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Vamos falar da morte - Stephen Cave no TEDxBratislava

  • 0:12 - 0:14
    Boa tarde, senhoras e senhores.
  • 0:15 - 0:17
    Tenho uma pergunta a fazer:
  • 0:18 - 0:24
    Quem aqui se lembra de quando percebeu
    pela primeira vez que haveria de morrer?
  • 0:24 - 0:29
    Eu lembro-me. Era rapazinho
    e o meu avô acabara de morrer.
  • 0:30 - 0:33
    Lembro-me de, uns dias depois,
  • 0:33 - 0:36
    deitado na cama, à noite, tentar
    compreender o que tinha acontecido.
  • 0:38 - 0:40
    O que significava ele ter morrido?
  • 0:40 - 0:42
    Para onde é que ele tinha ido?
  • 0:42 - 0:47
    Era como se se tivesse aberto
    um buraco na realidade, que o engolira.
  • 0:48 - 0:50
    Mas depois ocorreu-me a pergunta
    verdadeiramente chocante:
  • 0:50 - 0:53
    Se ele podia morrer,
    isso também me podia acontecer?
  • 0:54 - 0:57
    Esse buraco na realidade
    poderia abrir-se e engolir-me, a mim?
  • 0:57 - 1:00
    Abrir-se-ia debaixo da minha cama
    e engolir-me-ia enquanto eu dormia?
  • 1:02 - 1:06
    A certa altura, todas as crianças
    tomam consciência da morte.
  • 1:06 - 1:10
    Pode acontecer de diversas formas, claro,
    e normalmente aparece por fases.
  • 1:10 - 1:13
    A nossa ideia de morte evolui
    à medida que crescemos.
  • 1:13 - 1:17
    Se procurarem nas zonas
    mais escuras da vossa memória,
  • 1:18 - 1:23
    talvez recordem qualquer coisa parecida
    com o que eu senti quando o meu avô morreu
  • 1:23 - 1:26
    e quando eu percebi
    que também podia acontecer comigo.
  • 1:26 - 1:31
    Essa sensação de que,
    por detrás de tudo, o vazio está à espera
  • 1:32 - 1:37
    e essa evolução na infância refletem
    a evolução da nossa espécie.
  • 1:37 - 1:42
    Tal como houve uma altura
    na nossa evolução, enquanto crianças,
  • 1:42 - 1:44
    em que a consciência
    de nós próprios e do tempo
  • 1:44 - 1:46
    se torna suficientemente sofisticada
  • 1:46 - 1:49
    para percebermos que somos mortais,
  • 1:50 - 1:54
    também a certa altura
    da evolução da nossa espécie
  • 1:54 - 1:57
    a consciência do homem primitivo,
    de si próprio e do tempo
  • 1:57 - 1:59
    tornou-se suficientemente sofisticada
  • 1:59 - 2:02
    para que ele fosse o primeiro homem a perceber:
  • 2:02 - 2:04
    "Eu vou morrer!".
  • 2:05 - 2:08
    É esta a nossa maldição:
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    É o preço que pagamos por sermos
    tão diabolicamente inteligentes.
  • 2:11 - 2:14
    Temos que viver com a certeza
  • 2:14 - 2:18
    de que a pior coisa que pode acontecer,
    vai certamente acontecer um dia:
  • 2:18 - 2:21
    o fim de todos os nossos projetos,
    das nossas esperanças,
  • 2:21 - 2:23
    dos nossos sonhos,
    do nosso mundo individual.
  • 2:23 - 2:28
    Vivemos todos na sombra
    de um apocalipse pessoal.
  • 2:28 - 2:33
    Isso é assustador! É aterrorizador,
    portanto procuramos uma saída.
  • 2:33 - 2:37
    No meu caso, como
    eu tinha cerca de cinco anos,
  • 2:37 - 2:39
    fui perguntar à minha Mãe.
  • 2:39 - 2:42
    Quando eu comecei a perguntar:
  • 2:42 - 2:44
    "Que acontece quando morremos?",
  • 2:44 - 2:48
    os adultos à minha volta responderam
    com a habitual mistura inglesa
  • 2:48 - 2:51
    de embaraço e de cristianismo ambíguo.
  • 2:52 - 2:54
    A frase que ouvi mais vezes foi que
  • 2:54 - 2:58
    o avô estava "lá em cima a olhar para nós".
  • 2:58 - 3:01
    E se eu também morresse,
    — claro que isso não ia acontecer —
  • 3:01 - 3:04
    também eu iria lá para cima.
