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Encontrar vida que não conseguimos imaginar

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    Tenho uma carreira estranha.
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    Sei disso porque há pessoas
    que me abordam,
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    colegas que me dizem:
    "Chris, tens uma carreira estranha."
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    (Risos)
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    E percebo o que querem dizer,
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    porque comecei a minha carreira
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    como um físico nuclear teórico.
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    E andava a pensar sobre quarks e gluões
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    e colisões de iões pesados,
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    e tinha apenas 14 anos.
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    Não, não, não tinha 14 anos.
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    Mas depois disso,
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    na verdade tinha o meu próprio laboratório
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    no departamento
    de neurociência computacional,
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    e não estava a fazer
    nenhuma neurociência.
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    Mais tarde, trabalharia
    em genética evolucionária,
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    e em biologia de sistemas.
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    Mas vou falar-vos sobre outra coisa, hoje.
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    Vou falar-vos
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    sobre como aprendi algo sobre a vida.
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    E eu era mesmo um cientista de foguetões.
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    Na verdade, não era
    um cientista de foguetões
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    mas estava a trabalhar
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    no Jet Propulsion Laboratory
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    na solarenga California onde faz calor;
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    ao passo que agora estou no Midwest,
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    e faz frio.
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    Mas foi uma experiência entusiasmante.
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    Um dia um gestor da NASA
    entra no meu escritório,
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    senta-se e diz:
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    "Pode dizer-nos por favor,
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    "como é que procuramos vida
    fora da Terra?"
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    E isso foi uma surpresa para mim,
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    porque eu tinha sido contratado,
    realmente,
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    para trabalhar em computação quântica.
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    No entanto,
    eu tinha uma muito boa resposta.
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    Disse: "Não faço ideia."
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    E ele disse-me: "Bioassinaturas,
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    "precisamos de procurar
    uma bioassinatura."
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    E eu disse: "O que é que é isso?"
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    E ele disse:
    "É qualquer fenómeno mensurável
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    "que nos permita indicar
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    "a presença de vida."
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    E eu disse: "A sério?
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    "É que, isso é fácil, não é?
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    "Quer dizer, temos vida.
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    "Não podem aplicar uma definição,
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    "por exemplo, uma definição do tipo
    das do Supremo Tribunal?"
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    E então pensei sobre isso
    um bocado, e disse:
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    "Bem, é mesmo fácil, não?
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    "Porque, sim, se virem algo assim,
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    "então tudo bem, vamos chamar-lhe vida,
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    "não há dúvidas.
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    "Mas aqui está uma coisa."
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    E ele diz:
    "Certo, isso também é vida. Eu sei.
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    "Excepto se pensares que a vida
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    "também se define por coisas que morrem,
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    "não vais ter sorte com esta coisa,
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    "porque, na verdade,
    é um organismo muito estranho.
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    "Desenvolve-se
    até à idade adulta dessa forma
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    "e depois passa por uma fase
    Benjamin Button,
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    "e depois retrocede e retrocede
  • 2:22 - 2:24
    "até ser como um embrião de novo,
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    "e então desenvolve-se de novo,
    e retrocede e desenvolve-se
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    "— como um ioiô —
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    "e nunca morre.
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    "Então, de facto é vida,
  • 2:32 - 2:36
    "mas, na realidade, não é
    como nós pensávamos que a vida seria.
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    "E então vemos algo assim."
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    E ele: "Meu Deus,
    que tipo de forma de vida é essa?"
  • 2:41 - 2:43
    Alguém sabe?
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    Na verdade, não é vida, é um cristal.
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    Então, assim que começamos a olhar
  • 2:48 - 2:50
    para coisas cada vez mais pequenas
  • 2:50 - 2:51
    — esta pessoa, em particular,
  • 2:51 - 2:54
    escreveu um artigo inteiro e disse:
    "Ei, isto são bactérias."
  • 2:54 - 2:56
    Só que, se olharmos
    um pouco mais de perto,
  • 2:56 - 3:00
    vemos que isto é pequeno demais
    para ser algo assim.
  • 3:00 - 3:01
    Ele ficou convencido,
  • 3:01 - 3:04
    mas a maioria das pessoas não.
