Eu tenho certeza que,
quando você era criança,
você já brincou
de telefone sem fio.
Você deve se lembrar que,
nesse processo de comunicação,
as mensagens sempre chegavam
bagunçadas no final da transmissão.
No cenário corporativo, é claro que não
falamos do contexto da brincadeira,
mas nós também
precisamos nos comunicar.
E o principal ativo da organização
são as pessoas.
Garantir uma clara comunicação
pode ser o fator decisivo
na hora do sucesso
da organização.
E é sobre isso que nós vamos falar
um pouco mais no podcast de hoje:
a comunicação empresarial.
E, para falar sobre esse assunto,
eu estou aqui com o André e com o Fabrício.
André, você pode começar se apresentando
um pouquinho para o pessoal?
Claro, Renato,
é um prazer.
Meu nome é André Arcas,
e eu sou coach de palco.
Meu trabalho é preparar pessoas
para fazerem apresentações fantásticas.
Eu atendo desde executivos
de grandes empresas,
força de vendas,
marketing e por aí vai.
Fabrício, você também
pode se apresentar um pouco?
Claro, eu agradeço o convite.
Meu nome é
Fabrício César Bastos,
trabalho com desenvolvimento
de liderança,
desenvolvimento
de equipes também,
principalmente na questão de conectar
pragmatismo com resultados,
e também autoconhecimento.
Meu nome é Renato Kimura,
sou coordenador aqui na FIAP,
e nós estamos hoje aqui para conversar
sobre processo comunicacional.
Eu queria começar
perguntando para vocês:
o que é a comunicação
na opinião de vocês?
Comunicação, ao meu ver,
é qualquer tipo de interação humana.
É, basicamente, o processo
que envolve a troca de ideias,
contatos, significados entre pessoas.
Comunicação não é
só verbal então, né?
Então, é o que nós
estávamos falando.
Quando você fez a pergunta,
nós nos olhamos aqui para começar.
Nesse processo, nós começamos
a identificar uma visão
que é impossível
nós não nos comunicarmos,
sejam nas nossas relações, seja
dentro do âmbito corporativo.
Por exemplo, se nós estamos numa reunião
e não falamos nada naquela reunião,
de certa forma nós
estamos comunicando algo.
Não significa que eu também preciso
falar e atropelar as outras pessoas,
mas perceber que essa
comunicação tem várias esferas,
geralmente a verbal
e a não verbal.
Então, todo esse processo,
que principalmente tem
na interação com outras pessoas
e até com nós mesmos,
é um processo de comunicação.
E quando nós falamos dessa
comunicação verbal e não verbal,
passamos sinais, seja gesticulando
ou deixando de gesticular.
A ausência da comunicação verbal também
acaba sendo um sinal que passamos.
André, você pode falar um pouquinho
dessa sua experiência como coach,
para as pessoas que precisam
falar em público?
Como isso acontece?
Nós temos que ajudar as pessoas
no processo comunicacional, na fala,
mas também há um trabalho,
um coaching para essa parte
não verbal da história?
Sim. Inclusive,
a parte não verbal
tem uma significância
muito grande na comunicação.
Tem um estudo famoso,
cujo nome eu esqueci agora,
mas, basicamente,
o escopo era para entender
qual era o efeito dos elementos
da comunicação na mensagem.
E o que se descobriu
nesse contexto específico
era que, para aquela mensagem,
55% da mensagem era passada
via comunicação não verbal,
38% era tom de voz,
e só 7% eram as palavras em si.
Então, surpreendentemente, o conteúdo
das palavras em alguns contextos
pode representar muito pouco.
E, de fato, quando
você para para pensar,
nós, como seres humanos, somos
excelentes detectores de incongruência.
É como música.
Você pode não ser músico,
mas você sabe quando
um instrumento está desafinado.
Quando você vê alguém
nervoso, gaguejando,
ou suando frio,
ou com o rosto tenso,
isso passa muito sobre
o significado da mensagem,
que vai muito além
das palavras.
Perfeito. E nós também
temos algo, né?
