Como ocupar a nooesfera | Ian MacKenzie | TEDxVictoria

Ian MacKenzie é um ardente realizador e ativista dos "media", dedicado a captar e partilhar "flashes" de paradigmas humanos emergentes.
O seu filme mais recente, "Occupy Love", explora a crescente noção de que os sistemas dominantes de poder estão a falhar, não proporcionando saúde, felicidade ou qualquer sentido. Ian sente que a crise resultante do colapso da bolsa em 2008 tornou-se num catalisador de um verdadeiro acordar.

Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

(Risos)

A primeira vez que vi esta máscara

foi no filme de 2006 "V for Vendetta".

O filme começa com Natalie Portman,
de cabeça rapada,

e Hugo Weaving, no papel
de um vingador com máscara.

Passa-se no ano de 2020,
numa sociedade distópica de Londres.

O personagem usa esta máscara
para ocultar a sua identidade

quando procura repetir
a Conspiração da Pólvora de 1605,

quando Guy Fawkes, juntamente
com camaradas conspiradores

tentaram fazer explodir
os edifícios do Parlamento de Londres.

A conspiração fracassou

quando uma carta anónima
chegou às autoridades

avisando-os do ataque.

Quando investigaram
as catacumbas do Parlamento,

encontraram Guy Fawkes
de guarda a 36 barris de explosivos.

Foi imediatamente interrogado,
torturado e condenado à morte.

No dia da execução,
quando subia os degraus do cadafalso,

Guy atirou-se da escada abaixo
e partiu o pescoço.

Apesar disso, o seu corpo inerte
foi esquartejado

e durante centenas de anos,
os ingleses troçaram do seu fracasso

usando a cara dele,
no dia cinco de novembro.

Dois anos depois do lançamento
de "V for Vendetta", em 2008,

a máscara foi adotada
pelo grupo "hacker" Anonymous,

quando efetuaram ataques cibernéticos
contra empresas e governos corruptos.

Em 2011, quando o movimento Occupy
irrompeu nas ruas de Nova Iorque,

Guy Fawkes estava por todo o lado,
aparecendo em locais, como...

o Egito...

(Risos)

Londres,

Brasil

e Turquia.

A minha avó acha
que estas máscaras são sinistras

e é verdade.

Representam um sentido de caos
ou de recusa à submissão

à ordem aceitável do mundo moderno.

Mas, para outros, as máscaras
representam um ícone de rebelião popular,

uma vontade de se erguer,
com os povos do mundo inteiro,

e lutar contra a injustiça.

Quanto a mim, tenho uma enorme dúvida:

"Como é que a cara
de um revolucionário do século XVII

"acaba como o símbolo mais evidente
dos protestos, no século XXI?"

Kalle Lasn é o fundador
da revista "Adbusters".

No ano passado, encontrava-me
no gabinete dele,

a falar do movimento Occupy.

Inspirada pela ocupação
da Praça Tahrir, no Egito,

a equipa dele apareceu
com a #occupywallstreet

e o póster da bailarina
empoleirada sobre o touro.

Por cima, as conhecidas
palavras inflamadas

"Qual é a nossa única exigência?"

e, por baixo, "17 de setembro.
Tragam a tenda".

(Risos)

Centenas corresponderam à chamada
e trataram de ocupar.

A concentração dominou
as ondas sonoras,

um drama épico cheio de imagens poderosas
e heróis emergentes.

Parecia que todos tinham uma opinião

mas parecia que ninguém sabia
o que é que queria realmente.

A 15 de outubro,
o movimento Occupy espalhou-se.

[Ocupem a Terra]

com mais de 150 acampamentos
surgindo pelo mundo inteiro

incluindo um, aqui mesmo em Victoria.

Um mês depois, ao alvorecer,
a 15 de novembro,

a polícia de Nova Iorque encerrou
à força o acampamento de Wall Street.

Seguiu-se uma repressão coordenada
por todas as cidades da América do Norte.