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    E depois, é claro,
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    a NASA fez também
    um grande anúncio público,
  • 3:07 - 3:10
    e o Presidente Clinton
    deu uma conferência de imprensa,
  • 3:10 - 3:12
    sobre esta descoberta espantosa
  • 3:12 - 3:14
    de vida num meteorito marciano.
  • 3:14 - 3:18
    Só que hoje em dia,
    isto é amplamente disputado.
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    Se tirarmos a lição
    de todas estas imagens,
  • 3:21 - 3:24
    então apercebemo-nos — bem, na verdade,
    talvez não seja assim tão fácil.
  • 3:24 - 3:26
    Talvez eu precise mesmo
  • 3:26 - 3:28
    de uma definição de vida
  • 3:28 - 3:30
    para poder fazer aquele tipo de distinção.
  • 3:30 - 3:32
    Então, pode a vida ser definida?
  • 3:32 - 3:34
    Bem, como abordariam a questão?
  • 3:34 - 3:35
    Bem, é claro,
  • 3:35 - 3:38
    iriam à Enciclopédia Britânica,
    até à letra V.
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    Não, claro que não fariam isso;
    iriam antes ao Google.
  • 3:41 - 3:43
    E então talvez obtivessem algo.
  • 3:43 - 3:45
    E o que talvez obtivessem
  • 3:45 - 3:49
    — algo que realmente se referisse
    a coisas a que estamos habituados,
  • 3:49 - 3:50
    descartávamos.
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    E depois talvez chegassem
    a algo como isto.
  • 3:52 - 3:54
    E isto diz algo complicado
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    com montes e montes de conceitos.
  • 3:56 - 3:57
    Quem é que, à face da Terra,
  • 3:57 - 4:01
    escreveria algo tão retorcido e complexo
  • 4:01 - 4:02
    e inepto?
  • 4:03 - 4:07
    Oh, trata-se, na verdade, de um conjunto
    de conceitos muito, muito importantes.
  • 4:07 - 4:09
    Por isso, ao realçar apenas
    algumas palavras
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    e dizer que definições assim
  • 4:12 - 4:14
    dependem de coisas que não se baseiam
  • 4:14 - 4:17
    em aminoácidos ou folhas
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    ou qualquer coisa
    a que estejamos habituados,
  • 4:19 - 4:21
    mas apenas em processos.
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    E se dermos uma olhadela,
  • 4:23 - 4:26
    isto estava num livro que escrevi
    que lida com vida artificial
  • 4:26 - 4:29
    e que explica porque é que
    aquele gestor da NASA
  • 4:29 - 4:30
    foi parar ao meu escritório.
  • 4:30 - 4:34
    Porque a ideia era que,
    com conceitos destes,
  • 4:34 - 4:38
    talvez possamos, de facto, fabricar
    uma forma de vida.
  • 4:38 - 4:41
    E se vocês se estão a perguntar:
  • 4:41 - 4:42
    "Mas o que é a vida artificial?",
  • 4:42 - 4:45
    deixem-me guiar-vos numa visita relâmpago
  • 4:45 - 4:47
    à história de como tudo isto aconteceu.
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    E tudo começou há algum tempo,
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    quando alguém escreveu
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    um dos primeiros vírus
    de computador bem sucedidos.
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    E para aqueles de entre vocês
    que não são suficientemente velhos,
  • 4:57 - 4:59
    que não têm ideia
    de como esta infecção funcionava
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    — concretamente, através destas disquetes.
  • 5:01 - 5:04
    Mas o que é interessante nas infecções
    destes vírus de computador
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    é que, se olharmos para a taxa
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    a que a infecção avançava,
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    aparece este comportamento com picos
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    a que estamos acostumados
    num vírus da gripe.
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    E é devido a esta corrida ao armamento
  • 5:16 - 5:18
    entre "hackers" e "designers"
    de sistemas operativos
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    que as coisas avançam e retrocedem.
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    E o resultado
    é uma espécie de árvore da vida
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    destes vírus,
  • 5:24 - 5:27
    uma filogenia que se parece muito com
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    o tipo de vida a que estamos habituados,
    pelos menos ao nível dos vírus.
