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O que os nossos "designs" revelam sobre nós | Sebastian Deterding | TEDxHogeschoolUtrecht

  • 0:01 - 0:03
    Olá a todos.
  • 0:04 - 0:07
    Vou começar por fazer
    uma pergunta muito simples.
  • 0:07 - 0:09
    É a seguinte:
  • 0:09 - 0:13
    Quem quer criar um produto
    que seja cativante e envolvente
  • 0:13 - 0:15
    como, por exemplo,
    o Facebook ou o Twitter?
  • 0:15 - 0:17
    Quem quiser, levante a mão.
  • 0:18 - 0:20
    Uma coisa tão cativante
    e envolvente como o Twitter.
  • 0:20 - 0:22
    Mantenham as mãos no ar.
  • 0:23 - 0:25
    Quem mantém a mão no ar,
  • 0:25 - 0:27
    continue com a mão no ar
  • 0:27 - 0:30
    se sente que gasta mais tempo
    do que devia
  • 0:30 - 0:33
    em "sites" como o Facebook ou o Twitter,
  • 0:33 - 0:35
    um tempo que seria mais bem gasto
  • 0:35 - 0:39
    com amigos ou com os cônjuges
    ou a fazer coisas de que gostam.
  • 0:40 - 0:42
    Ok. Os que ainda têm a mão no ar,
  • 0:42 - 0:44
    conversem depois do intervalo.
  • 0:44 - 0:46
    (Risos)
  • 0:46 - 0:48
    Porque é que eu estou
    a fazer esta pergunta?
  • 0:48 - 0:53
    Estou a fazê-la, porque hoje
    fala-se de persuasão moral,
  • 0:53 - 0:57
    do que é moral e imoral em tentar
    alterar os comportamentos das pessoas
  • 0:57 - 0:59
    usando a tecnologia
    e usando o "design".
  • 0:59 - 1:01
    Não sei do que é que estão à espera
  • 1:01 - 1:03
    mas, quando me pus a pensar
    neste problema,
  • 1:03 - 1:07
    depressa percebi que não consigo
    dar-vos respostas.
  • 1:07 - 1:10
    Não vos consigo dizer
    o que é moral ou imoral,
  • 1:10 - 1:13
    porque vivemos numa sociedade pluralista.
  • 1:13 - 1:17
    Os meus valores podem ser
    radicalmente diferentes dos vossos,
  • 1:17 - 1:21
    o que significa que aquilo que considero
    moral ou imoral, com base neles,
  • 1:21 - 1:24
    não será necessariamente aquilo
    que vocês considerarão moral ou imoral.
  • 1:24 - 1:27
    Mas também percebi
    que há uma coisa que vos posso dar:
  • 1:28 - 1:30
    aquilo que este sujeito
    aqui atrás, deu ao mundo...
  • 1:30 - 1:31
    Sócrates.
  • 1:31 - 1:33
    Ou seja, perguntas.
  • 1:33 - 1:35
    O que eu posso fazer
    e gostaria de fazer convosco
  • 1:35 - 1:38
    é dar-vos, tal como
    aquela pergunta inicial,
  • 1:38 - 1:42
    um conjunto de perguntas
    para vocês imaginarem,
  • 1:42 - 1:46
    camada a camada,
    como quem descasca uma cebola,
  • 1:46 - 1:51
    chegarem ao âmago daquilo que acreditam
    ser persuasão moral ou imoral.
  • 1:51 - 1:54
    Vou fazer isso com alguns exemplos,
  • 1:54 - 1:58
    como disse, alguns exemplos
    de tecnologias
  • 1:58 - 2:03
    em que as pessoas usaram elementos
    para levarem as pessoas a fazer coisas.
  • 2:04 - 2:07
    Este é o primeiro exemplo
    que nos leva à primeira pergunta.
  • 2:07 - 2:09
    É um dos meus exemplos preferidos
    de ludificação.
  • 2:09 - 2:11
    O "Health Month" de Buster Benson.
  • 2:11 - 2:15
    É uma aplicação simples
    em que nós estabelecemos normas de saúde
  • 2:15 - 2:16
    para um mês.
  • 2:16 - 2:19
    Normas como, "quero fazer exercício
    seis vezes por semana".
  • 2:19 - 2:21
    Ou "não quero beber álcool".
