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Fotos espantosas dos Everglades em perigo | Mac Stone | TEDxUF

  • 0:21 - 0:23
    Eu tive o enorme privilégio
  • 0:23 - 0:25
    de viajar a sítios fantásticos,
  • 0:25 - 0:29
    e de fotografar distantes paisagens
    e culturas longínquas,
  • 0:29 - 0:31
    pelo mundo inteiro.
  • 0:31 - 0:32
    Adoro o meu trabalho.
  • 0:32 - 0:33
    Tenho um trabalho ótimo.
  • 0:33 - 0:36
    Acho que tenho
    o melhor trabalho do mundo.
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    Mas as pessoas, muitas vezes,
    têm uma ideia deformada
  • 0:39 - 0:42
    quando pensam no que eu faço.
  • 0:42 - 0:45
    Pensam que é uma sucessão de revelações,
  • 0:45 - 0:47
    de amanheceres e de arcos-íris
  • 0:47 - 0:50
    quando, na realidade,
    é mais ou menos assim.
  • 0:50 - 0:52
    (Risos)
  • 0:52 - 0:53
    Este é o meu escritório.
  • 0:54 - 0:57
    Não podemos pagar os sítios
    mais luxuosos, para passar a noite,
  • 0:57 - 0:59
    por isso, costumamos dormir ao ar livre.
  • 0:59 - 1:03
    Desde que nos mantenhamos secos,
    tudo bem, é uma mais-valia, um bónus.
  • 1:04 - 1:07
    Também não podemos ir
    aos restaurantes mais requintados.
  • 1:07 - 1:10
    Por isso, costumamos comer
    o que houver no "menu" local.
  • 1:10 - 1:13
    Se estivermos no Páramo equatorial,
  • 1:13 - 1:16
    comemos um roedor grande,
    chamado "cuy", uma cobaia gigante.
  • 1:16 - 1:17
    (Risos)
  • 1:17 - 1:19
    É muito pior do que parece.
  • 1:19 - 1:21
    (Risos)
  • 1:22 - 1:26
    Mas o que torna as nossas experiências
    um pouco diferentes
  • 1:26 - 1:29
    e um pouco mais especiais
    do que as das pessoas comuns,
  • 1:29 - 1:32
    é que temos esta moinha
    na nossa cabeça
  • 1:32 - 1:34
    em que, mesmo nos momentos
    mais sombrios,
  • 1:34 - 1:37
    nos momentos de desespero, pensamos:
  • 1:37 - 1:40
    "Talvez haja aqui
    oportunidade para uma foto,
  • 1:40 - 1:42
    "uma história para contar".
  • 1:43 - 1:45
    Porque é que contar uma história
    é tão importante?
  • 1:45 - 1:49
    Porque nos ajuda a relacionarmo-nos
    com o nosso património cultural e natural
  • 1:49 - 1:51
    No sudeste,
  • 1:51 - 1:55
    há uma alarmante separação
    entre o público e as áreas naturais
  • 1:55 - 1:57
    que, para já, nos permitem estar aqui.
  • 1:58 - 2:00
    Somos criaturas visuais,
  • 2:00 - 2:04
    por isso usamos o que vemos
    para ensinar o que sabemos.
  • 2:04 - 2:08
    Muitos de nós não irão
    de boa vontade para um pântano.
  • 2:09 - 2:12
    Como é que podemos esperar
    que essas pessoas defendam
  • 2:13 - 2:15
    a proteção desse local?
  • 2:15 - 2:16
    Não podemos.
  • 2:16 - 2:18
    Portanto, o meu trabalho
    é usar a minha câmara,
  • 2:18 - 2:21
    usar a fotografia
    como ferramenta de comunicação,
  • 2:21 - 2:25
    para ajudar a transpor o fosso
    entre a ciência e a estética,
  • 2:25 - 2:28
    para levar as pessoas a falar,
    para as levar a pensar,
  • 2:28 - 2:30
    e, segundo espero,
  • 2:30 - 2:32
    para conseguir que se preocupem.
  • 2:32 - 2:35
    Comecei a fazer isto há 15 anos,
    aqui em Gainesville,
  • 2:36 - 2:37
    aqui mesmo, no meu quintal.
  • 2:37 - 2:40
    Apaixonei-me pela aventura
    e pela descoberta,
  • 2:40 - 2:43
    ir explorar todos esses locais diferentes
  • 2:43 - 2:45
    que estavam a minutos da porta
    da minha casa.
  • 2:45 - 2:47
    Há aqui muitas coisas.
  • 2:47 - 2:50
    Há muitos sítios formosos a descobrir.
  • 2:51 - 2:53
    Apesar de todos os anos que passaram,
  • 2:53 - 2:56
    o meu fascínio de criança
    pelo mundo da Natureza
  • 2:56 - 2:58
    nunca amadureceu plenamente.
