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Fotos deslumbrantes do ameaçado Everglades | Mac Stone | TEDxUF

  • 0:20 - 0:23
    Tive o enorme privilégio
  • 0:23 - 0:25
    de viajar para locais incríveis,
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    fotografando paisagens distantes
    e culturas remotas
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    pelo mundo todo.
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    Adoro o meu trabalho.
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    Meu trabalho é ótimo, né?
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    O melhor trabalho, né mesmo?
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    Mas as pessoas têm uma ideia
    um pouco distorcida sobre ele.
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    Sempre acham que ele é uma sequência
    de epifanias, nascer do sol e arcos-íris,
  • 0:47 - 0:50
    quando, na realidade,
    é mais ou menos assim.
  • 0:51 - 0:52
    (Risos)
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    Este é o meu escritório.
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    Sem grana para passar
    a noite em hotéis caros,
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    é comum dormirmos ao relento.
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    Se conseguirmos ficar secos, já é lucro.
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    Também não comemos
    em restaurantes chiques.
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    Por isso costumamos comer
    o que há no menu local.
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    Se estivermos no páramo equatoriano,
  • 1:13 - 1:15
    vamos comer um grande roedor
    chamado porquinho-da-índia.
  • 1:15 - 1:17
    (Risos)
  • 1:17 - 1:19
    É bem pior do que parece.
  • 1:19 - 1:21
    (Risos)
  • 1:22 - 1:26
    Mas o que talvez torne
    nossa experiência um pouco diferente
  • 1:26 - 1:29
    e um pouco mais especial
    do que a das pessoas comuns
  • 1:29 - 1:32
    é termos essa inquietação
  • 1:32 - 1:36
    que, mesmo nos momentos
    difíceis e de desespero, pensamos:
  • 1:36 - 1:39
    "Opa, pode ser que isso
    aqui dê uma boa foto;
  • 1:39 - 1:42
    talvez haja aqui uma boa história".
  • 1:42 - 1:45
    Mas por que é importante
    contar essa história?
  • 1:45 - 1:49
    Porque ajuda a nos conectar
    com nossa herança cultural e natural.
  • 1:49 - 1:54
    No sudeste dos EUA, há um divórcio
    alarmante entre a população
  • 1:54 - 1:57
    e as áreas naturais que, para início
    de conversa, nos permitem estar aqui.
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    Somos seres visuais,
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    por isso usamos o que vemos
    para aprender o que sabemos.
  • 2:04 - 2:08
    Claro que a maioria das pessoas não vai
    mergulhar de boa vontade num pântano.
  • 2:09 - 2:14
    Como esperar, então, que as pessoas
    abracem a causa do pântano?
  • 2:14 - 2:16
    Não funciona assim.
  • 2:16 - 2:18
    Então, meu trabalho é usar
    minha câmera,
  • 2:18 - 2:21
    usar a fotografia como
    instrumento de comunicação
  • 2:21 - 2:25
    para construir uma ponte sobre o fosso
    que separa a ciência e a estética,
  • 2:25 - 2:27
    para que as pessoas falem sobre isso,
  • 2:27 - 2:29
    para que pensem nisso
  • 2:29 - 2:32
    e, finalmente, para que se importem.
  • 2:32 - 2:35
    Comecei a fazer isso há 15 anos
    aqui mesmo em Gainesville,
  • 2:35 - 2:37
    bem aqui no meu quintal.
  • 2:37 - 2:40
    Eu me apaixonei pela aventura
    e pela descoberta
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    explorando todos esses lugares diferentes
  • 2:43 - 2:45
    que estavam a minutos
    da porta da minha casa.
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    E há montes deles aqui, pessoal.
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    Há imensos e belíssimos locais
    a serem descobertos.
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    Mesmo após esses anos todos,
  • 2:53 - 2:56
    minha fascinação de infância pela natureza
  • 2:56 - 2:58
    nunca amadureceu completamente.
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    E ainda vejo o mundo
    com os olhos de uma criança
  • 3:01 - 3:04
    e tento incorporar
    essa sensação de maravilhamento
  • 3:04 - 3:08
    e esse sentimento de curiosidade
    às minhas fotografias
  • 3:08 - 3:10
    sempre que possível.