As pessoas devem escutar.
Nós vemos bastante isso
quando falamos de liderança,
de feedback ativo.
Mas nós também temos
a escuta ativa,
que é realmente nós escutarmos
o que as pessoas têm para nos dizer,
o que elas quiseram
nos passar de mensagem.
Vocês acham que, de alguma forma, esse
processo da escuta, escutar as pessoas,
também faz parte
da comunicação?
Para mim, com certeza,
e uma vez mais vemos
elementos não verbais.
Uma coisa é você falar com alguém
que está mexendo no celular,
dizendo:
"Estou te ouvindo".
Outra coisa é você falar com alguém
que está olhando no seu olho,
que balança a cabeça
mostrando concordância,
que emite: "hã, nossa, interessante",
que interage com você.
São vários elementos
que demonstram a escuta ativa.
Faz muita diferença
no processo.
E, Fabrício, qual é a sua opinião
sobre a comunicação em si?
No âmbito empresarial,
é importante saber se comunicar?
Isso faz diferença?
Na minha visão,
hoje em dia é fundamental.
Muitas vezes, nós
vemos que as pessoas,
num processo de se apresentar
ou de vender algo,
no final do dia elas estão
vendendo uma ideia,
e muitas dessas ideias são vendidas
através da comunicação,
seja ela por meio de um relatório,
seja por meio de uma apresentação,
ou seja na comunicação oral.
E, nesse processo, conectando
com a questão anterior,
eu acho que um dos grandes
desafios na questão de liderança,
mais do que saber dar feedback,
que também eu vejo
como um processo de comunicação
e de aprendizado ao mesmo tempo,
muitas vezes vemos nos treinamentos
quando estamos com grupos
que é muito comum tanto
com líderes quanto com liderados...
Geralmente, os treinamentos
são separados para líderes e liderados.
Mas é muito comum ouvir,
principalmente de liderados,
que, quando eles vão receber feedbacks,
são sobre coisas negativas,
e não sobre coisas
que também foram boas.
Conectado a isso, tem esse
ponto que você perguntou,
do feedback,
da escuta ativa,
que, muitas vezes, as pessoas
estão conversando,
seja no âmbito corporativo
ou até na esfera pessoal,
e já estão pensando
no que elas vão responder
sobre aquilo
que a pessoa está falando.
Então, essa questão
de ter uma escuta ativa
não é necessariamente
só ouvir, mas é escutar,
é manter o estado
de presença.
Então, é como nós conseguimos
criar esse estado de presença,
de eu respirar,
de me conectar com a pessoa,
de ouvir, olhar para ela
e, ao mesmo tempo, de fato,
estar criando empatia e entendendo
o que a pessoa está falando.
Nós percebemos que isso faz muita
diferença no processo de comunicação.
Então, a comunicação não é somente
o receptor, o interlocutor da mensagem
e a mensagem em si, mas também
faz parte da pessoa que está falando,
do interlocutor, garantir que a mensagem
chegue da forma correta
para a pessoa
que vai escutar?
Vocês acham que nós
também temos essa missão,
que, quando eu transmito
algo para vocês,
garantir que vocês entenderam
o que eu queria dizer?
Para mim, com certeza.
Aliás, isso é um coisa que é muito
constante nos meus treinamentos
e que, para mim,
é a parte mais essencial.
É você entender com quem você está
falando para adequar a sua mensagem.
Eu gosto de dar o exemplo
da vendedora de maquiagem do Boticário.
Ela vende o mesmo rímel para uma menina
de 15 anos e para um homem de 50 anos.
Mas ela vende de maneira
totalmente diferente,
porque eles têm visões
diferentes de mundo,
eles têm compreensões diferentes,
e ela precisa conseguir
ajustar esse discurso,
senão, a mensagem não chega.
Perfeito.
E o feedback em si?
Nós estávamos falando
um pouco sobre esse tema,
que é bastante importante.
O feedback tem um poder
comunicacional, é claro,
mas nós conseguimos
pensar outras formas
em que o feedback poderia sustentar
a comunicação dentro da organização?