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    Então, trata-se de vida?
    Quanto a mim, não.
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    Porquê? Porque estas coisas
    não evoluem por si mesmas.
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    Têm "hackers" a escrevê-las.
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    Mas a ideia foi rapidamente levada
    um pouco mais longe
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    quando um cientista a trabalhar
    no Instituto de Santa Fé decidiu:
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    "Porque não tentamos embalar
    estes pequenos vírus
  • 5:48 - 5:51
    "em mundos artificiais
    dentro do computador
  • 5:51 - 5:52
    "e os deixamos evoluir?"
  • 5:52 - 5:54
    Foi Steen Rasmussen.
  • 5:54 - 5:56
    E ele desenhou este sistema,
    que não funcionou,
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    porque os vírus estavam constantemente
    a destruir-se uns aos outros.
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    Mas houve outro cientista
    que tinha estado a observar isto,
  • 6:02 - 6:04
    um ecologista.
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    E ele foi para casa e disse:
    "Sei como resolver isto."
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    E escreveu o sistema Tierra,
  • 6:08 - 6:10
    e, no meu livro, é um dos primeiros
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    verdadeiros sistemas vivos artificiais
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    — excepto pelo facto que aqueles programas
    não se desenvolveram em complexidade.
  • 6:16 - 6:19
    Então, tendo visto o seu trabalho,
    e trabalhado um pouco nisto,
  • 6:19 - 6:20
    foi aqui que eu entrei.
  • 6:20 - 6:22
    E decidi criar um sistema
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    que tem todas as propriedades necessárias
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    para vermos a evolução da complexidade,
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    problemas cada vez mais complexos
    constantemente evoluindo.
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    E claro, já que eu não sei escrever
    em código, tive ajuda.
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    Tive dois estudantes universitários
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    do California Institute of Technology
    a trabalhar comigo.
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    Este é o Charles Offria, à esquerda,
    e o Titus Brown, à direita.
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    Agora são respeitáveis professores
  • 6:44 - 6:46
    na Michigan State University,
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    mas posso assegurar-vos de que,
    naqueles tempos,
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    não éramos uma equipa respeitável.
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    E sinto-me muito feliz
    que nenhuma foto sobreviva
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    dos três juntos, seja onde for.
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    Mas como é este sistema?
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    Bem, na verdade,
    não posso entrar em detalhes,
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    mas o que vêem aqui
    são algumas das entranhas.
  • 7:02 - 7:04
    Mas aquilo que queria focar
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    é este tipo de estrutura de população.
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    Estão aqui cerca de 10 000 programas.
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    E todas as diferentes estirpes
    têm diferentes cores.
  • 7:12 - 7:15
    E como podem ver aqui, há grupos
    a crescer em cima uns dos outros,
  • 7:15 - 7:17
    porque se estão a espalhar.
  • 7:17 - 7:19
    Sempre que um programa
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    é melhor a sobreviver neste mundo,
  • 7:21 - 7:23
    devido a alguma mutação
    que tenha sofrido,
  • 7:23 - 7:26
    vai-se espalhar sobre os outros
    e levá-los à extinção.
  • 7:26 - 7:29
    Então vou mostrar-vos um filme
    onde vão ver esse tipo de dinâmica.
  • 7:29 - 7:32
    E este tipo de experiências são iniciadas
  • 7:32 - 7:34
    com programas que nós próprios escrevemos.
  • 7:34 - 7:36
    Escrevemos o nosso próprio material,
  • 7:36 - 7:38
    replicamo-lo, e temos muito orgulho
    em nós próprios.
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    E pomo-los lá dentro,
    e o que se vê imediatamente
  • 7:41 - 7:44
    é que há ondas e ondas de inovação.
  • 7:44 - 7:46
    A propósito, isto está muito acelerado,
  • 7:46 - 7:48
    por isso é como mil gerações por segundo.
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    Mas imediatamente o sistema fica, tipo:
  • 7:50 - 7:53
    "Que raio de pedaço de código
    estúpido era aquele?
  • 7:53 - 7:55
    "Isto pode ser melhorado
    de tantas maneiras
  • 7:55 - 7:56
    "tão depressa."
