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Poderemos regenerar o músculo cardíaco com células estaminais?

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    Gostaria de vos falar
    de uma paciente chamada Donna.
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    Nesta fotografia, a Donna
    estava nos seus setentas,
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    uma mulher saudável e vigorosa,
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    a matriarca de um grande clã.
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    Porém, tinha um histórico
    de doenças cardíacas na família,
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    e, um dia, teve os primeiros sintomas
    de uma esmagadora dor no peito.
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    Infelizmente, em vez
    de procurar um médico,
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    a Donna foi para a cama
    cerca de 12 horas até a dor passar.
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    Na consulta seguinte com o médico,
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    ele fez um electrocardiograma,
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    e este mostrou que ela tinha tido
    um forte ataque cardíaco,
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    ou, na gíria médica,
    um enfarte agudo do miocárdio.
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    Depois deste ataque cardíaco,
    a Donna não voltou a ser bem a mesma.
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    Os seus níveis de energia
    diminuíram progressivamente,
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    não conseguia fazer muitas das actividades
    físicas de que antes gostava.
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    Chegou ao ponto em que não conseguia
    acompanhar os seus netos,
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    e até tinha dificuldade
    em ir à entrada de casa
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    buscar o correio.
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    Um dia, a neta foi a casa dela
    para passear o cão,
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    e encontrou a avó morta
    sentada na cadeira.
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    Os médicos disseram que fora uma arritmia
    secundária à insuficiência cardíaca.
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    Mas a última coisa que devo dizer-vos
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    é que a Donna não era apenas
    uma doente qualquer.
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    A Donna era a minha mãe.
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    Histórias como as nossas são,
    infelizmente, demasiado comuns.
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    A insuficiência cardíaca é a causa
    de morte nº 1 no mundo inteiro.
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    Nos EUA,
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    é o motivo mais comum
    de internamento no hospital,
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    e é a nossa maior despesa de saúde.
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    Gastamos mais de 100 mil milhões
    de dólares,
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    neste país, todos os anos,
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    no tratamento da insuficiência cardíaca.
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    Só para termos noção, é mais
    do que o dobro do orçamento anual
  • 1:32 - 1:33
    do estado de Washington.
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    O que torna esta doença tão mortal?
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    Bom, tudo começa com o facto de o coração
    ser o órgão menos regenerativo
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    do corpo humano.
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    Um ataque cardíaco acontece
    quando se forma um coágulo de sangue
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    numa artéria coronária que leva
    sangue às paredes cardíacas.
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    Isto bloqueia a circulação sanguínea,
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    e o músculo cardíaco
    é metabolicamente muito activo,
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    e, por isso, morre muito rapidamente,
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    em apenas algumas horas após
    a interrupção da circulação do sangue.
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    Como o coração não volta
    a ganhar novo músculo,
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    ele sara formando uma cicatriz.
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    Isto deixa os pacientes
    com uma insuficiência
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    na quantidade de músculo
    cardíaco que têm.
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    E em muitas pessoas, a insuficiência
    progride até ao ponto
  • 2:11 - 2:15
    em que o coração já não consegue manter
    a circulação sanguínea necessária.
  • 2:15 - 2:19
    Este desequilíbrio
    entre capacidade e necessidade
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    é o cerne da insuficiência cardíaca.
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    Por isso, quando falo com as pessoas
    sobre este problema,
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    é comum ver um encolher de ombros
    e uma frase a acompanhar:
  • 2:30 - 2:33
    "Bem, tu sabes, Chuck,
    temos de morrer de alguma coisa."
  • 2:33 - 2:35
    (Risos)
  • 2:36 - 2:40
    E é verdade, mas o que isso
    também me diz
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    é que nos resignamos a este estado
    de coisas, porque tem de ser.
  • 2:47 - 2:48
    Ou será que não?
  • 2:48 - 2:50
    Eu acho que há uma forma melhor,
  • 2:50 - 2:54
    que envolve a utilização de células
    estaminais como medicamentos.
  • 2:54 - 2:57
    Então, o que são, exactamente,
    células estaminais?
  • 2:57 - 3:00
    Se as virem num microscópio,
    não se passa grande coisa.
  • 3:00 - 3:02
    São simplesmente pequenas
    células redondas.
