje convosco
    algumas dessas observações.
  • 2:34 - 2:36
    Como é que elas são sempre limitadoras?
  • 2:36 - 2:39
    Não se surpreenderão descobrir
    que, se pedirmos às pessoas
  • 2:39 - 2:42
    para fazerem um teste de matemática,
    usando um fato de banho
  • 2:42 - 2:44
    ou fazerem um teste de matemática
    usando uma camisola,
  • 2:44 - 2:48
    algumas das pessoas, em fato de banho,
    sair-se-ão pior nesse teste de matemática
  • 2:48 - 2:50
    do que as pessoas de camisola.
  • 2:50 - 2:54
    O que vos pode surpreender é que
    esse efeito só acontece com as mulheres.
  • 2:54 - 2:58
    Os homens podem fazer o teste
    de fato de banho ou de camisola
  • 2:58 - 3:01
    que isso não afeta o seu desempenho.
  • 3:01 - 3:04
    Mas o que acontece com as mulheres,
    quando vestem o fato de banho
  • 3:04 - 3:08
    é que ativamos tudo o que a sociedade
    construiu em volta da vergonha do corpo
  • 3:08 - 3:10
    e da vigilância sobre o corpo
  • 3:10 - 3:15
    e elas têm de usar parte
    da sua energia para lidar com isso.
  • 3:16 - 3:19
    Assim, o desempenho delas
    é limitado no teste de matemática.
  • 3:19 - 3:22
    Vocês dirão: "Lisa, isso não é realista.
  • 3:22 - 3:26
    "Ninguém vai pedir para fazermos
    um teste de matemática de fato de banho.
  • 3:26 - 3:28
    "Não nos vai dar um exemplo
    do mundo real?"
  • 3:29 - 3:30
    "Vou dar, sim".
  • 3:30 - 3:34
    Pensem nos testes de AP Calculus,
    aqueles pequenos testes, sem importância.
  • 3:35 - 3:39
    O teste AP Calculus pode determinar
    quais os cursos que tiramos na faculdade,
  • 3:39 - 3:42
    até talvez o mestrado que escolhemos,
  • 3:42 - 3:45
    talvez até a carreira da nossa vida.
  • 3:45 - 3:47
    No teste de AP Calculus,
  • 3:47 - 3:51
    a investigação descobriu que,
    se pusermos a caixa de escolha no topo
  • 3:51 - 3:53
    que diz: "Masculino ou Feminino",
  • 3:53 - 3:56
    as mulheres têm um desempenho
    mais fraco nesse teste,
  • 3:56 - 4:00
    do que se pusermos a mesma
    caixa de escolha, no fim do teste.
  • 4:00 - 4:04
    Basta recordar às mulheres
    que são mulheres,
  • 4:04 - 4:06
    que elas ativam o estereótipo:
  • 4:06 - 4:09
    "As raparigas não são boas em matemática".
  • 4:09 - 4:12
    Por isso, durante o teste,
    têm uma parte da energia cognitiva
  • 4:12 - 4:15
    que deviam estar a usar
    no teste de cálculo
  • 4:15 - 4:17
    porque o cálculo é difícil.
  • 4:18 - 4:22
    Têm de usar parte dessa energia
    para suprimir aquele estereótipo
  • 4:23 - 4:25
    e, assim, o seu rendimento
    pode ser limitado.
  • 4:26 - 4:29
    Agora vou invocar
    o brilhante Jackson Katz.
  • 4:30 - 4:33
    Katz tem uma teoria sobre
    a socialização dos rapazes.
  • 4:33 - 4:36
    Diz que socializamos
    os rapazes dentro duma caixa.
  • 4:36 - 4:39
    Dentro dessa caixa,
    estão todos os ótimos adjetivos
  • 4:39 - 4:43
    como independente, autoritário,
    masculino, forte, rijo,
  • 4:43 - 4:45
    tudo aquilo que gostamos que nos chamem.