  • 2:21 - 2:24
    Todas as manhãs, recebemos um "email"
    que nos pergunta:
  • 2:24 - 2:26
    "Cumpriste as tuas normas, ou não?"
  • 2:26 - 2:28
    Respondemos sim ou não,
    às várias perguntas.
  • 2:28 - 2:31
    Depois, na plataforma,
    vemos como nos comportámos.
  • 2:31 - 2:34
    Podemos ganhar pontos e emblemas por isso.
  • 2:34 - 2:36
    Essas informações são partilhadas
    com os nossos amigos
  • 2:36 - 2:39
    e, se não cumprimos uma norma,
    perdemos um ponto de saúde,
  • 2:39 - 2:42
    mas os amigos podem participar
    e curar-nos.
  • 2:42 - 2:45
    Um belo exemplo, e creio
    que a maioria concordará comigo
  • 2:45 - 2:48
    que tem o ar de ser
    uma persuasão ética, não é?
  • 2:49 - 2:51
    Tem o ar de uma coisa
    que será bom fazer.
  • 2:51 - 2:53
    Este é outro exemplo.
  • 2:53 - 2:56
    Muito parecido, quanto ao tipo
    de pensamento por detrás dele,
  • 2:56 - 2:58
    mas um exemplo muito diferente
    — Lockers.
  • 2:58 - 3:01
    É uma plataforma social
    em que as pessoas criam um perfil.
  • 3:01 - 3:05
    Nesse perfil, o principal é colocar
    imagens de produtos,
  • 3:05 - 3:07
    imagens de produtos de que gostamos.
  • 3:07 - 3:09
    Interligamos os perfis com os dos amigos.
  • 3:09 - 3:12
    Sempre que eu clicar
    num desses produtos na vossa página,
  • 3:12 - 3:14
    vocês recebem pontos.
  • 3:14 - 3:17
    Sempre que vocês clicarem
    num produto da minha página,
  • 3:17 - 3:18
    eu recebo pontos.
  • 3:18 - 3:21
    Se comprarem qualquer coisa,
    eu recebo montes de pontos.
  • 3:21 - 3:23
    Depois, podemos trocar esses pontos
  • 3:24 - 3:26
    em percentagens desses produtos.
  • 3:27 - 3:28
    Não sei o que vocês pensam,
  • 3:28 - 3:31
    mas, pessoalmente,
    sinto que o Health Month
  • 3:31 - 3:34
    é uma coisa que me parece
    muito benévola
  • 3:34 - 3:37
    uma boa peça, uma peça moral
    de tecnologia,
  • 3:37 - 3:41
    enquanto há qualquer coisa no Locker
    que me faz sentir um pouco enjoado.
  • 3:42 - 3:45
    Ao pensar porque é que
    isso me faz sentir enjoado,
  • 3:45 - 3:47
    neste caso, e não no outro,
  • 3:47 - 3:49
    obtive uma resposta muito simples.
  • 3:49 - 3:51
    É a intenção por detrás disso.
  • 3:51 - 3:55
    Num caso, a intenção é: "Este 'site'
    quer que eu seja mais saudável,
  • 3:55 - 3:58
    "e o outro 'site'
    quer que eu compre mais".
  • 3:58 - 4:01
    Portanto, a princípio, há uma pergunta
    muito simples, muito óbvia,
  • 4:01 - 4:02
    que eu vos queria fazer:
  • 4:02 - 4:05
    Quais são as nossas intenções
    quando concebemos qualquer coisa?
  • 4:05 - 4:08
    Obviamente, as intenções não são tudo,
  • 4:09 - 4:12
    por isso, eis outro exemplo
    de uma destas aplicações.
  • 4:12 - 4:15
    Neste momento, há uns quantos
    destes painéis de instrumentos Eco,
  • 4:15 - 4:17
    painéis de instrumentos de automóveis,
  • 4:17 - 4:20
    que nos motivam a obtermos
    o melhor rendimento de combustível.
  • 4:20 - 4:22
    Este é o MyLeaf da Nissan,
  • 4:22 - 4:26
    em que o nosso comportamento de condutor
    é comparado com o comportamento
  • 4:26 - 4:27
    de outras pessoas.