  • 2:58 - 3:01
    Continuo a ver o mundo
    através dos meus olhos de criança
  • 3:01 - 3:04
    e tento incorporar essa sensação
    de deslumbramento
  • 3:04 - 3:08
    e esse sentimento de curiosidade
    na minha fotografia,
  • 3:08 - 3:11
    sempre que posso.
  • 3:12 - 3:14
    Nós temos muita sorte
    porque, aqui no sul,
  • 3:14 - 3:17
    ainda somos abençoados
    por uma tela relativamente em branco
  • 3:17 - 3:20
    que podemos preencher
    com as aventuras mais fantásticas
  • 3:20 - 3:22
    e com experiências incríveis.
  • 3:23 - 3:26
    É uma questão de até onde
    nos pode levar a nossa imaginação.
  • 3:27 - 3:29
    Vejam, muitas pessoas
    olham para isto e dizem:
  • 3:29 - 3:31
    "Uau, isso é uma arvorezinha".
  • 3:31 - 3:33
    Mas eu não vejo apenas uma árvore.
  • 3:33 - 3:35
    Olho para isto e vejo uma oportunidade.
  • 3:35 - 3:37
    Vejo todo um fim de semana.
  • 3:39 - 3:42
    Porque, quando eu era miúdo,
    eram estes tipos de imagens
  • 3:42 - 3:44
    que espicaçavam a minha curiosidade,
  • 3:44 - 3:46
    que me tiravam do sofá
    e me desafiavam a explorar,
  • 3:46 - 3:48
    me desafiavam a ir procurar os bosques
  • 3:48 - 3:51
    e meter a cabeça debaixo de água
    para ver o que havia.
  • 3:51 - 3:54
    Tenho fotografado pelo mundo inteiro
  • 3:54 - 3:57
    mas garanto-vos que
    o que temos aqui no sul,
  • 3:57 - 3:59
    o que temos no Sunshine State
  • 3:59 - 4:02
    desafia tudo o mais que já vi.
  • 4:02 - 4:06
    No entanto, a nossa indústria do turismo
    promove todas as coisas erradas.
  • 4:06 - 4:09
    A maioria dos miúdos, aos 12 anos,
    já foram à Disneylândia
  • 4:09 - 4:12
    mais vezes do que se meteram numa canoa
  • 4:12 - 4:15
    ou acamparam sob um céu estrelado.
  • 4:15 - 4:19
    Não tenho nada contra a Disneylândia
    ou o Mickey — também costumava lá ir.
  • 4:19 - 4:21
    Mas eles estão a perder
    as ligações fundamentais
  • 4:21 - 4:25
    que criam um sentido real
    de orgulho e de pertença
  • 4:25 - 4:27
    quanto ao local a que chamam a sua terra.
  • 4:28 - 4:31
    Isso é resultado da perceção
    de que as paisagens
  • 4:31 - 4:33
    que definem o nosso património natural
  • 4:33 - 4:36
    e alimentam o nosso aquífero
    de água potável
  • 4:36 - 4:40
    têm sido consideradas assustadoras,
    perigosas e arrepiantes.
  • 4:41 - 4:43
    Quando os nossos antepassados
    chegaram aqui, avisaram:
  • 4:43 - 4:46
    "Afastem-se dessas áreas,
    estão assombradas.
  • 4:46 - 4:49
    "Estão cheias de espíritos maus
    e de fantasmas".
  • 4:50 - 4:52
    Não sei onde foram buscar essa ideia
  • 4:53 - 4:55
    mas é fruto duma total falta de ligação,
  • 4:55 - 4:58
    duma mentalidade negativa muito real
  • 4:58 - 5:01
    que tem mantido o público
    desinteressado, silencioso
  • 5:01 - 5:03
    que acaba por pôr em risco
    o nosso ambiente.
  • 5:05 - 5:08
    Somos um Estado que está rodeado
    e é definido pela água.
  • 5:08 - 5:09
    No entanto, durante séculos,
  • 5:09 - 5:12
    os pântanos e as terras húmidas
    têm sido considerados
  • 5:12 - 5:14
    como obstáculos a ultrapassar.
  • 5:14 - 5:18
    Assim, temo-los tratado
    como ecossistemas de segunda categoria
  • 5:18 - 5:21
    porque têm muito pouco valor monetário
  • 5:21 - 5:24
    e, claro, sabe-se que abrigam
    jacarés e cobras,
  • 5:25 - 5:29
    que, reconheço, não são
    os embaixadores mais carinhosos.
  • 5:29 - 5:30
    (Risos)
  • 5:30 - 5:33
    Por isso, chegou-se à conclusão
    que o único pântano bom
  • 5:33 - 5:34
    era um pântano drenado.