Ou seja, quais outras formas nós temos
para garantir uma boa comunicação
entre liderado e líder?
Eu acho que esse papel, como também
foi mencionado anteriormente aqui,
o papel da comunicação,
na minha visão,
a responsabilidade
da comunicação,
é muito grande para quem está
fazendo a comunicação.
É claro que existe a outra
parte que está ouvindo,
só que, por exemplo, se tem
um líder que fala abacaxi
e todo mundo
entendeu laranja...
Tem algo errado.
Tem algo errado e o que ele
quis dizer mesmo
foi o que todo mundo ouviu.
Então, nesse sentido, o líder,
principalmente a liderança, eu acho,
quando ela consegue identificar uma forma
dela fazer a comunicação de forma clara
e que chegue aos ouvidos
das outras pessoas
aquilo que, de fato,
ele quer passar,
faz toda a diferença
no processo.
Eu lembro que uma colega,
quando eu estava na pós-graduação,
estava comentando de uma situação
muito parecida com essa.
Ela estava numa fábrica
e tinha um líder que estava dando
um recado para as pessoas,
e a ideia, inclusive, era
uma cultura de feedback,
ou seja, precisava
incentivar as pessoas
a fazerem feedback, a darem
feedback, e foi falando.
Depois de uns três minutos,
uma pessoa levanta a mão e pergunta:
"Feed quem?".
Ou seja, ele não adequou a linguagem
para o público que ele estava falando.
Então, talvez o feedback,
essa palavra, esse conceito,
em que, num contexto habitual,
as pessoas estavam acostumadas a ouvir,
talvez, num outro contexto,
quando ele falou feedback
e as pessoas não entenderam
o que aquilo significava,
elas pararam
de prestar atenção nele.
Elas entraram no processo
de tentar ver o significado,
como você falou, os significados,
os signos que estavam por trás disso.
Perfeito.
Então, uma dica superimportante,
que tanto o Fabrício
quanto o André trouxeram,
é a questão de entender
com quem você está falando.
Entenda o seu público,
adeque a sua linguagem
para que você não use termos técnicos
que a pessoa talvez não vá entender.
Então, você se fazer entender
também passa por isso, né,
você garantir que a pessoa
vai entender os termos técnicos.
Se ela não conhecer os termos,
você explicar durante a sua fala,
você deixar tudo
de uma forma adequada
para que a pessoa consiga captar
com clareza a sua mensagem,
não só com os signos
que você vai passar,
com toda a questão semiótica,
mas também a mensagem clara
que você quer deixar
ali para a pessoa.
E aí, André, eu só queria
entrar numa vereda
que não é tão organizacional assim,
mas a questão dos pitches.
Nós temos apresentações
que estão cada vez mais comuns
no mercado de trabalho.
São apresentações rápidas,
geralmente discursos de vendas
que são usados
para os mais diversos fins,
desde promover uma startup, você
conseguir passar uma mensagem de venda
para captar recursos financeiros,
ou mesmo vender um produto,
ou até mesmo em algumas competições
que vemos em organizações,
que são realmente pitches, que são
feitos para demonstrar o que foi construído.
E daí, o pitch, sendo algo que parece
com a palavra, um pouco mais informal,
tem uma grande diferença
da comunicação empresarial,
quando nós falamos
da estrutura,
de nós garantirmos que a pessoa
entenda a mensagem?
Existe alguma diferença
clara na sua opinião?
Existe em termos.
Quando eu vou estruturar
essas apresentações,
eu uso uma técnica
de Stanford chamada AIM,
que é o acrônimo para audiência,
intenção e mensagem.
Então, o primeiro passo é
entender com quem eu estou falando.
Quem é essa pessoa,
o que ela sabe, o que ela não sabe,
no que ela acredita,
como ela pode resistir,
qual a melhor forma de eu resolver
o problema que essa pessoa tem.
Segundo, o que eu quero
com essa apresentação?
Então, se eu vou fazer
uma apresentação de...
