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Candidatos perfeitos ao Alzheimer | Adriana Zubieta | TEDxSantaCruzdelaSierra

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    Vocês já pensaram
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    quem seriam se não tiverem lembranças?
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    Há um assassino nesta sala
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    e todos somos cúmplices.
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    Até 2050, no nosso país,
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    haverá um aumento
    de 447% dos casos de Alzheimer.
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    Sabem o que isso significa?
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    Que em 38 anos,
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    eu ou vocês,
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    seremos uma pessoa com Alzheimer
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    ou estaremos cuidando de alguém.
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    E essas estatísticas
    não estão nos preocupando,
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    mas deveriam.
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    De uma maneira bem simples,
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    vou explicar como ocorre,
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    porque a história do Alzheimer
    não é como as pessoas contam.
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    Somente 10% dos casos são hereditários
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    e 90% deles são nossa culpa.
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    A população mundial tem
    40% de probabilidade
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    de ter o gene do Alzheimer,
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    mas dependerá do estilo de vida
    de cada um de nós
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    que ele se manifeste ou não.
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    Além disso, sabem
    quantas pessoas têm diabetes
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    ou pressão alta na Bolívia?
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    Minha mãe tem e é uma preocupação
    constante para mim.
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    Deixem-me explicar um pouco
    como o Alzheimer funciona.
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    cresci jogando "Pac-Man".
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    O jogo é muito parecido
    com o que acontece com o Alzheimer.
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    Mas conto àqueles
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    que são muito jovens
    e não o conhecem ainda.
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    O Pac-Man é o bonzinho nesta história,
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    mas tem uma missão:
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    tem que comer cada uma das bolinhas
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    que estão no labirinto para ganhar o jogo.
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    Os fantasmas são os arqui-inimigos.
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    Um ou outro é aventureiro,
    e há os que ficam meio escondidos.
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    E estes tentarão, a todo custo,
    acabar com a vida do Pac-Man.
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    Mas o Pac-Man tem um superpoder,
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    e se comer a "superbolinha",
    terá a capacidade
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    de adquirir poderes,
    como a "supervelocidade",
  • 2:20 - 2:23
    e seus inimigos ficarão vulneráveis.
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    Assim, obterá uma vantagem
    e conseguirá ganhar o jogo.
  • 2:27 - 2:28
    É simples.
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    Então, o que acontece na vida real?
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    Somente uma coisa muda.
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    Vou dizer-lhes algo:
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    na vida real, o Pac-Man é o malvado.
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    Ele representa o Alzheimer.
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    O que é o Alzheimer, então?
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    É uma doença neurodegenerativa,
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    progressiva e irreversível.
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    É exatamente como o Pac-Man.
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    Cada vez que o Pac-Man
    dá um passo à frente
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    e come cada um dos nossos neurônios,
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    está eliminando uma lembrança.
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    Imaginem o seguinte:
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    estou caminhando por uma praça
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    e, de repente, estou perdida.
  • 3:11 - 3:12
    Onde fica a minha casa?
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    Qual era o número de telefone
    da minha casa?
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    Com licença, senhor.
    Sabe como se chega a ...?
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    Mas como se chama a rua onde moro?
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    Como se chamam as pessoas
    que moram comigo?
  • 3:26 - 3:28
    Na verdade, começo a perceber
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    que não estou perdida fisicamente,