  • 3:02 - 3:05
    Mas isso esconde dois atributos notáveis.
  • 3:05 - 3:07
    Primeiro: conseguem
    dividir-se como loucas.
  • 3:07 - 3:10
    Assim, consigo pegar numa única célula
    e, no espaço de um mês,
  • 3:10 - 3:13
    posso multiplicá-la até
    milhares de milhões.
  • 3:13 - 3:17
    Segundo: conseguem diferenciar-se
    ou tornar-se mais especializadas,
  • 3:17 - 3:21
    ou seja, estas simples e pequenas células
    podem transformar-se em pele,
  • 3:21 - 3:24
    em cérebro, em rim, etc.
  • 3:24 - 3:28
    Alguns tecidos no nosso corpo
    estão a abarrotar de células estaminais.
  • 3:28 - 3:32
    A nossa medula espinal, por exemplo,
    produz por dia milhares de milhões delas.
  • 3:32 - 3:34
    Outros tecidos, como o cardíaco,
    não mudam,
  • 3:34 - 3:38
    e, ao que conhecemos, o coração
    não tem células estaminais de todo.
  • 3:38 - 3:42
    Então, para o coração, temos de trazer
    estas células do exterior.
  • 3:42 - 3:45
    Para isso, recorremos às células
    estaminais mais potentes,
  • 3:45 - 3:47
    as células estaminais pluripotentes.
  • 3:47 - 3:49
    Estas chamam-se pluripotentes
  • 3:49 - 3:53
    porque podem tornar-se em qualquer um
    dos cerca de 240 tipos de células
  • 3:53 - 3:55
    que compõem o corpo humano.
  • 3:55 - 3:57
    Então, esta é a minha grande ideia:
  • 3:57 - 3:59
    quero pegar em células estaminais
    pluripotentes humanas,
  • 3:59 - 4:02
    multiplicá-las em grandes quantidades,
  • 4:02 - 4:04
    diferenciá-las para células
    de músculo cardíaco,
  • 4:04 - 4:07
    e depois pegar nelas e transplantá-las
  • 4:07 - 4:10
    para corações de pacientes
    que tiveram ataques cardíacos.
  • 4:10 - 4:14
    Creio que elas vão reocupar a parede
    com novo tecido muscular,
  • 4:14 - 4:17
    e isto irá restaurar a função
    contráctil do coração.
  • 4:17 - 4:20
    (Aplausos)
  • 4:24 - 4:28
    Antes de aplaudirem demasiado,
    esta era a minha ideia há 20 anos.
  • 4:28 - 4:30
    (Risos)
  • 4:30 - 4:33
    E eu era jovem, presumido, e pensei
  • 4:33 - 4:36
    que, em cinco anos no laboratório,
    ficaria tudo resolvido,
  • 4:36 - 4:39
    e avançaríamos para a clínica.
  • 4:39 - 4:41
    Deixem-me contar-vos
    o que realmente aconteceu.
  • 4:41 - 4:42
    (Risos)
  • 4:42 - 4:45
    Começámos por procurar transformar
    as células estaminais pluripotentes
  • 4:45 - 4:47
    em músculo cardíaco.
  • 4:47 - 4:50
    As nossas primeiras experiências
    funcionaram...mais ou menos..
  • 4:50 - 4:52
    Conseguimos pequenas massas
    de músculo cardíaco humano,
  • 4:52 - 4:53
    com batimento,
  • 4:53 - 4:56
    e foi fixe, porque queria dizer
    que, em princípio,
  • 4:56 - 4:58
    isso poderia ser feito.
  • 4:58 - 5:00
    Mas quando chegámos
    à contagem de células,
  • 5:00 - 5:03
    descobrimos que apenas uma
    das mil células estaminais
  • 5:03 - 5:06
    estava realmente a tornar-se
    em músculo cardíaco.
  • 5:06 - 5:11
    As restantes eram só uma mixórdia
    de cérebro, pele, cartilagem
  • 5:11 - 5:13
    e intestino.
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    Então, como persuadir uma célula
    — que se pode transformar no que for —
  • 5:17 - 5:20
    a tornar-se apenas
    numa célula do músculo cardíaco?
  • 5:20 - 5:23
    Para fazer isto recorremos
    ao mundo da embriologia.