Sei lá, para apresentar
os resultados para o meu diretor,
eu tenho uma intenção que é diferente
de uma apresentação tipo pitch,
mas que, nessa estrutura,
permanece a mesma coisa.
E nós chegamos na parte de mensagem,
que é como você estrutura essa mensagem
de forma que você consiga
atingir a sua intenção.
E aí sim eu acho
que o pitch acaba tendo
um formato
um pouco mais especial,
porque, quando estamos falando
especialmente de levantamento de recursos,
uma das coisas que se espera é que você
vá justificar retorno sobre investimento,
você precisa mostrar que está endereçando
uma dor real, um problema real,
clareza sobre a sua proposta de valor,
diferenciais competitivos.
E aí, claro, quanto maior o contexto
de levantamento de recursos...
Uma coisa é eu pedir, por exemplo, 50 mil reais
para o meu chefe para bancar um projeto.
Uma outra coisa, por exemplo,
é eu levantar um Series C de 500 bilhões,
500 bilhões de dólares,
num valuation de 1 bi.
Então, é muito
diferente o contexto,
e aí vai estressar
um pouco mais essa estrutura.
Mas, no fundo, eu acho
que a estrutura é uma só.
Entenda com quem
você está falando,
entenda o que você quer,
e monte uma estrutura
que vai te levar mais
perto do seu objetivo.
Daí eu entendo que implica,
quando nós falamos de um pitch,
de uma startup fazendo um pitch
para levantar uma rodada de investimento,
existe, é claro, uma carga emocional
um pouco maior nessa comunicação,
porque o empreendedor
está colocando em jogo ali
talvez o futuro da empresa dele,
que ele tanto objetiva e sonha,
e dele mesmo
como empreendedor.
E daí, Fabrício,
eu tenho essa dúvida:
nos treinamentos
que você faz,
nesse coaching todo que você também dá
eventualmente para as pessoas,
para as pessoas que estão em organizações
inseridas nesse contexto,
essa parte emocional precisa ser
trabalhada com as pessoas?
Ou é só a parte da comunicação,
são só as técnicas?
Em algum momento
você tem que entrar
nessa vereda mais
emocional da comunicação?
Essa pergunta é
uma pergunta muito boa.
No meu ponto de vista,
a emoção vem primeiro,
e depois a questão
da comunicação,
porque nós começamos
a olhar um pouco do processo.
Até analisando
um pouco dos sistemas,
olhando para o nosso cérebro,
sistema límbico, reptiliano e por aí vai,
nós percebemos que, muitas vezes,
se a pessoa não estiver preparada
para lidar
com a parte emocional,
falando um pouco não só
do processo de inteligência emocional,
mas em saber ter uma resiliência,
lidar bem com pressões,
a tendência, muitas vezes,
é que a emoção vem à frente
de várias questões
que a pessoa está fazendo.
Por exemplo, se a pessoa se deixa
levar pela emoção no feedback,
por mais que ela entenda
e conheça uma fórmula,
às vezes ela pode ser
extremamente agressiva.
Essa pessoa às vezes tem
medo de dar feedback.
Pode ser que ela fale,
fale e fale, e não fale nada.
Então, falando de uma apresentação,
como você acabou de trazer o exemplo,
pensando num pitch,
seja para um empreendedor,
seja numa apresentação de resultados
como o André tinha mencionado,
às vezes o processo
de entender
como funciona o corpo e as emoções
é muito interessante,
porque um dos aspectos que as pessoas
às vezes não conseguem evitar,
quando elas vão
passar a mensagem,
além da mensagem não estar clara
e não ter uma estrutura,
é elas se deixarem levar
por uma ansiedade,
que é muito comum
muitas vezes.
Pode ser que a pessoa trave, pode ser
que a pessoa comece a gaguejar,
e pode ser que ela não consiga
passar a informação
que ela está querendo dizer
de uma forma bem objetiva.
Se ela está olhando para a platéia
ou para a audiência,
e alguém começa a olhar no celular
ou alguém começa a abrir a boca,
se a pessoa não estiver
muito segura, ela fala:
"Ih, será que eu
estou agradando?".
