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Porque é que a tecnologia precisa das Humanidades

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    Todos vocês já foram a um bar, certo?
  • 0:03 - 0:05
    (Risos)
  • 0:05 - 0:08
    Mas já foram a um bar
  • 0:08 - 0:11
    e saíram de lá com um negócio
    de 200 milhões de dólares?
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    Foi o que nos aconteceu há uns 10 anos.
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    Estava a ser um dia horrível.
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    Tínhamos um cliente muito importante
    que estava a dar cabo de nós.
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    Somos uma empresa
    de consultoria de «software»,
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    e não conseguíamos encontrar
    um método de programação específico
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    que ajudasse o nosso cliente
    com um sistema de «cloud» inovador.
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    Temos muitos engenheiros,
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    mas nenhum deles conseguia
    satisfazer aquele cliente.
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    Estávamos prestes a ser despedidos.
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    Então, fomos ao dito bar
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    e estávamos ali na conversa
    com o Jeff, o «barman» nosso amigo,
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    que, como qualquer bom «barman»,
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    solidarizava-se connosco
    fazendo-nos sentir melhor,
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    e, com pena do nosso sofrimento, dizia:
  • 0:54 - 0:56
    «Esses tipos estão a exagerar.
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    «Não te preocupes.»
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    Às tantas, diz, impassível:
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    «Porque é que não me mandam para lá?
  • 1:02 - 1:03
    «Eu posso tratar disso.»
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    Na manhã seguinte, lá estávamos nós
    na nossa reunião de equipa,
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    estamos todos meio zonzos...
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    (Risos)
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    e eu, meio na brincadeira, disse:
  • 1:15 - 1:17
    «Estamos prestes a ser despedidos,»
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    E depois:
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    «Porque não chamamos o Jeff, o 'barman'?»
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    (Risos)
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    Fez-se um silêncio,
    uns olhares trocistas.
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    Por fim, o chefe da equipa diz:
    «É uma ótima ideia.»
  • 1:32 - 1:33
    (Risos)
  • 1:33 - 1:36
    «O Jeff é muito inteligente.
    É brilhante.
  • 1:36 - 1:38
    «Ele vai resolver isto.
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    «Vamos chamá-lo.»
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    Bem, o Jeff não era programador.
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    Aliás, ele tinha desistido
    do mestrado de Filosofia
  • 1:46 - 1:47
    na Universidade da Pensilvânia.
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    Mas era brilhante,
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    conseguia aprofundar os temas
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    e nós estávamos prestes a ser despedidos.
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    Então, chamámo-lo.
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    Depois de uns dias de «suspense»,
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    o Jeff ainda lá estava.
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    Não o tinham mandado embora.
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    Eu não estava a acreditar.
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    O que é que ele estava fazer?
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    Fiquei a saber depois:
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    ele tinha desmantelado por completo
    a fixação deles por aquele programa.
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    Tinha mudado a conversa,
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    inclusive o que já tínhamos feito.
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    Agora, a conversa era sobre
    o que iríamos construir e porquê.
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    E sim, o Jeff descobrira
    como programar a solução,
  • 2:34 - 2:38
    e o cliente passou a ser
    uma das nossas melhores referências.
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    Na altura, éramos 200 pessoas,
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    e metade do pessoal tinha mestrados
    em informática ou engenharia,
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    mas a experiência com o Jeff
    fez-nos pensar:
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    Podíamos repetir aquilo em toda a empresa?
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    Então, mudámos a forma
    como recrutávamos e treinávamos.
  • 3:00 - 3:06
    E embora ainda procurássemos
    graduados em informática e engenharia,
  • 3:06 - 3:11
    também fomos introduzindo artistas,
    músicos, escritores...
  • 3:13 - 3:17
    e a história do Jeff começou
    a reproduzir-se por toda a empresa.
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    O nosso diretor de tecnologia
    tinha um mestrado em Inglês,
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    e era mensageiro ciclista em Manhattan.
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    Hoje somos mil trabalhadores,
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    contudo, menos de 100 são graduados
    em informática ou engenharia.
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    E sim, ainda somos uma empresa
    de consultoria informática.
  • 3:40 - 3:42
    Somos os melhores no mercado.
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    Trabalhamos com o «software»
    de mais rápido crescimento
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    a chegar aos 10 mil milhões
    de dólares em vendas anuais.
  • 3:49 - 3:51
    Está a resultar.