  • 3:11 - 3:14
    Temos muita sorte, porque, aqui no sul,
  • 3:14 - 3:17
    ainda temos a bênção
    de termos uma tela em branco
  • 3:17 - 3:20
    que podemos preencher
    com as aventuras mais fantásticas
  • 3:20 - 3:23
    e as experiências mais incríveis.
  • 3:23 - 3:26
    É só uma questão de nos deixarmos
    levar pela imaginação.
  • 3:27 - 3:30
    Muita gente olha para isso e diz:
    "Puxa, que árvore bonita".
  • 3:31 - 3:32
    Mas para mim não é só uma árvore;
  • 3:32 - 3:35
    olho para isso e vejo uma oportunidade,
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    vejo um final de semana inteiro.
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    Porque, quando era menino,
    esse tipo de imagem
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    chamava minha atenção,
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    me fazia pular do sofá e me atrever
    a explorar, descobrir as matas
  • 3:47 - 3:50
    e pôr a cabeça debaixo d'água
    para ver o que havia lá.
  • 3:51 - 3:54
    Gente, tenho fotografado pelo mundo afora
  • 3:54 - 3:55
    e posso lhes garantir uma coisa:
  • 3:55 - 3:58
    o que temos aqui no sul,
    aqui neste "Estado Ensolarado",
  • 3:58 - 4:01
    não fica devendo nada
    a tudo isso que tenho visto.
  • 4:02 - 4:06
    Contudo, a nossa indústria do turismo
    anda promovendo as coisas erradas.
  • 4:06 - 4:09
    Antes dos 12 anos, a maioria
    das crianças já foi à Disney
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    mais vezes do que já andaram de canoa
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    ou acamparam sob um céu estrelado.
  • 4:15 - 4:19
    Não tenho nada contra a Disney,
    ou o Mickey; também costumava ir lá.
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    Mas faltam aí as ligações fundamentais
  • 4:21 - 4:25
    que criam um sentimento real
    de orgulho e de pertencimento
  • 4:25 - 4:27
    ao local que eles chamam de lar.
  • 4:28 - 4:31
    E isso resulta da percepção
    de que as paisagens
  • 4:31 - 4:33
    que definem a nossa herança natural
  • 4:33 - 4:36
    e alimentam os aquíferos
    da água que bebemos
  • 4:36 - 4:40
    têm sido consideradas assustadoras,
    perigosas e fantasmagóricas.
  • 4:40 - 4:43
    Quando nossos antepassados
    chegaram aqui, alertaram:
  • 4:43 - 4:45
    "Afastem-se dessas áreas, são assombradas.
  • 4:46 - 4:49
    Estão cheias de fantasmas
    e espíritos maus".
  • 4:50 - 4:52
    Não sei de onde tiraram essa ideia.
  • 4:52 - 4:53
    (Risos)
  • 4:53 - 4:55
    Mas isso levou a um afastamento bem real,
  • 4:55 - 4:57
    a uma mentalidade muito negativa,
  • 4:57 - 5:01
    que tem mantido a população
    desinteressada, silenciosa,
  • 5:01 - 5:03
    e que acaba por colocar
    em risco o meio ambiente.
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    Somos um estado rodeado
    e definido pela água.
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    No entanto, durante séculos,
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    os pântanos e as áreas úmidas
    têm sido considerados
  • 5:12 - 5:14
    obstáculos a serem transpostos.
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    Assim, eles têm sido tratados
    como ecossistemas de segunda classe,
  • 5:18 - 5:21
    pois têm baixo valor econômico
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    e, claro, são o lar de cobras e jacarés,
  • 5:25 - 5:29
    os quais, reconheço, não são
    os embaixadores mais simpáticos.
  • 5:29 - 5:30
    (Risos)
  • 5:30 - 5:34
    Portanto, chegou-se à conclusão
    de que pântano bom era pântano drenado.
  • 5:34 - 5:39
    Na verdade, drenar um pântano para dar
    lugar à agricultura e ao desenvolvimento
  • 5:39 - 5:42
    era considerado, até há pouco tempo,
    a quintessência do conservacionismo.
  • 5:43 - 5:45
    Mas agora estamos remando para trás,
  • 5:45 - 5:48
    porque, quanto mais aprendemos
    sobre essas paisagens alagadas,
  • 5:48 - 5:53
    mais segredos conseguimos desvendar
    sobre as relações entre as espécies
  • 5:53 - 5:57
    e a interação entre habitats,
    bacias hidrográficas e rotas migratórias.