  • 5:34 - 5:36
    Com efeito, drenar um pântano
  • 5:36 - 5:39
    para dar lugar à agricultura
    e ao desenvolvimento
  • 5:39 - 5:43
    era considerado a verdadeira essência
    da conservação, ainda há pouco tempo.
  • 5:43 - 5:45
    Mas agora, estamos a recuar,
  • 5:45 - 5:48
    porque quanto mais aprendemos
    sobre estas paisagens encharcadas,
  • 5:48 - 5:50
    mais segredos vamos começando
    a descobrir
  • 5:50 - 5:53
    sobre as relações entre as espécies
  • 5:53 - 5:58
    e a interligação de "habitats",
    bacias hidrográficas e rotas migratórias.
  • 5:58 - 6:00
    Reparem neste pássaro, por exemplo:
  • 6:00 - 6:02
    é a mariquita-protonotária.
  • 6:02 - 6:04
    Adoro este pássaro porque é
    uma ave do pântano,
  • 6:04 - 6:06
    totalmente, uma ave do pântano.
  • 6:06 - 6:10
    Nidifica, acasala e cria
    nestes pântanos antigos
  • 6:10 - 6:12
    nestas florestas inundadas.
  • 6:12 - 6:14
    No fim da primavera,
    depois de criarem os filhos,
  • 6:14 - 6:18
    voam milhares de quilómetros
    sobre o Golfo do México
  • 6:18 - 6:20
    até à América Central
    e à América do Sul.
  • 6:20 - 6:22
    Depois, no fim do inverno,
  • 6:22 - 6:23
    volta a primavera e eles regressam.
  • 6:24 - 6:26
    Voam milhares de quilómetros
    sobre o Golfo do México.
  • 6:26 - 6:29
    E para onde vão? Onde poisam?
  • 6:30 - 6:32
    Exatamente na mesma árvore.
  • 6:33 - 6:34
    É de loucos.
  • 6:34 - 6:37
    Este pássaro tem o tamanho
    de uma bola de ténis...
  • 6:38 - 6:39
    É de loucos!
  • 6:39 - 6:42
    Eu usei o GPS para chegar aqui hoje
  • 6:42 - 6:44
    e esta é a minha cidade natal.
  • 6:44 - 6:45
    (Risos)
  • 6:45 - 6:46
    É uma loucura.
  • 6:47 - 6:50
    Provavelmente revela mais sobre mim
    do que sobre o pássaro.
  • 6:50 - 6:54
    O que é que acontece, quando este pássaro
    voa sobre o Golfo do México
  • 6:54 - 6:56
    até à América Central,
    para passar o inverno,
  • 6:56 - 6:58
    e depois, quando a primavera volta,
  • 6:58 - 7:01
    regressa e encontra isto,
  • 7:01 - 7:03
    um campo de golfe
    acabado de plantar?
  • 7:04 - 7:07
    Esta é uma narrativa
    demasiado comum aqui, neste estado.
  • 7:08 - 7:11
    Este é um processo natural
    que ocorre há milhares de anos
  • 7:11 - 7:12
    e só agora estamos a aprendê-lo.
  • 7:13 - 7:16
    Podemos imaginar quanto mais
    temos a aprender com estas paisagens,
  • 7:16 - 7:18
    se as preservarmos primeiro.
  • 7:18 - 7:22
    Apesar de toda esta vida rica
    que abunda nestes pântanos,
  • 7:22 - 7:25
    eles continuam a ter má fama.
  • 7:25 - 7:28
    Muita gente se sente incomodada
    com a ideia de percorrer
  • 7:28 - 7:30
    as águas escuras da Flórida.
  • 7:30 - 7:32
    Eu compreendo.
  • 7:32 - 7:34
    Compreendo.
  • 7:34 - 7:36
    Mas adoro ter crescido
    no Sunshine State
  • 7:36 - 7:38
    porque muitos de nós
  • 7:38 - 7:42
    vivemos com este medo latente
    mas muito palpável
  • 7:42 - 7:44
    de que, quando pusermos os pés na água,
  • 7:44 - 7:47
    pode haver qualquer coisa
    muito mais antiga
  • 7:47 - 7:50
    e muito mais adaptada do que nós.
  • 7:50 - 7:53
    Acho que sabermos
    que não somos os maiorais
  • 7:53 - 7:55
    é um incómodo positivo.
  • 7:56 - 8:00
    Quantas vezes, nesta era moderna,
    urbana e digital
  • 8:00 - 8:03
    temos a oportunidade
    de nos sentirmos vulneráveis
  • 8:03 - 8:07
    ou de considerarmos que o mundo
    pode não ter sido feito só para nós?