  • 4:27 - 4:30
    Competimos com quem conduz
    com o melhor rendimento de combustível
  • 4:30 - 4:33
    Estas coisas são muito eficazes,
    mas são tão eficazes,
  • 4:33 - 4:36
    que motivam as pessoas
    a ter uma condução pouco segura,
  • 4:36 - 4:38
    como não parar num sinal vermelho,
  • 4:38 - 4:41
    porque, dessa forma, terão que desligar
    e voltar a ligar o motor,
  • 4:41 - 4:44
    e isso consumirá algum combustível.
  • 4:45 - 4:49
    Apesar de ser uma aplicação
    com muito boas intenções,
  • 4:49 - 4:52
    obviamente tinha um efeito lateral.
  • 4:52 - 4:54
    Este é outro exemplo
    para um desses efeitos laterais.
  • 4:54 - 4:59
    Commendable: um "site" que permite
    que os pais deem emblemas aos filhos
  • 4:59 - 5:02
    por fazerem as coisas
    que os pais querem que os filhos façam,
  • 5:02 - 5:03
    como atar os sapatos.
  • 5:03 - 5:05
    A princípio, isto soa bem,
  • 5:05 - 5:08
    muito benévolo, cheio de boas intenções.
  • 5:08 - 5:12
    Mas acontece que, se investigarmos
    o quadro mental das pessoas,
  • 5:12 - 5:13
    preocupadas com os resultados,
  • 5:13 - 5:16
    preocupadas com o reconhecimento público,
  • 5:16 - 5:19
    preocupadas com este tipo
    de prémios de reconhecimento
  • 5:19 - 5:21
    não será propriamente grande ajuda
  • 5:21 - 5:23
    para o bem-estar psicológico
    a longo-prazo.
  • 5:23 - 5:26
    É melhor preocuparmo-nos
    em aprender qualquer coisa.
  • 5:26 - 5:28
    É melhor quando nos preocupamos connosco
  • 5:28 - 5:31
    do que como nos apresentamos
    diante de outras pessoas.
  • 5:31 - 5:35
    Este tipo de instrumento de motivação
    que é usado,
  • 5:35 - 5:38
    por si só, tem um efeito lateral
    a longo-prazo,
  • 5:38 - 5:40
    porque, sempre que utilizamos
    uma tecnologia,
  • 5:40 - 5:43
    que usa qualquer coisa
    como reconhecimento ou estatuto público,
  • 5:43 - 5:46
    estamos possivelmente
    a interiorizar isso
  • 5:46 - 5:49
    como uma coisa boa e normal
    com que nos preocuparmos.
  • 5:49 - 5:52
    Dessa forma, poderá ter
    um efeito prejudicial
  • 5:52 - 5:56
    no bem-estar psicológico a longo-prazo
    de nós mesmos, enquanto cultura.
  • 5:56 - 5:58
    Assim, há uma segunda pergunta,
    muito óbvia.
  • 5:58 - 6:01
    Quais são os efeitos do que fazemos,
  • 6:01 - 6:05
    os efeitos que vamos sentindo,
    com o dispositivo, como menos combustível,
  • 6:05 - 6:08
    assim como os efeitos
    das ferramentas que estamos a usar
  • 6:08 - 6:10
    para levar as pessoas a fazer coisas?
  • 6:10 - 6:11
    Reconhecimento público?
  • 6:11 - 6:14
    É só isso... um efeito de intenções?
  • 6:14 - 6:17
    Há algumas tecnologias
    que, obviamente, combinam as duas coisas.
  • 6:17 - 6:20
    Os bons efeitos a longo-prazo
    e a curto-prazo
  • 6:20 - 6:25
    e uma intenção positiva,
    como o "Freedom" de Fred Stutzman,
  • 6:25 - 6:27
    em que o objetivo da aplicação é...
  • 6:27 - 6:31
    Habitualmente, somos tão bombardeados
    com pedidos constantes de outras pessoas
  • 6:31 - 6:32
    com este dispositivo,
  • 6:32 - 6:35
    que fechamos a ligação à Internet
    no nosso PC
  • 6:35 - 6:37
    durante um certo tempo pré-definido,
  • 6:37 - 6:39
    para conseguirmos trabalhar um pouco.
  • 6:40 - 6:43
    Penso que a maioria concordará
    que é uma coisa com boas intenções
  • 6:43 - 6:45
    e também tem boas consequências.
