Sou diretor duma escola primária aqui na cidade. Trabalho no ensino há 17 anos. Uma das coisas que adoro no trabalho com miúdos é que a honestidade deles, por vezes, chega a assustar-nos. Centenas de miúdos que me dizem que preciso de emagrecer uns quilos, que o meu cabelo está a ficar grisalho, e outra coisas que tenho de melhorar. (Risos) Mas, às vezes, dizem coisas que passam dos limites, e até são agressivos. Aquilo que ensinamos vai muito além da parte meramente académica. Algumas das lições mais importantes ocorrem no recreio todos os dias. Um conflito no baloiço pode tornar-se uma lição de vida. Quando vejo o noticiário sobre coisas em Washington, há ali algumas pessoas que mereciam ser privadas de recreio. (Risos) Mas tentar que os miúdos percebam que tudo tem a sua hora e o seu lugar, pode ser muito complicado, e fazê-los compreender essas lições. Às vezes, as coisas que eles dizem podem tornar-se agressivas, mas devemos fazer a pergunta: "Afinal, o que é o 'bullying'?" Vamos analisar. A definição de "bullying" diz respeito a um desequilíbrio do poder, e tem de ser repetitivo, tem de ser contínuo e ter uma vítima para isso. Às vezes, um miúdo diz uma coisa ou faz uma coisa cruel ou antipática mas, se só foi uma vez, não se configura "bullying". É apenas a ocasião de lhe dar una lição de vida. Mas é o comportamento contínuo que os miúdos têm que pode ser considerado como "bullying". Parte disso é aprendido e não ocorre só com os miúdos. podem ser adultos. Se pensarem um pouco e recordarem quem foi o vosso professor favorito na escola, provavelmente não me irão falar da matéria que ele ensinava, de quando usaram aquela coisa da trigonometria, ou qualquer coisa como ser possível desenvolver e decompor um polinómio. Vão falar da relação que tinham com ele, da forma como ele sabia que vocês se podiam esforçar mais, e não vos largariam até vocês melhorarem. Aí também pode haver intimidação. Sou uma pessoa da matemática e da ciência, em parte porque este lado do meu cérebro é muito racional; já este lado, bem, há algo errado aqui. Mas também por causa de uma professora de línguas que tive no 7.º ano. Ela decidiu que não gostava de mim. E eu decidi que era um sentimento recíproco. E foi assim que se passou o ano, mas era ela quem tinha poder. Ela era a pessoa que tinha o controlo das coisas e fazia questão de me diminuir como escritor. Em parte, isso foi por causa deste lado do meu cérebro, eu escrevi essa quantidade, e não essa quantidade, Mas ela fazia-me sentir minúsculo como escritor, e era ela quem mandava. Os adultos também podem fazer isso. Mas há estatísticas sobre o que é o "bullying", portanto, vamos dar uma olhadela. Essencialmente, e para abreviar, um em cada cinco miúdos relata ter sido vítima de "bullying". Portanto, se olharem para as duas pessoas à vossa direita e para as duas pessoas à vossa esquerda, é provável que uma de vocês também tenha sido vítima de "bullying". Eu até arriscaria dizer que talvez tenha sido mais de uma. Mas os miúdos, às vezes, não se queixam ou não percebem que é "bullying". Pensam que são apenas trocas de galhardetes. Às vezes com a minha família ou com amigos meus, trocamos certas palavras que, quem as ouvisse, certamente diria: "Bolas, alguém acabou de ser agredido". Mas pode ser só a maneira como falamos uns com os outros. No entanto, as estatísticas levam-me a este outro diapositivo. Temos aqui duas representações de "bullying". A que está do lado esquerdo é a típica imagem de "bullying" que imaginamos. Há o grandalhão agressivo que vai bater num miúdo mais pequena que mostra um olhar de medo porque sabe o que vai acontecer. Todos nós já estivemos nessa situação ou já vimos alguém estar. Entendemos bem esta imagem. Mas vou falar da outra