  • 5:58 - 6:00
    Vamos pegar este pássaro, por exemplo:
  • 6:00 - 6:02
    é a mariquita-protonotária.
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    Eu o adoro, porque é um pássaro
    do pântano em todos os sentidos:
  • 6:06 - 6:10
    fazem ninhos, se acasalam e procriam
    nesses pântanos primários,
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    nessas florestas inundadas.
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    No fim da primavera,
    após criarem os filhotes,
  • 6:14 - 6:18
    voam milhares de quilômetros
    sobre o Golfo do México
  • 6:18 - 6:20
    para a América Central e a do Sul.
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    Depois, no fim do inverno,
    na primavera, eles voltam.
  • 6:23 - 6:26
    Voam milhares de quilômetros
    sobre o Golfo do México.
  • 6:26 - 6:29
    E para onde vão? Onde pousam?
  • 6:29 - 6:32
    Exatamente na mesma árvore.
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    É muito louco.
  • 6:34 - 6:37
    Este pássaro é do tamanho
    de uma bola de tênis.
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    Vejam só, é uma loucura!
  • 6:39 - 6:42
    Eu mesmo precisei de um GPS
    para chegar aqui hoje,
  • 6:42 - 6:44
    e esta é a minha cidade natal.
  • 6:44 - 6:45
    (Risos)
  • 6:45 - 6:46
    É muito louco.
  • 6:46 - 6:49
    Provavelmente isso revela
    mais sobre mim do que sobre o pássaro.
  • 6:50 - 6:54
    Mas o que acontece quando esse pássaro
    voa sobre o Golfo do México
  • 6:54 - 6:56
    para a América Central,
    para passar o inverno,
  • 6:56 - 6:58
    volta na primavera
  • 6:58 - 7:00
    e dá de cara com isto:
  • 7:01 - 7:03
    um campo de golfe novinho?
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    Esta é uma narrativa frequente
    demais aqui no estado da Flórida.
  • 7:08 - 7:10
    E esse é um processo natural
    que ocorre há milhares de anos
  • 7:10 - 7:12
    e só agora estamos entendendo.
  • 7:12 - 7:15
    Imaginem o quanto poderemos
    aprender sobre essas paisagens
  • 7:15 - 7:18
    se as preservarmos antes.
  • 7:18 - 7:22
    Apesar da vida rica e abundante
    que há nesses pântanos,
  • 7:22 - 7:24
    eles continuam a ter má reputação.
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    Muita gente sente-se desconfortável
    com a ideia de entrar
  • 7:28 - 7:30
    nas águas escuras da Flórida.
  • 7:30 - 7:32
    É compreensível.
  • 7:32 - 7:33
    Dá para entender.
  • 7:33 - 7:36
    Mas o bom de ter crescido
    aqui no Estado Ensolarado
  • 7:36 - 7:38
    é que muitos de nós
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    convivemos com esse medo latente,
    mas muito palpável,
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    de que, quando mergulhamos os pés na água,
  • 7:44 - 7:47
    pode haver alguma coisa muito mais antiga
  • 7:47 - 7:49
    e muito mais adaptada do que nós.
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    Saber que não somos os maiorais
    é um desconforto saudável, penso eu.
  • 7:56 - 8:00
    Quantas vezes, nesta era
    moderna, urbana e digital,
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    temos a oportunidade
    de nos sentirmos vulneráveis
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    ou de considerarmos que o mundo
    talvez não tenha sido feito só para nós?
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    Assim, na última década,
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    comecei a procurar as áreas
    em que a floresta deu lugar ao asfalto,
  • 8:12 - 8:14
    e os pinheiros se transformaram
    em ciprestes.
  • 8:14 - 8:18
    Cheguei à conclusão de que todos
    esses mosquitos e répteis,
  • 8:18 - 8:20
    todos esses desconfortos,
  • 8:20 - 8:23
    eram afirmações de que eu tinha
    encontrado a verdadeira vida selvagem,
  • 8:24 - 8:26
    e me rendi a ela completamente.
  • 8:26 - 8:29
    Como fotógrafo conservacionista,
    obcecado pela água escura,
  • 8:29 - 8:33
    não admira ter ido parar
    no pântano mais famoso de todos:
  • 8:34 - 8:35
    o Everglades.