E aí, só essa questão dessa dúvida
pode gerar uma aceleração,
a pessoa começa a correr
em sua apresentação.
Então, saber lidar com esse
aspecto emocional
é um grande desafio
na apresentação.
Uma técnica que eu tenho
trabalhado muito com líderes etc.,
não só para isso,
mas também para isso,
é como nós criamos conexão
com a nossa emoção,
e, ao mesmo tempo, como
lidamos com exercícios de respiração
que ajudam a direcionar
essa questão,
principalmente de ansiedade,
se a pessoa tem algum medo,
algum receio
de falar em público,
ou de uma apresentação
que ela sabe que vai ser avaliada.
Então, nós já falamos
um pouco sobre a mensagem,
falamos um pouco do receptor e de conhecer
um pouco quem é a sua audiência,
e agora estamos
falando aqui dos entraves,
ou dos problemas que nós
temos na comunicação,
que, inclusive, pode ser
o medo de falar em público.
Isso é muito
comum acontecer.
Ainda falando de mensagem,
mas falando agora um pouco mais
da parte de problemas,
vocês veem algum problema,
seja num pitch ou numa
comunicação mais empresarial,
independentemente do contexto,
em uma comunicação não clara?
Nós podemos pensar
em vários exemplos, né?
Mas, enfim, a comunicação é importante
nesse âmbito empresarial ou empreendedor
porque é realmente importante
conseguirmos passar a nossa mensagem.
Mas vocês conseguem ver
alguma problemática
em uma mensagem não clara
ou em uma comunicação não efetiva,
para conseguirmos tangibilizar
num exemplo aqui?
Só o tempo todo.
Eu acho que o maior
problema que eu vejo
é que, as pessoas, quando
vão fazer uma apresentação,
elas sempre vão com a ideia
de "vamos começar do começo".
Aí você vai construindo
de uma forma meio interativa,
até que você chegue
em algum lugar.
O problema é que, normalmente,
quando você faz isso,
você acaba chegando
numa apresentação
que tem os conteúdos
que você considera relevantes.
E aí você pode escolher
o desdobramento disso.
O pessoal de produto faz
uma apresentação pensada em produto,
o pessoal do financeiro faz
uma apresentação pensada em financeiro.
E aí, quando você tem uma reunião
interdepartamental, por exemplo, é o caos,
porque cada um vai apresentar
sobre o que lhe interessa,
e o negócio acaba se estendendo
por horas e horas, sem necessidade.
Uma coisa que poderia ter
durado duas horas, dura cinco,
e todo mundo sai pensando que aquilo
foi uma enorme perda de tempo.
Nós falamos de problemática
da comunicação agora.
Vocês têm traçado, de cabeça,
qual é o público de vocês
que tem maior demanda
por treinamento comunicacional?
Tem um perfil específico?
São mais os liderados ou são
mais os líderes realmente?
Ou são pessoas que têm que fazer
apresentações para times?
Tem algum perfil
de cabeça assim?
O que eu vejo é
que um dos maiores problemas
que existem nas empresas
é a comunicação,
e talvez nas relações,
de uma forma geral.
Ainda pegando um pouco
o que foi mencionado pelo André aqui,
eu vejo dois
grandes problemas,
e talvez por isso várias audiências
possam ser trabalhadas,
vários públicos
diferentes nesse tema,
mas, talvez,
com objetivos diferentes.
O primeiro é
uma questão de óbvio.
Muitas vezes, as pessoas
partem que o óbvio é óbvio.
Só que o óbvio,
na minha visão, não existe.
Então, quando ela parte
que o óbvio é óbvio,
ela faz uma comunicação
e acredita que a outra pessoa
vai entender de qualquer jeito,
porque aquilo é óbvio.
Só que ela está olhando a obviedade
a partir do ponto de vista dela.
E aí vem o segundo problema,
que é a questão de mindset.
Qual é o mindset da pessoa,
qual o mindset do público,
qual o mindset daquelas pessoas
com as quais eu vou falar.