  • 8:07 - 8:09
    Durante as últimas décadas,
  • 8:09 - 8:12
    comecei a procurar as áreas
    onde a floresta deu lugar ao betão
  • 8:12 - 8:15
    e os pinheiros
    se transformaram em ciprestes
  • 8:15 - 8:18
    e observei todos os mosquitos
    e os répteis,
  • 8:18 - 8:20
    todo esse desconforto,
  • 8:20 - 8:23
    como afirmações de que
    eu tinha encontrado a verdadeira Natureza
  • 8:24 - 8:26
    e adotei-os totalmente.
  • 8:26 - 8:29
    Enquanto fotógrafo da conservação
    obcecado pela água negra,
  • 8:29 - 8:33
    é natural ter acabado no pântano
    mais famoso de todos:
  • 8:34 - 8:35
    os Everglades.
  • 8:35 - 8:38
    Como cresci aqui
    no norte da Flórida central,
  • 8:38 - 8:39
    sempre ouvi estes nomes encantados,
  • 8:39 - 8:42
    locais como Loxahatchee e Fakahatchee,
  • 8:42 - 8:45
    Corkscrew, Big Cypress.
  • 8:45 - 8:48
    Estes locais que tocaram
    nas cordas do meu coração adolescente
  • 8:48 - 8:50
    e me desafiaram a explorar.
  • 8:50 - 8:52
    E se explorei...
  • 8:52 - 8:53
    Dirigi-me para o sul,
  • 8:53 - 8:56
    e iniciei o que veio a ser
    um projeto de cinco anos
  • 8:56 - 8:58
    para documentar, para explicar
  • 8:58 - 9:02
    e, segundo esperava, apresentar
    os Everglades a uma nova luz,
  • 9:02 - 9:04
    a uma luz mais inspirada.
  • 9:04 - 9:08
    Mas eu sabia que ia ser uma coisa difícil,
    porque aqui temos uma área
  • 9:08 - 9:11
    que é quase um terço do tamanho
    do estado da Flórida, é enorme.
  • 9:11 - 9:14
    Quando falo nos Everglades,
    as pessoas dizem:
  • 9:14 - 9:15
    "Oh, sim, o parque nacional".
  • 9:15 - 9:17
    Mas os Everglades
    não são um simples parque,
  • 9:18 - 9:19
    é toda uma bacia hidrográfica,
  • 9:19 - 9:21
    uma bacia hidrográfica inteira
  • 9:21 - 9:24
    que começa com a cadeia
    de lagos Kissimmee, no norte.
  • 9:24 - 9:26
    Depois, quando as chuvas caem no verão,
  • 9:26 - 9:29
    as enxurradas dirigem-se
    ao Lago Okeechobee
  • 9:29 - 9:32
    e o Lago Okeechobee enche
    e transborda para as margens,
  • 9:32 - 9:35
    e derrama para sul, lentamente,
    seguindo a topografia
  • 9:35 - 9:38
    e penetra no "rio de ervas",
    as pradarias Sawgrass,
  • 9:38 - 9:40
    antes de se reunir
    aos pântanos de ciprestes,
  • 9:40 - 9:43
    até avançar mais para sul
    até aos pântanos dos mangais
  • 9:43 - 9:46
    e finalmente... finalmente...
    chegar à Baía da Flórida,
  • 9:46 - 9:48
    a esmeralda dos Everglades,
  • 9:48 - 9:52
    o grande estuário,
    um estuário com 2000 km2.
  • 9:52 - 9:56
    Claro, o parque nacional situa-se
    na extremidade sul deste sistema
  • 9:56 - 9:59
    mas todas as coisas que o tornam especial
  • 9:59 - 10:01
    são as contribuições que ele recebe,
  • 10:01 - 10:04
    a água doce que começa
    a 160 km a norte.
  • 10:04 - 10:08
    Portanto, não há hipótese
    de fronteiras políticas ou invisíveis
  • 10:08 - 10:12
    que protejam o parque de águas poluídas
    ou de água insuficiente.
  • 10:13 - 10:16
    Infelizmente, é isso
    precisamente que fizemos.
  • 10:16 - 10:18
    Nos últimos 60 anos,
  • 10:18 - 10:21
    drenámos, fizemos barragens,
    dragámos os Everglades
  • 10:21 - 10:25
    até que, agora, só um terço
    da água que costumava chegar à baía
  • 10:25 - 10:27
    chega à baía, hoje.
  • 10:28 - 10:32
    Esta história, infelizmente, não é só
    de pôr-do-sol e de arcos-íris.
  • 10:32 - 10:34
    Para o melhor ou para o pior,
  • 10:34 - 10:38
    a história dos Everglades
    está intrinsecamente ligada
  • 10:38 - 10:41
    aos altos e baixos
    da relação da Humanidade
  • 10:41 - 10:43
    com o mundo natural.
