Façam com que as vossas ações sobre o clima sejam o reflexo das vossas palavras

"A História mostrou-nos que, em momentos de crise, a sociedade pode transformar-se", diz a educadora ambiental Severn Cullis-Suzuki. Há cerca de 30 anos, com apenas 12 anos, ela fez um discurso na Cimeira da Terra da ONU, na esperança de inverter um desastre ecológico. Alguns dos ouvintes tomaram medidas radicais mas, para o resto do mundo, não passaram de negócios e políticas em prol do crescimento económico. Atualmente Cullis-Suzuki partilha um outro aviso em relação ao futuro, numa altura de crise provocada pela Covid-19: é urgente que todos façamos com que as nossas ações climáticas reflitam as nossas palavras.

(Vídeo) Eu estou aqui para falar
a todas as gerações futuras.

Estou aqui em nome de todas as crianças
a passar fome no mundo,

cujo choro não é ouvido.

Estou aqui para falar em nome
de todos os animais,

que estão a morrer no nosso planeta,

porque não têm para onde ir.

Eu tenho medo de sair e apanhar sol,

por causa do buraco na camada do ozono.

Eu tenho medo de respirar o ar,

porque não sei que substâncias químicas
existem nele.

Eu costumava pescar em Vancouver,
a minha cidade, com o meu pai,

até que, há uns anos,

encontrámos peixes cheios de cancros.

Há uma geração,
eu era aquela criança de 12 anos.

Em 1992, eu tive cinco minutos

para falar na Cimeira da Terra
da ONU, no Rio de Janeiro.

Eu e os meus amigos tínhamos
lançado um clube do ambiente

e tínhamos ido assistir a esse
enorme evento internacional,

sobre ambiente e desenvolvimento

para dizer aos adultos
que deviam mudar de vida.

Nesse mesmo ano, 1700 cientistas

emitiram o Aviso Mundial de Cientistas
para a Humanidade

para dizerem que os seres humanos
e o mundo da Natureza

estavam em rota de colisão.

À semelhança de Greta Thunberg
e dos seus pares hoje,

acreditávamos que
os políticos responsáveis

deviam agir com base
na ciência e nos factos.

Os factos estão a dizer-nos

que vamos na direção
de um colapso ecológico.

(Vídeo) Tudo isto está a acontecer
em frente dos nossos olhos

contudo atuamos como
se tivéssemos todo o tempo

e todas as soluções.

Nessa altura, a alteração climática
já tinha sido identificada,

mas ainda não a tínhamos sentido.

Hoje, quase 30 anos depois,

a alteração climática
já não é mais uma previsão.

Está aqui e está a acontecer mais depressa
do que os especialistas previram.

Nós não fizemos nada para a deter.

Hoje o trabalho que temos a fazer
é na mitigação,

tentar limitar o quão mau se tornou.

Em 2015, em Paris,
o mundo chegou a acordo

para limitar o aquecimento
do planeta a 1,5 ºC ,

pois, mais do que isso representa
uma grande ameaça para a vida humana.

Para atingir isso,

teremos de reduzir as emissões globais
para metade nos próximos 10 anos.

(Vídeo) Eu sou só uma criança
e não tenho todas as soluções,

mas quero que entendam
que vocês também não têm.

Os jovens estão sempre na linha
da frente de qualquer revolução.

E são os jovens que me perguntam:

"O que é que o teu discurso conseguiu?"

"Porque é que os delegados
não te ouviram?"

Bem, olhando para trás,

eu julgo que os delegados
da conferência me ouviram,

não só a mim,

mas aos milhares de vozes
que pediam uma mudança.

Se olharmos para as declarações,
para os documentos resultantes do Rio,

eles são radicais.

Incluem a estrutura da Convenção da ONU
sobre a Mudança Climática,

destinada a estabilizar

as concentrações de gases
com efeitos de estufa, na atmosfera

e impedir as interferências perigosas
com o sistema climático.

Vinte e três anos antes
do Acordo de Paris,

154 países assinaram esse acordo
internacional, legalmente vinculativo.

(Vídeo) Eu sou só uma criança,
mas, apesar disso,

sei que estamos todos juntos nisto,

e que devíamos atuar como um só mundo
em direção a um único objetivo.

Então, porque é que o mundo
não toma uma atitude?

Em vez disso, os governos estão focados
no crescimento da economia,

nos interesses empresariais,

e claro, em ganhar as próximas eleições.

Isso mostra uma crise de governação,

em que o nosso sistema político
torna impossível

agir em interesses a longo prazo
das pessoas e das gerações futuras.

Estamos em 2020,

De novo temos um impulso.

Temos o Acordo de Paris
para limitar o aquecimento global.

Temos as exigências da juventude
e da justiça social.

Temos pedidos para desinvestimento.

Temos pedidos
para emergências climáticas.

Temos a ciência, temos as soluções

e todos nós estamos a sofrer
a alteração climática.

Estamos num momento
paralelo ao do Rio de Janeiro.

Chegou a hora de agir.

(Vídeo) Se vocês não sabem
como resolver isto,

por favor parem de destruir.

Como é que garantimos que, desta vez,
agimos de acordo com as nossas palavras?

A História tem-nos mostrado
que, em momentos de crise,

a sociedade consegue transformar-se.

Vimos isso em tempos de guerra,

nos colapsos económicos
e nos períodos de doenças.

Hoje vivemos na era da Covid-19.

Temos visto governos,
instituições de todos os setores

a trabalhar depressa,
a trabalhar em conjunto.

Os seres humanos gostam de pensar
que têm o controlo de tudo,

mas hoje fomos obrigados a recordar

que as leis da Natureza
são o verdadeiro resultado final.

Fomos obrigados a recordar
que a ciência e a experiência

são cruciais para a nossa sobrevivência.

A COVID-19 lançou a luz
sobre a desigualdade

e revelou as nossas infraestruturas
preconceituosas.

É uma chamada de atenção.

Se não ouvirmos, se não mudarmos,

da próxima vez será muito pior.

(Vídeo) O meu pai sempre diz:
"Tu és o que fazes, não o que dizes."

Bem, o que vocês fazem
faz-me chorar à noite.

Os adultos dizem que gostam de nós,
mas eu desafio-vos,

por favor, façam com que as vossas ações
reflitam as vossas palavras.

Esta última frase resume
todo o meu discurso no Rio de Janeiro.

Por favor, façam com que as vossas ações
reflitam as vossas palavras.

Hoje, sou mãe, tenho dois filhos pequenos.

Pais, estou a falar para vocês.

A nossa geração está a determinar
a vida dos nossos filhos.

Temos 10 anos em que
ainda podemos fazer a diferença.

Temos 10 anos para reduzir
as nossas emissões para metade.

A verdadeira forma
de amar os nossos filhos,

é fazer com que as nossas ações
reflitam as nossas palavras.

Chegou a hora de arregaçar as mangas.

Obrigada.