  • 3:04 - 3:08
    Isso fazia com que a morte se parecesse
    com um elevador existencial.
  • 3:09 - 3:12
    Ora bem, isso não parecia muito plausível.
  • 3:12 - 3:15
    Naquele época, eu costumava ver
    um noticiário infantil
  • 3:15 - 3:17
    e estávamos na era da exploração espacial.
  • 3:17 - 3:20
    Havia sempre foguetões a subir ao céu,
  • 3:20 - 3:22
    para o espaço, "lá para cima".
  • 3:22 - 3:24
    Mas nenhum dos astronautas,
    quando voltavam,
  • 3:24 - 3:27
    se referia a ter encontrado o meu avô,
  • 3:27 - 3:30
    nem nenhum dos outros mortos.
  • 3:30 - 3:31
    Mas eu tinha medo.
  • 3:31 - 3:34
    E a ideia de apanhar
    o elevador existencial,
  • 3:34 - 3:36
    para ver o meu avô, soava-me muito melhor
  • 3:36 - 3:39
    do que ser engolido pelo vazio
    enquanto dormia.
  • 3:40 - 3:43
    Portanto acabei por acreditar,
    apesar de não fazer muito sentido.
  • 3:45 - 3:48
    Este processo de pensamento
    por que passei quando criança,
  • 3:48 - 3:51
    e por que voltei a passar
    muitas vezes, já em adulto,
  • 3:51 - 3:55
    é resultante do que os psicólogos
    chamam uma "distorção cognitiva".
  • 3:56 - 4:00
    É uma distorção sistemática das coisas.
  • 4:00 - 4:04
    Calculamos mal, avaliamos mal,
    distorcemos a realidade
  • 4:04 - 4:06
    ou só vemos o que queremos ver.
  • 4:06 - 4:10
    E a distorção de que eu estou a falar
    funciona assim:
  • 4:10 - 4:14
    Se confrontarmos uma pessoa
    com o facto de que ela há-de morrer,
  • 4:14 - 4:19
    ela vai acreditar em qualquer história
    que lhe diga que isso não é verdade
  • 4:19 - 4:22
    e que, pelo contrário,
    vai viver para sempre,
  • 4:22 - 4:25
    mesmo que isso signifique
    apanhar o elevador existencial.
  • 4:25 - 4:29
    Podemos ver que esta distorção
    é a maior de todas.
  • 4:29 - 4:34
    Já ficou provado em mais
    de 400 estudos empíricos.
  • 4:34 - 4:38
    Esses estudos são engenhosos
    mas são simples e funcionam assim:
  • 4:38 - 4:43
    Arranjam-se dois grupos de pessoas,
    semelhantes em todos os aspetos relevantes
  • 4:43 - 4:47
    e lembramos a um dos grupos
    que eles vão morrer, mas ao outro não.
  • 4:47 - 4:49
    Depois comparamos o seu comportamento.
  • 4:49 - 4:52
    Assim, observamos como
    o comportamento é distorcido
  • 4:52 - 4:55
    quando as pessoas tomam
    consciência da sua mortalidade.
  • 4:56 - 4:59
    Obtemos sempre o mesmo resultado:
  • 4:59 - 5:02
    as pessoas a quem se chamou a atenção
    para a sua mortalidade
  • 5:02 - 5:04
    estão mais predispostas
    a acreditar nas histórias
  • 5:04 - 5:06
    que lhes contam sobre
    poderem escapar à morte
  • 5:06 - 5:08
    e viverem eternamente.
  • 5:08 - 5:12
    Eis um exemplo: um estudo recente
    arranjou dois grupos de agnósticos,
  • 5:12 - 5:17
    que são pessoas indecisas
    quanto às suas crenças religiosas.
  • 5:17 - 5:20
    Pediu-se a um dos grupos
    para pensar na sua morte
  • 5:20 - 5:23
    e ao outro grupo para pensar na sua solidão.
  • 5:23 - 5:26
    Depois voltaram a interrogá-los
    sobre as suas crenças religiosas:
  • 5:26 - 5:29
    no grupo daqueles a quem tinham
    pedido para pensar na morte
  • 5:29 - 5:34
    havia o dobro de pessoas com tendência
    para expressar a sua fé em Deus e Jesus.
  • 5:34 - 5:37
    O dobro!
  • 5:37 - 5:39
    Apesar de, anteriormente,
    serem igualmente agnósticos.