Então, eu acho
que um dos grandes desafios
dentro das organizações,
das relações,
é nós podermos
ampliar o mindset
e deixar um pouco o nosso
mindset em standby,
deixar um pouco
a nossa visão de mundo,
as nossas crenças, aquilo
que é óbvio para nós, de lado,
e procurar entender mais
do mundo do outro,
do mundo das outras pessoas.
Então, nesse sentido, nós podemos
começar a fazer um direcionamento
do processo de comunicação,
de focar menos em quem está falando
e centrar mais nas pessoas
para as quais eu vou falar.
Então, nesse sentido,
na sua pergunta,
dá para trabalhar
de uma forma muito grande.
Por exemplo, eu já tenho feito
muitos treinamentos de feedback
que muitas empresas pediam,
de como dar feedback.
Tem até um livro que chama
"Obrigado pelo Feedback",
que é o seguinte: às vezes não é
só dar o feedback especificamente,
mas se as pessoas estão preparadas
para receber o feedback.
Então, às vezes, se nós só treinarmos
as pessoas para darem o feedback
e elas estiverem dando
o feedback perfeitamente,
mas as pessoas estiverem vendo
que o feedback é algo que poder ser,
entre aspas, só negativo
na percepção delas,
não necessariamente é,
mas na percepção
do que chega para a pessoa,
ela pode se fechar
para aquele processo.
E a partir do momento que ela
se fecha para aquele processo,
não adianta a fórmula
perfeita do feedback
se a pessoa não
está aberta para isso.
Então, às vezes é comum trabalhar
o mesmo tema com públicos diferentes,
só que com abordagens
diferentes,
olhando a partir dessa
perspectiva de mindset
para ter uma coisa
mais ampliada,
para as pessoas tomarem
mais consciência disso.
André, você tem
uma outra opinião?
Tenho, direcionando
um pouco mais
para a sua pergunta de público,
quem é a pessoa.
Eu penso muito...
Eu sou amante do Pareto,
eu acho que esse negócio
de 80/20, 20/80,
você gerar 80% de resultado
com 20% de esforço é o que há.
E eu...
Assim, todo mundo
precisa falar bem.
Comunicação é um problema
em qualquer nível de uma organização.
Eu comecei a me perguntar
onde isso dói mais
e onde isso tem
maior valor agregado.
E depois de alguns testes,
eu cheguei, basicamente,
em três tipos de público.
Um deles é um público
de executivos.
A camada hierárquica mais alta,
são pessoas extremamente competentes,
mas que não necessariamente
acompanham essa competência
de fazer boas apresentações.
Isso é particularmente importante
em organizações que exploram
bastante a imagem do executivo.
Então, você pega
um SpaceX, por exemplo.
O Elon Musk, apesar de ser
um engenheiro de formação,
é uma pessoa
que se expressa muito bem,
e eles usam isso como ativo
para conseguir explorar a imagem dele.
Então, esse é
um caso que eu pego.
Tem um segundo caso, que vem
para mim com uma certa frequência,
que é preparação
de forças de vendas,
especialmente as que trabalham
com vendas complexas.
Quando você tem um ciclo de vendas
que dura 8 meses, 1 ano,
uma boa apresentação
pode ser um fator determinante
para, primeiro, acabar
com esse ciclo inteiro de vendas.
Às vezes você demorou 9 meses
para chegar numa reunião com o diretor,
e uma apresentação malfeita
destrói todo aquele trabalho.
Segundo, uma apresentação malfeita
pode alongar esse ciclo de vendas
de maneira desnecessária.
E se você tem um portfólio muito
amplo de produtos para oferecer,
uma boa apresentação também
pode aumentar ticket médio.
Então, a força de vendas acaba
sendo um negócio bem interessante.
E a terceira linha é
a pessoa de marketing.
No marketing, eles
entendem um pouco
da necessidade de você
conversar sobre a mesma coisa
para diferentes públicos.