  • 5:23 - 5:26
    Por mais de um século, os embriologistas
    tinham vindo a estudar
  • 5:26 - 5:28
    os mistérios do desenvolvimento
    do coração.
  • 5:28 - 5:31
    E eles tinham-nos dado o que era
    essencialmente um mapa
  • 5:31 - 5:33
    de como passar
    de um simples ovo fertilizado
  • 5:33 - 5:36
    para um sistema cardiovascular humano.
  • 5:37 - 5:40
    Nós ocultámos desavergonhadamente
    toda esta informação
  • 5:40 - 5:43
    e tentámos obter desenvolvimento
    cardiovascular humano
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    numa placa de Petri.
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    Demorámos cerca de cinco anos,
    mas hoje em dia,
  • 5:48 - 5:51
    conseguimos que 90% das nossas células
    estaminais se tornem músculo cardíaco
  • 5:51 - 5:54
    — 900 vezes melhor do que antes.
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    Isto foi bastante excitante.
  • 5:56 - 5:59
    Este diapositivo mostra-vos
    o nosso produto celular actual.
  • 5:59 - 6:03
    Cultivamos as células miocárdicas
    em pequenas massas tridimensionais
  • 6:03 - 6:05
    chamadas organóides cardíacos.
  • 6:05 - 6:08
    Cada um deles contém
    500 a 1000 células cardíacas.
  • 6:08 - 6:12
    Se virem com atenção, podem ver
    os pequenos organóides a contrair-se;
  • 6:12 - 6:14
    cada um deles está a bater
    de forma independente.
  • 6:14 - 6:17
    Mas eles têm outro truque na manga.
  • 6:17 - 6:20
    Tirámos um gene de uma alforreca
    que vive no noroeste do Pacífico
  • 6:20 - 6:22
    e usámos uma técnica chamada
    edição do genoma
  • 6:22 - 6:25
    para unir este gene
    às células estaminais.
  • 6:25 - 6:30
    Isto faz as nossas células miocárdicas
    reluzirem a verde cada vez que batem.
  • 6:30 - 6:34
    Estávamos finalmente prontos
    para começar as experiências em animais.
  • 6:34 - 6:36
    Pegámos nas nossas células
    de músculo cardíaco
  • 6:36 - 6:38
    e transplantámo-las
    para os corações de ratos
  • 6:38 - 6:41
    em que tinham sido induzidos
    ataques cardíacos experimentais.
  • 6:41 - 6:44
    Um mês mais tarde, espreitei
    ansiosamente no meu microscópio
  • 6:44 - 6:46
    para ver as nossas culturas,
  • 6:46 - 6:47
    e vi...
  • 6:48 - 6:49
    que não havia nada.
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    Tinham morrido todas.
  • 6:51 - 6:55
    Mas nós perseverámos,
    e criámos uma mistura bioquímica
  • 6:55 - 6:58
    a que chamámos o nosso
    "cocktail" de sobrevivência.
  • 6:58 - 7:00
    Isto permitiu que
    as nossas células sobrevivessem
  • 7:00 - 7:03
    ao processo desgastante da transplantação.
  • 7:03 - 7:06
    Agora, quando olhava pelo microscópio,
  • 7:06 - 7:08
    via músculo cardíaco humano
    viçoso e jovem,
  • 7:08 - 7:12
    a voltar a crescer na parede lesionada
    do coração deste rato.
  • 7:12 - 7:14
    Isto estava a ficar interessante.
  • 7:14 - 7:15
    A questão seguinte era:
  • 7:16 - 7:19
    Irá este novo músculo bater
    em sincronia com o resto do coração?
  • 7:19 - 7:21
    Para responder a isso,
  • 7:21 - 7:25
    recorremos às células
    que continham o gene da alforreca.
  • 7:25 - 7:28
    Usámos essas células basicamente
    como uma sonda espacial
  • 7:28 - 7:31
    que podíamos lançar
    num ambiente estranho
  • 7:31 - 7:33
    e depois ter a resposta reluzente
  • 7:33 - 7:35
    sobre a sua actividade biológica.
  • 7:35 - 7:37
    O que vêem aqui
    é uma imagem aumentada,
  • 7:37 - 7:40
    a preto e branco, do coração
    de um porquinho-da-índia
  • 7:40 - 7:43
    que estava lesionado e recebeu 3 enxertos
    do nosso músculo cardíaco humano.