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    Entretanto, a pressão neste país
    para uma educação à base do STEM
  • 3:59 - 4:03
    — Ciência, Tecnologia,
    Engenharia e Matemática —
  • 4:03 - 4:04
    é fortíssima.
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    Em todos os aspetos.
  • 4:06 - 4:09
    Isso é um erro colossal.
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    Desde 2009, os licenciados
    em STEM nos EUA
  • 4:14 - 4:16
    aumentaram em 43 %,
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    enquanto as Humanidades
    ficaram na mesma.
  • 4:18 - 4:20
    O nosso ex-presidente
  • 4:21 - 4:25
    dedicou mais de mil milhões
    de dólares à educação STEM
  • 4:25 - 4:28
    à custa de outras disciplinas,
  • 4:28 - 4:30
    e o nosso presidente atual
  • 4:30 - 4:35
    redirecionou 200 milhões de dólares
    dos fundos do Departamento da Educação
  • 4:35 - 4:37
    para a informática.
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    Os diretores das empresas continuam
    a queixar-se da falta de engenheiros.
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    Estas campanhas,
  • 4:49 - 4:52
    associadas ao sucesso flagrante
    da economia tecnológica
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    — porque, sejamos realistas,
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    7 das 10 empresas mais valiosas
    do mundo por capitalização de mercado
  • 4:59 - 5:01
    são empresas de tecnologia —
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    tudo isto cria a presunção
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    de que, por este andar, a mão de obra
    vai passar a ser sobretudo do STEM.
  • 5:13 - 5:14
    Eu entendo.
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    Faz sentido, no papel.
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    É tentador.
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    Mas é um perfeito exagero.
  • 5:24 - 5:30
    É como se toda a equipa de futebol
    corresse para o canto, atrás da bola,
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    porque é aí que está a bola.
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    Não devemos sobrevalorizar o STEM.
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    Não devemos dar mais valor
    às Ciências do que às Humanidades.
  • 5:40 - 5:43
    E há umas quantas razões para isso.
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    Primeiro, a tecnologia de hoje
    é extremamente intuitiva.
  • 5:49 - 5:53
    Nós conseguimos recrutar
    pessoas de todas as áreas
  • 5:53 - 5:56
    e converter isso
    em competência especializada
  • 5:56 - 6:01
    precisamente porque se podem usar
    os sistemas modernos sem saber programar.
  • 6:01 - 6:07
    São como LEGOS: fáceis de montar,
    fáceis de aprender, e até de programar,
  • 6:07 - 6:11
    tendo em conta a grande quantidade
    de informação disponível para aprender.
  • 6:11 - 6:15
    Sim, precisamos de
    competências especializadas,
  • 6:15 - 6:20
    mas isso requer muito menos
    formação rigorosa e formal
  • 6:20 - 6:22
    do que antigamente.
  • 6:23 - 6:29
    Segundo, as competências
    que fazem toda a diferença
  • 6:29 - 6:32
    num mundo com tecnologia intuitiva
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    são as competências que nos ajudam
    a trabalhar em conjunto enquanto humanos,
  • 6:37 - 6:42
    onde o trabalho árduo consiste
    em idealizar um produto final
  • 6:42 - 6:44
    e a sua utilidade,
  • 6:44 - 6:50
    o que requer experiências concretas,
    discernimento e contexto histórico.
  • 6:51 - 6:54
    O que aprendemos com a história do Jeff
  • 6:54 - 6:57
    foi que o cliente estava
    focado na coisa errada.
  • 6:58 - 7:00
    É o caso típico:
  • 7:01 - 7:05
    um tecnólogo a tentar comunicar
    com a empresa e o consumidor final,
  • 7:05 - 7:09
    e a empresa que não consegue
    formular as suas necessidades.
  • 7:10 - 7:12
    Vejo isso todos os dias.
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    Ainda só demos os primeiros passos
  • 7:16 - 7:20
    na nossa capacidade de comunicar
    e inventar juntos enquanto humanos,
  • 7:20 - 7:25
    e, se é verdade que as ciências
    nos ensinam como fazer as coisas,
  • 7:25 - 7:30
    são as Humanidades que nos ensinam
    o que construir e porquê.
  • 7:32 - 7:34
    São ambas importantes,
  • 7:34 - 7:36
    e igualmente difíceis.
