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Title:
O último chefe dos Comanches e a queda de um império — Dustin Tahmahkera
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Description:
Vejam a lição completa: https://ed.ted.com/lessons/the-last-chief-of-the-comanches-and-the-fall-of-an-empire-dustin-tahmahkera
Numa noite de 1871, um grupo de assaltantes desceu sobre um acampamento do exército que dormia, roubou cerca de 70 cavalos e desapareceu. Chefiados por um jovem chamado Quanah Parker, o assalto foi o último de uma longa série de confrontos ao longo da fronteira do Texas entre povos indígenas e forças dos EUA. Quem era esse valente guerreiro? Dustin Tahmahkera relata a vida do último chefe dos Comanches.
Lição de Dustin Tahmahkera, realização de Tomás Pichardo-Espaillat.
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Speaker:
Dustin Tahmahkera
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Altas horas da noite, em 1871,
um grupo de assaltantes
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desceu sobre um acampamento
militar adormecido,
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Em poucos minutos,
lançaram o pânico no acampamento,
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roubaram cerca de 70 cavalos
e desapareceram.
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Chefiados por um jovem
chamado Quanah Parker,
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o assalto foi o último
de uma longa série de confrontos
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ao longo da fronteira do Texas
entre povos indígenas
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conhecidos por Numunu, ou Comanches,
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e forças dos EUA enviadas
para roubarem as terras dos Comanches,
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para os colonos brancos.
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Embora o conflito
já se arrastasse por décadas,
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o coronel Ranald MacKenzie,
dos EUA, chefiou o último confronto.
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Do verão até ao inverno,
perseguiu Quanah.
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Mas Quanah também o perseguia,
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e sempre que o coronel
se aproximava do seu alvo,
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eles desapareciam sem deixar rasto
nas vastas pradarias.
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Os Comanches tinham controlado
este território durante quase 200 anos,
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a caçar bisontes e a movimentar
aldeias inteiras pelas pradarias.
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Reprimiram os ataques de espanhóis
e mexicanos, vindos do sul,
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as tentativas dos EUA para ocuparem
as terras vindas de leste
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e numerosas propostas de outros povos
indígenas para o poder.
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O Império Comanche não era um grupo
unificado sob um controlo central,
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era uma série de grupos
cada um com o seu líder.
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O que todos esses grupos tinham em comum
era a sua perícia enquanto cavaleiros
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— todos os homens, mulheres
e crianças sabiam montar cavalos.
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A sua técnica de combate a cavalo
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ultrapassava em muito a dos outros
povos indígenas e a dos colonos,
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permitindo-lhes controlar uma área enorme
com relativamente pouca gente,
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provavelmente cerca de 40 000
no seu auge
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e quatro a cinco mil,
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na altura em que Quanah Parker
e Ranald Mackenzie se enfrentaram.
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Nascido por volta de 1848, Quanah
era o filho mais velho de Peta Nocona,
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um líder do grupo Nokoni,
e de Cynthia Ann Parker,
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uma colona branca raptada
que fora assimilada pelos Comanches
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e assumiu o nome de Naduah.
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Quando Quanah era pré-adolescente,
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forças dos EUA emboscaram a aldeia dele,
e capturaram a mãe e a irmã dele.
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Quanah e o irmão mais novo procuraram
refúgio num outro grupo Comanche,
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os Quahada.
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Nos anos que se seguiram, Quanah
demonstrou ser um guerreiro e um líder.
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Com 20 e poucos anos, fugiu
com uma rapariga chamada Weakeah,
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enfurecendo o poderoso pai dela
e vários outros líderes.
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Andaram fugidos durante um ano,
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atraindo seguidores que elegeram
Quanah como "paraibo", ou seja, chefe,
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numa idade excecionalmente nova.
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Sob a sua liderança, os Quahada
conseguiram escapar às forças dos EUA
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e continuaram com o seu modo de vida.
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Mas no início da década de 1870,
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o mercado de peles de bisonte
da Costa Leste tornou-se lucrativo
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e os caçadores chacinaram milhões
de bisontes em poucos anos.
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Entretanto, as forças dos EUA
fizeram um ataque surpresa,
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matando quase todos os 1400 cavalos
dos Quahada e roubando os restantes.
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Embora tivesse jurado nunca se render,
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Quanah sabia que,
sem bisontes nem cavalos,
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os Comanches morreriam
à fome no inverno.
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Assim, em 1875, Quanah
e o grupo dos Quahada
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dirigiram-se para a reserva
do Fort Sill, em Oklahoma.
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Enquanto caçadores-recoletores
não podiam fazer facilmente a transição
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para uma forma de vida agrícola
na reserva.
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O governo dos EUA tinha prometido
rações e mantimentos,
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mas o que forneceram
era manifestamente insuficiente.
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Quanah, entretanto, ficou
de repente numa posição política fraca:
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não tinha riquezas nem poder
em comparação com outros
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que estavam na reserva há mais tempo.
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Mesmo assim, viu uma oportunidade,
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A reserva incluía vastas pradarias
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sem proveito para os Comanches
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mas pastagens perfeitas
para as manadas dos vaqueiros.
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Deu início a um acordo lucrativo
alugando a terra aos vaqueiros,
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discretamente, a princípio.
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Por fim, negociou direitos de aluguer
com o governo dos EUA,
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o que garantiu uma fonte de receitas
regular para os Comanches na reserva.
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À medida que aumentava
o estatuto de Quanah na reserva
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e o reconhecimento
das entidades governamentais,
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ele conseguiu melhores rações,
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defendeu a construção
de escolas e habitações
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e veio a ser um dos três juízes tribais
no tribunal da reserva.
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Cansado de falar com múltiplos líderes,
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o governo dos EUA quis nomear
um só chefe de todos os Comanches,
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um papel que nunca existira
fora da reserva.
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Mas muitos Comanches apoiaram
Quanah para esse cargo,
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tal como vários líderes mais velhos
o tinham apoiado
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para os chefiar contra
as forças dos EUA.
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Até o antigo adversário de Quanah,
Ranald MacKenzie.
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Quanah atuou em filmes de Hollywood
e travou amizade com políticos americanos,
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cavalgando no desfile da tomada de posse
de Theodore Roosevelt.
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Mas nunca cortou as suas longas tranças
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e defendeu a Igreja Nativa Americana
e o uso do cato "peyote".
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Começou por usar o nome de Quanah Parker,
adotando o apelido da mãe
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e tentou encontrar a mãe e a irmã,
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acabando por saber que ambas
tinham morrido pouco depois da captura.
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Quanah foi-se adaptando sucessivamente
a diferentes mundos, a diferentes papéis,
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e a diferentes circunstâncias
que seriam inultrapassáveis para muitos.
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Embora não deixasse de ter críticos,
depois da morte de Quanah,
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os Comanches começaram a usar
o termo "presidente"
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para designar o funcionário de topo
eleito pela tribo,
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reconhecendo-o como o último chefe
dos Comanches
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e um modelo de sobrevivência
e de adaptação cultural.
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É nesse espírito que a Nação Comanche
encara o futuro, atualmente,
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com mais de 16 000 cidadãos registados
e inúmeros descendentes.