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A história do alfaiate e do dentista | Fleur Bakker e Mohammed Reza Amiri | TEDxApeldoorn

  • 0:11 - 0:14
    Fleur Bakker: Acho que sou
    uma "smurf" nervosa.
  • 0:14 - 0:16
    (Risos)
  • 0:16 - 0:19
    Mas vamos a isto.
  • 0:21 - 0:25
    A palavra "refugiado" é uma palavra
    com grande carga.
  • 0:26 - 0:28
    É acompanhada de imagens fortes
  • 0:28 - 0:31
    de correntezas de pessoas
    a tentar atravessar as fronteiras,
  • 0:31 - 0:34
    apinhadas em pequenos
    barcos de borracha
  • 0:34 - 0:39
    e essas imagens fortes provêm dos "media"
  • 0:39 - 0:43
    que tentam relatar aquilo
    a que chamamos "a crise de refugiados".
  • 0:44 - 0:47
    A palavra "refugiado"
    tornou-se uma etiqueta
  • 0:47 - 0:50
    em que não conseguimos ver
    as pessoas normais por detrás dela,
  • 0:50 - 0:52
    as pessoas normais que chegam aqui,
  • 0:52 - 0:56
    padeiros, desenhadores, engenheiros,
    pessoas super felizes,
  • 0:56 - 0:59
    "smurfs" talvez.
  • 1:02 - 1:04
    É sobre isso que queremos falar.
  • 1:04 - 1:08
    Vou contar-vos as histórias
    do alfaiate e do dentista.
  • 1:08 - 1:10
    Imaginem que o vosso avô
  • 1:10 - 1:12
    tinha sido forçado a sair do seu país.
  • 1:12 - 1:15
    Tinha saído do seu país
    sem levar os filhos
  • 1:15 - 1:17
    sem levar os netos.
  • 1:17 - 1:19
    Chega a um país novo,
  • 1:19 - 1:22
    onde não conhece a língua,
    a comida, os hábitos.
  • 1:22 - 1:26
    Imaginem a confusão dele.
  • 1:26 - 1:29
    Vou apresentar-vos o Sr. Galeb.
  • 1:29 - 1:30
    Este é o Sr. Galeb.
  • 1:31 - 1:34
    Conheci-o num abrigo de emergência,
    no ano passado, em Amesterdão.
  • 1:37 - 1:39
    Vi um homem
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    que só falava árabe, com 59 anos
  • 1:41 - 1:45
    e pensei que devia ter muita dificuldade
    em arranjar trabalho,
  • 1:45 - 1:47
    aqui na Holanda.
  • 1:47 - 1:51
    Começámos a conversar e ele disse-me
    que tinha sido fabricante de "smokings"
  • 1:51 - 1:53
    na Síria, durante anos.
  • 1:55 - 1:58
    A Denim House, em Amesterdão,
    pedira-nos para arranjarmos alfaiates
  • 1:58 - 2:01
    porque não conseguiam arranjar
    bons alfaiates holandeses.
  • 2:01 - 2:06
    Pusemos um anúncio no Facebook
    e responderam 20 alfaiates.
  • 2:07 - 2:08
    Fizemos um teste
  • 2:08 - 2:10
    e o Sr. Galeb foi um deles.
  • 2:10 - 2:13
    Quando se sentou
    a uma máquina de costura,
  • 2:13 - 2:16
    ocorreu uma transformação total.
  • 2:16 - 2:19
    Sentiu-se confiante, um mestre-alfaiate,
  • 2:19 - 2:23
    obviamente, de todos os jovens alfaiates
    — estava a orientá-los.
  • 2:25 - 2:28
    Foi uma coisa linda de se ver.
  • 2:28 - 2:31
    Mas o Sr. Galeb tinha tido
    um longo percurso.
  • 2:31 - 2:34
    Fora um percurso assustador
    até chegar à Holanda.
  • 2:34 - 2:35
    Perdera a família,
  • 2:36 - 2:38
    não podia voltar a estar com a família.
  • 2:39 - 2:43
    Fora para um abrigo de emergência
    quando chegou à Holanda.
  • 2:43 - 2:47
    e depois transferiram-no para Gize,
    para um abrigo.