imagem e também me vou prolongar mais um pouco sobre ela, porque quero que pensem melhor no que está a ocorrer do que na vítima em si. Temos o miúdo que é considerado como o alvo, e vemos que os agressores olham para ela de forma intimidante. O olhar do miúdo é real. É medo, é o medo de "Será que vou apanhar agora? "Como é que vai ser? "O que é que vai acontecer depois?" Nós conhecemos o aspeto das vítimas de "bullying", mas vou falar sobre os outros miúdos, e queria que refletissem neles num contexto maior. O "assistente" — falemos dele por instantes. Este miúdo provavelmente fica ao canto e pensa: "Sou amigo do agressor. Alinho. "Tenho alguma proteção já que agora faço parte do grupo." A má notícia para este miúdo é que ele talvez esteja enganado. Será agredido por outro miúdo qualquer. Falemos então do agressor. Verifico que a maioria dos miúdos que agridem são agredidos de qualquer forma, de qualquer modo. Então, para o agressor, é como passar a estar no comando dessa situação, ser capaz de controlar algo e aquele miúdo, o seu alvo, permite-lhe ter esse controlo já que ele próprio não o tem noutras áreas da sua vida. Temos os miúdos que apoiam, "Dá-lhe! Dá-lhe! Dá-lhe!" Não que eu tenha ouvido isso. Mas o que talvez eles estejam a querer dizer com "dá-lhe!" seja um sinónimo para "Graças a Deus não sou eu." Para alguns destes miúdos, é isso que conta. Eles podem ser vítimas de coisas no mundo deles. então, o facto de que isso acontece noutro sítio é do que realmente eles falam. Os que ficam de fora são uma mistura curiosa. Quando eu falar deles, vocês podem pensar: "OK..." mas acompanhem-me. As raparigas, se olharmos para elas, têm um olhar parecido com o da vítima. Pode haver algumas que só observam e dizem: "Isto é mesmo horrível." Isso pode acontecer por causa do que acontece no mundo delas. Se refletirmos sobre isso, as raparigas podem ser vítimas de abuso físico, de algo nada bom que ocorra no mundo delas. Assim, elas assistem a algo que pode ser muito difícil para elas. O miúdo perto do cacifo exprime-se com um "Uhhh..." Vejo miúdos assim. Para aquele miúdo, é como: "Espero que isso seja a pior coisa que eu tenha de enfrentar hoje." Assim, aquele bocejo soa como: "Finjo não estar muito interessado nisto" mas também pode ser: "Gostava que isto fosse tudo por hoje "porque lá em casa vai acontecer o mesmo" ou "Mais tarde, isto vai acontecer." Algumas pessoas dirão que os miúdos precisam de endurecer. Posso dizer-vos, há miúdos a chegar à minha escola, todos os dias, que são mais rijos que o Super-homem, verdadeiros heróis, com o que aguentam fora da escola e chegam interessados em aprender. Uma frase que gosto de repetir é: "Precisamos de cuidar das necessidades básicas dos miúdos "antes mesmo de aplicar os objetivos educacionais", ou seja, as necessidades deles estão satisfeitas? Se um miúdo vem ter comigo logo pela manhã e está com fome, não dormiu bem, foi violentado ou coisa assim, e a primeira coisa que fazemos é dizer: "Toma lá uns exercícios de matemática, toca a trabalhar", ele não vai prestar atenção. Isso não tem o menor valor para ele. O que ele quer é: "Vou comer ou não?" Mas voltemos ao amigo que está a bocejar. Repito, pode haver coisas que ocorrem no mundo dele que eu gostava que vocês considerassem porque, como estes miúdos se envolvem nestas cenas arrastam outros para lugares sombrios. Se há miúdos que começam a brigar no recreio e vêm ter comigo e dizem:, "A gente só estava a brigar, qual é o problema?" eu respondo: "Vocês os dois estavam a brigar. "Vamos conversar sobre isso. "Esta pessoa aqui é fisicamente agredida em casa. "Por isso, sempre que ela assiste a violência física, "isso transporta-a a um lugar sombrio. "Mas nós só estávamos a chamar nomes um ao