  • 7:56 - 7:58
    Então vêem-se ondas de novos tipos
  • 7:58 - 8:00
    dominando os outros tipos.
  • 8:00 - 8:03
    E este tipo de actividade
    prolonga-se por bastante tempo,
  • 8:03 - 8:07
    até que as principais coisas mais fáceis
    já foram adquiridas por estes programas.
  • 8:07 - 8:11
    E então vê-se uma espécie
    de estase a acontecer
  • 8:11 - 8:13
    em que o sistema basicamente espera
  • 8:13 - 8:16
    por um novo tipo de inovação, como este,
  • 8:16 - 8:18
    que se irá espalhar
  • 8:18 - 8:20
    sobre todas as anteriores inovações
  • 8:20 - 8:23
    e irá apagar os genes
    que havia anteriormente,
  • 8:23 - 8:27
    até que um novo tipo de nível mais elevado
    de complexidade tenha sido alcançado.
  • 8:27 - 8:30
    E este processo continua
    e continua e continua.
  • 8:30 - 8:32
    Então, o que vemos aqui
  • 8:32 - 8:34
    é um sistema que vive muito
  • 8:34 - 8:36
    da forma a que estamos habituados
    a ver a vida.
  • 8:36 - 8:40
    Mas aquilo que o pessoal da NASA
    me perguntou realmente foi:
  • 8:40 - 8:42
    "Estes tipos
  • 8:42 - 8:44
    "têm uma bioassinatura?
  • 8:44 - 8:46
    "Podemos medir este tipo de vida?
  • 8:46 - 8:48
    "Porque se pudermos,
  • 8:48 - 8:51
    "talvez tenhamos uma hipótese
    de descobrirmos vida noutro lugar
  • 8:51 - 8:53
    "sem estarmos a ser parciais
  • 8:53 - 8:55
    "em coisas como os aminoácidos."
  • 8:55 - 8:58
    Então eu disse:
    "Bem, talvez possamos construir
  • 8:58 - 9:00
    "uma bioassinatura
  • 9:00 - 9:03
    "baseada na vida
    como um processo universal.
  • 9:03 - 9:08
    "De facto, talvez possa usar
    os conceitos que eu desenvolvi
  • 9:08 - 9:12
    "para poder captar o que um sistema vivo
    simples poderia ser."
  • 9:12 - 9:14
    E aquilo a que eu cheguei
  • 9:14 - 9:18
    — primeiro tenho de fazer
    uma introdução sobre a ideia,
  • 9:18 - 9:21
    e depois talvez isso sirva como
    um detector de significado,
  • 9:21 - 9:23
    em vez de um detector de vida.
  • 9:23 - 9:25
    E a forma de conseguirmos fazer isso
  • 9:25 - 9:27
    — gostaria de descobrir como distinguir
  • 9:27 - 9:30
    um texto que foi escrito
    por um milhão de macacos,
  • 9:30 - 9:32
    do texto que está nos nossos livros.
  • 9:32 - 9:34
    E gostaria de o fazer de tal forma que
  • 9:34 - 9:36
    que não fosse realmente necessário
    ler a linguagem,
  • 9:36 - 9:39
    porque tenho a certeza
    que não ia ser capaz de o fazer.
  • 9:39 - 9:42
    Desde que saiba
    que existe algum tipo de alfabeto.
  • 9:42 - 9:44
    Então, aqui estaria
    um gráfico de frequência
  • 9:44 - 9:46
    de quão frequentemente se encontraria
  • 9:46 - 9:48
    cada uma das 26 letras do alfabeto
  • 9:48 - 9:50
    num texto escrito por macacos aleatórios.
  • 9:50 - 9:52
    E obviamente cada uma dessas letras
  • 9:52 - 9:54
    surge com uma frequência
    aproximadamente igual.
  • 9:54 - 9:58
    Mas se agora olharmos para a mesma
    distribuição em textos em inglês,
  • 9:58 - 10:00
    é este o gráfico.
  • 10:00 - 10:04
    E digo-vos, este resultado é bastante
    consistente nos vários textos em inglês.