  • 7:43 - 7:46
    Vêem esta espécie
    de linhas brancas diagonais?
  • 7:46 - 7:47
    Cada uma delas é uma marca de agulha
  • 7:47 - 7:51
    que contém alguns milhões
    de células de músculo cardíaco.
  • 7:52 - 7:54
    Quando mostrar o vídeo,
    podem ver o que nós vimos
  • 7:54 - 7:57
    quando olhámos pelo microscópio.
  • 7:57 - 7:59
    As nossas células estão a reluzir,
  • 7:59 - 8:01
    e a reluzir em sincronia,
  • 8:01 - 8:03
    nas paredes do coração lesionado.
  • 8:03 - 8:04
    O que significa isto?
  • 8:04 - 8:06
    Significa que as células estão vivas,
  • 8:06 - 8:08
    estão bem, estão a bater,
  • 8:08 - 8:10
    conseguiram estabelecer ligações entre si
  • 8:10 - 8:12
    e estão a bater em sincronia.
  • 8:12 - 8:14
    Mas é mais interessante do que isso.
  • 8:14 - 8:17
    Se olharem para o registo
    na parte inferior,
  • 8:17 - 8:20
    vêem o elecrocardiograma
    do coração do porquinho-da-índia.
  • 8:20 - 8:23
    E se compararmos o reluzir
    com o bater do coração,
  • 8:23 - 8:25
    que vemos em baixo,
  • 8:25 - 8:28
    vemos que há uma correspondência
    perfeita entre eles.
  • 8:28 - 8:32
    Por outras palavras, o "pacemaker" natural
    do porquinho-da-índia está a liderar,
  • 8:32 - 8:35
    e as células de tecido muscular humano
    estão a marcar passo,
  • 8:36 - 8:37
    como bons soldados.
  • 8:38 - 8:41
    (Aplausos)
  • 8:44 - 8:47
    Os nossos estudos actuais avançaram
    para o que eu acho que vai ser
  • 8:47 - 8:50
    o melhor indicador possível
    de um paciente humano,
  • 8:50 - 8:52
    e esse é o macaco Macaca.
  • 8:53 - 8:57
    O próximo diapositivo mostra-vos
    uma imagem microscópica
  • 8:57 - 9:01
    do coração de um Macaca ao qual foi
    induzido um ataque cardíaco experimental
  • 9:01 - 9:03
    e que foi depois tratado
    com uma injecção salina.
  • 9:03 - 9:05
    Isto é essencialmente
    como um tratamento placebo
  • 9:05 - 9:07
    para mostrar o percurso natural da doença.
  • 9:08 - 9:10
    O músculo cardíaco do macaco
    está a vermelho,
  • 9:10 - 9:13
    e, a azul, podem ver o tecido cicatrizado
    resultante do ataque cardíaco.
  • 9:13 - 9:17
    Então, quando olham para isto, podem ver
    que há uma grande deficiência no músculo
  • 9:17 - 9:19
    numa parte da parede cardíaca.
  • 9:19 - 9:22
    E não é difícil imaginar
    como este coração teria dificuldades
  • 9:22 - 9:24
    em gerar muita força.
  • 9:25 - 9:29
    Em contraste, este é um dos corações
    tratados com células estaminais.
  • 9:29 - 9:33
    Podem ver novamente o músculo cardíaco
    do macaco a vermelho,
  • 9:33 - 9:36
    mas é muito difícil ver
    o tecido cicatrizado azul,
  • 9:36 - 9:39
    e isso é porque conseguimos
    voltar a preenchê-lo
  • 9:39 - 9:41
    com músculo cardíaco humano.
  • 9:41 - 9:43
    Por isso, temos esta parede
    bonita e cheia.
  • 9:43 - 9:46
    Paremos por um segundo
    para recapitular.
  • 9:46 - 9:48
    Mostrei-vos que podemos pegar
    nas nossas células estaminais
  • 9:48 - 9:51
    e transformá-las em músculo cardíaco.
  • 9:51 - 9:54
    Aprendemos como mantê-las vivas
    após a transplantação,
  • 9:54 - 9:57
    mostrámos que elas batem
    em sincronia com o restante coração,
  • 9:57 - 9:59
    e mostrámos que podemos passá-las
  • 9:59 - 10:04
    para um animal que é o melhor
    indicador de uma resposta humana.