  • 8:35 - 8:37
    Cresci aqui no centro-norte da Flórida
  • 8:37 - 8:42
    e sempre ouvi estes nomes encantados:
    lugares como Loxahatchee e Fakahatchee,
  • 8:42 - 8:45
    Corkscrew, Big Cypress.
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    Esses lugares calavam fundo
    no meu coração adolescente
  • 8:48 - 8:50
    e me desafiavam a explorá-los.
  • 8:50 - 8:52
    E foi o que fiz: desci para o sul
  • 8:52 - 8:55
    para iniciar o que viria a ser
    um projeto de cinco anos,
  • 8:56 - 8:58
    para documentar, explicar,
  • 8:58 - 9:02
    na esperança de apresentar
    o Everglades sob uma nova luz,
  • 9:02 - 9:04
    uma luz mais inspirada.
  • 9:04 - 9:07
    Sabia que ia ser difícil,
    pois temos aqui uma área
  • 9:07 - 9:11
    que é quase um terço do estado
    da Flórida; é enorme.
  • 9:11 - 9:15
    Quando falo Everglades, as pessoas
    dizem: "Ah, sei, o parque nacional".
  • 9:15 - 9:19
    Mas o Everglades não é só um parque;
    é toda uma bacia hidrográfica
  • 9:21 - 9:24
    que começa com a cadeia de lagos
    Kissimmee ao norte.
  • 9:24 - 9:26
    Quando caem as chuvas de verão,
  • 9:26 - 9:28
    as enxurradas vão dar no Lago Okeechobee,
  • 9:28 - 9:32
    e o Lago Okeechobee se enche,
    transborda pelas margens
  • 9:32 - 9:35
    e escorre para o sul lentamente,
    ao sabor da topografia,
  • 9:35 - 9:38
    penetrando o "rio de grama",
    as pradarias de capim-navalha,
  • 9:38 - 9:40
    antes de ir dar nos pântanos de ciprestes,
  • 9:40 - 9:42
    até avançar mais para o sul,
    para os manguezais,
  • 9:42 - 9:45
    e, por fim, chegar à Baía da Flórida,
  • 9:46 - 9:48
    a gema esmeralda do Everglades,
  • 9:48 - 9:51
    o grande estuário,
    um estuário de 2 mil km².
  • 9:52 - 9:56
    Claro, o parque nacional
    é a parte sul desse sistema,
  • 9:56 - 10:01
    mas o que o torna tão especial são
    os elementos que ali desembocam,
  • 10:01 - 10:04
    a água fresca que percorreu
    160 km do norte até ali.
  • 10:04 - 10:08
    Não há como fronteiras
    políticas ou invisíveis
  • 10:08 - 10:13
    protegerem o parque das águas poluídas
    ou da escassez de água.
  • 10:13 - 10:15
    Infelizmente, é exatamente
    isso o que temos feito.
  • 10:16 - 10:17
    Nos últimos 60 anos,
  • 10:17 - 10:21
    drenamos, construímos barragens,
    dragamos o Everglades,
  • 10:21 - 10:26
    de tal forma que hoje só chega à baía
    um terço da água que costumava chegar.
  • 10:28 - 10:32
    Infelizmente, esta história não é só
    sobre o brilho do sol e arcos-íris.
  • 10:32 - 10:34
    Para o bem ou para o mal,
  • 10:34 - 10:38
    a história do Everglades
    está intrinsecamente ligada
  • 10:38 - 10:42
    aos altos e baixos da relação
    do homem com a natureza.
  • 10:43 - 10:48
    Mas vou lhes mostrar estas lindas fotos,
    porque elas vão sensibilizá-los.
  • 10:48 - 10:51
    Vão atrair a sua atenção,
    vão trazê-los para a natureza.
  • 10:51 - 10:54
    E enquanto tenho a sua atenção,
    posso lhes contar a verdadeira história.
  • 10:54 - 10:56
    Acontece que pegamos isto...
  • 10:56 - 10:58
    e trocamos por isto,
  • 10:59 - 11:00
    num ritmo alarmante.
  • 11:01 - 11:03
    E o que as pessoas ignoram
  • 11:03 - 11:06
    é a dimensão real
    do que estamos discutindo.