  • 5:39 - 5:42
    Mas meteram-lhes medo com a morte
    e eles foram a correr para Jesus.
  • 5:45 - 5:50
    Isto mostra que recordar a morte às pessoas
    as influencia a acreditar,
  • 5:50 - 5:52
    independentemente das evidências.
  • 5:52 - 5:56
    E funciona não apenas para a religião,
    mas para qualquer sistema de crença
  • 5:56 - 5:59
    que prometa qualquer tipo de imortalidade,
  • 5:59 - 6:03
    seja tornar-se famoso,
    ou ter filhos, ou até a nacionalidade
  • 6:03 - 6:07
    que nos prometa podermos viver
    como parte dum conjunto maior.
  • 6:07 - 6:11
    É uma distorção que moldou o curso
    da história do Homem.
  • 6:12 - 6:17
    A teoria por trás desta distorção
    em quase 400 estudos
  • 6:17 - 6:21
    chama-se "teoria da gestão do terror".
    A ideia é muito simples, é esta:
  • 6:21 - 6:23
    Desenvolvemos a nossa conceção do mundo,
  • 6:23 - 6:26
    ou seja, as histórias
    que contamos a nós mesmos
  • 6:26 - 6:28
    sobre o mundo e o nosso lugar nele,
  • 6:28 - 6:32
    a fim de nos ajudar a gerir
    o terror da morte.
  • 6:33 - 6:38
    Estas histórias da imortalidade
    têm milhares de manifestações diferentes.
  • 6:38 - 6:42
    Mas eu creio que,
    por trás duma diversidade aparente,
  • 6:42 - 6:45
    há na verdade apenas quatro formas
  • 6:45 - 6:48
    que essas histórias da imortalidade
    podem assumir.
  • 6:50 - 6:53
    Podemos vê-las a repetirem-se
    através da história,
  • 6:53 - 6:57
    apenas com leves variantes
    que refletem o vocabulário da época.
  • 6:57 - 6:59
    Vou apresentar-vos resumidamente
  • 6:59 - 7:02
    essas quatro formas básicas
    de histórias da imortalidade
  • 7:02 - 7:06
    e queria dar-vos uma noção
    da forma como elas são recontadas
  • 7:06 - 7:08
    por cada cultura ou geração,
  • 7:08 - 7:09
    usando o vocabulário da sua época.
  • 7:11 - 7:16
    A primeira história é a mais simples:
    queremos evitar a morte.
  • 7:16 - 7:20
    E o sonho de fazer isso neste corpo,
    neste mundo, para sempre
  • 7:20 - 7:23
    é o primeiro tipo e o mais simples
    das histórias da imortalidade.
  • 7:23 - 7:26
    À primeira vista parece implausível
  • 7:26 - 7:29
    mas quase todas as culturas
    da história do Homem
  • 7:29 - 7:34
    tiveram qualquer mito
    ou lenda dum elixir da vida eterna
  • 7:34 - 7:36
    ou duma fonte da juventude
    ou de qualquer coisa
  • 7:36 - 7:39
    que promete manter-nos vivos eternamente.
  • 7:40 - 7:44
    O antigo Egito tinha esses mitos,
    a Babilónia antiga, a Índia antiga.
  • 7:44 - 7:48
    Por toda a história europeia
    encontramo-la na obra dos alquimistas
  • 7:48 - 7:50
    e, claro, ainda acreditamos nela
    hoje em dia.
  • 7:50 - 7:54
    Só que contamos essa história
    usando o vocabulário da ciência.
  • 7:55 - 7:58
    Há cem anos, as hormonas
    acabavam de ser descobertas.
  • 7:58 - 8:00
    As pessoas tiveram a esperança
    de que os tratamentos com hormonas
  • 8:00 - 8:02
    curassem o envelhecimento e as doenças.
  • 8:02 - 8:05
    Agora, pomos as nossas esperanças
    nas células estaminais,
  • 8:05 - 8:08
    na engenharia genética
    e na nanotecnologia.
  • 8:08 - 8:11
    Mas a ideia de que
    a ciência pode curar a morte
  • 8:11 - 8:15
    é apenas mais um capítulo
    na história do elixir mágico,
  • 8:15 - 8:19
    uma história que é
    tão antiga como a civilização.
  • 8:20 - 8:24
    Mas apostar tudo na ideia
    de encontrar o elixir
  • 8:24 - 8:26
    e de nos mantermos vivos eternamente
    é uma estratégia arriscada.