  • 10:43 - 10:45
    Mas eu mostro estas belas fotografias,
  • 10:45 - 10:46
    estas vistas estonteantes,
  • 10:47 - 10:48
    porque fazem com que vocês se envolvam.
  • 10:48 - 10:51
    Porque atraem a vossa atenção,
    obriga-vos a envolverem-se.
  • 10:51 - 10:54
    Enquanto tenho a vossa atenção,
    posso contar-vos a história real.
  • 10:54 - 10:56
    É que estamos a agarrar nisto
  • 10:56 - 10:59
    e a trocá-lo por isto,
  • 10:59 - 11:01
    a um ritmo assustador.
  • 11:01 - 11:03
    O que muita gente não vê
  • 11:03 - 11:06
    é a enorme escala do que estamos a falar.
  • 11:06 - 11:09
    Porque os Everglades não são só
    responsáveis pela água potável
  • 11:09 - 11:11
    para sete milhões
    de habitantes da Flórida.
  • 11:11 - 11:14
    Hoje também fornece água
    para os campos agrícolas,
  • 11:14 - 11:17
    para tomate e laranjas,
    durante todo o ano
  • 11:17 - 11:20
    para mais de 300 milhões
    de norte-americanos.
  • 11:20 - 11:24
    É esse mesmo pulsar sazonal
    de água no verão
  • 11:24 - 11:28
    que criou o "rio de ervas" há 6000 anos.
  • 11:28 - 11:33
    Ironicamente, também é responsável
    hoje por mais de 200 000 hectares
  • 11:33 - 11:36
    de um infindável "rio de cana-de-açúcar".
  • 11:36 - 11:38
    São esses mesmos campos
    os responsáveis
  • 11:38 - 11:42
    por despejarem altíssimos níveis
    de fertilizantes na bacia hidrográfica
  • 11:42 - 11:44
    alterando o sistema para sempre.
  • 11:45 - 11:49
    Mas, para que vocês não se limitem
    a perceber como funciona este sistema,
  • 11:49 - 11:52
    mas também se relacionem
    com ele, pessoalmente,
  • 11:52 - 11:55
    decidi dividir a história
    em várias narrativas diferentes.
  • 11:55 - 11:58
    E vou começar essa história
    pelo Lago Okeechobee,
  • 11:58 - 12:01
    o coração palpitante do sistema
    dos Everglades.
  • 12:01 - 12:03
    Para isso, escolhi um embaixador,
  • 12:03 - 12:05
    uma espécie icónica.
  • 12:05 - 12:07
    Este é o gavião-pescador.
  • 12:07 - 12:09
    É uma ave grande
  • 12:09 - 12:10
    que costumava nidificar aos milhares,
  • 12:11 - 12:12
    no norte dos Everglades.
  • 12:12 - 12:16
    Hoje estão reduzidas
    a cerca de 400 casais.
  • 12:16 - 12:17
    Porque é que isso aconteceu?
  • 12:17 - 12:20
    Porque eles só comem
    um alimento, os caracóis ampuláridos,
  • 12:20 - 12:24
    um gastrópode aquático
    do tamanho duma bola de pingue-pongue.
  • 12:24 - 12:27
    Quando começámos a fazer barragens
    nos Everglades,
  • 12:27 - 12:29
    quando começámos a fazer diques
    no Lago Okeechobee
  • 12:29 - 12:31
    e a drenar as zonas húmidas,
  • 12:31 - 12:33
    destruímos o habitat do caracol.
  • 12:33 - 12:36
    Assim, a população dos gaviões diminuiu.
  • 12:36 - 12:40
    Por isso, eu queria uma foto
    que não só comunicasse esta relação
  • 12:40 - 12:42
    entre as terras húmidas,
    o caracol e a ave,
  • 12:43 - 12:45
    mas também queria uma foto
    que comunicasse
  • 12:45 - 12:48
    como essa relação era incrível
  • 12:48 - 12:52
    e como é tão importante
    que dependam uma da outra,
  • 12:52 - 12:54
    estas terras húmidas saudáveis
    e esta ave.
  • 12:54 - 12:56
    Para isso, explorei uma ideia.
  • 12:56 - 12:59
    Comecei a esboçar planos
    para fazer uma fotografia
  • 12:59 - 13:01
    e enviei-os ao biólogo da Natureza
    em Okeechobee.
  • 13:02 - 13:05
    Esta é uma ave ameaçada, portanto,
    é preciso uma autorização especial.
  • 13:05 - 13:07
    Construí uma plataforma submersa
  • 13:07 - 13:09
    que conteria caracóis
    mesmo por baixo da água.
  • 13:09 - 13:13
    Passei meses a planear
    esta ideia maluca.