  • 6:45 - 6:47
    Nas palavras de Michel Foucault,
  • 6:47 - 6:49
    é uma "tecnologia do ego".
  • 6:49 - 6:52
    É uma tecnologia que dá poder ao indivíduo
  • 6:52 - 6:54
    para determinar o curso da sua vida,
  • 6:54 - 6:55
    para se modelar.
  • 6:56 - 6:59
    Mas o problema,
    conforme Foucault faz notar,
  • 6:59 - 7:01
    é que toda a tecnologia do ego
  • 7:01 - 7:05
    tem uma tecnologia de domínio
    no seu lado negativo.
  • 7:05 - 7:09
    Como vemos hoje,
    nas modernas democracias liberais,
  • 7:09 - 7:14
    a sociedade, o estado, não só nos permite
    determinarmo-nos a nós mesmos,
  • 7:14 - 7:15
    a modelarmo-nos,
  • 7:15 - 7:17
    como assim o exige.
  • 7:17 - 7:19
    Exige que nos otimizemos,
  • 7:19 - 7:21
    que nos controlemos,
  • 7:21 - 7:24
    que estejamos sempre
    a autogerirmo-nos,
  • 7:24 - 7:28
    porque é a única forma
    de uma sociedade liberal funcionar.
  • 7:28 - 7:29
    De certa forma,
  • 7:29 - 7:32
    o tipo de dispositivos
    como o "Freedom" de Fred Stutzman,
  • 7:32 - 7:36
    ou o "Health Month" de Buster Benson,
    são tecnologias de domínio,
  • 7:36 - 7:38
    porque querem que nós sejamos
  • 7:38 - 7:41
    (Voz de robô) mais adaptados,
    mais felizes, mais produtivos,
  • 7:41 - 7:44
    mais confortáveis, que não bebamos demais,
  • 7:44 - 7:48
    que façamos exercício no ginásio
    três vezes por semana,
  • 7:48 - 7:52
    que nos demos melhor com os nossos
    sócios ou empregados da altura.
  • 7:52 - 7:54
    À vontade.
    Comendo bem.
  • 7:54 - 7:57
    Sem jantares de micro-ondas
    e saturados de gorduras.
  • 7:57 - 8:02
    Um condutor paciente,
    melhor condutor, um carro mais seguro.
  • 8:02 - 8:05
    que durma bem, sem pesadelos.
  • 8:06 - 8:11
    SD: Estas tecnologias querem
    que nós continuemos no jogo
  • 8:11 - 8:13
    que a sociedade concebeu para nós.
  • 8:13 - 8:16
    Querem que nos encaixemos
    cada vez melhor.
  • 8:16 - 8:19
    Querem que nós nos otimizemos
    para nos encaixarmos.
  • 8:19 - 8:22
    Não estou a dizer que é
    propriamente uma coisa má.
  • 8:23 - 8:27
    Mas penso que este exemplo
    aponta-nos uma perceção geral
  • 8:27 - 8:31
    que é: qualquer que seja a tecnologia
    ou "design" para que olhemos,
  • 8:31 - 8:35
    mesmo uma coisa que consideramos
    bem-intencionada,
  • 8:36 - 8:39
    e tão boa nos seus efeitos
    como o "Freedom" de Stutzman,
  • 8:39 - 8:42
    tem sempre incorporados
    determinados valores.
  • 8:42 - 8:44
    Podemos pôr em causa esses valores.
  • 8:44 - 8:45
    Podemos perguntar:
  • 8:45 - 8:49
    Será uma coisa boa que estejamos sempre
    a otimizarmo-nos,
  • 8:49 - 8:51
    para nos encaixarmos melhor
    nesta sociedade?
  • 8:51 - 8:53
    Ou, para vos dar outro exemplo,
  • 8:53 - 8:56
    aquele que apresentei inicialmente:
  • 8:56 - 8:58
    Que tal um pedaço
    de tecnologia persuasiva
  • 8:58 - 9:02
    que convença as muçulmanas
    a usar os seus véus?
  • 9:02 - 9:04
    Será uma tecnologia boa ou má
  • 9:04 - 9:07
    nas suas intenções ou nos seus efeitos?
  • 9:07 - 9:11
    Basicamente, isso depende
    do tipo de valores que tivermos
  • 9:11 - 9:14
    para fazer este tipo de julgamento.