  • 11:06 - 11:09
    Porque o Everglades é responsável
    não só pela água potável
  • 11:09 - 11:11
    para 7 milhões de habitantes da Flórida,
  • 11:11 - 11:14
    mas hoje também alimenta as lavouras
  • 11:14 - 11:16
    de tomates e laranjas durante o ano todo,
  • 11:16 - 11:19
    para mais de 300 milhões
    de norte-americanos.
  • 11:20 - 11:24
    E é a mesma quantidade sazonal
    de água, no verão,
  • 11:24 - 11:27
    que ajudou a construir
    o rio de grama há 6 mil anos.
  • 11:28 - 11:33
    E hoje, ironicamente, também é
    responsável por 200 mil hectares
  • 11:33 - 11:35
    do infindável "rio de cana-de-açúcar".
  • 11:36 - 11:38
    E esses mesmos campos são responsáveis
  • 11:38 - 11:42
    pela descarga de níveis extremamente altos
    de fertilizantes na bacia hidrográfica,
  • 11:42 - 11:44
    alterando permanentemente o sistema.
  • 11:45 - 11:49
    Mas não só para vocês entenderem
    o funcionamento desse sistema,
  • 11:49 - 11:52
    como também se envolverem com ele,
  • 11:52 - 11:55
    decidi dividir a história
    em várias narrativas diferentes.
  • 11:55 - 11:58
    Queria começar esta história
    no Lago Okeechobee,
  • 11:58 - 12:00
    onde pulsa o coração
    do sistema Everglades.
  • 12:00 - 12:05
    Para tanto, escolhi um embaixador,
    uma espécie icônica.
  • 12:05 - 12:07
    Este é o gavião-caramujeiro do Everglades.
  • 12:07 - 12:08
    Uma ave fantástica.
  • 12:08 - 12:12
    Eles costumavam nidificar
    aos milhares no norte do Everglades.
  • 12:12 - 12:15
    Atualmente estão reduzidos
    a cerca de 400 casais.
  • 12:16 - 12:17
    E qual a razão?
  • 12:17 - 12:20
    Porque só têm uma fonte
    de alimentos, um caramujo,
  • 12:20 - 12:23
    um gastrópode aquático do tamanho
    duma bola de pingue-pongue.
  • 12:24 - 12:27
    Quando começamos a construir
    barragens no Everglades,
  • 12:27 - 12:29
    a fazer diques no Lago Okeechobee
  • 12:29 - 12:33
    e a drenar as áreas úmidas,
    acabamos com o habitat do caramujo.
  • 12:33 - 12:35
    Por isso a população de gaviões diminuiu.
  • 12:36 - 12:39
    Por esse motivo, eu queria uma foto
    que transmitisse não só essa relação
  • 12:39 - 12:43
    entre as áreas úmidas,
    o caramujo e o gavião,
  • 12:43 - 12:45
    mas uma foto que transmitisse também
  • 12:45 - 12:48
    como essa relação era incrível
  • 12:48 - 12:52
    e como é muito importante
    que eles possam contar um com o outro:
  • 12:52 - 12:54
    as áreas úmidas sadias e essa ave.
  • 12:54 - 12:55
    Para isso, bolei uma ideia.
  • 12:55 - 12:59
    Comecei a esboçar planos para fazer a foto
  • 12:59 - 13:02
    e os enviei para o biólogo
    da vida selvagem em Okeechobee.
  • 13:02 - 13:05
    Como é uma espécie ameaçada,
    é preciso uma autorização especial.
  • 13:05 - 13:07
    Construí uma plataforma submersa
  • 13:07 - 13:09
    que mantinha os caramujos
    na superfície da água.
  • 13:09 - 13:14
    Foram meses planejando essa ideia maluca.
  • 13:14 - 13:17
    Levei a plataforma para o Lago Okeechobee
  • 13:17 - 13:19
    e passei uma semana
    dentro d'água, esperando
  • 13:19 - 13:22
    com a água pelo cintura, nove horas
    por dia, do nascer ao pôr do sol,
  • 13:22 - 13:26
    para conseguir uma imagem
    que pudesse transmitir isso.
  • 13:26 - 13:29
    Esse foi o dia em que finalmente consegui:
  • 13:29 - 13:32
    (Vídeo): (Mac Stone)
    Diferente de outras aves de rapina,
  • 13:32 - 13:35
    o gavião-caramujeiro tem uma única
    fonte de alimento: o caramujo.