  • 13:14 - 13:16
    Levei esta plataforma
    para o Lago Okeechobee
  • 13:16 - 13:19
    e passei mais de uma semana
    dentro de água,
  • 13:19 - 13:22
    com água pelo peito, em turnos
    de 9 horas, da alvorada ao crepúsculo,
  • 13:22 - 13:26
    para conseguir uma foto
    que eu achasse que podia comunicar isso.
  • 13:26 - 13:29
    Este é o dia em que finalmente funcionou.
  • 13:29 - 13:30
    (Vídeo)
  • 13:30 - 13:32
    Ao contrário de outras aves de rapina,
  • 13:32 - 13:34
    o gavião-pescador alimenta-se
    de um só alimento:
  • 13:34 - 13:35
    o caracol ampulárido.
  • 13:35 - 13:37
    Depois de instalar a plataforma,
  • 13:37 - 13:40
    olho para longe e vejo um gavião
    a voar sobre os juncos.
  • 13:40 - 13:42
    Vejo-o à procura.
  • 13:42 - 13:44
    Aproxima-se da armadilha.
  • 13:44 - 13:45
    Vejo que ele a viu.
  • 13:46 - 13:48
    Ele voa a direito,
    dirige-se para a armadilha.
  • 13:48 - 13:51
    Nesse momento, todos os momentos
    de planeamento, de espera,
  • 13:51 - 13:54
    todas as queimaduras do sol,
    as picadas dos mosquitos...
  • 13:54 - 13:56
    de súbito, valeram a pena.
  • 13:56 - 13:58
    "Oh, meu Deus, não acredito!"
  • 14:00 - 14:03
    Imaginem o meu entusiasmo,
    quando isso aconteceu.
  • 14:03 - 14:05
    Por fim, aconteceu, oh, meu Deus!
  • 14:05 - 14:08
    Demasiados mosquitos,
    demasiado sol.
  • 14:08 - 14:11
    Mas a ideia era que, para alguém
    que nunca tenha visto esta ave
  • 14:11 - 14:13
    e não sinta qualquer razão
    para se preocupar com ela,
  • 14:13 - 14:16
    estas fotos, estas novas perspetivas
  • 14:16 - 14:19
    ajudassem a lançar uma nova luz
    pelo menos naquela espécie
  • 14:19 - 14:21
    que torna esta bacia hidrográfica
  • 14:21 - 14:24
    tão incrível, tão valiosa
    e tão importante.
  • 14:24 - 14:27
    Eu sei que não posso chegar
    aqui a Gainesville
  • 14:27 - 14:29
    e falar-vos dos animais dos Everglades,
  • 14:29 - 14:31
    sem falar dos jacarés.
  • 14:31 - 14:34
    Eu adoro jacarés,
    em miúdo adorava jacarés.
  • 14:34 - 14:38
    Os meus pais diziam que eu tinha
    uma relação doentia com os jacarés,
  • 14:38 - 14:39
    quando era miúdo.
  • 14:39 - 14:41
    Mas o que eu gosto neles
  • 14:41 - 14:43
    é que são o equivalente
    aos tubarões, na água doce.
  • 14:43 - 14:45
    São temidos e odiados,
  • 14:45 - 14:48
    e são tragicamente incompreendidos.
  • 14:48 - 14:51
    Porque são uma espécie única,
    não são apenas predadores de topo.
  • 14:51 - 14:53
    Nos Everglades,
  • 14:53 - 14:55
    são eles os arquitetos dos Everglades
  • 14:55 - 14:59
    porque quando a água desce,
    no inverno, durante a estação seca,
  • 14:59 - 15:02
    eles começam a escavar buracos
    chamados buracos de jacarés.
  • 15:02 - 15:04
    Fazem isso porque, quando a água desce,
  • 15:04 - 15:08
    conseguem manter-se húmidos
    e encontrar comida.
  • 15:08 - 15:11
    Isto não os afeta apenas a eles,
  • 15:11 - 15:14
    outros animais também
    dependem desta relação,
  • 15:14 - 15:17
    por isso também são
    uma espécie fundamental.
  • 15:17 - 15:20
    Como é que se consegue
    que um predador de topo,
  • 15:20 - 15:21
    um réptil muito antigo
  • 15:21 - 15:24
    pareça dominar o sistema
  • 15:24 - 15:26
    e, ao mesmo tempo, pareça vulnerável?
  • 15:27 - 15:31
    Entramos num poço
    onde estão uns 120,
  • 15:31 - 15:34
    na esperança de termos tomado
    a decisão correta.
  • 15:34 - 15:36
    (Risos)
  • 15:36 - 15:39
    Mas ainda tenho os dedos todos.
  • 15:39 - 15:43
    Mas eu compreendo, sei
    que não vou reunir as tropas para:
  • 15:43 - 15:45
    "Salvem os Everglades para os jacarés!"