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    Vou aos arames
  • 7:43 - 7:48
    quando oiço as pessoas
    dizer que as Humanidades valem menos,
  • 7:48 - 7:50
    que são o caminho fácil.
  • 7:50 - 7:51
    Francamente!
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    As Humanidades dão-nos
    o contexto do nosso mundo.
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    Ensinam-nos a ter espírito crítico.
  • 8:02 - 8:04
    São isentas propositadamente
    de uma estrutura,
  • 8:04 - 8:08
    enquanto as Ciências são
    propositadamente estruturadas.
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    Ensinam-nos a persuadir,
    dão-nos a nossa língua,
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    que usamos para converter emoções
    em pensamentos e ações.
  • 8:20 - 8:25
    Precisam de estar ao mesmo nível
    que as Ciências.
  • 8:25 - 8:29
    E sim, podemos contratar
    meia dúzia de artistas,
  • 8:29 - 8:33
    criar uma empresa de tecnologia
    e ter ótimos resultados.
  • 8:35 - 8:39
    E atenção, não estou a tentar dizer
    que o STEM é mau.
  • 8:41 - 8:45
    Não vim aqui para dizer que as raparigas
    não deviam saber programar.
  • 8:45 - 8:46
    (Risos)
  • 8:46 - 8:48
    Por favor.
  • 8:48 - 8:51
    Quando passarmos pela próxima ponte,
  • 8:51 - 8:55
    ou entrarmos no elevador,
  • 8:56 - 8:58
    é bom que tenham tido
    um engenheiro por trás.
  • 8:58 - 9:00
    (Risos)
  • 9:02 - 9:05
    Mas entrar nesta paranoia
  • 9:06 - 9:10
    de achar que só vai haver
    trabalho com o STEM
  • 9:10 - 9:12
    é uma estupidez.
  • 9:13 - 9:17
    Se tiverem amigos ou filhos
    ou familiares ou netos
  • 9:17 - 9:18
    ou sobrinhos e sobrinhas...
  • 9:18 - 9:22
    encorajem-nos a serem o que quiserem.
  • 9:23 - 9:26
    (Aplausos)
  • 9:30 - 9:32
    Há de haver trabalho.
  • 9:34 - 9:36
    Os diretores de empresas de tecnologia
  • 9:36 - 9:40
    que clamam por licenciados do STEM,
  • 9:40 - 9:42
    sabem quem é que contratam?
  • 9:42 - 9:45
    A Google, a Apple, o Facebook.
  • 9:45 - 9:49
    65 % das ofertas de trabalho que fazem
  • 9:49 - 9:51
    não são técnicas:
  • 9:52 - 9:54
    publicitários, «designers»,
  • 9:54 - 9:57
    coordenadores de projeto,
    coordenadores de programa,
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    gestores de produto, advogados,
    especialistas em recursos humanos
  • 10:00 - 10:03
    formadores, instrutores,
    vendedores, clientes, e por aí fora.
  • 10:04 - 10:07
    É para isso que eles contratam.
  • 10:09 - 10:14
    E se há uma coisa de que a nossa
    mão de obra precisa
  • 10:14 - 10:17
    — e acho que todos podemos concordar —
  • 10:17 - 10:19
    é de diversidade.
  • 10:20 - 10:24
    Diversidade que não termine
    no género ou na etnia.
  • 10:24 - 10:27
    Precisamos de diversidade
    na formação,
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    diversidade nas capacidades,
  • 10:30 - 10:34
    introvertidos e extrovertidos,
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    líderes e seguidores.
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    Essa é a nossa futura mão de obra.
  • 10:40 - 10:45
    O facto de a tecnologia se tornar
    mais fácil e mais acessível
  • 10:45 - 10:47
    liberta essa mão de obra
  • 10:47 - 10:51
    para estudar o que bem lhes apetecer.
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    Obrigado.
  • 10:53 - 10:56
    (Aplausos)
Title:
Porque é que a tecnologia precisa das Humanidades
Speaker:
Eric Berridge
Description:

Se quiserem construir uma equipa inovadora capaz de resolver problemas, devem valorizar as Humanidades tanto quanto as ciências, afirma o empresário Eric Berridge. Fala-nos de como as empresas de tecnologia devem alargar os seus horizontes de contratação para além do «STEM» (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) — e de como pessoas de diferentes áreas das artes e humanidades podem trazer criatividade e novas perspetivas a locais de trabalho técnico.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:12

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