  • 10:05 - 10:10
    Seria de pensar que já tínhamos encontrado
    todos os obstáculos possíveis, certo?
  • 10:11 - 10:13
    Afinal não.
  • 10:13 - 10:15
    Estes estudos com macacos
    também nos ensinaram
  • 10:16 - 10:20
    que as células miocárdicas humanas criavam
    um período de instabilidade eléctrica.
  • 10:20 - 10:24
    Causavam arritmias ventriculares,
    ou batimentos cardíacos irregulares,
  • 10:24 - 10:26
    durante várias semanas após o transplante.
  • 10:27 - 10:31
    Isto foi inesperado, pois não o havíamos
    visto em animais mais pequenos.
  • 10:31 - 10:33
    Estudámos isto de forma extensiva,
  • 10:33 - 10:37
    e afinal isto resulta do facto
    de os nossos esquemas celulares
  • 10:37 - 10:39
    serem bastante imaturos,
  • 10:39 - 10:42
    e células miocárdicas imaturas
    comportam-se todas como "pacemakers".
  • 10:42 - 10:45
    Então, o que acontece é isto:
    nós implantámo-las no coração,
  • 10:45 - 10:48
    e começa uma competição
    com o "pacemaker" natural do coração
  • 10:48 - 10:50
    para ver quem toma as decisões.
  • 10:50 - 10:53
    É quase como se levassem
    um bando de adolescentes
  • 10:53 - 10:56
    para a vossa ordeira casa
    todos de uma vez.
  • 10:56 - 11:00
    Eles não querem cumprir as regras
    ou ritmos de fazer as coisas,
  • 11:00 - 11:02
    e demora algum tempo
    a organizar toda a gente
  • 11:02 - 11:05
    e a pôr todos a trabalhar
    de forma coordenada.
  • 11:05 - 11:07
    Por isso o nosso plano, neste momento,
  • 11:07 - 11:10
    é fazer as células ultrapassarem
    este conturbado período da adolescência
  • 11:10 - 11:12
    enquanto elas estão em laboratório,
  • 11:12 - 11:16
    e depois transplantá-las na fase
    pós-adolescente,
  • 11:16 - 11:18
    em que deverão ser bem mais ordeiras
  • 11:18 - 11:21
    e estarem prontas a respeitar
    as ordens que receberem.
  • 11:21 - 11:24
    Entretanto, podemos muito bem ajudá-las
  • 11:24 - 11:27
    ao tratá-las também
    com um fármaco antiarrítmico.
  • 11:27 - 11:30
    Permanece, então, uma grande questão,
  • 11:30 - 11:33
    e esta é, claro, o propósito
    que traçamos para fazer isto:
  • 11:33 - 11:37
    Conseguimos realmente fazer o coração
    ferido recuperar a sua função?
  • 11:37 - 11:39
    Respondendo a esta questão
  • 11:39 - 11:42
    fomos ver algo chamado
    fracção de ejecção ventricular esquerda.
  • 11:42 - 11:45
    A fracção de ejecção é simplesmente
    a quantidade de sangue
  • 11:45 - 11:47
    que é bombeado para fora
    da cavidade cardíaca
  • 11:47 - 11:48
    a cada batimento.
  • 11:48 - 11:51
    Em macacos saudáveis,
    como em pessoas saudáveis,
  • 11:51 - 11:54
    as fracções ejectoras
    são de cerca de 65%.
  • 11:54 - 11:58
    Após um ataque cardíaco,
    a fracção cai para cerca de 40%.
  • 11:58 - 12:01
    Por isso estes animais estão
    certamente em risco de falha cardíaca.
  • 12:01 - 12:02
    Quando examinamos os animais
  • 12:02 - 12:05
    que recebem uma injecção placebo,
    um mês mais tarde,
  • 12:05 - 12:07
    vemos que a fracção de ejecção
    não mudou,
  • 12:07 - 12:10
    porque o coração, obviamente,
    não recupera espontaneamente.
  • 12:10 - 12:13
    Mas em todos os animais
    que receberam um enxerto
  • 12:13 - 12:15
    de células de músculo cardíaco humano,
  • 12:15 - 12:18
    vemos uma melhoria substancial
    na função cardíaca.