  • 15:45 - 15:48
    Não vou fazer isso porque
    eles estão por toda a parte,
  • 15:48 - 15:49
    estamos a vê-los agora.
  • 15:49 - 15:52
    São uma das histórias de sucesso
    da conservação nos EUA.
  • 15:52 - 15:55
    Mas há uma espécie nos Everglades
    que, sejam vocês quem forem,
  • 15:55 - 15:59
    não podem deixar de gostar deles,
    é o colhereiro cor-de-rosa.
  • 15:59 - 16:02
    São aves grandes, mas têm tido
    tempos difíceis nos Everglades,
  • 16:02 - 16:06
    porque começaram aos milhares
    de casais na Baía da Flórida
  • 16:06 - 16:08
    e, na viragem do século XX,
  • 16:08 - 16:11
    estavam reduzidas a dois casais.
  • 16:11 - 16:13
    Porquê?
  • 16:13 - 16:16
    Porque as mulheres acharam
    que elas eram mais bonitas no chapéu
  • 16:16 - 16:18
    do que a voarem no céu.
  • 16:19 - 16:21
    Depois, proibimos o comércio das plumas
  • 16:21 - 16:23
    e o número começou a aumentar.
  • 16:23 - 16:25
    Quando o número começou a aumentar
  • 16:25 - 16:27
    os cientistas começaram
    a prestar atenção.
  • 16:27 - 16:29
    Começaram a estudar essas aves.
  • 16:29 - 16:33
    Descobriram que o comportamento
    dessas aves está intrinsecamente ligado
  • 16:33 - 16:35
    ao ciclo anual da água nos Everglades,
  • 16:36 - 16:38
    aquilo que define a bacia hidrográfica
    dos Everglades.
  • 16:39 - 16:40
    Descobriram que estas aves
  • 16:40 - 16:44
    começavam a nidificar no inverno
    quando o nível da água está baixo.
  • 16:44 - 16:47
    Como são comedores tácteis,
    têm de tocar naquilo que comem.
  • 16:47 - 16:50
    Assim, esperavam por essas
    bolsas concentradas de peixes
  • 16:50 - 16:53
    para arranjarem comida suficiente
    para alimentarem as crias.
  • 16:53 - 16:57
    Estas aves tornaram-se
    o ícone dos Everglades,
  • 16:57 - 17:00
    uma espécie indicadora
    da saúde geral do sistema.
  • 17:01 - 17:04
    Quando o número estava a aumentar
    em meados do século XX,
  • 17:04 - 17:08
    até 900, 1000, 1100, 1200...
  • 17:08 - 17:10
    quando isso começou a acontecer,
  • 17:10 - 17:12
    começámos a drenar
    o sul dos Everglades.
  • 17:12 - 17:16
    Impedimos dois terços de água
    de chegar ao sul.
  • 17:16 - 17:18
    Isso teve consequências drásticas
  • 17:19 - 17:22
    quando esse número
    estava a atingir um pico.
  • 17:22 - 17:26
    Infelizmente, hoje,
    a real história do colhereiro,
  • 17:26 - 17:30
    a foto do aspeto dele
    é mais ou menos assim.
  • 17:32 - 17:35
    Hoje estamos reduzidos a menos
    de 70 casais na Baía da Flórida.
  • 17:36 - 17:39
    porque perturbámos o sistema.
  • 17:39 - 17:42
    Todas estas diversas organizações
    andam aos gritos
  • 17:42 - 17:44
    "Os Everglades são frágeis,
    muito frágeis!"
  • 17:44 - 17:47
    Não são. São resistentes.
  • 17:47 - 17:50
    Porque, apesar de tudo o que tiramos,
    apesar de tudo o que fizemos e drenámos,
  • 17:51 - 17:52
    apesar das barragens e das dragagens,
  • 17:53 - 17:54
    ainda restam pedaços,
  • 17:54 - 17:58
    ainda se mantêm pedaços
    à espera de serem reunidos.
  • 17:58 - 18:00
    É isto que eu adoro no sul da Flórida.
  • 18:00 - 18:04
    ou seja, num só local, temos
    esta força imparável da Humanidade
  • 18:04 - 18:07
    frente ao objeto imóvel
    da Natureza tropical.
  • 18:08 - 18:10
    É na sua fronteira,
  • 18:10 - 18:13
    é nesta fronteira que somos forçados
    a uma nova abordagem.
  • 18:13 - 18:16
    Qual é o valor da vida selvagem?
  • 18:16 - 18:19
    Qual é o valor da biodiversidade
    ou da água potável?
  • 18:20 - 18:23
    Felizmente, após décadas de debates,
  • 18:23 - 18:26
    estamos finalmente a começar
    a fazer estas perguntas.