  • 8:26 - 8:28
    Quando olhamos para a história do passado
  • 8:28 - 8:31
    para todos os que procuraram
    um elixir no passado,
  • 8:31 - 8:35
    a única coisa que eles têm hoje
    em comum é estarem todos mortos.
  • 8:35 - 8:36
    (Risos)
  • 8:36 - 8:38
    Portanto, precisamos de ter
    um plano de segurança.
  • 8:38 - 8:43
    Esse plano B é o que o segundo tipo de
    histórias da imortalidade oferece:
  • 8:43 - 8:45
    é a ressurreição.
  • 8:45 - 8:48
    Está baseada na ideia
    de que eu sou este corpo,
  • 8:48 - 8:49
    sou este organismo físico,
  • 8:49 - 8:51
    aceita que eu vou morrer um dia,
  • 8:51 - 8:55
    mas diz que, apesar disso,
    posso erguer-me e voltar a viver.
  • 8:55 - 8:58
    Por outras palavras,
    posso fazer o que Jesus fez.
  • 8:58 - 9:02
    Jesus morreu, esteve três dias no túmulo,
    ergueu-se e viveu de novo.
  • 9:03 - 9:07
    A ideia de que todos podemos ressuscitar
    e viver de novo é uma crença ortodoxa,
  • 9:07 - 9:11
    não só para os cristãos,
    mas também para os judeus e muçulmanos.
  • 9:11 - 9:15
    Mas o nosso desejo de acreditar nesta história
    está tão profundamente entranhado
  • 9:15 - 9:19
    que estamos a reinventá-la
    de novo para a era científica.
  • 9:19 - 9:22
    Por exemplo,
    com a ideia da criopreservação.
  • 9:22 - 9:25
    É a ideia de que, quando morremos,
    podemos ser congelados.
  • 9:25 - 9:29
    Depois, a certa altura, quando a tecnologia
    estiver suficientemente evoluída,
  • 9:29 - 9:32
    podemos ser descongelados,
    consertados e reviver, ressuscitar.
  • 9:32 - 9:35
    Há pessoas que acreditam
    que um Deus omnipotente
  • 9:35 - 9:37
    os vai fazer ressuscitar
    para viverem de novo.
  • 9:37 - 9:40
    Outras pessoas acreditam
    num cientista omnipotente
  • 9:40 - 9:42
    que poderá fazer o mesmo.
  • 9:42 - 9:44
    Mas para outras,
    essa ideia da ressurreição,
  • 9:44 - 9:48
    de sair da sepultura, é demasiado parecida
    com um mau filme de "zombies".
  • 9:48 - 9:53
    Consideram o corpo demasiado incómodo,
    pouco fiável para garantir a vida eterna.
  • 9:53 - 9:56
    Portanto, colocam as suas esperanças
  • 9:56 - 9:59
    na terceira história da imortalidade,
    mais espiritual,
  • 9:59 - 10:02
    na ideia de que podemos
    deixar para trás o nosso corpo
  • 10:02 - 10:04
    e viver apenas como alma.
  • 10:04 - 10:07
    A maioria das pessoas na Terra
    acredita que tem uma alma
  • 10:07 - 10:09
    e esta ideia é central em muitas religiões.
  • 10:09 - 10:14
    Mas apesar de, na sua forma atual
    e na sua forma tradicional,
  • 10:14 - 10:16
    a ideia da alma continuar
    enormemente popular,
  • 10:16 - 10:20
    estamos a reinventá-la para a era digital.
  • 10:20 - 10:23
    Por exemplo, a ideia de que podemos
    deixar para trás o nosso corpo,
  • 10:23 - 10:26
    metendo num computador
    o nosso espírito, a nossa essência,
  • 10:26 - 10:28
    o nosso verdadeiro "eu",
  • 10:28 - 10:31
    e continuarmos a viver no éter
    como um avatar.
  • 10:32 - 10:36
    Claro que há céticos que dizem que,
    se olharmos para a evidência da ciência,
  • 10:36 - 10:38
    em especial a neurociência,
  • 10:38 - 10:41
    o nosso espírito, a nossa essência,
    o nosso verdadeiro "eu"
  • 10:41 - 10:44
    está muito dependente
    duma parte especial do nosso corpo
  • 10:44 - 10:46
    que é o nosso cérebro.