  • 13:35 - 13:37
    Depois de instalar a plataforma,
  • 13:37 - 13:40
    olhei e vi um gavião se aproximando
    por cima das taboas.
  • 13:40 - 13:42
    Vi que olhava e procurava.
  • 13:42 - 13:45
    Ele sobrevoou a armadilha,
    e percebi que ele a tinha visto.
  • 13:45 - 13:48
    E veio direto para ela.
  • 13:48 - 13:51
    Naquele momento, todos os meses
    de planejamento, de espera,
  • 13:51 - 13:53
    todas as queimaduras de sol,
    picadas de mosquitos,
  • 13:53 - 13:56
    tudo isso, de repente, valeu a pena.
  • 13:56 - 13:59
    (Mac Stone no vídeo):
    Ah, meu Deus, nem acredito!
  • 14:00 - 14:03
    Podem imaginar minha empolgação
    naquele momento.
  • 14:03 - 14:05
    Finalmente aconteceu, ah, meu Deus!
  • 14:05 - 14:07
    Mosquitos demais, sol demais.
  • 14:07 - 14:11
    A ideia era que, para alguém
    que nunca tinha visto esta ave
  • 14:11 - 14:13
    e não tinha razões
    para se preocupar com ela,
  • 14:13 - 14:16
    estas fotos, estas novas perspectivas,
  • 14:16 - 14:19
    ajudassem a lançar uma nova luz
    sobre uma das muitas espécies
  • 14:19 - 14:23
    que tornam essa bacia hidrográfica
    tão especial, tão valiosa e importante.
  • 14:23 - 14:27
    Sei muito bem que não posso
    chegar aqui em Gainesville
  • 14:27 - 14:30
    e falar dos animais do Everglades
    sem falar dos jacarés.
  • 14:31 - 14:34
    Adoro jacarés, desde criança.
  • 14:34 - 14:39
    Meus pais sempre diziam que minha relação
    com os jacarés era doentia.
  • 14:39 - 14:41
    Mas gosto do fato
  • 14:41 - 14:43
    de serem considerados
    os tubarões da água doce.
  • 14:43 - 14:47
    São temidos, são odiados
    e, tragicamente, mal compreendidos.
  • 14:48 - 14:51
    Porque eles são uma espécie especial,
    não apenas superpredadores.
  • 14:51 - 14:55
    Na verdade, são os verdadeiros
    arquitetos do Everglades,
  • 14:55 - 14:59
    porque, quando a água baixa
    no inverno, que é a estação seca,
  • 14:59 - 15:02
    eles começam a cavar aqueles buracos,
    os "buracos de jacaré".
  • 15:02 - 15:04
    E fazem isso porque, quando a água baixa,
  • 15:04 - 15:08
    eles conseguem se manter úmidos
    e procurar comida.
  • 15:08 - 15:11
    Isso não afeta somente os jacarés,
  • 15:11 - 15:14
    mas outros animais que também
    dependem dessas relações,
  • 15:14 - 15:16
    portanto, eles também são
    uma espécie fundamental.
  • 15:17 - 15:21
    Então, como fazer para que esse
    superpredador, esse réptil primitivo,
  • 15:21 - 15:26
    pareça, ao mesmo tempo,
    vulnerável e dominador do sistema?
  • 15:27 - 15:30
    Entrando num poço com 120 jacarés
  • 15:31 - 15:34
    e rezando para ter tomado a decisão certa.
  • 15:34 - 15:35
    (Risos)
  • 15:36 - 15:38
    Está tudo bem: não perdi nenhum dedo.
  • 15:39 - 15:42
    Mas percebo que não vou mobilizar vocês,
  • 15:42 - 15:45
    não vou arregimentar tropas para
    "Salvem o Everglades para os jacarés!"
  • 15:45 - 15:48
    Isso não vai acontecer,
    porque hoje eles estão por toda parte.
  • 15:48 - 15:52
    São uma das grandes histórias
    de sucesso do conservacionismo nos EUA.
  • 15:52 - 15:56
    Mas há uma espécie no Everglades
    pela qual é impossível não se apaixonar:
  • 15:56 - 15:58
    o colhereiro americano.
  • 15:58 - 16:02
    Pássaros maravilhosos, mas tiveram
    uma vida difícil aqui no Everglades,
  • 16:02 - 16:06
    pois começaram com milhares
    de casais na Baía da Flórida
  • 16:06 - 16:08
    e, na virada do século 20,
  • 16:08 - 16:11
    foram reduzidos a dois, dois casais.