  • 2:47 - 2:49
    A partir desse abrigo em Gize,
  • 2:49 - 2:51
    transferiram-no para o abrigo de Emmen,
  • 2:51 - 2:54
    e de Emmen, há umas semanas,
  • 2:54 - 2:57
    transferiram-no para um abrigo
    em Hoogeveen.
  • 2:58 - 3:01
    Quando tinha trabalho
    — porque vendemos "smokings" —
  • 3:02 - 3:04
    vem a Amesterdão,
  • 3:04 - 3:07
    e arranjamos-lhe um local para dormir,
  • 3:07 - 3:09
    um bom local para trabalhar
  • 3:09 - 3:11
    e falámos com ele.
  • 3:11 - 3:14
    Ficámos a saber das suas preocupações
    com a família dispersa.
  • 3:16 - 3:19
    Mas o sistema considera-o uma estatística.
  • 3:19 - 3:23
    Sempre que aparece um local vago
    num abrigo, colocam-no lá.
  • 3:23 - 3:27
    O sistema não tem em conta
    a sua preocupação com a família.
  • 3:27 - 3:30
    O sistema não vê que ele é
    um alfaiate excelente.
  • 3:34 - 3:38
    Eu penso que o Sr. Galeb era alfaiate,
  • 3:38 - 3:41
    tornou-se refugiado
    e agora é alfaiate de novo.
  • 3:42 - 3:43
    Vou contar-vos a segunda história
  • 3:43 - 3:45
    sobre um dentista: Mohas.
  • 3:46 - 3:51
    Mohas estudou mais de seis anos
    na Síria, para ser dentista
  • 3:51 - 3:54
    e depois teve de fugir
    do país, teve de se ir embora.
  • 3:55 - 3:57
    Chegou à Holanda,
    e estava muito entusiasmado,
  • 3:57 - 4:00
    é um jovem, quer trabalhar.
  • 4:00 - 4:03
    Então, disseram-lhe que não podiam
    dar-lhe nenhuma equivalência.
  • 4:03 - 4:07
    Tinha de recomeçar os estudos
    do início.
  • 4:08 - 4:11
    Então, ele veio à Refugee Company.
  • 4:11 - 4:14
    Conversámos e ele explicou-me:
  • 4:14 - 4:16
    "Estou a trabalhar num restaurante.
  • 4:16 - 4:19
    "Estava tão desanimado que comecei
    a trabalhar num restaurante,
  • 4:19 - 4:22
    "e já não quero saber de ser dentista".
  • 4:23 - 4:26
    Acontece que a minha irmã
    é ortodontista em Leiden.
  • 4:27 - 4:29
    Umas semanas antes,
    no aniversário dela,
  • 4:29 - 4:33
    ela dissera-me que não encontrava
    pessoas qualificadas para a sua prática.
  • 4:33 - 4:35
    Então, falei-lhe de Mohas
  • 4:35 - 4:38
    e ela convidou-o para tomar um café.
  • 4:38 - 4:40
    Trabalharam juntos durante uns dias
  • 4:40 - 4:43
    e, ao fim de uma semana,
    ela ligou-me e disse:
  • 4:44 - 4:47
    "Estou muito entusiasmada
    porque ele tem umas mãos...
  • 4:47 - 4:49
    "Sabes, ele tem mesmo jeito.
  • 4:49 - 4:54
    "Por isso pensei experimentar
    e vou fazer um contrato de um ano".
  • 4:54 - 4:57
    Aquilo soava maravilhoso e simples.
  • 4:57 - 5:00
    Mas já passaram uns meses,
  • 5:00 - 5:02
    e ele tem dificuldade com a língua
  • 5:02 - 5:05
    e com a aceitação na equipa.
  • 5:05 - 5:06
    Mas, de qualquer modo, é um começo.
  • 5:06 - 5:09
    E apenas a partir de uma conversa informal
  • 5:09 - 5:12
    e da minha irmã, que foi corajosa
    em ter-lhe dado trabalho
  • 5:12 - 5:14
    e admiro-a por isso.
  • 5:15 - 5:19
    Mohammed Reza Amiri: Os refugiados
    têm sido forçados a sair do seu país.
  • 5:20 - 5:22
    Todos nós, enquanto seres humanos,
  • 5:22 - 5:24
    temos histórias de vida semelhantes.