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    mas que acabo de perder
    a história da minha vida,
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    além da minha identidade.
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    Meus pacientes começam
    a chegar nesse momento.
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    Quando isso acontece, procuram
    um neurologista ou um psiquiatra
  • 3:45 - 3:48
    e começam um tratamento farmacológico.
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    Infelizmente, a doença está
    em uma etapa muito avançada.
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    É uma história muito triste.
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    Na verdade, é muito triste de se ver.
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    Mesmo assim, todos somos lutadores,
  • 4:01 - 4:04
    porque abrigamos a reserva
    cognitiva em nosso cérebro.
  • 4:04 - 4:08
    Ela é uma barreira que acumulamos
    com o passar dos anos.
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    Os cafezinhos em casa, com a família,
  • 4:11 - 4:14
    quando nos juntamos,
    nos reunimos e nos divertimos.
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    Quando vemos a vovozinha
    tecendo um suéter,
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    aquelas sobremesas deliciosas.
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    A paixão pela música,
    pelo cinema e pela arte.
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    Ao fazermos tudo isso,
    criamos uma barreira protetora.
  • 4:26 - 4:30
    Os anos cansativos de estudo na escola,
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    na universidade, no mestrado,
    nas pós-graduações.
  • 4:33 - 4:37
    Acreditem, são essenciais
    para criar essa barreira.
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    Ter a capacidade de fazer
    as coisas sozinhos,
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    sem que ninguém nos ajude.
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    Sentir-nos úteis a cada momento
    é parte da nossa reserva cognitiva.
  • 4:47 - 4:49
    E sabem por que isso é tão impressionante?
  • 4:50 - 4:52
    Porque cada um de nós
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    coloca muita emoção na vida.
  • 4:57 - 4:59
    E quando alguém dá tudo de si,
  • 4:59 - 5:02
    gera emoções positivas e negativas.
  • 5:02 - 5:06
    Às vezes, o Pac-Man tem uma vantagem.
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    Às vezes, quando chegamos aos 56 anos,
  • 5:10 - 5:12
    chega uma grande notícia no trabalho.
  • 5:13 - 5:15
    Parabéns! Você fez um excelente trabalho.
  • 5:15 - 5:18
    Agradecemos por seus serviços.
    É hora de se aposentar.
  • 5:18 - 5:23
    E você passa a ser uma pessoa
    sedentária, inútil e frágil,
  • 5:23 - 5:25
    depois de ter sido gerente
    de uma multinacional.
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    E não estou inventando história, é real.
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    É quando começa a duvidar de si mesmo.
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    E o momento de crise começa
    a afetar o emocional
  • 5:35 - 5:38
    e faz como que o Alzheimer
    avance com toda força,
  • 5:40 - 5:43
    que provavelmente o tratamento
    farmacológico não ajude.
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    Sabem o que é perder um ente querido?
  • 5:46 - 5:50
    Imaginem perder um companheiro
    de uma vida inteira.
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    Há quanto tempo estamos casados?
  • 5:53 - 5:55
    Há 20, 30, 50 anos?
  • 5:55 - 5:59
    Sabem a quantidade de lembranças
    que acumulamos com essas pessoas?
  • 6:00 - 6:01
    São muitas.
  • 6:02 - 6:04
    E essa tristeza rouba nossas lembranças.
  • 6:06 - 6:12
    É aqui que entra o grupo de elite:
    os psicólogos e neuropsicólogos.
  • 6:12 - 6:15
    Às vezes, somos muito tímidos
    para mostrar quem realmente somos.
  • 6:16 - 6:19
    Então, o trabalho que realizamos
    é mostrar à pessoa
  • 6:19 - 6:21
    que tudo aquilo que guardou
    por tanto tempo,
  • 6:21 - 6:25
    toda a dor, todas as alegrias,
    podem ser trazidas para o presente.
  • 6:26 - 6:30
    E ao recordar o passado,
    vive cada dia de uma maneira diferente.
  • 6:36 - 6:37
    Está vazio.
  • 6:39 - 6:43
    Adoraria dizer que para o Alzheimer,
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    apesar de ter um tratamento farmacológico,
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    e de existirem especialistas
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    em psicologia e em neuropsicologia ...
  • 6:50 - 6:51
    existe cura?
  • 6:52 - 6:53
    Não.
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    Na vida real, o Alzheimer sempre ganha.
  • 6:57 - 7:00
    E leva com ele todas
    as suas conquistas, a sua família,
  • 7:01 - 7:02
    a sua identidade,
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    a sua capacidade de seguir com a vida.
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    Vamos deixar que ganhe de nós?
  • 7:11 - 7:12
    É a pergunta que fazemos
  • 7:12 - 7:16
    a cada um dos familiares e cuidadores
    das pessoas com Alzheimer.
  • 7:16 - 7:19
    Quando alguém recebe
    o diagnóstico de Alzheimer,
  • 7:19 - 7:21
    ainda lhe restam
    de cinco a dez anos de vida.
  • 7:22 - 7:24
    Mas é muito difícil para a família
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    ter que saber que não se recordará deles,
  • 7:29 - 7:31
    e, além disso, que provavelmente
    morrerá assim.
  • 7:35 - 7:37
    Mas, continuamos?
  • 7:37 - 7:40
    Vocês têm coragem?
    Pensam que ainda há uma opção?
  • 7:43 - 7:45
    Na Associação Boliviana de Alzheimer,
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    não queremos facilitar as coisas.
  • 7:49 - 7:51