  • 16:11 - 16:12
    Por quê?
  • 16:13 - 16:16
    Porque as mulheres os achavam
    mais bonitos em seus chapéus
  • 16:16 - 16:18
    do que voando no céu.
  • 16:18 - 16:21
    Então, proibiu-se o comércio das penas,
  • 16:21 - 16:23
    e o número deles voltou a aumentar.
  • 16:23 - 16:25
    Quando o número começou a aumentar,
  • 16:25 - 16:29
    os cientistas começaram a prestar
    atenção neles, a estudar esses pássaros.
  • 16:29 - 16:30
    E descobriram que seu comportamento
  • 16:30 - 16:35
    está intrinsecamente ligado
    ao ciclo anual da água no Everglades,
  • 16:35 - 16:38
    aquilo que forma a bacia
    hidrográfica do Everglades.
  • 16:39 - 16:40
    E descobriram que essas aves
  • 16:40 - 16:43
    começam a nidificar no inverno,
    quando a água baixa,
  • 16:43 - 16:47
    porque, como se alimentam pelo tato,
    têm de tocar tudo o que comem.
  • 16:47 - 16:50
    Assim, esperam por essas poças
    cheias de peixes
  • 16:50 - 16:53
    para comerem o suficiente
    para alimentarem as crias.
  • 16:53 - 16:57
    Então, essas aves se tornaram
    um verdadeiro ícone do Everglades,
  • 16:57 - 17:00
    um termômetro da saúde geral do sistema.
  • 17:00 - 17:04
    E, quando esse número começou a aumentar,
    em meados do século 20,
  • 17:04 - 17:08
    disparando para 900, 1000, 1100, 1200,
  • 17:08 - 17:12
    começamos, justamente aí,
    a drenar o sul do Everglades.
  • 17:12 - 17:15
    Impedimos dois terços dessa água
    de correr para o sul.
  • 17:16 - 17:18
    E isso teve consequências drásticas.
  • 17:19 - 17:22
    Justo quando os números
    estavam atingindo o pico,
  • 17:22 - 17:26
    infelizmente, a verdadeira
    história do colhereiro hoje,
  • 17:26 - 17:30
    a verdadeira foto do que temos
    hoje é mais ou menos assim.
  • 17:31 - 17:35
    E hoje estamos com menos
    de 70 casais na Baía da Flórida,
  • 17:36 - 17:39
    porque desequilibramos o sistema demais.
  • 17:39 - 17:41
    E todas essas organizações ficam gritando:
  • 17:41 - 17:44
    "O Everglades é frágil! É frágil!"
  • 17:44 - 17:45
    Não é.
  • 17:45 - 17:46
    É resiliente.
  • 17:47 - 17:49
    Porque, apesar de tudo
    o que tiramos de lá,
  • 17:49 - 17:52
    de tudo o que fizemos e drenamos,
    apesar das barragens e dragagens,
  • 17:52 - 17:54
    ainda sobraram partes,
  • 17:54 - 17:58
    ainda há ali partes
    à espera de serem recompostas.
  • 17:58 - 18:00
    E é isto o que adoro no sul da Flórida.
  • 18:00 - 18:04
    No mesmo lugar, temos o encontro
    da força desenfreada da civilização humana
  • 18:04 - 18:07
    e o objeto imóvel da natureza tropical.
  • 18:08 - 18:13
    E é nessa fronteira que somos obrigados
    a reavaliar nosso comportamento.
  • 18:13 - 18:15
    Quanto vale a vida selvagem?
  • 18:16 - 18:19
    Qual o valor da biodiversidade
    ou da água potável?
  • 18:20 - 18:23
    Felizmente, depois de décadas de debates,
  • 18:23 - 18:26
    estamos finalmente agindo.
  • 18:26 - 18:30
    Pouco a pouco, estamos realizando projetos
    para canalizar mais água doce para a baía.
  • 18:30 - 18:34
    Mas cabe a nós, como cidadãos,
    como residentes, como guardiões,
  • 18:34 - 18:37
    cobrar dos políticos suas promessas.
  • 18:38 - 18:40
    E vocês, o que podem fazer para ajudar?
  • 18:40 - 18:41
    É tão fácil.