  • 10:04 - 10:07
    E se olhar para textos em francês,
    tem um aspecto ligeiramente diferente,
  • 10:07 - 10:08
    ou em italiano, ou alemão.
  • 10:08 - 10:11
    Todas têm o seu próprio tipo
    de frequência de distribuição,
  • 10:11 - 10:13
    mas é consistente.
  • 10:13 - 10:15
    Não importa se o texto
    é sobre política ou ciência.
  • 10:15 - 10:18
    Não importa se é um poema
  • 10:18 - 10:21
    ou se é um texto matemático.
  • 10:21 - 10:23
    É uma assinatura consistente,
  • 10:23 - 10:25
    e é bastante estável.
  • 10:25 - 10:27
    Desde que os nossos livros
    sejam escritos em inglês
  • 10:27 - 10:30
    — porque as pessoas
    estão a reescrevê-los e a copiá-los —
  • 10:30 - 10:32
    estará lá.
  • 10:32 - 10:34
    Então, isso inspirou-me a pensar:
  • 10:34 - 10:37
    "E se eu tentar usar esta ideia
  • 10:37 - 10:39
    "não para detectar textos aleatórios,
  • 10:39 - 10:41
    "de textos com significado,
  • 10:41 - 10:45
    "mas antes detectar o facto
    de que existe significado
  • 10:45 - 10:47
    "nas biomoléculas que constituem a vida?"
  • 10:47 - 10:49
    Mas primeiro tenho de perguntar:
  • 10:49 - 10:53
    O que são estes elementos constituintes,
    como o alfabeto, que vos mostrei?
  • 10:53 - 10:55
    Bem, acontece que temos
    muitas alternativas diferentes
  • 10:55 - 10:58
    para este conjunto
    de elementos constituintes.
  • 10:58 - 10:59
    Podemos usar aminoácidos,
  • 10:59 - 11:02
    podemos usar ácidos nucleicos,
    ácidos carboxílicos, ácidos gordos.
  • 11:02 - 11:04
    De facto, a química é extremamente rica,
  • 11:04 - 11:07
    e o nosso corpo usa
    uma grande quantidade dela.
  • 11:07 - 11:08
    Então, para testar esta ideia,
  • 11:08 - 11:11
    primeiro fomos ver os aminoácidos
    e alguns outros ácidos carboxílicos.
  • 11:11 - 11:13
    E aqui está o resultado.
  • 11:13 - 11:17
    Aqui está o que se obtém
  • 11:17 - 11:20
    se, por exemplo, se olharmos
    para a distribuição dos aminoácidos
  • 11:20 - 11:23
    num cometa ou no espaço interestelar
  • 11:23 - 11:24
    ou, de facto, num laboratório,
  • 11:24 - 11:27
    em que nos assegurámos de que
    na nossa sopa primordial
  • 11:27 - 11:29
    não existia lá nada vivo.
  • 11:29 - 11:32
    O que descobrimos
    é sobretudo glicina e depois alanina
  • 11:32 - 11:34
    e existem alguns vestígios
    de outros elementos.
  • 11:34 - 11:37
    Isto é também muito consistente
  • 11:37 - 11:40
    — o que se encontra em sistemas
    como a Terra,
  • 11:40 - 11:42
    onde existem aminoácidos,
  • 11:42 - 11:44
    mas não existe vida.
  • 11:44 - 11:46
    Mas imaginem que pegam
    num pouco de terra
  • 11:46 - 11:48
    e escavam através dela
  • 11:48 - 11:51
    e depois colocam estes espectrómetros,
  • 11:51 - 11:53
    porque há bactérias por toda a parte;
  • 11:53 - 11:55
    ou que recolhem água
    em qualquer lugar na Terra,
  • 11:55 - 11:57
    porque está a fervilhar de vida,
  • 11:57 - 11:59
    e fazem a mesma análise;
  • 11:59 - 12:01
    o espectro parece completamente diferente.
  • 12:01 - 12:05
    Claro, há na mesma glicina e alanina,
  • 12:05 - 12:08
    mas estes são elementos pesados,
  • 12:08 - 12:10
    aminoácidos pesados
    que estão a ser produzidos
  • 12:10 - 12:13
    porque são valiosos para o organismo.