  • 9:14 - 9:15
    Então, uma terceira pergunta:
  • 9:15 - 9:17
    Que valores pensamos que usamos?
  • 9:17 - 9:19
    E, por falar de valores,
  • 9:19 - 9:22
    reparei que, na análise
    da persuasão moral "online"
  • 9:22 - 9:24
    e quando falo com pessoas,
  • 9:24 - 9:27
    mais frequentemente do que não,
    há um preconceito estranho.
  • 9:28 - 9:30
    Esse preconceito é que perguntamos:
  • 9:31 - 9:34
    Isto ou aquilo "ainda" é ético?
  • 9:34 - 9:36
    "Ainda" é aceitável?
  • 9:37 - 9:39
    Perguntamos coisas como:
  • 9:39 - 9:41
    "Ainda" é aceitável
    aquele formulário Oxfam de doação
  • 9:41 - 9:44
    em que, por defeito, se estabelece
    uma doação mensal,
  • 9:44 - 9:46
    e as pessoas,
    talvez sem terem essa intenção,
  • 9:46 - 9:50
    são encorajadas ou empurradas
    para fazer uma doação regular
  • 9:50 - 9:52
    em vez de uma doação única,
  • 9:52 - 9:55
    isso "ainda" é aceitável, "ainda" é ético?
  • 9:55 - 9:57
    Andamos a pescar em águas turvas.
  • 9:57 - 9:59
    Com efeito, esta pergunta,
    " 'Ainda' é ético?"
  • 9:59 - 10:01
    é apenas uma das formas
    de olhar para a ética.
  • 10:01 - 10:06
    Porque, se olharmos para o início
    da ética na cultura ocidental,
  • 10:06 - 10:10
    vemos uma ideia muito diferente
    do que a ética também pode ser.
  • 10:10 - 10:14
    Para Aristóteles, por exemplo,
    não se tratava da pergunta
  • 10:14 - 10:16
    "Isto ainda é bom, ou é mau?"
  • 10:16 - 10:20
    A ética tratava da questão
    de como viver bem a vida.
  • 10:20 - 10:22
    Ele colocou isso na palavra "arête",
  • 10:22 - 10:25
    que nós traduzimos do latim por "virtude",
  • 10:25 - 10:27
    mas que, na realidade,
    significa "excelência".
  • 10:27 - 10:33
    Significa viver com o potencial total
    de um ser humano.
  • 10:33 - 10:35
    Penso que esta é uma ideia
  • 10:35 - 10:39
    que Paul Richard Buchanan transmitiu
    brilhantemente num ensaio recente,
  • 10:39 - 10:41
    em que disse:
    "Os produtos são argumentos vivos
  • 10:41 - 10:43
    "sobre como devemos viver a nossa vida".
  • 10:43 - 10:46
    Os nossos "designs" não são éticos
    nem deixam de o ser,
  • 10:46 - 10:50
    lá por usarem meios de persuasão
    éticos ou pouco éticos.
  • 10:51 - 10:52
    Têm um componente moral
  • 10:52 - 10:57
    no tipo de visão
    e na aspiração de uma vida boa
  • 10:57 - 10:58
    que nos apresentam.
  • 10:58 - 11:01
    Se olharmos para o ambiente
    concebido, à nossa volta,
  • 11:01 - 11:04
    com este tipo de lentes
    e perguntarmos:
  • 11:04 - 11:06
    "Qual é a visão de uma vida boa
  • 11:06 - 11:09
    "que os nossos produtos, o nosso 'design'
    nos apresentam?"
  • 11:09 - 11:11
    sentiremos calafrios,
  • 11:11 - 11:13
    por causa de quão pouco
    esperamos uns dos outros,
  • 11:13 - 11:17
    de quão pouco esperamos
    da nossa vida
  • 11:17 - 11:19
    e de como parece uma vida boa.
  • 11:20 - 11:23
    Há uma quarta pergunta
    com que vos queria deixar:
  • 11:23 - 11:28
    Que visão de uma vida boa
    transmitem os nossos "designs"?
  • 11:28 - 11:30
    Por falar de "design",
  • 11:30 - 11:34
    hão de reparar que já alarguei a discussão
  • 11:34 - 11:39
    porque já não é só de tecnologia
    persuasiva que estamos a falar
  • 11:39 - 11:43
    é de qualquer peça de "design"
    que pomos no mundo.