  • 10:46 - 10:48
    Esses céticos podem encontrar conforto
  • 10:48 - 10:51
    no quarto tipo de história da imortalidade,
  • 10:51 - 10:52
    que é o legado,
  • 10:52 - 10:57
    a ideia de que podemos viver através
    do eco que deixamos no mundo,
  • 10:57 - 10:59
    tal como o grande guerreiro grego, Aquiles,
  • 10:59 - 11:01
    que sacrificou a sua vida
    combatendo em Troia
  • 11:01 - 11:04
    para conquistar a sua fama imortal.
  • 11:05 - 11:08
    A procura da fama é hoje
    tão alargada e popular
  • 11:08 - 11:09
    como sempre foi.
  • 11:09 - 11:12
    Na nossa era digital
    ainda é mais fácil de alcançar.
  • 11:12 - 11:16
    Não precisamos de ser um grande guerreiro
    como Aquiles, nem um grande rei ou herói.
  • 11:16 - 11:19
    Basta ter uma ligação à Internet
    e um gato engraçado.
  • 11:19 - 11:21
    (Risos)
  • 11:21 - 11:25
    Mas há pessoas que preferem deixar
    um legado biológico mais tangível,
  • 11:25 - 11:26
    filhos, por exemplo.
  • 11:26 - 11:30
    Ou preferem viver,
    fazendo parte dum todo maior,
  • 11:30 - 11:34
    uma nação, ou família, ou tribo,
    o seu fundo genético.
  • 11:35 - 11:40
    Mais uma vez, há céticos que duvidam
    de que o legado seja realmente a imortalidade.
  • 11:40 - 11:43
    Woody Allen, por exemplo, que disse:
  • 11:43 - 11:44
    "Não quero viver no coração
    dos meus compatriotas,
  • 11:44 - 11:47
    "quero viver no meu apartamento".
  • 11:47 - 11:48
    (Risos)
  • 11:48 - 11:50
    Mas, se queremos viver
    no nosso apartamento,
  • 11:50 - 11:52
    claro que precisamos de um elixir,
  • 11:52 - 11:56
    o que foi o nosso primeiro tipo
    da história da imortalidade.
  • 11:56 - 11:59
    Portanto, são estes os quatro tipos básicos
    de histórias da imortalidade.
  • 11:59 - 12:03
    Tentei dar apenas uma noção
    de como elas são recontadas por cada geração,
  • 12:03 - 12:07
    apenas com leves variantes
    para se adaptarem à moda da época.
  • 12:07 - 12:12
    O facto de elas se repetirem deste modo,
    de forma tão semelhante,
  • 12:12 - 12:15
    em sistemas de crenças tão diferentes,
    sugere, segundo penso,
  • 12:15 - 12:17
    que devíamos ser céticos
  • 12:17 - 12:20
    quanto à verdade de qualquer
    versão especial destas histórias.
  • 12:21 - 12:23
    O facto de algumas pessoas acreditarem
  • 12:23 - 12:26
    que algum Deus omnipotente
    as vai fazer ressuscitar
  • 12:26 - 12:27
    para que elas vivam de novo
  • 12:27 - 12:29
    e outras acreditarem num cientista
    omnipotente que fará o mesmo,
  • 12:29 - 12:35
    sugere que nenhuma delas acredita
    verdadeiramente na força da evidência.
  • 12:36 - 12:40
    Acreditamos nestas histórias porque
    estamos predispostos a acreditar nelas,
  • 12:40 - 12:45
    e estamos predispostos a acreditar nelas
    porque temos muito medo da morte.
  • 12:46 - 12:48
    Portanto a questão é esta:
  • 12:48 - 12:52
    Estaremos condenados a levar
    a única vida que temos
  • 12:52 - 12:55
    de um modo que é moldado
    pelo medo e pela negação?
  • 12:55 - 12:58
    Ou podemos ultrapassar esta distorção?
  • 12:58 - 13:02
    Epicuro, o filósofo grego,
    pensava que podíamos.
  • 13:02 - 13:08
    Argumentava que o medo da morte
    é natural mas não é racional,
  • 13:09 - 13:11
    "A morte", dizia ele, "não é nada para nós.
  • 13:11 - 13:14
    "Pois, quando existimos,
    a morte ainda não chegou
  • 13:14 - 13:17
    "e quando ela chega, não existimos mais".
  • 13:18 - 13:22
    Isto é citado muitas vezes mas é difícil
    de apanhar, de interiorizar verdadeiramente
  • 13:22 - 13:27
    porque é muito difícil de imaginar
    esta ideia de não mais existirmos.