  • 12:13 - 12:15
    E alguns outros
  • 12:15 - 12:17
    que não são usados no conjunto de 20,
  • 12:17 - 12:18
    não aparecerão de todo
  • 12:18 - 12:20
    em nenhum tipo de concentração.
  • 12:20 - 12:23
    Isto também se revela
    extremamente consistente.
  • 12:23 - 12:25
    Não importa que tipo de sedimento
    se usa para raspar,
  • 12:25 - 12:29
    sejam bactérias
    ou quaisquer plantas ou animais.
  • 12:29 - 12:31
    Onde quer que haja vida,
  • 12:31 - 12:32
    iremos ter esta distribuição,
  • 12:32 - 12:34
    por oposição àquela distribuição.
  • 12:34 - 12:37
    E é detectável não apenas em aminoácidos.
  • 12:38 - 12:39
    Agora podem perguntar:
  • 12:39 - 12:42
    E quanto aos Avidianos?
  • 12:42 - 12:45
    Os Avidianos são os habitantes
    deste mundo de computador
  • 12:45 - 12:49
    onde são felizes replicando-se
    e desenvolvendo-se em complexidade.
  • 12:49 - 12:52
    Então esta é a distribuição que se obtém
  • 12:52 - 12:54
    se, de facto, não houver vida.
  • 12:54 - 12:56
    Eles têm cerca de 28 destas instruções.
  • 12:56 - 13:00
    E se tivermos um sistema em que
    eles são substituídos uns pelos outros,
  • 13:00 - 13:02
    é como os macacos a escrever
    numa máquina de escrever.
  • 13:02 - 13:04
    Cada uma destas instruções surge
  • 13:04 - 13:07
    com frequência aproximadamente igual.
  • 13:07 - 13:11
    Mas se agora tomarmos um conjunto
    de tipos em replicação
  • 13:11 - 13:13
    como no vídeo que viram,
  • 13:13 - 13:15
    tem este aspecto.
  • 13:15 - 13:17
    Então aqui estão algumas instruções
  • 13:17 - 13:20
    que são extremamente valiosas
    para estes organismos,
  • 13:20 - 13:22
    e a sua frequência vai ser alta.
  • 13:22 - 13:24
    E há na verdade algumas instruções
  • 13:24 - 13:26
    que apenas se usa uma vez, ou nem isso.
  • 13:26 - 13:28
    As instruções ou são venenosas
  • 13:28 - 13:32
    ou devem realmente ser usadas
    a menos de um nível abaixo de aleatório.
  • 13:32 - 13:35
    Neste caso, a frequência é mais baixa.
  • 13:35 - 13:38
    E agora podemos ver, é esta realmente
    uma assinatura consistente?
  • 13:38 - 13:40
    Posso dizer-vos que, na verdade, é,
  • 13:40 - 13:43
    porque neste tipo de espectro,
    tal como o que viram nos livros,
  • 13:43 - 13:45
    e tal como o que viram nos aminoácidos,
  • 13:45 - 13:48
    não importa como se muda o meio ambiente,
    é muito consistente;
  • 13:48 - 13:50
    vai reflectir o meio ambiente.
  • 13:50 - 13:53
    Vou então mostrar-vos agora
    uma pequena experiência que fizemos.
  • 13:53 - 13:54
    E tenho de vos explicar,
  • 13:54 - 13:56
    a parte de cima deste gráfico
  • 13:56 - 13:59
    mostra aquela distribuição
    da frequência de que falei.
  • 13:59 - 14:02
    Aqui, de facto,
    trata-se do meio ambiente sem vida
  • 14:02 - 14:04
    em que cada instrução ocorre
  • 14:04 - 14:06
    com frequências iguais.
  • 14:07 - 14:12
    E aqui em baixo, mostro a taxa
    de mutação no meio ambiente.
  • 14:13 - 14:15
    E começo por uma taxa de mutação tão alta
  • 14:15 - 14:17
    que, mesmo que introduzíssemos
  • 14:17 - 14:19
    um programa de replicação
  • 14:19 - 14:21
    que de outra forma
    se desenvolveria alegremente
  • 14:21 - 14:23
    até preencher o mundo inteiro,
  • 14:23 - 14:27
    se o introduzíssemos, sofreria uma mutação
    e morreria imediatamente.