  • 11:43 - 11:44
    Não sei se vocês sabem,
  • 11:44 - 11:48
    o grande investigador e comunicador
    Paul Watzlawick que, nos anos 60,
  • 11:48 - 11:50
    afirmou que não podemos
    deixar de comunicar.
  • 11:50 - 11:53
    Mesmo que optemos por estar calados,
    que escolhamos o silêncio,
  • 11:53 - 11:56
    comunicamos qualquer coisa
    ao escolhermos estar calados.
  • 11:56 - 11:59
    Do mesmo modo
    que não podemos não comunicar,
  • 11:59 - 12:00
    não podemos deixar de persuadir,
  • 12:00 - 12:03
    façamos o que façamos
    ou nos abstenhamos de fazer,
  • 12:03 - 12:07
    tudo o que pusermos no mundo,
    cada peça de "design",
  • 12:07 - 12:09
    tem um componente persuasivo.
  • 12:09 - 12:11
    Tenta afetar as pessoas.
  • 12:11 - 12:14
    Coloca uma certa visão de uma vida boa
    em frente de nós.
  • 12:15 - 12:20
    É o que diz Peter-Paul Verbeek,
    o filósofo holandês da tecnologia:
  • 12:20 - 12:24
    "Quer nós, os "designers"
    tencionemos ou não,
  • 12:24 - 12:26
    "materializamos a moral".
  • 12:26 - 12:29
    Tornamos determinadas coisas
    mais difíceis e mais fáceis de fazer.
  • 12:29 - 12:31
    Organizamos a existência das pessoas.
  • 12:31 - 12:33
    Colocamos uma determinada visão
  • 12:33 - 12:36
    do que é bom ou mau ou normal ou habitual
  • 12:36 - 12:38
    em frente das pessoas,
  • 12:38 - 12:40
    com tudo o que pomos
    cá fora no mundo.
  • 12:40 - 12:43
    Mesmo uma coisa tão inócua
    como um conjunto de cadeiras escolares
  • 12:43 - 12:46
    como o conjunto de cadeiras
    em que estão sentados
  • 12:46 - 12:48
    e eu estou sentado à vossa frente,
  • 12:48 - 12:50
    é uma tecnologia persuasiva,
  • 12:50 - 12:55
    porque apresenta e materializa
    uma certa visão de uma vida boa.
  • 12:55 - 12:58
    Uma vida boa em que ensinar,
    aprender e escutar
  • 12:58 - 13:01
    significa uma pessoa a ensinar
    e as outras a escutar;
  • 13:01 - 13:05
    significa que a aprendizagem
    se faz sentados,
  • 13:05 - 13:07
    significa que aprendemos por nós mesmos,
  • 13:07 - 13:09
    significa que não devemos
    alterar estas regras,
  • 13:09 - 13:12
    porque as cadeiras estão presas ao chão.
  • 13:13 - 13:16
    E mesmo uma coisa tão inócua
    com uma cadeira de "design" simples
  • 13:16 - 13:17
    como esta de Arne Jacobsen,
  • 13:17 - 13:19
    é uma tecnologia persuasiva,
  • 13:19 - 13:22
    porque, de novo, comunica
    uma ideia de uma vida boa,
  • 13:23 - 13:28
    uma vida boa que nós,
    enquanto "designers", aceitamos, dizendo:
  • 13:28 - 13:32
    "Numa vida boa, os bens são produzidos
    de forma sustentável ou insustentável
  • 13:32 - 13:33
    "como esta cadeira.
  • 13:33 - 13:36
    "Os trabalhadores são tratados
    tão bem ou tão mal
  • 13:36 - 13:38
    "como foram tratados
    os que construíram esta cadeira".
  • 13:38 - 13:41
    Uma vida boa é uma vida
    em que o "design" é importante
  • 13:41 - 13:43
    porque alguém despendeu
    tempo e dinheiro,
  • 13:43 - 13:45
    por este tipo de cadeira
    bem concebida,
  • 13:45 - 13:47
    em que a tradição é importante;
  • 13:47 - 13:50
    porque é um clássico tradicional
    e alguém se preocupou com isso;
  • 13:50 - 13:53
    e em que há qualquer coisa
    como um consumo conspícuo,
  • 13:53 - 13:56
    em que é correto e normal
    gastar uma soma extravagante de dinheiro
  • 13:56 - 13:58
    nesta cadeira,
  • 13:58 - 14:01
    para indicar às outras pessoas
    qual é o nosso estatuto social.