  • 12:18 - 12:22
    A melhoria foi, em média, de 8 pontos,
    ou seja, de 40 para 48%.
  • 12:22 - 12:25
    O que vos posso dizer é que
    8 pontos é um resultado melhor
  • 12:25 - 12:28
    do que qualquer outro
    no mercado neste momento
  • 12:28 - 12:30
    para tratar pacientes
    com ataques cardíacos.
  • 12:30 - 12:32
    É melhor do que tudo
    o que temos conseguido fazer.
  • 12:32 - 12:35
    Por isso, se alcançássemos
    oito pontos na clínica,
  • 12:35 - 12:37
    creio que seria um grande feito
  • 12:37 - 12:39
    que teria um enorme impacto
    na saúde humana.
  • 12:39 - 12:42
    Mas as coisas ainda melhoram.
  • 12:43 - 12:45
    Isto foram apenas quatro semanas
    após o transplante.
  • 12:45 - 12:48
    Se estendermos este estudo
    até aos três meses,
  • 12:48 - 12:52
    atingimos um ganho de 22 pontos
    na fracção ejectora.
  • 12:52 - 12:55
    (Aplausos)
  • 13:00 - 13:02
    A função nestes corações
    em tratamento é tão boa
  • 13:02 - 13:05
    que, se não soubéssemos de antemão
  • 13:05 - 13:07
    que estes animais tinham tido
    um ataque cardíaco,
  • 13:07 - 13:11
    nunca o poderíamos ver
    pelos seus estudos funcionais.
  • 13:13 - 13:16
    Avançando, o nosso plano
    é iniciar a primeira fase,
  • 13:16 - 13:20
    primeiro em testes humanos aqui
    na Univ. de Washington em 2020
  • 13:20 - 13:22
    — daqui a apenas dois curtos anos.
  • 13:23 - 13:26
    Presumindo que estes estudos
    são seguros e eficazes,
  • 13:26 - 13:28
    o que acredito que venham a ser,
  • 13:28 - 13:32
    o nosso plano é aumentar a escala
    e levar estas células pelo mundo fora
  • 13:32 - 13:35
    para tratar pacientes
    com insuficiência cardíaca.
  • 13:35 - 13:37
    Dada a incidência global desta doença,
  • 13:37 - 13:40
    poderia facilmente imaginar
    que isto tratasse um milhão de pacientes,
  • 13:40 - 13:41
    ou mais, por ano.
  • 13:41 - 13:44
    Por isso, eu visiono um tempo
    — talvez daqui a uma década —
  • 13:44 - 13:47
    em que um paciente como a minha mãe
    tenha tratamentos verdadeiros,
  • 13:47 - 13:51
    que tratem a raiz do problema,
    em vez de apenas gerir os seus sintomas.
  • 13:51 - 13:54
    Tudo isto vem do facto
    de as células estaminais possibilitarem
  • 13:54 - 13:56
    a reparação do corpo humano
  • 13:56 - 13:58
    a partir dos seus componentes.
  • 13:59 - 14:01
    No futuro não muito distante,
  • 14:01 - 14:03
    reparar seres humanos passará
  • 14:03 - 14:07
    de algo que é ficção científica rebuscada
  • 14:07 - 14:10
    a uma prática médica comum.
  • 14:10 - 14:11
    E quando isso acontecer,
  • 14:11 - 14:14
    terá um efeito transformacional
  • 14:14 - 14:17
    que rivalizará com o desenvolvimento
    de vacinas e antibióticos.
  • 14:18 - 14:20
    Obrigado pela vossa atenção.
  • 14:20 - 14:22
    (Aplausos)
Title:
Poderemos regenerar o músculo cardíaco com células estaminais?
Speaker:
Chuck Murry
Description:

O coração é um dos órgãos menos regenerativos do corpo humano — um grande factor para fazer da insuficiência cardíaca a razão de morte nº 1 a nível mundial. E se conseguíssemos ajudar o músculo cardíaco a regenerar após uma lesão?
O cientista e físico Chuck Murry partilha a sua inovadora pesquisa que utiliza células estaminais para gerar novas células cardíacas, um excitante passo no sentido de perceber as células estaminais como um tratamento incrível e promissor.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:35

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