  • 4:45 - 4:48
    Fora da caixa estão os que não prestam.
  • 4:48 - 4:53
    É onde ficam os fracos, os maricas,
    é onde vivem esses adjetivos.
  • 4:53 - 4:57
    Fora dessa caixa estão as vítimas
    de "bullying", os mariquinhas.
  • 4:58 - 5:01
    Para ter todas as boas descrições,
  • 5:01 - 5:05
    eles têm de estar dentro
    daquela caixinha estreita e apertada.
  • 5:05 - 5:08
    Têm de aprender e interiorizar
    que ser um homem
  • 5:08 - 5:10
    significa não exprimir emoções humanas.
  • 5:10 - 5:14
    Significa nunca mostrar quando sofrem
    e significa recorrer à violência
  • 5:14 - 5:18
    como método preferido
    para resolução de conflitos.
  • 5:18 - 5:23
    Katz diz que precisamos de deixar
    de forçar os rapazes a entrar nesta caixa.
  • 5:23 - 5:28
    Precisamos de deixar que eles sejam
    os seres humanos completos que são.
  • 5:29 - 5:33
    Mais, temos tão inculcadas a ideia
    de que os homens são criaturas violentas
  • 5:33 - 5:37
    que eles desaparecem
    das narrativas de violência.
  • 5:37 - 5:39
    Vemos títulos nos jornais que dizem:
  • 5:39 - 5:41
    "Uma mulher foi violada",
    "Uma mulher foi assaltada".
  • 5:42 - 5:43
    Não vemos títulos que digam:
  • 5:43 - 5:47
    "Um homem violou uma mulher"
    "Um homem assaltou uma mulher"
  • 5:47 - 5:50
    Katz chamas-lhes uma maioria invisível,
  • 5:50 - 5:55
    ou seja, quando pensamos nisso,
    pensamos numa mulher.
  • 5:55 - 5:59
    Isso torna a violência contra as mulheres
    um problema das mulheres.
  • 5:59 - 6:02
    Acabamos com manifestações
    como as de Take Back The Night
  • 6:02 - 6:05
    que não permitem
    que os homens participem,
  • 6:05 - 6:09
    como se fosse da responsabilidade
    das mulheres acabar com a violência,
  • 6:09 - 6:13
    em vez de ser um dever dos humanos
    acabar com essa violência,
  • 6:14 - 6:16
    por vezes, mortífera.
  • 6:16 - 6:19
    Por isso, quando aceitei
    fazer esta palestra em TEDx OSU,
  • 6:19 - 6:23
    fiquei muito entusiasmada,
    mas não sabia sobre que é que ia falar,
  • 6:23 - 6:25
    ou seja, era sobre sexos
    e sexualidade, claro,
  • 6:25 - 6:28
    mas não sabia especificamente
    sobre o que é que ia falar.
  • 6:28 - 6:31
    Uma coisa que não sabem sobre mim,
    é que eu adoro rir
  • 6:31 - 6:34
    e, mais do que isso,
    adoro fazer rir as pessoas.
  • 6:34 - 6:37
    A ideia de vir aqui e rirmos todos juntos
  • 6:37 - 6:39
    com mais de mil pessoas, duma vez só,
  • 6:39 - 6:41
    era muito poderosa e muito estimulante.
  • 6:41 - 6:45
    Vocês viram isso com a demonstração
    brilhante de Ida de nos rirmos.
  • 6:45 - 6:48
    Portanto, decidi que ia escrever
  • 6:49 - 6:52
    uma palestra divertida, agradável
    para nos rirmos todos juntos.
  • 6:53 - 6:56
    E quando comecei a fazer pesquisa
    sobre o feriado,
  • 6:56 - 6:59
    encontrei esta história de Leelah Alcorn.
  • 6:59 - 7:01
    Alguns aqui já devem
    conhecer esta história.
  • 7:02 - 7:06
    Leelah era uma transexual de 17 anos
    que vivia aqui em Ohio.