Especialmente o pessoal de trade,
que acaba tendo um papel
um pouco mais estratégico,
vão passar de uma forma
a apresentação para a força de vendas,
de uma outra forma
para o financeiro,
de uma outra forma
para o pessoal de gestão.
Então, eles sentem essa dor:
"Eu sinto que não dá certo.
Eu preciso adaptar melhor".
Se eles têm estratégia para captação
off-line, como eventos e congressos,
também funciona muito bem.
Então, são normalmente
esses três públicos.
Olhe que interessante!
Então, nós entendemos
que comunicação é
algo que a empresa toda
tem que saber, e saber
fazer bem-feito, né?
É muito importante que todo
mundo saiba se comunicar,
mas que todo mundo também
consiga receber um feedback,
consiga entender
as mensagens de forma clara.
Mas nós também conseguimos
afunilar um pouquinho
e pensar em alguns públicos
que podem se beneficiar ainda mais,
pensando em máquina de vendas
e pensando na empresa como um todo,
de uma boa comunicação,
como o André também trouxe,
complementando
a fala do Fabrício.
Então, bem interessante.
E também muito legal o exemplo
que o André trouxe quanto ao Elon Musk,
assim como sabemos
que o Steve Jobs, ex-CEO da Apple,
também tinha um poder
comunicacional muito grande.
Nós sabemos que algumas pessoas
se destacam para esse poder comunicacional,
assim como o Barack Obama
fazia e faz até hoje.
Então, eu queria
encerrar esse podcast
falando um pouco
para as pessoas aqui
sobre algo que citamos
na nossa fala inclusive,
que é o medo do palco.
As pessoas têm muito medo.
Tem alguns estudos, inclusive,
que falam que as pessoas têm
mais medo de falar em público
do que da própria morte.
Então, as pessoas
realmente tremem na base
na hora de fazer
uma comunicação efetiva.
Então, eu queria saber se vocês
têm alguma dica, bem rápida mesmo,
para quem tem
medo do palco.
Eu sei que vocês já falaram
de alguns pontos aqui,
mas se vocês puderem
elencar um ponto de atenção
para uma comunicação
mais efetiva,
para as pessoas terem menos medo
desse momento da comunicação em público,
esse contexto mais aberto,
vocês conseguiriam elencar um ponto?
Consigo te dar três.
Olhe só!
A primeira coisa é que o medo do palco
é uma coisa que vem para mim,
especialmente com o B2C,
da pessoa fazer uma apresentação TED,
e falar: "Meu Deus, André,
pelo amor de Deus,
isso aqui vai ficar gravado
pela eternidade
e eu não posso passar
vergonha, me ajude".
Já está suando frio.
E a primeira coisa
que eu percebi é treino.
Treino é fundamental.
Quanto mais treinado
você estiver, melhor.
Então, não tem como
você não treinar,
subir no palco e pensar
que você vai arrasar.
O Steve Jobs,
que você mencionou,
era superfamoso por ensaiar dezenas,
quiçá centenas de vezes uma apresentação
até chegar à perfeição.
Então, se dava certo para ele,
dá certo para você também.
A segunda coisa é: tenha clareza
sobre o que você vai dizer.
Isso se conecta um pouco
com o treino.
Muitas vezes, chegam para mim e falam:
"Ah, André, morro de medo do palco".
Mas a pessoa não tem
clareza do discurso,
e esse que é o problema.
Quando você está
em cima de um palco,
você não vai necessariamente
ter o feedback individual,
como conversando
com uma pessoa.
A pessoa fez uma cara de dúvida,
você se aprofunda um pouco, pergunta.
No palco você
não tem isso.
Então, se você não tem uma linha
de roteiro bastante clara na sua cabeça,
dificilmente você vai conseguir
fazer o negócio fluir bem.
E a terceira dica que eu dou
é: esteja no momento presente.
O medo do palco nada mais é
do que uma projeção no futuro
de que vai dar ruim,
que você vai travar,
que você vai gaguejar,
que você vai... "Meu Deus,
esqueci tudo, deu branco".
E quando você está imerso
no agora, nada disso importa.