  • 18:41 - 18:43
    Simplesmente saiam de casa.
  • 18:43 - 18:45
    E levem seus amigos, seus filhos,
  • 18:45 - 18:47
    levem sua família.
  • 18:47 - 18:49
    Contratem um guia de pescas.
  • 18:49 - 18:51
    Mostrem ao estado
    que proteger a vida selvagem,
  • 18:51 - 18:55
    para além da questão ecológica,
    também tem vantagens econômicas.
  • 18:55 - 18:58
    É muito divertido, façam isso,
    ponham os pés na água.
  • 18:59 - 19:02
    O pântano vai transformar vocês, garanto.
  • 19:02 - 19:04
    Ao longo dos anos,
    temos sido muito generosos
  • 19:04 - 19:07
    com as outras paisagens do nosso país,
  • 19:07 - 19:10
    cobrindo-as com nosso orgulho,
  • 19:10 - 19:12
    considerando-as lugares que nos definem:
  • 19:12 - 19:16
    o Grand Canyon, Yosemite, Yellowstone.
  • 19:16 - 19:18
    Usamos esses parques
    e essas áreas naturais
  • 19:18 - 19:21
    como faróis e como bússolas culturais.
  • 19:22 - 19:26
    Infelizmente, o Everglades
    normalmente fica fora dessa história.
  • 19:26 - 19:29
    Mas creio que seja
    tão icônico e emblemático
  • 19:29 - 19:33
    de quem somos como país
    quanto qualquer um desses parques.
  • 19:33 - 19:36
    É só um tipo diferente de natureza.
  • 19:37 - 19:38
    Mas estou confiante,
  • 19:38 - 19:41
    porque, finalmente, talvez
    estejamos mudando de opinião:
  • 19:41 - 19:44
    o que outrora era considerado
    um pântano improdutivo,
  • 19:44 - 19:46
    hoje é considerado patrimônio mundial.
  • 19:46 - 19:49
    É uma área úmida
    de importância internacional.
  • 19:49 - 19:52
    Percorremos um longo caminho
    nos últimos 60 anos.
  • 19:52 - 19:56
    Com o maior e mais ambicioso projeto
    de recuperação de uma área úmida,
  • 19:57 - 20:01
    os olhos do mundo se voltam
    para nós, o Estado Ensolarado.
  • 20:01 - 20:02
    Não se esqueçam disso.
  • 20:02 - 20:04
    Eles estão prestando atenção.
  • 20:04 - 20:06
    Porque, se conseguirmos
    curar esse sistema,
  • 20:06 - 20:11
    ele vai se tornar um ícone da recuperação
    de áreas úmidas do mundo inteiro.
  • 20:12 - 20:17
    Mas cabe a todos nós decidir a qual legado
    queremos hastear nossa bandeira.
  • 20:19 - 20:22
    Dizem que o Everglades
    é o nosso maior teste.
  • 20:23 - 20:26
    Se passarmos, conseguiremos
    conservar o planeta.
  • 20:27 - 20:28
    Adoro essa citação,
  • 20:28 - 20:31
    porque é um desafio, é um estímulo.
  • 20:31 - 20:32
    Vamos conseguir? Vamos fazer?
  • 20:32 - 20:35
    Temos de conseguir; temos o dever.
  • 20:35 - 20:38
    Mas o Everglades não é apenas um teste,
  • 20:38 - 20:39
    é também uma dádiva,
  • 20:39 - 20:42
    e, afinal, é nossa responsabilidade.
  • 20:42 - 20:44
    Obrigado.
  • 20:44 - 20:46
    (Aplausos)
Title:
Fotos deslumbrantes do ameaçado Everglades | Mac Stone | TEDxUF
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite: http://ted.com/tedx

Durante séculos, as pessoas consideraram os pântanos e as áreas úmidas obstáculos a serem evitados. Mas, para o fotógrafo Mac Stone, que documenta histórias da vida selvagem no Everglades, na Flórida, o pântano não é um estorvo, mas um tesouro nacional. Através de suas fotografias deslumbrantes, Stone lança uma nova luz sobre uma natureza selvagem negligenciada, antiga e importante. Seu conselho é: saia e veja você mesmo. "Faça isto: ponha seus pés na água", ele diz. "Prometo que o pântano vai lhe transformar."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
20:52

Portuguese, Brazilian subtitles

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