Voltando a "Adbusters" com Kalle Lasn,

perguntei-lhe para onde
devia seguir o movimento.

"É uma bomba mental", disse-me,
"não é um movimento tradicional".

Uma bomba mental
é uma ideia poderosa que se incendeia

espalhando-se de pessoa a pessoa,
de cultura a cultura.

Confessou-me que o movimento Occupy
era uma ideia louca, entre muitas.

Acontecera que esta funcionara,
apanhando-o de surpresa,

sobretudo a ele.

Talvez conheçam outra palavra
para descrever uma ideia viral.

A palavra é "meme".

Inventada pelo biólogo evolutivo,
Richard Dawkins, nos anos 70,

este termo refere-se a uma unidade
de transmissão cultural

que exige o uso de repetições
para sobreviver e evoluir.

Os "memes" propagam-se.
espalhando-se no meio de nós

de um anfitrião para outro,

que os vão modificando,
adaptando e remisturando.

Segundo Kalle Lasn,

está em movimento uma guerra
que é travada com "memes".

O campo de batalha

é a noosfera.

Em 1911, Vladimir Vernadsky,
um cientista ucraniano,

inventou o termo "noosfera"

para descrever a terceira fase
da evolução no planeta.

Primeiro, há a geosfera,
a camada de minerais em volta do globo.

Depois, a biosfera,
a camada de vida orgânica.

E agora, a noosfera,

a esfera do pensamento humano
que modela o nosso mundo.

Isto é um mapa neurológico
do cérebro humano.

Isto é um mapa da Internet.

Ambas as estruturas
são francamente semelhantes.

A primeira representa
a consciência de um só ser humano,

a outra, a nossa consciência global.

Isto...

(Risos)

... é o "rapper" PSY,

o criador do êxito arrasador
"Gangnam Style".

A 21 de dezembro de 2012,

que alguns consideram
como o dia do Apocalipse...

(Risos)

... ou do arrebatamento,

o vídeo de "Gangnam Style"
ultrapassou mil milhões de visitas

no YouTube,

tornando-o no vídeo
mais popular de sempre.

Pelo mundo inteiro, milhões
de pessoas imitaram a dança.

Mas não, eu não vou fazer isso aqui.

(Risos)

Bem...

(Risos)

Peço que considerem "Gangnam Style"
um poderoso "meme".

"Occupy Wall Street" é um poderoso "meme"

mas um "meme" de tipo especial,

uma bomba mental.

Foi um momento deflagrado
pelas revoluções

na Tunísia, no Egito e em Espanha,

mas remisturado numa coisa diferente.

Os "media" tradicionais tiveram
dificuldade em compreender.

Com efeito, o "The Rolling Stone",
só ao fim de 40 dias de ocupação,

finalmente, percebeu.

O repórter escreveu:

"Se é que existe fazer greve
da própria cultura,

"é isto".

Visitei Wall Street, em outubro de 2011,
e o que vi surpreendeu-me.

Vi um espaço humano fervilhante
de música, arte, diálogo,

unhas pintadas, e beleza
em todas as suas formas.

Vi a disposição das pessoas
em sentarem-se

e olharem umas para as outras,
cara a cara.

Este é um dos meus sinais preferidos.

Diz: "Amo a humanidade!
Resolvamos esta porcaria, todos juntos".

(Risos)

Também vi uma sombra,
vi sofrimento contido e feridas.

Vi assembleias gerais perturbadas,
vi raiva e vi tristeza.

Mas, no meio disso tudo,
reconheci a bomba mental.

Os problemas que o nosso mundo
enfrenta são vastos e complexos

desde a alteração climática
à instabilidade económica,

e ao colapso ambiental.

Ninguém sabe como compor as coisas:

nem os políticos, nem os cientistas,
nem as elites financeiras.

A cultura dominante não tem
trem de aterragem.