Quando você está imerso no agora, você
está totalmente imbuído de uma tarefa,
e ela simplesmente flui.
Então, as três dicas
que eu dou são:
treine bastante, tenha clareza
sobre o que você vai dizer
e esteja no momento presente.
Perfeito.
Quer complementar, Fabrício?
Complemento.
Vou em três também.
Daí fica no tripé aí.
Perfeito.
Complementando então, e conectando
com o que o André trouxe,
a primeira, além de praticar,
que também seria uma dica,
receber feedback da prática.
Então, se puder
treinar sozinho é bom,
e também se puder
reunir algumas pessoas,
treinar e pedir feedback,
é excelente.
Vários treinamentos que eu trabalho
e que eu também já participei
quando tem pessoas
olhando, elas falam:
"Ah, o seu gestual, o seu olhar,
você está olhando muito para baixo,
você fez uma cara
assim, assado".
Isso ajuda muito
a pessoa a se perceber
quando não estamos nos
olhando numa apresentação.
Então, treinar e ter feedback
eu acho que é uma das questões.
A segunda, além de ter toda a ideia
do roteiro do que você vai falar,
mais ou menos estruturado
ou bem estruturado,
é ter espaço
para improviso.
Porque, muitas vezes, a pessoa
está com o roteiro estruturado,
mas ela esquece alguma coisa
e às vezes a platéia nem percebeu,
mas ela demonstra.
Às vezes até falando:
"Esqueci..."
- Deu branco.
- Deu branco.
A pessoa avisa a platéia
que deu branco.
E, às vezes, se deu branco,
são questões de segundos.
Então, até nisso, estar preparado
no treino para improvisos,
para alguma coisa que você pode ir
por um caminho e aí você desvia um pouco,
sem perder o foco, obviamente.
E o terceiro, para também conectar
com a ideia de estar presente...
Você citou várias pessoas que são ótimas,
conhecidas como ótimos comunicadores.
Uma das dicas é procurar
identificar um arquétipo,
que seria uma imagem,
ou pode ser uma pessoa
com a qual a pessoa que vai fazer
a apresentação se identifique,
como se naquele momento
que ela entrasse no palco
ela estivesse pegando emprestado
aquela habilidade da pessoa.
Isso é muito comum.
O Tony Robbins, que é uma pessoa
que trabalha com treinamentos
e é superconhecido, até na Netflix
tem um documentário dele,
"Eu não sou seu guru",
fala como ele entra em palco.
Ele entra em palco para duas,
três mil pessoas.
Ele faz isso há anos,
e ele tem um ritual
para entrar em palco.
Então, ele tem uma cama elástica
que ele fica pulando.
É sério! Ele coloca
a música, fica loucão,
dá um giro e entra.
Então, até ele que já está
acostumado com isso,
superbem reconhecido,
sempre que vai entrar no palco...
Às vezes, três dias,
quatro dias de treinamento,
quando ele sai do palco,
antes dele entrar de novo,
ele sempre faz isso.
Então, ter um arquétipo, né,
como você falou do Obama.
Não é para copiar, obviamente.
Cada um vai ter a sua
essência no processo.
Mas pegar as coisas do Obama,
pegar as coisas do Steve Jobs,
por exemplo, e de outros comunicadores
ou comunicadoras
que a pessoa se identifique,
como se naquele momento que ela entrasse
no palco, fosse fazer aquela apresentação,
estivesse pegando
aquilo emprestado.
Perfeito.
Dicas muito importantes aqui.
Nós falamos um pouco mais
sobre comunicação humana.
Queria agradecer
ao Fabrício pela presença.
Fabrício, obrigado
por estar conosco hoje.
Eu que agradeço
o convite, obrigado.
André, obrigado também
pela sua presença.
É muito bom ter os comentários
de vocês conosco hoje.
É um prazer.
Nós esperamos que,
com essas dicas,
você consiga
se comunicar ainda melhor,
seja na empresa
ou no âmbito pessoal.
Nós nos vemos na próxima.
Tchau, tchau.