  • 5:24 - 5:27
    Eu nasci no meu país,
  • 5:27 - 5:28
    fui criado por uma família,
  • 5:28 - 5:31
    cresci num bairro da cidade,
  • 5:31 - 5:32
    fui para a escola,
  • 5:32 - 5:35
    arranjei trabalho, apaixonei-me e casei.
  • 5:35 - 5:37
    Nasceram os meus filhos,
  • 5:37 - 5:40
    e eu esperava que os meus filhos
  • 5:40 - 5:43
    também tivessem a mesma sequência.
  • 5:43 - 5:48
    Esta pode ser quase a mesma história
    de muitas pessoas no mundo.
  • 5:49 - 5:55
    Provavelmente, o Sr. Galeb teve
    a mesma história que Karin Dijkstra,
  • 5:55 - 5:59
    a minha professora de línguas
    ficcional no manual
  • 5:59 - 6:01
    "Holandeses em Movimento."
  • 6:01 - 6:04
    (Risos)
  • 6:06 - 6:10
    Pois, mas a questão é que
    isto trata das coisas más
  • 6:10 - 6:13
    de que ouvimos falar de alguns países
  • 6:13 - 6:16
    — e muitas delas são verdade —
  • 6:16 - 6:19
    mas as pessoas preferem
    viver na sua casa,
  • 6:19 - 6:22
    entre os seus familiares,
  • 6:22 - 6:25
    com os seus amigos,
    os seus compatriotas,
  • 6:25 - 6:30
    a não ser que alguma coisa os force
    a deixar tudo isso para trás,
  • 6:30 - 6:33
    tudo aquilo que tinham,
    tudo aquilo que fizeram,
  • 6:33 - 6:36
    todos aqueles que amam
  • 6:36 - 6:41
    e procurar refúgio em países
    onde nem sequer conhecem a língua.
  • 6:42 - 6:44
    É uma coisa que muita gente esquece
  • 6:44 - 6:47
    ou nem sequer pensa nisso
  • 6:47 - 6:49
    ou talvez não possam imaginar
  • 6:49 - 6:52
    porque nunca tiveram essa experiência.
  • 6:52 - 6:54
    É uma coisa extremamente difícil
  • 6:54 - 6:56
    deixar tudo para trás.
  • 6:57 - 7:01
    Estamos aqui, mas o nosso coração
    está onde era a nossa casa.
  • 7:02 - 7:05
    FB: Por isso, penso que o que tentamos
    transmitir nesta palestra
  • 7:05 - 7:08
    é que para os refugiados, pessoas normais
    como vocês e como eu,
  • 7:08 - 7:11
    a vida deles teve uma paragem súbita.
  • 7:11 - 7:14
    Decidiram-se por esta viagem
    muito perigosa
  • 7:14 - 7:17
    e quando aqui chegaram,
    estavam exaustos.
  • 7:17 - 7:20
    Para superar todos esses traumatismos,
  • 7:20 - 7:23
    penso que deviam poder
    recomeçar a sua vida
  • 7:23 - 7:25
    logo que possível.
  • 7:25 - 7:29
    A vida deles nunca mais
    voltará a ser a mesma.
  • 7:29 - 7:30
    Nunca mais ouvirão os sons
  • 7:30 - 7:33
    dos seus filhos a brincar lá no bairro,
  • 7:33 - 7:38
    nunca mais cheirarão os aromas
    da cozinha das suas avós,
  • 7:38 - 7:43
    nunca mais estarão com os seus
    entes queridos num lugar qualquer
  • 7:43 - 7:46
    porque estarão todos dispersos.
  • 7:46 - 7:49
    Mas penso que podem reconstruir a vida
  • 7:49 - 7:53
    e trabalhar é um caminho rápido
    para reconstruir a vida.
  • 7:53 - 7:55
    Qualquer psicólogo vos dirá
  • 7:55 - 7:58
    que, quanto mais tempo estivermos
    sem trabalhar,
  • 7:58 - 8:01
    mais difícil é reintegrarmo-nos
    num local de trabalho.
  • 8:02 - 8:04
    Depois, há as regras.
  • 8:04 - 8:06
    As regras são muito difíceis.
  • 8:06 - 8:11
    Nunca encontrei dois funcionários
    a trabalhar no mesmo departamento
  • 8:12 - 8:15
    que dessem a mesma resposta
    a uma pergunta.