  • 14:27 - 14:29
    Então, não há vida possível
  • 14:29 - 14:32
    a este nível de taxa de mutação.
  • 14:32 - 14:36
    Mas agora vou lentamente descer
    a temperatura, por assim dizer,
  • 14:36 - 14:38
    e então há este limiar de viabilidade
  • 14:38 - 14:40
    em que agora seria possível
  • 14:40 - 14:42
    a um replicador realmente viver.
  • 14:42 - 14:45
    E iremos introduzir estes tipos
  • 14:45 - 14:47
    naquela sopa a toda a hora.
  • 14:47 - 14:49
    Então vamos ver qual o aspecto disso.
  • 14:49 - 14:52
    Primeiro, nada, nada, nada.
  • 14:52 - 14:54
    Muito quente, muito quente.
  • 14:54 - 14:57
    Agora o limiar de viabilidade é atingido,
  • 14:57 - 14:59
    e a distribuição da frequência
  • 14:59 - 15:02
    mudou dramaticamente e estabiliza.
  • 15:02 - 15:04
    E agora o que eu fiz foi,
  • 15:04 - 15:07
    estava a ser mauzinho, voltei a aumentar
    a temperatura uma e outra vez.
  • 15:07 - 15:10
    E claro, atinge o limiar da viabilidade.
  • 15:10 - 15:13
    E estou a mostrar-vos isto de novo
    porque é tão lindo.
  • 15:13 - 15:15
    Acerta-se no limiar da viabilidade.
  • 15:15 - 15:17
    A distribuição muda para "vivo!"
  • 15:17 - 15:20
    E então, assim que se acerta no limiar
  • 15:20 - 15:22
    em que a taxa de mutação é tão alta
  • 15:22 - 15:24
    que não é possível a auto-reprodução,
  • 15:24 - 15:27
    não se pode copiar a informação
  • 15:27 - 15:29
    e passá-la à descendência
  • 15:29 - 15:31
    sem fazer tantos erros que
  • 15:31 - 15:34
    a capacidade de replicar-se desaparece.
  • 15:34 - 15:37
    E então a assinatura perde-se.
  • 15:37 - 15:39
    O que aprendemos com isto?
  • 15:39 - 15:43
    Bem, penso que aprendemos
    várias coisas com isto.
  • 15:43 - 15:45
    Uma delas é que,
  • 15:45 - 15:48
    se somos capazes de pensar sobre a vida
  • 15:48 - 15:50
    em termos abstractos
  • 15:50 - 15:52
    — e não estamos a falar de coisas
    como as plantas,
  • 15:52 - 15:54
    e não estamos a falar de aminoácidos,
  • 15:54 - 15:56
    e não estamos a falar de bactérias,
  • 15:56 - 15:58
    mas pensamos em termos de processos —
  • 15:58 - 16:01
    então poderemos começar a pensar
    sobre a vida,
  • 16:01 - 16:03
    não algo assim tão especial como na Terra,
  • 16:03 - 16:06
    mas algo que poderá existir
    em qualquer lado.
  • 16:06 - 16:08
    Porque realmente tem a ver, apenas,
  • 16:08 - 16:10
    com estes conceitos de informação,
  • 16:10 - 16:12
    de armazenamento de informação
  • 16:12 - 16:14
    no interior de substratos
  • 16:14 - 16:16
    — qualquer coisa: "bits",
    ácidos nucleicos,
  • 16:16 - 16:18
    qualquer coisa que seja um alfabeto —
  • 16:18 - 16:20
    e o assegurar
    de que há algum tipo de processo
  • 16:20 - 16:23
    para que esta informação
    possa ser armazenada
  • 16:23 - 16:25
    por muito mais tempo
    do que poderíamos esperar
  • 16:25 - 16:28
    que fossem as escalas de tempo
    para a deterioração da informação.
  • 16:28 - 16:30
    E se o conseguirmos fazer,
  • 16:30 - 16:32
    então temos vida.