    Faremos o possível porque,
  • 7:51 - 7:53
    mesmo que não possamos
    mudar o final da história,
  • 7:54 - 7:57
    a maneira como viveremos será espetacular.
  • 7:57 - 7:59
    Então, proporcionamos um espaço
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    onde os idosos sempre veem
    um rosto sorridente,
  • 8:03 - 8:06
    sempre têm uma mão
    que lhes acompanha nesses passeios,
  • 8:06 - 8:09
    onde a família pode ver
    que viver com Alzheimer
  • 8:09 - 8:11
    é somente uma nova maneira de viver,
  • 8:11 - 8:14
    assim como é com qualquer doença.
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    Gostaria de contar-lhes
    uma história sobre ela.
  • 8:18 - 8:19
    Só olhem para ela.
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    Ela foi minha primeira paciente, e ainda é
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    Ela não se lembra de mim.
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    (Choro de emoção)
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    É grave, certo?
  • 8:35 - 8:37
    (Aplausos)
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    Embora eu não tenha
    um familiar com Alzheimer,
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    e não há histórico na minha família,
  • 8:52 - 8:56
    ver como essas famílias
    têm que lutar diariamente
  • 8:56 - 9:00
    e ver que essa pessoa jamais
    lhe chamará pelo seu nome,
  • 9:00 - 9:03
    que você será uma pessoa "X" na vida dela
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    realmente nos toca.
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    Adoro quando a vejo e digo:
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    "Senhora Neli, como está?"
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    No fundo, ela sabe
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    que mesmo que não conheça o meu nome,
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    tampouco meu rosto,
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    há algo nela que lhe diz
    que estar comigo é um lugar seguro.
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    Que estar com essas pessoas
    que dão seu tempo diariamente,
  • 9:27 - 9:30
    com ouvidos e olhos atentos,
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    fazem com que seja possível
    viver com o Alzheimer
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    e, além disso, que seja uma vida feliz.
  • 9:40 - 9:41
    E quando chegaram ao final,
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    a família saberá que lhes proporcionou
    os melhores momentos
  • 9:45 - 9:49
    e de que criou novas lembranças,
    não só com a mãe ou o pai,
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    mas com um novo amigo.
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    Sabem de uma coisa?
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    A Bolívia não está preparada para os 447%.
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    E desses casos, somos culpados de 90%.
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    Vou lhes dizer três formas
  • 10:15 - 10:18
    de lutarmos contra o Alzheimer.
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    Primeira: deixem de alimentar o Pac-Man.
  • 10:24 - 10:27
    Durmam bem, tirem um tempo para si.
  • 10:28 - 10:31
    Parem de ter uma vida tão estressante.
  • 10:31 - 10:33
    Dediquem tempo a si mesmos e descansem.
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    Já sabem das consequências.
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    Segunda: tudo o que estão fazendo na vida
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    servirá para algo.
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    O labirinto é uma peça
    muito importante nisso,
  • 10:45 - 10:47
    porque quando mais difícil for,
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    mais difícil tornaremos o jogo para ele.
  • 10:51 - 10:52
    Façamos com que o Pac-Man se perca.
  • 10:53 - 10:57
    E que, com tantas lembranças,
    não se alimente para destruí-las.
  • 10:57 - 11:02
    E terceira: coloquem uma emoção
    em cada momento.
  • 11:02 - 11:04
    Quanto mais fortes são as emoções,
  • 11:05 - 11:06
    maior será a lembrança.
  • 11:07 - 11:10
    Vivam intensamente e criarão atalhos,
  • 11:11 - 11:13
    e o cérebro encontrará maneiras
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    para lutar contra o Alzheimer.
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    Unidos, em família,
  • 11:18 - 11:21
    conectados com nossos amigos,
    com nossa comunidade,
  • 11:22 - 11:24
    conseguiremos lutar contra o Alzheimer.
  • 11:25 - 11:26
    Muito obrigada.
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    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Candidatos perfeitos ao Alzheimer | Adriana Zubieta | TEDxSantaCruzdelaSierra
Description:

Cada erro e acerto definem nossa história pessoal, determinando nossa identidade armazenada na memória, permitindo ser quem somos e que nos relacionemos com outras pessoas.

Na velhice, muitas pessoas enfrentam o Alzheimer, uma doença que, além de nos tirar nossas lembranças, rouba momentos inesquecíveis com nossos entes queridos, nossa identidade e também nossa capacidade de viver.

Adriana Zubieta nos ajuda a entender, de maneira simples, como se luta contra essa doença mediante um jogo, e nos convida a mudar nossos hábitos, tornando-nos conscientes de que o que aprendemos ao longo da vida pode ser uma arma eficiente para combater o Alzheimer.

É psicóloga, encarregada de desenho e capacitação na elaboração de programas de estimulação neurocognitiva, voluntária na Associação Boliviana de Alzheimer, e voluntária na Sociedade Boliviana de Neuropsicologia.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
11:36

Portuguese, Brazilian subtitles

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