A visão tradicional da natureza humana
diz que somos seres independentes,

num universo indiferente

impulsionado para maximizar
os nossos interesses egoístas

e que, em última análise,
só contamos com nós mesmos.

Não admira que muitas pessoas
se sintam paralisadas,

esmagadas, indiferentes.

Afinal, se o problema reside
no núcleo do nosso ADN,

se os seres humanos
são defeituosos,

para quê tentar salvarmo-nos?

"Occupy Wall Street"
contou uma história muito diferente.

Vou dizer isto claramente.

"Não há nada de errado connosco".

Não há nada de errado
com os seres humanos.

De facto, uma mensagem
de "Occupy Wall Street"

é que os nossos problemas são culturais,
os nossos problemas são estruturais.

Nós somos os 99%,
podemos optar por criar

um mundo mais belo
que funcione para os 100%.

Isto é amor, não é um sentimento.

O amor é uma ação.

Foi amor o que eu vi surgir
em "Occupy Wall Street"

e no movimento desde então,

desde "Maple Spring" a "Idle No More",
a "Occupy Gezi" e não só.

Estamos a criar um protótipo
de um novo organismo coletivo

que quer nascer.

Mas ainda não chegámos lá.

Ora bem, vamos fazer uma experiência.

Se tivéssemos uma só hipótese,
qual seria a suprema bomba mental

que podíamos criar e libertar na noosfera?

Não estou a falar em revolução,

Isto é uma metamorfose.

Vocês, simpáticos, aí sentados,
especialmente os que estão aí em cima,

agradeço a vossa atenção.

Mas todos sabemos qual é o potencial
desta palestra, depois de publicada online.

Portanto, também estou a falar
para as pessoas que a veem

no computador, no "tablet"
ou nos telemóveis.

A forma mais poderosa de transmitir "memes"
é através duma história.

Por isso, vou contar uma história.

Há milhares de milhões de anos,
só havia escuridão.

Depois, num único momento,
o Universo explode em luz,

em estrelas, planetas, galáxias

e depois de uma infinidade
de tempo, surge a vida sensível:

bactérias, trogloditas, dinossauros,
mamíferos, vocês e eu.

Durante milhões de anos,
criámos as nossas sociedades.

tecemos as nossas culturas,
contámos as nossas histórias.

Há povos que se mantêm
dentro dos limites da vida

e povos que passaram para além deles.

Fogo, espadas, arados, máquinas a vapor,
aviões, computadores, a Internet.

Finalmente, hoje,
está a ocorrer a alteração climática.

Está em curso a sexta grande extinção.

Toda a vida está suspensa do equilíbrio.

Se eu pudesse proporcionar
uma única bomba mental,

sintetizada a partir da linha da frente
do paradigma emergente,

seria esta.

[O amor é a bomba mental]

Nós não somos um erro.

A vida quis seres humanos no mundo,

mas, enquanto esse momento
foi inevitável,

a nossa sobrevivência não é.

Vocês estão aqui por uma razão.

O próprio facto da vossa existência
é prova suficiente.

Vocês têm um dom necessário
e importante a oferecer ao mundo.

Chegou a altura de ser corajoso.

Chegou a altura de dar uso
aos vossos dons.

Se não sabem quais são os vossos dons,

continuem a explorar,
sigam o vosso instinto,

mas sigam os vossos medos,
sigam as vossas dúvidas,

e sigam as vossas mágoas.

A partir do paradigma emergente

reconhecemos que somos
interdependentes.

Cada um de nós reflete
a natureza fractal do todo.

Não têm que salvar o mundo sozinhos.

Tratem cada ação como significativa

e explorem o processo acasual de mudança.

Este é o reino da sincronia,

em que os acontecimentos da vossa vida

se alinham consoante
uma inteligência misteriosa.

É esta a emergência.

O amor é a bomba mental.

Vamos ocupar a noosfera, todos juntos.

Obrigado.

(Aplausos)