outro, "é como falamos um com o outro." "Esta pessoa é violentada moralmente em casa. "É humilhada em toda a parte. "Por isso, quando ela ouve isso, isso transporta-a a um lugar sombrio." Muitos olham para mim e dizem: "Esse miúdo nunca sofreu 'bullying'. Vejam o tamanho dele!" Errado. Sofri muito "bullying" em miúdo, às vezes, por causa do meu tamanho. Eu era o grandalhão, o gigante, o girafa, todas essas coisas. Mas eu também era vítima de violência moral e física em casa. Não dos meus pais! Que fique claro! Mas é algo muito pessoal e íntimo. Então, sempre que vejo "bullying", tenho uma reação muito concreta, visceral, sempre que isso acontece. Então, qual é a melhor maneira de combater o "bullying"? Vejamos. Vou tentar ler isto: "A ação de perceber, de ter consciência, de estar sensível, "de experimentar indiretamente..." e todas essas palavras enormes. Vamos, portanto, simplificar: meter-se na pele de alguém, — em sentido figurado, é claro — O que eu quero dizer é que se coloquem no lugar da outra pessoa. Faço painéis de impacto sobre vítimas para o Departamento de Correção. Uma escola em que eu trabalhava foi roubada há uns anos e puseram-me a conversar com os detidos sobre o impacto em cadeia dos crimes deles, porque eles pensam: "Roubamos coisas que vendemos. Qual é o problema?" Tentamos fazê-los entender o contexto maior do facto de que, ao roubar as coisas, precisamos de repor essas coisas. e por isso, não podemos comprar coisas novas para os miúdos e isso tem impacto nos pais e na perceção deles sobre a segurança da escola. Posso dizer-vos que passei muito tempo, nos últimos dias a lidar com a insegurança dos pais em relação à escola. Não tínhamos tido nenhum problema, mas agora já temos alguns. Então, tentamos conseguir que os detidos pensem no contexto social de que não é somente a vítima do roubo que perde, mas que as coisas que fazemos têm impacto nas pessoas à nossa volta. Os meus dois filhos desobedientes, que estão agora com 20 e 21 anos, dir-vos-ão que ouviram o pai dizer: "Ninguém tem o direito de estragar o dia a alguém." Isso é pensar nos outros e tentar que os miúdos compreendam. Estou sempre na escola a trabalhar com os meus alunos para que percebam isto melhor. Todas as manhãs, durante os avisos, eu digo: "Hoje, vocês têm duas tarefas: "Usem as mãos, os pés e os vossos objetos só para vocês. "Também quero que digam, três coisas agradáveis "a qualquer pessoa da escola. "Encontrem três pessoas, e digam-lhes qualquer coisa amável, "esqueçam as grosserias." Mas é mais fácil dizer do que fazer. O que tentamos trabalhar com os miúdos é que a regra de ouro também é uma regra boa. "Quando falamos da nossa escola, se todos fizerem isso, "então milhares de coisas boas serão ditas nesse dia. "Isso não fará a diferença na vida das pessoas?" Além de ser um ótimo desafio andar por aí, como se fôssemos adultos, a dizer: "Certo, hoje vou encontrar três pessoas e dizer: "Olá, gostei da forma como estacionou o seu carro — super." em vez de dizer: "Não posso acreditar..." (Risos) Mas não quero que se riam quando se lembrarem do que lhe disseram sobre a forma como ele estacionou o carro. (Risos) Se todos disséssemos três coisas amáveis, que tipo de mudança isso causaria? Portanto, esse seria o desafio que coloco hoje, Num esforço contra o "bullying", tentem fazer as pessoas pensar para além do óbvio. Quem está a ouvir a mensagem que vocês estão a dizer? Quem está a ver a mensagem que vocês estão a transmitir? Pensem nisso para além da pessoa com quem estão a falar. Garanto, é um grande desafio para miúdos da escola primária, um grande desafio para mim que sou "velho, grisalho e com peso a mais", como os miúdos me dizem. É isto que gostava que levassem hoje para casa. Obrigado. (Aplausos)