  • 18:26 - 18:28
    Estamos a empreender, lentamente,
    estes projetos,
  • 18:28 - 18:30
    para trazer mais água doce para a baía.
  • 18:31 - 18:34
    Mas cabe aos cidadãos, residentes
    e administradores,
  • 18:34 - 18:37
    obrigar os funcionários eleitos
    a cumprir as suas promessas.
  • 18:38 - 18:40
    O que é que podem fazer para ajudar?
  • 18:40 - 18:41
    É muito fácil.
  • 18:41 - 18:43
    Saiam lá para fora.
  • 18:43 - 18:47
    Levem os amigos, levem os filhos,
    levem a família lá para fora.
  • 18:47 - 18:48
    Contratem um guia de pesca.
  • 18:49 - 18:51
    Mostrem ao estado
    que a proteção da vida selvagem
  • 18:51 - 18:55
    não só faz sentido, ecologicamente,
    mas também faz sentido económico.
  • 18:55 - 18:58
    É muito divertido, façam-no.
    Metam os pés dentro de água.
  • 18:59 - 19:01
    O pântano mudar-vos-á, garanto.
  • 19:02 - 19:05
    Ao longo dos anos,
    temos sido muito generosos
  • 19:05 - 19:07
    com outras paisagens do país,
  • 19:07 - 19:10
    envolvendo-as no nosso orgulho americano,
  • 19:10 - 19:12
    locais que hoje consideramos
    que nos definem:
  • 19:13 - 19:15
    o Grand Canyon, Yosemite, Yellowstone.
  • 19:16 - 19:18
    Usamos esses parques
    e essas áreas naturais
  • 19:18 - 19:22
    como faróis e como bússolas culturais.
  • 19:22 - 19:26
    Tristemente, os Everglades
    ficam habitualmente fora das conversas.
  • 19:26 - 19:29
    Mas creio que eles
    são tão icónicos e emblemáticos
  • 19:29 - 19:31
    de quem somos como país
  • 19:31 - 19:33
    como qualquer dessas
    outras áreas selvagens.
  • 19:33 - 19:36
    É apenas um tipo diferente de Natureza.
  • 19:37 - 19:38
    Mas sinto-me encorajado
  • 19:38 - 19:41
    porque talvez estejamos
    finalmente a entender
  • 19:41 - 19:44
    que o que outrora era considerado
    como terra pantanosa sem préstimo,
  • 19:44 - 19:46
    é hoje um local do Património Mundial.
  • 19:46 - 19:49
    São terras húmidas
    de importância internacional.
  • 19:50 - 19:52
    Percorremos um longo caminho
    nos últimos 60 anos.
  • 19:53 - 19:57
    Este é o maior e mais ambicioso projeto
    de restauro das zonas húmidas do mundo,
  • 19:57 - 20:01
    os holofotes internacionais
    brilham sobre nós, o "Sunshine State".
  • 20:01 - 20:04
    Não se esqueçam. Estão a olhar para nós.
  • 20:04 - 20:06
    Porque se pudermos recuperar este sistema,
  • 20:06 - 20:10
    vai ser um ícone
    para a recuperação das zonas húmidas
  • 20:10 - 20:12
    no mundo inteiro.
  • 20:12 - 20:17
    Mas cabe-nos a nós decidir que herança
    queremos atar à nossa bandeira.
  • 20:19 - 20:23
    Diz-se que os Everglades
    são o nosso maior teste.
  • 20:23 - 20:27
    Se passarmos, salvamos o planeta.
  • 20:27 - 20:29
    Adoro esta citação,
  • 20:29 - 20:31
    porque é um desafio, é uma provocação.
  • 20:31 - 20:33
    Seremos capazes? Fá-lo-emos?
  • 20:33 - 20:35
    Temos de o fazer.
    Devemos fazê-lo.
  • 20:35 - 20:37
    Mas os Everglades não são
    apenas um teste.
  • 20:37 - 20:39
    Também são um dom
  • 20:39 - 20:42
    e, em última análise,
    são da nossa responsabilidade.
  • 20:42 - 20:44
    Obrigado.
  • 20:44 - 20:47
    (Aplausos)
Title:
Fotos espantosas dos Everglades em perigo | Mac Stone | TEDxUF
Description:

Durante séculos, as pessoas consideraram os pântanos e as zonas húmidas como obstáculos a evitar. Mas, para o fotógrafo Mac Stone, que documenta as histórias da vida selvagem nos Everglades da Flórida, o pântano não é um inconveniente — é um tesouro nacional. Através das suas fotos espantosas, Stone lança uma nova luz numa Natureza negligenciada, antiga e importante. A sua mensagem: saiam e vejam por vocês mesmos. "Façam-no. Metam os pés dentro de água", diz ele. "O pântano mudar-vos-á, garanto".

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
20:52

Portuguese subtitles

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