  • 8:15 - 8:19
    Penso que devíamos coordenar-nos melhor,
  • 8:20 - 8:22
    trabalharmos juntos
    para alterar as atitudes
  • 8:23 - 8:27
    e talvez para tentar quebrar
    os limites burocráticos.
  • 8:30 - 8:33
    Para nós, o importante
  • 8:33 - 8:38
    é que acreditamos que o trabalho
    é uma forma mais rápida de integração.
  • 8:38 - 8:41
    Há 16 anos que trabalho
  • 8:41 - 8:43
    em abrigos de refugiados
    em diversos projetos
  • 8:43 - 8:47
    e nunca falei com um refugiado
    que se quisesse manter
  • 8:47 - 8:48
    no nosso sistema de assistência social.
  • 8:48 - 8:51
    Todos queriam trabalhar
    o mais depressa possível.
  • 8:51 - 8:57
    Penso que nós, as organizações holandesas,
    as ONG, os grupos de voluntários,
  • 8:57 - 9:01
    ou apenas os cidadãos vulgares
    como vocês e eu,
  • 9:01 - 9:04
    penso que devíamos apoiar essa tendência.
  • 9:04 - 9:07
    Por isso, peço-vos
    que se envolvam pessoalmente.
  • 9:08 - 9:09
    Podemos fazer coisas simples:
  • 9:09 - 9:13
    olhem à vossa volta e, se virem
    qualquer oportunidade de trabalho
  • 9:13 - 9:16
    para os recém-chegados
    que chegam para viver aqui,
  • 9:16 - 9:19
    podem juntar-se à nossa rede
    ou ao nosso grupo de Facebook.
  • 9:19 - 9:20
    Podem ser mentores,
  • 9:20 - 9:22
    podem fazer uma pequena coisa.
  • 9:22 - 9:24
    MRA: Mas não tenham medo da realidade,
  • 9:24 - 9:27
    tentem compreendê-la
    o melhor que puderem.
  • 9:27 - 9:30
    Assim, podem conseguir lidar com isso,
  • 9:31 - 9:33
    talvez até introduzir algumas mudanças.
  • 9:34 - 9:37
    É muito importante
    ter consciência do facto
  • 9:37 - 9:40
    de que a crise dos refugiados,
    o problema da migração,
  • 9:40 - 9:44
    não é uma questão temporária,
    é uma questão permanente.
  • 9:44 - 9:47
    Desta vez, a guerra brutal
    e complexa no Médio Oriente,
  • 9:47 - 9:51
    provocou uma nova vaga de emigração
    que chegou às fronteiras da Europa,
  • 9:51 - 9:54
    mas e o que se passa
    com o aquecimento global?
  • 9:54 - 9:59
    De acordo com muitos cientistas,
    isso vai mudar algumas partes do mundo
  • 9:59 - 10:01
    que deixarão de ser habitáveis.
  • 10:01 - 10:04
    Assim, na Refugee Company,
    temos conhecimento desta realidade,
  • 10:04 - 10:06
    tentamos responder-lhe.
  • 10:06 - 10:09
    Também acreditamos
  • 10:09 - 10:13
    que os refugiados são uma ótima fonte
    de talentos, de aptidões e de conhecimento
  • 10:14 - 10:18
    e podem criar valor acrescentado
    a toda a sociedade
  • 10:18 - 10:25
    se, e apenas se, forem bem recebidos,
    assistidos e orientados devidamente.
  • 10:26 - 10:29
    O facto é que, estamos todos juntos.
  • 10:29 - 10:33
    E só temos um planeta como lar,
  • 10:33 - 10:37
    por isso, façamos com que
    todos nos sintamos confortáveis.
  • 10:37 - 10:38
    Obrigado.
  • 10:38 - 10:42
    (Aplausos)
Title:
A história do alfaiate e do dentista | Fleur Bakker e Mohammed Reza Amiri | TEDxApeldoorn
Description:

Fleur, em conjunto com Mohammad Reza Amiri, fala-nos de exemplos da vida real de como dar poder às pessoas e aceitar o que elas são e os seus talentos pode ter um impacto positivo não apenas na pessoa mas na sociedade.

A Refugee Company ajuda os refugiados. Aceleram a integração colocando as pessoas no centro da sociedade.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:52

Portuguese subtitles

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