  • 16:32 - 16:34
    Então a primeira coisa que aprendemos
  • 16:34 - 16:37
    é que é possível definir vida
  • 16:37 - 16:40
    exclusivamente em termos de processos,
  • 16:40 - 16:42
    sem fazer qualquer referência
  • 16:42 - 16:44
    ao tipo de coisas que nos são caras,
  • 16:44 - 16:47
    no que toca ao tipo de vida na Terra.
  • 16:47 - 16:50
    E isto, de certo modo, retira-nos de novo,
  • 16:50 - 16:53
    como todas as nossas descobertas
    científicas, ou muitas delas
  • 16:53 - 16:55
    — é este contínuo destronamento do homem —
  • 16:55 - 16:58
    de como pensamos que somos especiais
    porque estamos vivos.
  • 16:58 - 17:01
    Bem, conseguimos criar vida.
    Conseguimos criar vida no computador.
  • 17:01 - 17:03
    Concedo, é limitada,
  • 17:03 - 17:06
    mas aprendemos o que é preciso
  • 17:06 - 17:08
    para realmente construí-la.
  • 17:08 - 17:11
    E assim que temos isso,
  • 17:11 - 17:14
    então deixa de ser uma tarefa
    tão difícil
  • 17:14 - 17:18
    dizer se compreendermos
    os processos fundamentais
  • 17:18 - 17:21
    que não se referem a nenhum
    substrato em particular,
  • 17:21 - 17:23
    então podemos ir
  • 17:23 - 17:25
    e tentar outros mundos,
  • 17:25 - 17:29
    descobrir que tipo de alfabetos
    químicos lá estarão,
  • 17:29 - 17:31
    descobrir o suficiente
    sobre a química normal,
  • 17:31 - 17:34
    a geoquímica do planeta,
  • 17:34 - 17:37
    para que saibamos
    como é que esta distribuição seria
  • 17:37 - 17:38
    na ausência de vida,
  • 17:38 - 17:41
    e então procurar
    por grandes desvios a isso
  • 17:41 - 17:44
    — isto aqui a sobressair, que diz:
  • 17:44 - 17:46
    "Este químico não devia mesmo estar aqui."
  • 17:46 - 17:48
    Bem, não sabemos que há vida então,
  • 17:48 - 17:50
    mas poderíamos dizer:
  • 17:50 - 17:53
    "Bem, ao menos vou ter de olhar
    com muita precisão para este químico,
  • 17:53 - 17:55
    "para ver de onde ele vem."
  • 17:55 - 17:57
    E essa talvez seja a nossa hipótese
  • 17:57 - 17:59
    de realmente descobrir vida
  • 17:59 - 18:01
    quando não a podemos observar
    visivelmente.
  • 18:01 - 18:04
    E então essa é realmente a única mensagem
    para levarem para casa
  • 18:04 - 18:06
    que tenho para vós.
  • 18:06 - 18:08
    A vida pode ser menos misteriosa
  • 18:08 - 18:10
    do que aquilo que fazemos dela
  • 18:10 - 18:14
    quando tentamos pensar
    como seria noutros planetas.
  • 18:14 - 18:17
    E se removermos o mistério da vida,
  • 18:17 - 18:20
    então penso que é um pouco mais fácil
  • 18:20 - 18:22
    para nós pensar acerca de como vivemos,
  • 18:22 - 18:26
    e como talvez não sejamos tão especiais
    como sempre pensámos que somos.
  • 18:26 - 18:28
    E vou deixar-vos com isto.
  • 18:28 - 18:29
    E muito obrigado.
  • 18:29 - 18:31
    (Aplausos)
Title:
Encontrar vida que não conseguimos imaginar
Speaker:
Christoph Adami
Description:

Como é que procuramos vida alienígena se não se assemelha nada à vida que conhecemos? Na TEDxUIUC, Christoph Adami mostra como usa a sua pesquisa sobre vida artificial — programas de computador que se auto-replicam — para encontrar uma "bioassinatura", um "biomarcador", que esteja livre dos nossos preconceitos sobre o que é a vida.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:31
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for Finding life we can't imagine
Nuno Miranda Ribeiro added a translation

Portuguese subtitles

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