  • 14:02 - 14:05
    São estes tipos de camadas,
    os tipos de perguntas
  • 14:06 - 14:07
    que eu queria fazer-vos hoje:
  • 14:07 - 14:10
    Quais são as intenções
    que vocês transportam
  • 14:10 - 14:12
    quando estão a conceber qualquer coisa?
  • 14:12 - 14:15
    Quais são os efeitos, intencionais ou não,
    que estão a ter?
  • 14:15 - 14:18
    Quais são os valores
    que utilizam para os avaliar?
  • 14:18 - 14:22
    Quais são as virtudes, as aspirações
    que estão a exprimir nisso?
  • 14:23 - 14:24
    Como é que isso se aplica,
  • 14:25 - 14:27
    não apenas à tecnologia persuasiva,
  • 14:27 - 14:29
    mas a tudo o que concebem?
  • 14:29 - 14:31
    Ficamos por aí?
  • 14:31 - 14:33
    Penso que não.
  • 14:33 - 14:37
    Penso que todas essas coisas
    acabam por refletir
  • 14:37 - 14:39
    o âmago de tudo isto
  • 14:39 - 14:42
    e isto não é mais do que a própria vida.
  • 14:42 - 14:45
    Se a pergunta sobre
    o que é uma vida boa
  • 14:45 - 14:47
    reflete tudo aquilo que concebemos,
  • 14:47 - 14:50
    porque é que não suspendemos o "design"
    e nos interrogamos:
  • 14:50 - 14:52
    "Como é que isso se aplica na nossa vida?"
  • 14:52 - 14:54
    "Porque é que o candeeiro, ou a casa
  • 14:54 - 14:57
    "devem ser um objeto de arte
    e a nossa vida não?"
  • 14:57 - 14:58
    como Michel Foucault disse.
  • 14:58 - 15:02
    Só para vos dar um exemplo
    prático de Buster Benson,
  • 15:02 - 15:04
    que referi no início.
  • 15:04 - 15:07
    Este é Buster a montar
    uma máquina de flexões
  • 15:07 - 15:09
    no gabinete da sua nova "startup"
    Habit Labs,
  • 15:09 - 15:13
    onde estão a tentar criar
    outras aplicações como o "Health Month"
  • 15:13 - 15:14
    para as pessoas.
  • 15:14 - 15:16
    Porque é que ele está
    a construir uma coisa destas?
  • 15:16 - 15:18
    Este é o conjunto de axiomas
  • 15:18 - 15:23
    que a Habit Labs,
    a "startup" de Buster, adotou
  • 15:23 - 15:26
    sobre como queriam trabalhar
    juntos, enquanto equipa,
  • 15:26 - 15:28
    quando estivessem a criar
    estas aplicações.
  • 15:28 - 15:30
    Um conjunto de princípios morais
    que estabeleceram
  • 15:30 - 15:32
    para trabalharem em conjunto.
  • 15:32 - 15:33
    Um deles é:
  • 15:33 - 15:36
    "Cuidamos da nossa saúde
    e gerimos o nosso cansaço".
  • 15:36 - 15:41
    Porque, em última análise,
    como poderemos interrogar-nos
  • 15:41 - 15:45
    e como poderemos encontrar resposta
    sobre qual a visão de uma vida boa
  • 15:45 - 15:48
    queremos transmitir e criar
    com os nossos "designs"
  • 15:48 - 15:50
    sem fazer esta pergunta:
  • 15:50 - 15:54
    "Que visão de uma vida boa
    queremos viver?"
  • 15:54 - 15:55
    E com isso,
  • 15:56 - 15:57
    Obrigado.
  • 15:57 - 16:00
    (Aplausos)
Title:
O que os nossos "designs" revelam sobre nós | Sebastian Deterding | TEDxHogeschoolUtrecht
Description:

O que diz a nossa cadeira sobre qual é o nosso valor? O "designer" Sebastian Deterding mostra como os nossos conceitos de moral e a boa vida se reflete no "design" dos objetos à nossa volta.

Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
16:02

Portuguese subtitles

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