  • 13:27 - 13:31
    Dois mil anos depois,
    outro filósofo, Ludovic Wittgenstein,
  • 13:31 - 13:32
    disse de outro modo:
  • 13:33 - 13:36
    "A morte não é um acontecimento na vida,
  • 13:36 - 13:39
    "a morte não pode ser vivida".
  • 13:39 - 13:43
    E acrescentou:
    "Assim sendo, a vida não tem fim".
  • 13:43 - 13:47
    Para mim, enquanto criança,
  • 13:47 - 13:49
    era natural ter medo
    de ser engolido pelo vazio,
  • 13:49 - 13:51
    mas não era racional.
  • 13:51 - 13:54
    Ser engolido pelo vazio é uma coisa
  • 13:54 - 13:57
    que nenhum de nós jamais experimentará.
  • 13:58 - 14:01
    Mas não é fácil ultapassar esta distorção
  • 14:01 - 14:03
    porque o medo da morte está
    profundamente entranhado em nós.
  • 14:04 - 14:07
    No entanto, quando vemos
    que esse medo não é racional
  • 14:08 - 14:11
    e quando trazemos para a luz do dia
  • 14:11 - 14:13
    as formas em que inconscientemente
    nos podem deformar,
  • 14:13 - 14:15
    podemos pelo menos começar
  • 14:15 - 14:19
    a tentar minimizar a influência
    que tem na nossa vida.
  • 14:19 - 14:24
    Penso que ajuda ver a vida
    como sendo um livro.
  • 14:24 - 14:28
    Tal como um livro que está limitado
    pela capa, pelo início e pelo fim,
  • 14:28 - 14:31
    também a nossa vida está limitada
    pelo nascimento e pela morte.
  • 14:31 - 14:35
    Mas, apesar de um livro estar limitado
    pelo início e pelo fim,
  • 14:35 - 14:40
    pode abranger paisagens distantes,
    figuras exóticas, aventuras fantásticas.
  • 14:40 - 14:44
    E apesar de um livro estar limitado
    pelo início e pelo fim,
  • 14:44 - 14:48
    os personagens dentro dele
    não têm horizontes.
  • 14:48 - 14:52
    Só conhecem os momentos
    que formam a sua história,
  • 14:52 - 14:54
    mesmo quando o livro está fechado.
  • 14:54 - 15:00
    Os personagens do livro não têm medo
    de chegar à última página.
  • 15:00 - 15:04
    Long John Silver não tem medo
    de que acabemos de ler a Ilha do Tesouro.
  • 15:05 - 15:07
    O mesmo devia acontecer connosco.
  • 15:07 - 15:10
    Imaginem o livro da nossa vida, a sua capa.
  • 15:10 - 15:12
    O início e o fim são
    o nosso nascimento e a nossa morte.
  • 15:12 - 15:14
    Só podemos conhecer
    os momentos entre eles,
  • 15:14 - 15:16
    os momentos que compõem a nossa vida.
  • 15:16 - 15:20
    Não faz sentido termos medo
    do que está por fora dessa capa,
  • 15:20 - 15:23
    quer seja antes do nascimento
    ou depois da morte.
  • 15:23 - 15:26
    E não precisamos de nos preocupar
    com o tamanho do livro,
  • 15:26 - 15:29
    ou se é de banda desenhada ou uma epopeia.
  • 15:29 - 15:34
    A única coisa que interessa
    é que façamos dele uma boa história.
  • 15:34 - 15:36
    Obrigado.
  • 15:36 - 15:40
    (Aplausos)
Title:
Vamos falar da morte - Stephen Cave no TEDxBratislava
Description:

A morte. É um tema forte. Segundo Stephen Cave, temos tanto medo dela que evitamos pensar nela a todo o custo — mesmo quando a morte é precisamente aquilo de que estamos a falar. No TEDxBratislava, sublinha as quatro narrativas comuns que, ao longo da história, as culturas têm usado para evitar pensar na morte, e dá-nos uma razão para deixarmos de nos preocupar com a morte e concentrarmo-nos em viver.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:59
  • Esta revisão foi feita em 21/Julho por um tradutor brasileiro que adieu ao TED EM 19/Julho!

    Não concordo com a alteração feita na linha 0:18 que, embora traduzida à letra, dá um sentido ambíguo à frase em português.

    Quanto às alterações do sincronismo, não tenho hipótese de verificar se prejudicam a velocidade de leitura.

Portuguese subtitles

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