  • 7:07 - 7:10
    Publicou nas redes sociais
    o seu percurso pungente
  • 7:10 - 7:14
    de depressão e solidão e isolamento
  • 7:14 - 7:17
    e a guerra com a família
    por causa da sua identidade sexual
  • 7:17 - 7:21
    porque embora ela tivesse nascido
    com o corpo de um rapaz.
  • 7:21 - 7:23
    tinha a identidade sexual duma mulher.
  • 7:24 - 7:28
    Isto era uma situação tão penosa,
    solitária e dramática, para ela,
  • 7:28 - 7:31
    que, em 28 dezembro de 2014,
  • 7:31 - 7:35
    suicidou-se, atirando-se para debaixo
    dum camião na autoestrada
  • 7:35 - 7:37
    e morreu.
  • 7:37 - 7:40
    Os pais, apesar de todo o amor
    que sentiam por ela,
  • 7:40 - 7:44
    não tinham conseguido afastar-se
    das ideias da sociedade
  • 7:44 - 7:47
    sobre o que significava ser um homem,
    o que significava ser uma mulher
  • 7:48 - 7:51
    e agora tinham uma filha morta.
  • 7:51 - 7:55
    Um dos últimos pedidos
    de Leelah tinha sido:
  • 7:55 - 7:57
    "Por favor, consertem isto".
  • 7:58 - 8:02
    Quando li isto, eu vi logo
    que não podia ser motivo de riso,
  • 8:02 - 8:05
    mas soube que tinha de falar
    com vocês sobre isto.
  • 8:05 - 8:09
    Tinha de chegar aqui e pedir-vos
    para aderir àquilo a que eu chamo
  • 8:09 - 8:12
    a liga de desconstrução
    de Bob, o Anti-construtor.
  • 8:12 - 8:14
    (Risos)
  • 8:14 - 8:17
    Lembram-se de Bob, o Construtor:
    "Podemos construir? Podemos".
  • 8:18 - 8:20
    Bom, já construímos.
  • 8:20 - 8:23
    A pergunta é: "Podemos consertar?"
  • 8:23 - 8:26
    Penso que a resposta é: "Podemos".
  • 8:27 - 8:30
    porque volto a pensar na minha filha,
  • 8:30 - 8:33
    essa filha em que pensei
    há todos esses anos,
  • 8:33 - 8:36
    quando cantava a palavra "puta"
    numa música de Mozart.
  • 8:37 - 8:40
    Hoje é uma adolescente
    e, outro dia, deu-me um presente.
  • 8:41 - 8:43
    Era um autocolante com um pássaro azul.
  • 8:44 - 8:47
    O pássaro azul tinha óculos escuros
    e estava em cima dum "skate".
  • 8:47 - 8:48
    Por baixo dizia:
  • 8:48 - 8:51
    "A identidade sexual
    é uma construção social".
  • 8:51 - 8:53
    (Risos)
  • 8:54 - 8:59
    Fiquei tão orgulhosa
    que, todos os dias,
  • 8:59 - 9:01
    ela e o irmão me recordam
  • 9:02 - 9:05
    que, quando perguntamos:
    "Podemos consertar?"
  • 9:05 - 9:09
    a resposta é:
    "Todos juntos, podemos".
  • 9:09 - 9:10
    Obrigada.
  • 9:12 - 9:14
    (Aplausos)
Title:
Normas para sexos: sempre limitadoras, por vezes mortalmente | Lisa Cravens-Brown | TEDxOhioStateUniversity
Description:

Enquanto professora de estudos sobre mulheres, sexos e sexualidade, Lisa tem pensado nestes tópicos e nos problemas afins. Usando uma explicação para iniciar a sua palestra, a Dra. Lisa Cravens-Brown capta a atenção da audiência para falar do problema real. As normas para sexos, socialmente construídas, são sempre limitadoras, frequentemente prejudiciais e, por vezes, mortíferas.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:25

Portuguese subtitles

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